quarta-feira, janeiro 29, 2020

Conteúdos úteis na atual discussão sobre criacionismo acirrada pelo Jornal Nacional

Com a nomeação do Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto para a presidência da Capes, a grande imprensa tem promovido uma verdadeira inquisição sem fogueiras, distorcendo informações e fazendo acusações injustas contra criacionistas e defensores da Teoria do Design Inteligente (exemplo da matéria de ontem no Jornal Nacional). A distorção (ou má intenção) é tanta, que chegam a associar criacionismo com terraplanismo, embora a Sociedade Criacionista Brasileira (que em nenhum momento foi consultada nem citada) tenha emitido meses atrás uma nota repudiando a ideia da Terra plana (confira). Em meu canal, inclusive, mantenho uma playlist com dezenas de vídeos contra essa sandice anticientífica (confira). Faltou apuração. Faltou boa vontade. Faltou jornalismo. E isso que a SCB se trata de uma entidade com CNPJ e atua no Brasil há quase meio século, tendo sido fundada por um grande pesquisador acadêmico e engenheiro brasileiro, o Dr. Ruy Carlos de Camargo Vieira, e atualmente presidida pelo doutor em Geologia Marcos Natal.

O biólogo e doutor em genética Wellington Santos expressou bem a indignação dos criacionistas: "Em primeiro lugar, a reportagem menciona a indicação do Dr. Benedito Aguiar para a presidência da Capes, órgão responsável pela pesquisa e a pós-graduação no Brasil. Em seguida, a reportagem mostra uma declaração do Dr. Benedito em um congresso sobre design inteligente na universidade presbiteriana Mackenzie, em 2019. E aí vai o nosso primeiro questionamento: O que tem a ver uma declaração dele colocando-se favorável ao criacionismo com o trabalho que irá desenvolver à frente da Capes? Por acaso ele disse que irá apoiar pesquisa sobre criacionismo usando dinheiro público? Não. Então por que tanta preocupação? Percebe-se que o criacionismo é usado por uma emissora que procura criticar o governo quando toma alguma decisão favorecendo um profissional que defende o criacionismo, mas está muito longe de querer impor isso à sociedade. Em segundo lugar, a reportagem mostra um professor da UFRN associando o criacionismo ao terraplanismo. Quanta distorção! Basta olhar no site da Sociedade Criacionista Brasileira uma declaração oficial da instituição rejeitando o terraplanismo. Por último, vejo uma intenção clara de colocar a controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo na sala de aula como o desdobramento de um longo debate entre ciência e religião. Para aqueles que se entregam a esse debate de maneira exageradamente apaixonada, recomendo um pouco de filosofia da ciência, que faria bem para ambos os lados. Toda teoria científica, seja ela criacionista ou evolucionista, traz ideias metafísicas embutidas em seus postulados. O que precisamos realmente é ensinar de maneira crítica e fazer com que nossos alunos não sejam apenas meros refletores do pensamento de outros, mas que eles tenham condições de avaliar os argumentos apresentados à luz das evidências. Para concluir, existem muitos cientistas na academia com a cosmovisão criacionista e que fazem ciência com excelência." 

Outra manifestação de que gostei foi a da advogada e deputada Janaína Paschoal, que escreveu o seguinte em seu Twitter: "Não sei se o novo presidente da Capes será um bom gestor. Só sei que ele não pode ser discriminado por sua religião! Se, no novo cargo, ele fizer algo incompatível, critiquem! O que estão fazendo com ele (antecipadamente) é inconstitucional e ilegal! Sendo o Estado laico, os cargos não podem ser preenchidos apenas por agnósticos e ateus, como, ao que parece, seria o razoável aos formadores de opinião brasileiros. Estado laico é aquele que dá liberdade a todas as religiões, inclusive ao ateísmo. Falar em Design Inteligente não implica negar a Ciência. Aos menos informados, sugiro a leitura do livro Entre Naturalismo e Religião, de Habermas. E lembro que a Ciência existe, graças a Deus!"

Abaixo segue uma relação de vídeos e um texto que lhe fornecerão subsídios para se posicionar nessa discussão [MB]:













Leia também: "Definições oficiais de conceitos criacionistas"

Manifesto público da Sociedade Brasileira do Design Inteligente (confira)


O “putsch” rasteiro, academicamente desonesto e ideologizado de grupo darwinista xiita da USP contra Benedito Aguiar Neto, novo presidente da Capes (leia)

terça-feira, janeiro 28, 2020

A grande imprensa e a academia detonariam César Lattes


Na revista Brasil – Almanaque de Cultura Popular (edição de novembro de 2006), que encontrei a bordo de um avião da Tam, havia um texto alusivo ao Dia Mundial da Ciência (24/11). A pequena matéria dizia que “se o Brasil tivesse um panteão das ciências, nele estaria o curitibano César Lattes. Nascido em 1924, só é batizado na adolescência. Judeu, o pai teme a perseguição fascista. Aos seis anos, César joga xadrez. Aos 22, pesquisa na Universidade de Bristol, Inglaterra, uma partícula do átomo, prevista mas inédita”. Lattes descobriu o méson pi e chamou atenção para a ciência nacional. Ele recebeu vários prêmios, mas não o Nobel de Física. “Em 1950”, prossegue o texto, “fatores mal explicados dão o prêmio a Cecil Powell, seu colega de equipe inglês. Depois, com Eugene Garner, cria artificialmente o méson. Mas o parceiro morre, e a academia só premia vivos. Lattes morre em 8 de março de 2005, reconhecido como o maior cientista do Brasil. ‘Ele era para as pessoas esclarecidas o que Pelé é para o povão’, diz Iuda Goldman, seu colega de USP.”

Em agosto de 2001, o Jornal da Unicamp publicou uma entrevista com o nosso Pelé da ciência. Leia alguns trechos a seguir e depois minha nota final:

“– No princípio, Deus criou os céus e a terra.
“– Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo...
“– A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus movia-Se sobre a superfície das águas.
“– Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
“– Deus disse: ‘Faça-se a luz.’
“– Ele estava no escuro...
“– E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ a luz e às trevas, ‘noite’. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
“– Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?"

“Foi assim que começou o diálogo entre uma repórter e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp. O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista. [...]

“Em 1947 Lattes descobriu o méson-pi, depois de expor chapas fotográficas muito sensíveis, conhecidas como emulsões nucleares, à altitude de 5,6 mil metros do Monte Chacaltaya, na Bolívia, onde a detecção dessas partículas seria presumivelmente mais favorável. ‘Mas mais emocionante foi detectar os mésons produzidos artificialmente, com Eugene Gardner, em Berkeley’, relembra o mestre.


“Verbete da Enciclopédia Britânica, Lattes dizia aceitar a Bíblia como a origem da matéria. Curitibano, foi um dos criadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e tornou-se professor da Unicamp em 1967.”

Em resposta à jornalista, Lattes também criticou o conceito popular de Big Bang (segundo o qual o Universo teria começado em uma grande explosão), para então afirmar que Deus criou a matéria. “Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão... Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso.”

Como se pode ver, o homem que dá nome à maior plataforma de currículos virtuais do Brasil, criada e mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
acreditava em Deus e na Bíblia Sagrada, como muitos outros cientistas do passado e do presente; como os próprios pioneiros da ciência – Newton, Galileu, Copérnico, Pascal... No entanto, isso não impediu que Lattes pudesse lecionar na prestigiada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e se destacar no campo da ciência.

Se fosse hoje, com o crescimento da atuação da militância anticriacionista, além de César Lattes ser impedido de falar no campus, digamos, sobre o design inteligente do Universo, imagine o que aconteceria se ele fosse indicado para presidir, digamos, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação... A grande imprensa “cairia de pau” nele e em quem o indicasse. Alguns vociferariam: “Como pode colocarem um fundamentalista religioso desses para dirigir uma instituição ligada à ciência e ao ensino?” “Ele acredita em Deus e na Bíblia! Não deve ser um cientista de verdade.” Onde se viu um físico acreditar na Bíblia!” Criacionistas, que creem que Deus criou o Universo e a vida, e defensores da teoria do design inteligente não sabem fazer boa ciência. E por aí vai.

Ainda bem que isso tudo é só imaginação...

Michelson Borges

segunda-feira, janeiro 27, 2020

Imprensa e academia mais uma vez manifestam preconceito contra o criacionismo e a TDI

Aconteceu de novo, na mídia e na academia. Ano passado, a revista Época, da Globo, levantou suspeitas sobre o advogado Maurício Braga quando de seu convite para chefiar a pasta da secretaria de Direitos Autorais do Governo Federal. Conheço o Maurício pessoalmente. Antes de se mudar para Brasília, foi membro da mesma igreja que eu frequento em Tatuí, SP. Profissional experiente com 30 anos de carreira, honesto e qualificado, foi “condenado” pelo simples fato de ser adventista e guardar o sábado (saiba mais aqui e aqui).

Em 2013, por pressão de grupos anticriacionistas, a reitoria da Unicamp cancelou o que teria sido o primeiro Fórum Unicamp de Filosofia e Ciências das Origens (saiba mais aqui). Sete anos depois, a mesma coisa acontece na mesma universidade: um evento sobre design inteligente foi cancelado, tendo como um dos palestrantes, novamente, o químico Marcos Eberlin.

Em nota publicada em suas redes sociais, o Núcleo Curitibano da Sociedade Criacionista Brasileira (NC-SCB) repudiou a atitude de censura promovida pela Unicamp ao evento de lançamento da 2a Liga Acadêmica da TDI-Brasil. “As universidades, sobretudo as públicas, constituem ambiente de debate científico onde ideologias não devem ser utilizadas como motivo para impedir as discussões acadêmicas. A atitude fere, ainda, o direito constitucional de livre expressão, sendo o evento proposto completamente adequado ao ambiente universitário. A Teoria do Design Inteligente (TDI) é livre de induções filosóficas em seus postulados, os quais são unicamente sustentados e também falseáveis através da aplicação das leis científicas conhecidas aos dados encontrados na natureza”, diz a nota.

O texto informa ainda que o Dr. Eberlin é comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, autor de milhares de artigos científicos publicados e de dezenas de milhares de citações, detentor da medalha Thomson da Sociedade Internacional de Espectrometria de Massas (IMSF) e ex-presidente da IMSF, tendo atuado como vice-diretor do Instituto de Química e professor titular MS-6 da Unicamp, onde fundou e coordenou o Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas durante 25 anos.

Mesmo com esse currículo e com toda essa contribuição prestada à universidade, Eberlin foi desrespeitado, assim como foi o advogado Maurício Braga. Mas as manifestações de preconceito e parcialidade não param aí. O que aconteceu com Braga se repetiu com Benedito Guimarães Aguiar Neto [foto acima]. Anunciado como o novo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito foi reitor da prestigiada Universidade Mackenzie, é graduado e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), doutor na área pela Technische Universität Berlin, na Alemanha, e pós-doutorado pela University of Washington, nos Estados Unidos (veja a nota no site da Capes).

Em sua página no Facebook, Marcos Eberlin, hoje funcionário da Mackenzie e diretor do Discovery Mackenzie, se manifestou assim: “Homem que honra a calça que veste, ele é um ilustre defensor do ponto x contraponto na Academia. No Mackenzie, instalou com bravura o debate sobre nossas origens criando o Discovery Mackenzie. Lá temos hoje defensores do design inteligente, da evolução e até daquele casamento ‘espúrio’ do evolucionismo teísta. Isso é academia, é universidade! Laica! Mas Benedito inseriu ‘goela abaixo’ o DI na grade? Instalou o DI como politica acadêmica? Todo mundo agora só ensina DI lá? Claro que não! [...] Tranquilizei [o repórter da Globo] sobre se Benedito iria adotar o design inteligente como ‘política de Estado’. Eu disse: ‘Claro que não, ele é um homem sensato, honesto e sábio. Não quererá com certeza impor sua opinião. Mesmo porque nem é atributo da Capes fazer tal discussão, ou diretriz. E até a TDI é contra qualquer imposição, como o ensino de DI nas escolas. Somos todos contra seu ensino enquanto a Academia e os acadêmicos não aceitarem a TDI como digna de se contrapor à evolução. Aí, sim, será justo e correto ensiná-la nas escolas. Mas o que o repórter escreveu? Leia abaixo e veja se devo chamar o homem de repórter ou surdo, disléxico, deturpador, ou somente ‘tendencioso’? Você decide:

“‘O Benedito tem o direito de manifestar a sua opinião, mas o criacionismo não deve ser considerado uma política de Estado. Sabemos que a academia é darwinista e quase totalmente contrária a essa teoria. No dia em que ela for reconhecida como digna, aí sim, podemos debatê-la.

Isso tudo me fez lembrar também da ocasião em que a revista semanal Veja publicou uma reportagem altamente elogiosa sobre a educação adventista. A certa altura do texto, porém, adicionaram um “mas”: são escolas com bons índices acadêmicos, ótimas instalações, bons profissionais, mas... são criacionistas.

Essa academia e essa mídia preconceituosas talvez escrevessem de Newton, Galileu, Copérnico e outros o seguinte: “Sim, eles são os pioneiros da ciência e fizeram avançar tremendamente o conhecimento, mas... criam em Deus e na Bíblia.”

O correto não é “mas”, mas exatamente “por causa de”.

Pode não parecer, mas já houve tempo em que filósofos e cientistas, ateus e/ou evolucionistas eram mais honestos na defesa das suas visões de mundo. A citação a seguir, traduzida por Eliezer Militão e retirada do livro Darwin’s Century, do antropólogo, educador, filósofo e escritor sobre ciências naturais Loren Eiseley (1907-1977), é um exemplo disso. Conforme Eiseley, essas mesmas ideias também foram expressas por Alfred North Whitehead (1861-1847), matemático e filósofo inglês, membro da Real Sociedade Britânica e da Academia Britânica, e autor do livro Science and the Modern World:

“Embora possamos reconhecer as fragilidades do dogma cristão e deplorar a inquestionável perseguição do pensamento, que é um dos aspectos menos apetitosos da história medieval, também devemos observar que em uma das estranhas permutas em que a história ocasionalmente dá raros exemplos, está o mundo cristão que, afinal, deu à luz, de uma forma clara e articulada, o próprio método da ciência experimental. 

“[A] filosofia da ciência experimental [...] começou suas descobertas e fez uso de seus métodos por meio da fé, não no conhecimento, de que estava lidando com um universo racional controlado por um Criador que não agia por capricho nem interferia nas forças que Ele havia posto em operação. O método experimental foi bem-sucedido além dos sonhos mais loucos dos homens, mas a fé que o criou deve algo à concepção cristã da natureza de Deus. É certamente um dos curiosos paradoxos da história que a ciência, que profissionalmente tem pouco a ver com fé, deve suas origens a um ato de fé em que o Universo possa ser racionalmente interpretado, e que a ciência hoje é sustentada por essa suposição” (1959, p. 62; PDF aqui). 

Muitos historiadores e filósofos da ciência na última década discordariam de Eiseley por terem percebido que a quase totalidade das narrativas que descrevem a perseguição ao pensamento na era medieval trata-se de ficção ou deturpação proposital para denegrir quaisquer elementos relacionados à igreja. Uma bem tramada e executada campanha de propaganda anti-religião. A despeito disso, Eiseley tem toda razão quando fala que o método científico tem essa dívida para com o pensamento judaico-cristão (leia mais sobre isso aqui). 

Ao passo que existem lendas e mitos sobre a perseguição religiosa aos cientistas, infelizmente o contrário é fato: muitos cientistas e acadêmicos têm perseguido a religião. Assim, estão cuspindo no prato em que comem há séculos e do qual dependem para viver. 

Michelson Borges

sexta-feira, janeiro 24, 2020

Comem de tudo e ainda não aprenderam a lição

Em 2004, o jornalista Dagomir Marquezi escreveu uma matéria para a revista Superinteressante sobre o vírus SARS, da mesma “família” que está, novamente, causando mortes na China atualmente. Até o momento, o vírus matou dezenas de pessoas e infectou quase 300, e já chegou à Tailândia, ao Japão e à Coreia do Sul. Casos também foram noticiados nos Estados Unidos e mesmo no Brasil. Desde 2004 já se comprovava que o consumo indiscriminado de carnes na China causava o surgimento desses supervírus (a suspeita agora paira sobre a sopa de morcego tão apreciada na cidade onde o coronavírus começou a se espalhar). Dezesseis anos depois, pessoas continuam morrendo pelos mesmos motivos. Em 2008, comentei o artigo de Marquezi aqui no blog www.criacionismo.com.br (confira).

[Continue lendo.]

quinta-feira, janeiro 23, 2020

Aprendizagem ou puro instinto?

Como ocorre a aprendizagem nos animais? Tudo o que eles fazem é consequência unicamente da sua carga genética? Suas atividades são realizadas somente pelo instinto ou eles são capazes de aprender? Há uma espécie de ave com características interessantes: pinyon jay (Gymnorhinus cyanopephalus); ela pertence à família corvidae e costuma comer sementes do pinheiro pinyon pine em grande quantidade. Mas elas não apenas consomem, também plantam suas sementes como jardineiros!

Os pinyon jay são também conhecidos como gaios, e podem formar organizações sociais com bandos superiores a 500 indivíduos. Eles vasculham a paisagem buscando alimento, em especial sementes de pinheiro. Ao encontrá-las, carregam mais de 50 de uma só vez – não com o bico, mas por meio de uma estrutura expansível do seu corpo: o esôfago.[2] As sementes que não são consumidas por eles são escondidas no solo para estoque em locais especiais.

Estudos estimam que, de setembro a janeiro, 250 gaios enterram cerca de 4,5 bilhões de sementes.[1] Aquelas que não forem reencontradas por eles, meses depois poderão originar novas plantas. O interessante é que essas sementes não costumam ser enterradas por eles em locais aleatórios, mas em áreas abertas, próximas a pilhas de arbustos e também árvores caídas – com condições apropriadas para o desenvolvimento de novas plantas (onde há disponibilidade de nutrientes, proteção contra ventos fortes, sol, etc.).

Como essas aves conseguem encontrar as sementes vários meses após escondê-las? Tal ação envolveria algum processo de aprendizagem?

Os gaios as armazenam em períodos de abundância – fim do verão e outono. Eles consomem plantas, nozes, frutas pequenas e sementes de pinheiro, mas, no fim do inverno, esses alimentos estão indisponíveis; assim, eles recuperam as sementes que foram armazenadas, encontrando-as com grande precisão. Na época de inverno, a dieta deles se reduz quase unicamente (95%) às sementes de pinyon pine.

Os gaios possuem uma memória espacial ótima, utilizam pontos de referência para localizar as sementes escondidas, recuperando não apenas o alimento, mas também uns dos outros (pela observação).

A aprendizagem pode ser classificada como “modificação adaptativa do comportamento com base na experiência” (p. 97).[3] Nos animais, a aprendizagem não gera alterações de comportamento pelo simples desejo de mudar; ela ocorre em casos de imprevisibilidade ambiental relevantes à espécie.

“A capacidade de aprender depende da organização do sistema nervoso estabelecida durante o desenvolvimento, seguindo instruções codificadas no genoma” (p. 1.138).[4]

Até mesmo nos insetos podemos identificar organismos com grande capacidade de aprendizagem. Isso acontece com as abelhas melíferas na busca por alimentos. Elas localizam quais “odores, formas e cores estão associados às diferentes flores produtoras de pólen ou néctar; em que momento particular do dia uma espécie de planta estará com as flores abertas; como retornar à colmeia após uma expedição de forrageio”, etc. (p. 98).[3]

De acordo com o autor, a seleção natural favoreceu o cérebro das abelhas melíferas, possibilitando que elas sejam capazes de incorporar informações importantes de variáveis ambientais, modificando atividades genéticas nas células cerebrais e alterando comportamentos do indivíduo, facilitando a exploração dos recursos das regiões vizinhas durante o forrageamento.

Na família dos corvos (Corvidae) esses comportamentos de aprendizagem espacial em resposta às pressões ecológicas específicas também ocorre. Neles, a aprendizagem espacial acima referida envolve a formulação de mapas cognitivos – “uma representação no sistema nervoso do animal da relação espacial entre os objetos ao seu redor” (p. 1.139).[4]

A adaptação de um organismo ao ambiente pode ser melhorada a partir da sua capacidade de aprendizagem, pelo estabelecimento de uma memória espacial do ambiente no qual vive.[4]

Dentre os Corvidae, quatro espécies possuem a predisposição para estocar alimentos, o que só é possível graças à ótima capacidade espacial deles. A aprendizagem acontece para que eles consigam solucionar problemas especiais em seu ambiente.
A época de escassez inicia-se cinco meses após o período de estocagem. Os machos apresentam probabilidades maiores do que as fêmeas de reencontrar as sementes escondidas. Isso acontece devido à responsabilidade deles em prover alimento para elas e seus filhotes. Assim, machos possuem memória melhor a longo prazo.
A ação de longos períodos de tempo, unindo-se à seleção natural com mutações genéticas seria a receita-chave para a geração de organismos com esse nível de complexidade?

(Moema Rubia Patriota é bióloga pela Universidade Estadual de Londrina, com especialização em Gestão, Licenciamento e Auditoria Ambiental pela UNOPAR, e MBA em Gestão Ambiental pela UFPR. É a idealizadora do Projeto: @polegarverdeambiental no Instagram)

Referências:
1. Providential planting, JOHNSON James J. Scofield.
2. The Coronell lab: 
allaboutbirds.org/guide/pinyon_jay/overview
3. ALCOCK, John. Comportamento animal: uma abordagem evolutiva (9 ed.).
4. REECE, URRY, et al. Biologia de Campbell.

Cristão vs. acadêmico: é possível ser os dois?

Conciliar fé e razão tem sido, há décadas, um aparente dilema para grande parte dos cristãos que decide enfrentar e se engajar no ambiente acadêmico. (1) Quais são as lutas que eles encontram nesse meio? (2) É possível manter-se fiel às suas crenças, quando muitos ao redor as estão as questionando e mesmo tentando desconstruí-las? (3) A ciência nos afasta da fé em Deus? (4) Existem cristãos verdadeiros que venceram no meio acadêmico? Qual o segredo deles?

Neste vídeo, Rafael Christ Lopes, doutor em cosmologia pela USP e professor do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), fala sobre sua trajetória em uma das áreas tradicionalmente mais céticas do conhecimento.

Ele dá seu testemunho de fidelidade diante da adversidade e conta como, ao contrário do que muitos esperavam, descobriu evidências sólidas a respeito de Deus na natureza e teve sua fé fortalecida, ao invés de desacreditada.



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