De fato, o ano de 2020 tem se tornado pano de fundo para uma diversidade de “memes” em virtude da quantidade de catástrofes naturais que vêm ocorrendo. Agora, considerando a aproximação de nuvens de gafanhotos com o Brasil, há quem diga que as pragas do Egito estão de volta. Outros, porém, questionam sua relação com as pragas apocalípticas. Mas, afinal, o que é essa nuvem de gafanhotos? Como ela surgiu e será que existe relação com alguma praga ou profecia bíblica? Antes de tudo, vamos entender o que são esses animais e por que podem ser considerados uma ameaça.
O que são os gafanhotos?
São animais que possuem patas articuladas e exoesqueleto quitinoso, chamados de artrópodes. Dentro desse Filo, a Classe dos insetos difere das demais porque seus integrantes possuem três pares de pernas, um par de antenas e três divisões do corpo (tagmas): cabeça, tórax e abdome.
Os gafanhotos pertencem à subordem Caelifera e à ordem Orthoptera (insetos com asas em linha reta), e estão classificados dentro da Família Acrididae em virtude de seu terceiro par de pernas saltatórias. Além dos gafanhotos, integram esse grupo as esperanças, os grilos, as paquinhas e as taquarinhas. Dentro dessa família Acrididae, a espécie Schistocerca cancellata, a mesma que está na Argentina, é considerada a mais robusta e de maior comprimento. Os machos geralmente têm quatro centímetros e as fêmeas, seis.
Aparelho bucal e alimentação
O aparelho bucal dos insetos foi minuciosamente projetado de acordo com o tipo de alimento que consomem. Os gafanhotos possuem um aparelho bucal do tipo mastigador, com uma mandíbula enorme, capaz de devorar um galho em segundos.
Labro: forma o “céu” da boca dos insetos, articulando-se sobre o clípeo. Relaciona-se a uma função gustativa.
Mandíbulas: são duas peças dispostas lateralmente abaixo do labro, articuladas e resistentes. Sua função é mastigar, triturar ou dilacerar os alimentos
Maxila: articuladas na parte lateral inferior da cabeça, são peças auxiliares durante a alimentação.
Lábio: representa a parte inferior da boca.
Em relação aos hábitos alimentares, esses insetos são polífagos (comem mais de uma variedade de alimento) geralmente consomem folhas de vários tipos de plantas tais como: citros, arroz, soja, pastagens, alfafa, eucalipto e outras. Estima-se que a quantidade diária de alimento ingerido seja equivalente ao seu peso. Em se tratando de um único inseto, não se percebem grandes alterações no ambiente, mas o problema é que algumas espécies de gafanhotos são gregárias (vivem em grupos) e podem representar uma grande ameaça para a agricultura e, indiretamente, para a agropecuária, uma vez que os rebanhos se alimentam dos vegetais.
A formação da nuvem e o deslocamento dos gafanhotos
A formação de uma nuvem de gafanhotos está diretamente relacionada com questões ambientais específicas. Um dos motivos para a formação dessas nuvens é o clima. Outro fator importante é a diminuição dos inimigos naturais desses insetos (sapos, pássaros, fungos e bactérias), em parte decorrente do uso abusivo e incorreto de inseticidas e agrotóxicos. Dessa forma, ao encontrarem condições favoráveis pelo caminho, como tempo quente e seco, vento e alimento, esses insetos vão se reproduzindo rapidamente, avançando pelas lavouras enquanto devoram tudo o que encontram pela frente.
Estima-se que haja cerca de 40 milhões de indivíduos por quilômetro quadrado da “nuvem”. Nesse caso, como não há alimento suficiente para sustentar todos os insetos do bando, o grupo se desloca em busca de comida, o que pode incluir plantações e áreas agrícolas. Das 400 espécies conhecidas, cerca de 50 são nômades, podendo percorrer uma média de 150 quilômetros por dia. Embora não transmitam doenças, o prejuízo econômico de uma nuvem de gafanhotos pode ser enorme.
As atuais nuvens de gafanhotos têm alguma relação com as pragas do Egito?
Definitivamente NÃO! O fato de uma nuvem de gafanhotos ter sido a 8ª praga do evento bíblico relacionado à libertação do povo de Israel do jugo egípcio tem dado “asas” à imaginação de muitos internautas. Porém, as dez pragas foram um evento pontual, específico, e não vão acontecer novamente. Qualquer semelhança é mera coincidência. Mantenha distância de sites que abordam tais especulações que visam atrair “likes” de curiosos e desinformados. Você pode ler a história dessa fantástica atuação de Deus para livrar seu povo no livro de Êxodo, nos capítulos 7 a 12.
Invasões de gafanhotos são novidade?
Não estamos acostumados a ouvir noticiários sobre “bandos” de gafanhotos invadindo lavouras, mas o fenômeno tem se tornado cada vez mais frequente. Na América do Sul, há registros de nuvens de gafanhotos atacando cultivos de mandioca na província de Buenos Aires em 1538. Em 2004, uma nuvem de gafanhotos chegou ao Cairo e as imagens dos insetos tapando a visão das Pirâmides de Gizé correram o mundo. Em janeiro de 2016 houve uma infestação no noroeste da Argentina, sendo considerado o maior ataque em 50 anos.
Infestações por gafanhotos no Brasil já causaram grandes perdas às lavouras de arroz na região Sul do País, nas décadas de 1930 e 1940. Desde então, o controle tem sido eficiente, mantendo-os em sua fase “isolada”, evitando a formação “nuvens”. Atualmente a única espécie nômade que vive regularmente no País e causa problemas é a Rhammatocerus schistocercoides, encontrada no Mato Grosso. Recentemente vemos uma ameaça em virtude de manifestações dos insetos no Paraguai e na Argentina.
Por outro lado, a praga está há meses assolando parte da África, do Oriente Médio e Sudeste Asiático, regiões já vulneráveis. Entre o fim de 2019 e o início de 2020, gafanhotos geraram alertas da FAO a países do leste da África para as piores infestações dos últimos 70 anos. A situação foi pior no Quênia, na Somália e na Etiópia, e fazendeiros relataram preocupação com a fome depois que os insetos comeram plantações inteiras de produtos como milho e feijão.
De fato, os noticiários mencionam que as atuais infestações são as piores em décadas. Diante disso, muitos têm voltado os olhos para o livro do Apocalipse, considerando que esse livro também faz menção a pragas no fim dos dias da Terra. Vimos que as infestações de gafanhotos nada têm que ver com as dez pragas do Egito, mas pode haver alguma relação com as pragas do Apocalipse ou com suas profecias?
Gafanhotos e o Apocalipse
Quando analisamos o cenário mundial, temos a percepção de que tudo ao nosso redor parecer estar em convulsão, prestes a ruir. Os noticiários do mundo todo estão repletos de rumores de guerras, manifestações públicas cheias de intolerância e ódio, causando depredação de patrimônios culturais, públicos e privados, incêndios que esforços humanos custam para controlar e apagar, terremotos, ciclones, disseminação de doenças (pestes) que causam danos físicos, sociais, econômicos e emocionais, além da crescente preocupação com pragas, como a dos gafanhotos. Cenários comuns em locais distintos, acontecendo em períodos próximos e cuja intensidade tem sido classificada como “a pior em décadas” nos fazem pensar se estamos mesmo vivendo o “fim dos tempos”, assim como descrito em Mateus 24.
Não bastasse isso, alguns recorrem à Bíblia e se deparam com o texto em que João também vê as guerras e pragas derramadas durante o sétimo selo, em Apocalipse 9:1-3: “E o quinto anjo tocou a sua trombeta, e vi uma estrela que do céu caiu na terra; e foi-lhe dada a chave do poço do abismo. E abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço, como a fumaça de uma grande fornalha, e com a fumaça do poço escureceram-se o sol e o ar. E da fumaça saíram gafanhotos sobre a terra; e foi-lhes dado poder, como o poder que têm os escorpiões da terra.”
Apesar disso, é preciso atentar para o fato de o livro do Apocalipse ser simbólico, e a única relação com as atuais nuvens de gafanhotos se dá pela característica voraz desse animal, e não ao inseto propriamente dito. Você pode ler mais sobre os gafanhotos do apocalipse aqui.
Embora não seja uma das sete pragas apocalípticas, a Bíblia menciona que a maior frequência no aparecimento das “pragas” seria um dos sinais de que o mundo estaria, sim, chegando ao fim. E agora?
Uma boa notícia
Parece impossível conciliar os atuais eventos com qualquer boa nova, não é mesmo? Mas acredite, é exatamente o que tudo isso representa: o fim do sofrimento e da dor e a proximidade de uma vida eterna e feliz. Como assim? Tudo faz parte do plano de salvação elaborado por Deus para nos livrar da morte decorrente do pecado.
Cristo selou Seu pacto com a humanidade na cruz do calvário, mas o fim do pecado se dará somente com a segunda vinda de Cristo. Ele prometeu e vai cumprir. É aí que se encaixam as peças de toda desgraça que temos visto. Cristo sabia que o ser humano se esqueceria do “manual de instruções” deixado por Ele nos dez mandamentos, e consequentemente os hábitos destrutivos humanos refletiriam no caos que vemos hoje.
Por isso ele deixou na Bíblia os sinais de Sua volta para que pudéssemos nos preparar e poder ter “paz em meio à tempestade”. Um desses sinais é que a frequência de pagas e pestes iria aumentar com o passar do tempo, e estamos vendo isso diante de nossos olhos. Os sinais são muitos, mas o cenário da gloriosa volta de nosso Criador está quase completo.
Você sabe quais são os sinais da volta de Jesus? O que ainda falta acontecer? Não se deixe enganar por fontes duvidosas e especulativas. As respostas estão na Bíblia e vamos deixar links de estudo abaixo. Ore, peça orientação divina, estude e reparta essas boas-novas com as pessoas que você ama.
Quando tudo parecer ruir, lembre-se das palavras de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos.”
(Liziane Nunes Conrad Costa é formada em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE]. É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])
Referências:
MARTINEZ, Natasha Macias; ROCHA-LIMA, Ana Beatriz Carollo. A importância dos insetos e as suas principais ordens. Unisanta BioScience, v. 9, n. 1, p. 1-14, 2020.
MEDINA, HECTOR E.; CEASE, A.; TRUMPER, E. The resurgence of the South American locust (Schistocerca cancellata). Metaleptea, v. 37, n. 3, p. 17-21, 2017.
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