terça-feira, maio 29, 2018

Sobre elefantes e homens



Havia elefantes no Brasil! Bem, os mastodontes são primos dos elefantes e mamutes e essa manchete pode parecer bem interessante no contexto de nossa fauna atual. Inicialmente os mastodontes eram encontrados somente na América do Norte e acredita-se que sua extinção ocorreu no fim do pleistoceno, entre 10 mil e 11 mil anos atrás. Os mastodontes viviam em manadas e eram predominantemente animais de floresta, e possuíam um comportamento de forrageamento semelhante aos do elefantes atuais. Porém, nos últimos anos, muitos fósseis de mastodonte foram encontrados na América do Sul, principalmente no Brasil. No fim do mês de abril de 2018, pescadores catarinenses fisgaram uma mandíbula do animal no litoral sul-brasileiro.[1] O pesquisador Jules Soto, curador do Museu Oceanográfico da Univali disse: "É um grande achado. Não só por causa da espécie, mas por ser um lado da mandíbula quase inteiro. Isso é muito difícil de achar. Temos mais de 100 fósseis similares na coleção, vindos do Sul do Rio Grande do Sul, e nenhum deles está inteiro. Essa é uma peça enorme, que impressiona."

Com a mandíbula havia algumas vértebras: uma de preguiça-gigante (Lestodonte) e outra de uma espécie parecida com um hipopótamo (Toxodonte), o que indica que o ponto localizado pelos pescadores é um “sítio fossilífero”, local onde estão reunidos diversos fósseis.

Já haviam sido localizados nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, em Minas Gerais e no Sul do Rio Grande do Sul.[2] No período glacial, após o dilúvio, os animais já dividiam espaço com os primeiros seres humanos que migraram para a América do Sul. Provavelmente descendentes de Cam, filho de Noé. Há fósseis que comprovam, inclusive, que eram caçados e serviam de alimento. Um fóssil de elefante descoberto na Cordilheira dos Andes, por exemplo, indica que ele foi parcialmente assado de baixo para cima. Um gigantesco “churrasco” pré-histórico.


Mamute, elefante e mastodonte: comparativo de tamanho

O fato é que estamos encontrando evidências de que essa megafauna coexistiu com humanos e que esses humanos não eram nem de longe primitivos. Trocando em miúdos, estamos cada vez mais aproximando as descobertas paleontológicas com o modelo criacionista bíblico. Ora, se todos os animais originais saíram da arca em um período no passado é de fato muito comum encontrar essa interação entre humanos e animais "pré-históricos". Outra descoberta interessante que nos faz entender essa relação humana com os animais pré-históricos foi publicada na Science Advances[3] recentemente. Os preguiças gigantes não somente viveram com os seres humanos, mas eram caçados por eles.


Ilustração da preguiça gigante sendo caçada, exibida na Science Advances

Conseguimos seguir o rastro dessas migrações humanas seguindo os grandes bandos de animais em busca de sobrevivência em um período glacial após o dilúvio. Alguns até pintando em cavernas os objetivos de sua caça e outros esculpindo em ossos os animais que faziam parte dessa dieta "pré-histórica".


Escultura de um mastodonte em um pedaço de osso fossilizado, encontrado em Vero Beach, na Flórida

E as descobertas parecem não parar. Toda semana encontramos mais uma peça desse quebra-cabeça "pré-histórico" nos mostrando que pouco sabemos sobre o que ocorreu após o dilúvio. Em Curitiba, foram encontrados diversos ossos dessa "megafauna" que viveu no Sul do Brasil.[4] Uma variedade imensa de animais agrupada em um único local. Desde preguiças e tatus gigantes, crocodilos, marsupiais, animai de cascos (semelhantes a cavalos), aves do terror e até sparassodontes. O que mais chamou a atenção nessa recente descoberta foi a datação desses fósseis: de 39 a 42 milhões de anos. Sabemos que mastodontes e preguiças estiveram aqui muito antes disso e talvez essa "faixa de tempo" seja algo tão mágico que tudo pode acontecer nesse período. 

Estamos muito longe ainda de saber o que de fato aconteceu em nosso território brasileiro. E a cada dia a história nos conta mais alguns trechos. Descobertas, estudos e apontamentos cada vez mais próximos de montarmos essa maravilhosa história. Nas palavras do professor e paleontólogo da UFPR Fernando Sedor: "Há uma série de controvérsias sobre as rotas migratórias de animais e sobre como no passado eles estavam inseridos."

Os homens americanos estão cada vez mais civilizados e seus rastros apontam para respostas pós-diluvianas que estamos recentemente encontrando. Será que teremos que reescrever a história a partir dessas descobertas? Ou apenas devemos ignorar como eventos isolados sem conectividade nenhuma ?

Bem, estamos de olho!

(Alex Kretzschmar)


Referências:

[1] Achado do fóssil de mastodonte. Disponível em: http://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2018/04/pescadores-de-sc-acham-fossil-de-mastodonte-pre-historico-10323826.html. Acessado em 17 mar. 2018


[2] Mastodontes em território brasileiro. Disponível em: http://tatyoliveira24.blogspot.com.br/2016/08/fossil-de-mastodonte-e-encontrado-em.html. Acessado em 17 mar. 2018

[3] Preguiças gigantes sendo caçadas por humanos. Disponível em: http://advances.sciencemag.org/content/4/4/eaar7621. Acessado em 17 mar. 2018

[4] Fósseis Pré-históricos em Curitiba - https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/05/fosseis-pre-historicos-sao-achados-em-area-de-invasao-em-curitiba.shtml. Acessado em 21 mai.2018

Meu vídeo foi alvo do “ministério das fake news”


É impressionante ver como há pessoas que se divertem com a mentira, promovendo um verdadeiro “ministério das fake news”. Neste texto (confira) eu falo um pouco sobre essas notícias mentirosas e relembro aos esquecidos quem é o pai da mentira. Esses imitadores do inimigo já fizeram o Dr. Rodrigo Silva parecer terraplanista, já espalharam mentiras sobre pastores e líderes, e em tempos de crise se deleitam em criar alarde.

Anda circulando pelo WhatsApp uma versão editada de um vídeo que postei no dia 26/10/2017, no qual uso de humor para ironizar um boato espalhado na época (assista ao vídeo abaixo para saber do que se trata). Ocorre que um “ministro” da inverdade cortou meu vídeo e o está espalhando por aí, dando a impressão de que eu disse exatamente aquilo que tentei desmentir. Simplesmente lamentável.

Se você se deparar com essa versão editada/cortada do meu vídeo, por favor, não a encaminhe e avise a pessoa que lhe enviou que se trata de uma brincadeira de muito mal gosto. Seja um defensor da verdade. Antes de compartilhar qualquer conteúdo, seja foto, áudio ou vídeo, tenha certeza de que se trata de algo verdadeiro.

Michelson Borges

sábado, maio 26, 2018

Criacionismo e esperança


Quando pensa, o homem pensa guiado por algum tipo de estrutura conceitual complexa e abrangente. Por trás de suas ideias existe um pano de fundo, certo ponto de partida na forma de dogma, nem sempre fácil de explicar ou definir, mas fortemente poderoso, que lhe serve de orientação existencial. Por intermédio dessa lente, o homem enxerga a si mesmo, a realidade e o mundo, interpretando-se e interpretando o exterior mediante o instrumento da linguagem. Em outras palavras, “todo pensamento teórico tem como ponto de partida pressupostos fundacionais indemonstráveis, designados como axiomas, modelos, paradigmas, matrizes discursivas, epistemas, mundividências (ou cosmovisões), crenças, ideologias, etc.”. Evocando Blaise Pascal, no centro e no recôndito do pensamento humano pulsa um coração que “tem razões que a própria razão desconhece”.

Na esfera filosófico-científica, dois “corações” batem com vigor, cada um impactando o mundo de maneira diferente. Um deles pulsa concedendo vida a teses que concebem o Universo e a humanidade como resultados do mero acaso, acidente ou sorte, excluindo o propósito cósmico e pessoal do cenário da vida: este é o evolucionismo na sua forma mais radical. Outro “coração”, o criacionismo, insiste em bater com base no fato da Criação especial, imprimindo significado transcendente a tudo que existe e não excetuando de suas considerações o problema do mal e do sofrimento. Se ambos podem ser classificados como modelos ou estruturas conceituais, qual deles bate no ritmo certo da realidade e possui maior poder explanatório perante os fatos da história, as leis da natureza e as anomalias e absurdidades do mundo? Outra pergunta de grande importância: Como tais modelos podem estar relacionados com o anseio por esperança que o ser humano traz no íntimo?

Para Nancy Pearcey, estudiosa das cosmovisões, “todo sistema de pensamento inicia-se em algum princípio último. Se não começa com Deus, começa com uma dimensão da criação – o material, o espiritual, o biológico, o empírico ou o que quer que seja. Algum aspecto da realidade criada será ‘absolutizado’ ou proposto como base e fonte de tudo o mais – a causa não causada, o existente por si mesmo”. Dessa forma, conforme Langdon Gilkey, “quer o deseje, quer não, o homem como criatura livre deve moldar sua vida de acordo com algum fim último, deve centrar sua vida em alguma realidade última escolhida e deve submeter sua segurança a algum poder de confiança. O homem é, portanto, essencialmente, não acidentalmente, religioso, pois sua estrutura básica, como dependente e, todavia, livre, inevitavelmente enraíza sua vida em algo último”.

Enquanto na mentalidade cientificista as leis naturais são consideradas o fato bruto e último do Universo - concorrentes de Deus -, o pensamento criacionista aponta em direção à Causa pessoal não causada - o Criador eterno. Aqui há enorme diferença de concepções, pois, metafisicamente, o criacionismo sustenta-se sobre uma base supranatural não reducionista, conferindo à existência o sensus divinitatis. Entretanto, em sua visão limitada e encantados pelas leis da natureza, os cientistas materialistas acham inadmissível qualquer Presença pessoal por trás do cosmos. Por quê? Porque as leis naturais realmente nos causam espanto, a ponto de querermos torná-las os “deuses da matéria”. Aqueles que têm o privilégio de estudá-las a fundo ficam assombrados com a linguagem matemática dessas leis. Quem sabe o maravilhamento para com o Universo tenha sido o elemento responsável para conduzir alguns homens ao processo de “divinização” da natureza. Assim, a postura de muitos cientistas indica que, sutilmente, a natureza é “deificada”, mas de maneira bem diversa daquela do passado mitológico. O endeusamento atual é consequência do deslumbramento humano em face das leis físicas, químicas e biológicas, “adoradas” pela maioria daqueles que investigam os misteriosos e grandes segredos da vida. Nesse processo de investigação, infelizmente, o Legislador vem sendo ostracizado e desconsiderado por uns, e até zombado pelos mais acérrimos inimigos da ideia de um Deus pessoal – indivíduos competentes em sondar e descobrir coisas incríveis que olhos não treinados não são capazes de enxergar. Admiram-se diante da maravilha, mas olvidam o Maravilhoso; ou, como expressou A. W. Tozer, “o cientista moderno perdeu a Deus no meio das maravilhas do mundo de Deus”.

Porém, é difícil não perceber “o rumor de algo invisível por trás da Criação (...). Cada descoberta traz consigo novas perguntas que têm multiplicado os mistérios que nos cercam. O que está cada vez mais claro, porém, é que o movimento da descrição para a explanação está além da esfera da pesquisa científica unicamente. Do infinitesimal para o infinito, o design e a estrutura da natureza apontam inexoravelmente para as maravilhas de coisas ainda não vistas. A ciência continua a revelar a infraestrutura oculta da natureza. E com cada nova descoberta, surgem mais evidências de um tecido supranatural, que não somente abastece e anima o cosmo, mas também detém as derradeiras respostas acerca do Universo e da realidade propriamente dita. (...) Há alguma coisa não totalmente natural acerca da ‘natureza’”.

“No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1). O coração do criacionismo bate nessa esperança fundamental. Crendo-se nas linhas iniciais de Gênesis, renuncia-se a pseudoconcepções que só deixam o homem ainda mais perdido e incompleto, entre as quais: “O ateísmo, inequívoca negação da existência de Deus, é falso porque Deus é. O materialismo, que pretende explicar todas as experiências da vida em termos das leis físicas, e nega a necessidade de crer em Deus como a Causa eficiente de todas as coisas, é falso porque aqui se vê que a matéria um dia começou a existir. O dualismo, ensinando que há dois princípios eternos, até mesmo dois seres divinos – um mau e outro bom – em oposição mútua, é falso porque no princípio havia Deus somente. O panteísmo, que afirma que tudo é Deus e Deus é tudo, identificando Deus e natureza, insistindo na eternidade da matéria, e asseverando que a matéria pode de si própria originar vida, é falso porque Deus estava fora de Sua criação. O politeísmo, que é culto a muitos deuses, é falso porque só havia um Deus criando. O evolucionismo, definido como a teoria de que, mediante processos naturais e por transformação gradual, todas as coisas derivam de materiais preexistentes, é falso porque céus e terra foram criados.”

Encontrar a verdade nos discursos mais extraordinários constitui uma possibilidade aberta ao teste da investigação histórica e científica. Afirmações suprarracionais que parecem não fazer sentido por causa de leituras enviesadas e interpretações enganosas, conhecimento fragmentário, pressupostos filosóficos, limitações do pensamento ou preconceito, podem ser encaradas como antigas verdades que ainda encontram correspondência na mente científica. Na procura por nossas origens, pela "ancestralidade comum universal", teremos de adotar algum discurso extraordinário, admitir certa metanarrativa, crendo e vivendo pelas evidências buscadas em todos os campos do conhecimento. É assim que formamos nossa visão de mundo, a qual precisa ser testada no laboratório da experiência humana.

Talvez para aqueles que analisam superficialmente as teses criacionistas, aos seus olhos estas não passem de obscurantismo alimentado pela superstição e arrogante pretensão dogmática. Nada mais equivocado! Visto mais de perto sem o olhar do preconceito e da ignorância, o criacionismo não só permite decifrações mais consistentes diante do enigma de “por que existe algo ao invés de nada?”, mas também incute fôlego cognitivo ao ser humano desejante de respostas que o salvem do seu “peso existencial”. Dessa forma, se a crença na evolução mecanicista causa incertezas e o desencantamento do mundo, aceitar os fundamentos essenciais do criacionismo significa receber um impacto de esperança: esperança que se traduz no passado originado pelo fiat divino, na realidade presente guiada pela Providência e no futuro em que a criação será renovada e revestida de glória inimaginável. Assim, o criacionista sente-se amparado pela benevolente Consciência supervisionadora que se encontra além da natureza e de suas leis. Para ele, explicar regularidades e fenômenos não é suficiente; constitui apenas uma parte do processo de investigação que começa com o mundo material, mas prossegue em trajetória até Deus. Nesse percurso, o visível e o invisível se entrelaçam, e o mundo da ciência encontra-se com o universo da fé. Logo, o criacionismo é uma cosmovisão permeada de esperança, porquanto, através de suas lentes, toda a realidade é observada e estudada sob o enfoque da criação e da redenção.

Como bem disse João Calvino: “O que seria de nós se não nos apoiássemos na esperança, e se nossos sentidos não se dirigissem para fora deste mundo, no caminho iluminado pela Palavra e pelo Espírito de Deus em meio a essas trevas?” O caráter extraordinário do criacionismo constitui um tremendo desafio à mente que procura por luz e sentido, e não somente por ciência e explicações. De mãos dadas com a fé, o criacionismo abre uma janela de perspectivas capaz de direcionar nossos pensamentos e afetos para além do mundo contingente; ele é uma ponte de esperança que une o “como” ao “porquê”. 

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

sábado, maio 19, 2018

Yoda e a pós-modernidade

"Chegou a hora de você ignorar uma pilha de livros velhos." "São os textos Jedi sagrados!"n"Uma lida neles você deu?" [embarassado] "Bem... eu..." "Mágicos eles não são... sim... sim... sabedoria eles possuem... mas não há nada naquela biblioteca que a jovem Rey já não possua."

Essa é a fala do espírito desencarnado do gnomo alienígena Yoda com o ex-caipira ingênuo e aventureiro, agora hermitão, Luke Skywalker, a respeito da jovem novo-padrão-de-[não]beleza-e-comportamento-feminista Rey (p.s.: nome assexual), em torno do minuto 82 do filme Star Wars: The Last JediEssa fala, de um dos personagens mais canhestros e emblemáticos da cultura popular do último meio-século, representa com invulgar escancaramento o pensamento pós-moderno que nos cerca aonde quer que vamos ou onde quer que permaneçamos.

Não precisamos ser muito perspicazes para entender qual é o recado dessa (e de muitas outras) fala, para quem se destina e quem é o autor. "Sim, sim. Sabedoria os velhos livros sagrados possuem, mas nada que você, que é um Jedi (caso contrário não estaria se interessando por este filme), já não possua. Olhe para dentro de você, a resposta e o poder estão sempre lá."

A cultura pós-moderna surge como uma reação normal e até mesmo esperada da frustração humana dos últimos 250 anos. Por determinado tempo se imaginou que os problemas da humanidade seriam resolvidos quando todos tivessem acesso à comida e aos bens de consumo necessários. Veio a revolução industrial e escravizou seres humanos a jornadas de 16 horas diárias, sete dias por semana, com recursos para parcamente pagar por seu alimento, e apenas isso. Então foi a vez das doenças: a higiene e a vacina de Pasteur, os antibióticos de Fleming e tudo o mais eliminaram algumas doenças - só para dar lugar a outras muito mais misteriosas e sinistras como o câncer e as doenças genéticas. O desenvolvimento da ciência levaria a humanidade ao suprimento inesgotável de energia a partir da fissão do átomo, mas as esperanças praticamente se desfizeram ao se verem dezenas de milhares de pessoas instantaneamente incineradas pelos filhotes gêmeos bivitelinos do Projeto Manhattan e sua prole infindável nas mãos de americanos, russos, ingleses, franceses, indianos, paquistaneses e até... norte-coreanos. Frustrações de um mundo sem Deus, que quer se apropriar por si só da fórmula da vida e da felicidade.

Mais uma vez: a indústria, a ciência, a medicina são todas dádivas maravilhosas. Me refiro aqui ao depósito da confiança humana exclusivamente nessas ferramentas e ao esquecimento da figura do Criador.

O método científico cartesiano não foi capaz de lidar satisfatoriamente com questões subjetivas, metafísicas e de altíssima complexidade. Bauman abordou esse paradoxo em termos de modernidade líquida. Edgar Morin falou sobre a metáfora do holograma para expor ideias sobre o pensamento complexo. Michel Focault, Jacques Derrida, dentre outros, aliados com o mais antigo David Hume tentam desconstruir (e conseguiram, em grande extensão) o conceito de uma verdade absoluta, do dogmatismo e do positivismo, justamente sobre os argumentos de que a ciência de Newton e Descartes falhara, e a da relatividade de Einstein viera para sobrepujá-la. Ora, se o que era tido como pétreo nas ciências duras foi "derrubado" e considerado relativo, por que não os estudos sociais e humanos, incluindo a ética e a moral?

Embora as previsões de Nietzsche de que Deus estava morto e a religião não veria a luz do século 21 felizmente e profeticamente estivessem erradas, de certa forma, a religião (quase) morreu. O homem se tornou o seu próprio deus, e então a régua da perfeição, do padrão moral de ideal para o ser caído passou a ser ele mesmo: um ser confuso, malévolo e inseguro, tentando se autoafirmar em ideias de autoajuda como a do Sr. Miyagi New Age, descritas acima. Mesmo nas igrejas é muito comum vermos repetidamente esse novo paradigma transliterado. Deus saiu do altar e ocupou um lugarzinho escondido no meio da plateia, se é que é convidado(!). A música já não é mais uma ode ao - indescritivelmente- grande-demais-para-ser-adjetivado-humanamente - Criador, Mantenedor e Redentor, e passa a incorporar indiscriminadamente a primeira pessoa dos pronomes pessoais do caso reto e, notavelmente, os possessivos. Os sermões abandonaram o "livro antigo que tem algumas coisas boas" para recorrer às elucubrações portentosas dos doutos em centros de treinamento secular altamente institucionalizados.

Nos tornamos nihilistas. Nos tornamos relativistas. Nos tornamos hedonistas. Nos tornamos individualistas.

Supresa! Será que Deus foi "pego despreparado"?

Gaste alguns minutos refletindo sobre as palavras de Paulo a Timóteo:

"Sabe porém isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos, porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus. Tendo aparência de piedade, mas negando-lhe a eficácia dela. Destes, afasta-te" (2 Timóteo 3:1-5).

Com outros termos, Paulo descreve a sociedade pós-moderna. Em tempo: estou fazendo uma leitura e uma aplicação amplas. Evidentemente nosso mundo guarda, em todos os seus recônditos, pessoas às quais esta descrição não se adequa bem. Mas você irá concordar que esta parece ser uma descrição perfeita do que lemos no nosso site favorito de notícias, o que recebemos no Whatsapp, vemos no Facebook ou experienciamos no trânsito das grandes cidades.

A pós-modernidade, de acordo com a Bíblia, é o sintoma de uma causa que ocorre em uma etapa anterior: "...e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos" (2 Tessalonicenses 2:10).

Mais uma vez ela: a verdade. O engano, de acordo com Paulo, ocorre não como condição inicial, mas como condição final. A causa está declarada na segunda sentença do versículo: não acolheram o amor da verdade. Quando a verdade é rejeitada, resta apenas a ilusão do engano próprio, que é o pior tipo de engano que existe.


Quando o mundo aceitou a ideia de que Deus não Se revelou na Bíblia ou na pessoa de Cristo, embora tenha tido maus testemunhos da Igreja durante mais de um milênio, e continua tendo, infelizmente, abriu as portas para que toda e qualquer filosofia se apresentasse como válida e digna de atenção. Todavia, "pelos seus frutos os conhecereis". O humanismo tem se mostrado deserto, infrutífero e desconsolador. A ciência, uma ferramenta inegavelmente fantástica dada aos seres humanos, fora da consideração de seu Autor, como Newton sempre mantinha em mente, se torna um veículo instável de alguns acertos, quase ao acaso, e um universo de falhas, às vezes desastrosas. O hedonismo, em lugar de trazer liberdade e felicidade, está trazendo frustração e depressão.

Mas nem tudo são lágrimas. Qual a boa notícia? Se o ser humano tem carência de uma verdade pétrea que atue como um padrão de referência, para manter sua estabilidade mental e emocional, e seu significado, resta dizer que essa verdade existe, e está acessível a todos. Não com as ferramentas humanas, mas alcançável pelos humanos. E a despeito das inumeráveis caricaturas enganosas dessa Verdade, que se prezam a descrê-la, ela continua sendo surpreendentemente maravilhosa e atrativa.

E uma notícia melhor ainda é que essa Verdade é proativa e está à procura do filho rebelde e assustado em um mundo hostil: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6).

Por que o autoexilado Skywalker ficou silencioso e perdidamente confuso diante do pigmeu verde e aceitou fleumaticamente sua saraivada de pensamentos massageadores do ego, mas vazios? Foi porque o eremita não leu os livros antigos sagrados. Guardava por guardar. Pela tradição. Porque os antigos fizeram. Quando chegou a hora da verdade, ele falhou.

E você?

(Alexsander Silva é doutorando em Administração)

P.S.: No referido filme, todos - absolutamente todos - os personagens masculinos humanos são: ou maus, ou fracos, ou tolos, ou covardes. E todos os personagens femininos são: sábios, corajosos, fortes, autocontidos e dotados de sensibilidade.

Leia também: O feminismo invadiu Star Wars
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.

2 Timóteo 3:1
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

2 Timóteo 3:1-5
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

2 Timóteo 3:1-5
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

2 Timóteo 3:1-5
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos,
Sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons,
Traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus,
Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.

2 Timóteo 3:1-5

segunda-feira, maio 14, 2018

200 anos de Karl Marx: darwinismo & comunismo


Nascido em 5 de maio de 1818, Karl Marx “fez” 200 anos. Consideremos então a seguinte questão: O darwinismo deu suporte mais naturalmente a uma perspectiva moral-econômica capitalista ou a algum outro ponto de vista filosófico rival, digamos, marxista? O historiador econômico Niall Ferguson debateu a respeito do ponto de vista acima em um livro de 2008, A Ascensão do Dinheiro: A História Financeira do Mundo. Ao aplicar uma estrutura darwiniana para entender as forças de mercado, ele foi questionado por uma série de críticos. Na revista The New York Review of Books, o economista Robert Skidelsky repreendeu Ferguson por fornecer “falsas analogias entre evolução financeira e seleção natural darwiniana... Essas tentativas de explicar o crescimento de dinheiro em termos de processos naturais me atacam por serem inocentes tanto moral quanto filosoficamente”.

Ferguson descreve a “destruição criativa” que surge quando instituições financeiras não conseguem se ajustar ao mercado, então falham e desaparecem, para serem substituídas por competidores mais bem adaptados. Capitalismo darwiniano?

A não ser que suas ideias morais, políticas e filosóficas estejam completamente desatreladas da realidade, então a forma como você desenha em sua mente as regras pelas quais o mundo de fato funciona deve de alguma forma causar impacto na forma como você pensa que ele deveria funcionar. Então as várias respostas oferecidas para a questão de como a vida se desenvolveu naturalmente fornecem dados à construção de filosofias que respondem a outras questões mais práticas, incluindo como a plenitude humana é atingida na realidade econômica.

Por que não? Não faz sentido a noção de que teorias de evolução não contribuem propriamente em nada para teorias de como a riqueza é criada e dividida. Se a história da vida requereu a direção de uma fonte transcendente de inteligência, isso traz consequências ao âmbito da economia. Se a vida se desenvolveu sem direção, meramente sob o poder de um mecanismo darwiniano, isso também traz consequências, provavelmente diferentes.

O problema aparece ao se determinar quais são essas consequências. Eu não li o livro de Ferguson, mas ele parece estar oferecendo a tautologia tradicional darwiniana: As empresas mais adaptadas sobrevivem. E o que, na história econômica, define adaptabilidade? Bem, sobrevivência. Dessa forma, veja, aqueles que sobrevivem são, bem, aqueles que sobrevivem.

Ferguson remonta sua ideia de que “processos darwinianos podem estar operando na economia” à Thorstein Veblen, que “perguntou pela primeira vez ‘Por que a economia não é uma ciência evolucionária’ (insinuando que de fato era), nos idos de 1898”. Mas a verdade é que o pensamento econômico que alega ser baseado em ciência evolucionária remonta há décadas antes disso.

No prefácio de O Capital de 1864, Karl Marx anunciou suas próprias ideias ao apresentar “o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo em história natural”. Em seu discurso no funeral de Marx no Cemitério Highgate de Londres, Engels deu o complemento final: “Assim como Darwin descobriu a lei da evolução na natureza orgânica, Marx descobriu a lei da evolução na história humana.” Isso ocorreu em 17 de março de 1883.

O comunismo possui raízes darwinianas mais profundas do que muitos de nós nos damos conta. De fato, apesar de Marx ter começado a rascunhar suas ideias antes de Darwin ter publicado A Origem das Espécies – o Manifesto Comunista apareceu em 1848, A Origem em 1859 –, ele é comumente chamado de darwinista. De fato, os homens que traduziram o Marxismo em termos políticos práticos na forma do terror soviético foram pensadores evolucistas, assim como eles próprios se consideravam.

Em 1891 em Gori, Geórgia, um garoto de coral de 13 anos que sonhava em se tornar padre, Iosef Vissarionovich Dzhugashvili, foi encontrado por sua mãe ao amanhecer, tendo ficado acordado toda a noite lendo A Origem das Espécies de Darwin. “Eu amei tanto o livro, mamãe, que não pude parar de ler”, ele explicou. Mais tarde ele disse a um amigo que Deus “de fato não existe. Nós fomos enganados”. “Como você pode dizer tal coisa?”, o amigo exclamou, ao que o garoto, o futuro Joseph Stalin, respondeu dando a ele uma cópia de Darwin.

O que resultou da apreciação precoce de Stalin da teoria evolucionista? Tanto Hitler quanto Stalin procuraram criar uma nova raça de super-homens. De onde ambos tiraram essa ideia? Da teoria darwiniana, no sentido mais amplo, claro.

Para entender o motivo disso, precisamos voltar às origens da filosofia comunista. Os comunistas desde seu princípio foram atraídos pelo darwinismo porque, como Engels ressaltou em sua carta a Marx, ele eliminou a “teleologia” da história da vida. Isto é, ele evitou a necessidade por entender o desenvolvimento da vida como tendo sido dirigido por um ser pessoal transcendente de fora da natureza, e abriu caminho para entender a história como sendo dirigida por forças impessoais do tipo antevistas por Marx. Em 1861, ao ler A Origem das Espécies, Marx exultou: “O livro de Darwin é muito importante e me serve como uma base científica natural para a luta de classes na história. Tem-se, é claro, que tolerar o tosco método inglês de discurso.”

Como podemos culpar Darwin por isso quando Marx e Engels já tinham chegado ao esboço de suas filosofias em 1859, quando A Origem foi publicado? Sim, Marx viu no darwinismo uma confirmação de suas visões, e Engels também o fez de forma mais enfática. Mas o que isso prova?

Também é verdade que Lênin manteve uma estátua proeminentemente situada em seu escritório no Kremlin, que continha um macaco contemplando a caveira de um homem acima de uma única palavra de dedicatória: “DARWIN”. Isso tinha diversos significados. A estátua do macaco significava o desprezo de Lênin por seus colegas, que eram nada mais que filhos de macacos; além disso, o apego idólatra do Estado soviético à ciência [humana], já que Lênin se apoiava resolutamente na fé comunista de que o próprio marxismo era uma doutrina científica; e o mais abominável, ela aludia à luta darwiniana aplicada às classes sociais, com o proletariado ascendendo à sua posição destinada de comando, após as classes rivais de aristocratas, burgueses, padres e camponeses terem sido exterminadas. Para Lênin, assim como para Darwin, “extermínio” era uma palavra favorita.

Como sucessor de Lênin, Stalin escreveu um tratado ideológico, “Anarquismo ou Socialismo?”, especulando sobre a ciência darwiniana e declarando: “A evolução prepara a revolução e cria espaço para ela; a revolução consuma o processo de evolução e facilita sua posterior atividade.” Ainda assim, Marx, e não Darwin, publicou primeiro.

A relação entre o comunismo e o darwinismo tem sido debatida por acadêmicos há anos, deixando um amontoado lamacento e frustrante de alegações e contra-alegações. Há, no entanto, uma forma clara e satisfatória de resolver o debate. Tanto marxistas quanto darwinistas são herdeiros de uma revolta materialista contra a metafísica que começou no século 17 com Hobbes e Locke, e da revolta “naturalista” contra Igreja e Trono inaugurada por Rousseau, no século 18. Marx simplesmente emergiu daquela tradição um pouco antes que Darwin. No entanto, uma vez que em Darwin a visão de mundo atingiu seu apogeu de influência, tem-se o nome darwinismo e assim Marx é adequadamente chamado de darwinista.

Leitores cristãos irão, eu espero, perdoar a seguinte analogia grotesca. Marx estava para Darwin, muito aproximadamente, como João Batista estava para Jesus: um antecedente, um contemporâneo, e um discípulo.

A visão de mundo que carrega o nome de Darwin o faz da mesma forma que o nome cristianismo alude à personalidade de uma figura histórica, chamado Jesus Cristo, apesar de que Jesus e muitas de Suas ideias emergiram de uma tradição, o judaísmo, que o precedeu em muito e na qual Ele colocou Sua própria interpretação; apesar de as ideias de Jesus serem posteriormente desenvolvidas por Paulo, os escritores do evangelho, os patriarcas da igreja, e posteriores pensadores cristãos.

O que Marx e Darwin compartilharam foi brilhantemente visto por Hannah Arendt. É o que faz do hitlerismo e do stalinismo dois lados da mesma moeda.

Marx e Darwin desenvolveram teorias paralelas de lei histórica ou natural. Em um contexto religioso, a lei é percebida como estática e eterna: a lei de Deus, mais alta que qualquer homem, digna de julgar reis e tiranos por sua luz. O marxismo e o darwinismo, como filosofias materialistas, acreditam ter conseguido remover a necessidade de Deus, ou da metafísica de forma geral. Para eles não há tal coisa como uma lei moral estática, eterna.

Dessa forma, no livro A Descendência do Homem, Darwin descreve o processo pelo qual a moral evolui, assim como corpos de animais. Ele não encontra nada absoluto ou dado por Deus até mesmo em um aparente instinto moral fundamental como o que vai contra o incesto: “Devemos, assim, rejeitar a crença, recentemente reforçada por alguns escritores, de que a repulsa ao incesto é causada por uma consciência especial implantada por Deus.” O lugar de Deus é substituído por uma lei de movimento. A História é uma maré que move o desenvolvimento da natureza ou sociedade de acordo com uma lei impessoal, não guiada, e ainda cientificamente descritível. Evolução e revolução são de fato a mesma dinâmica, observadas respectivamente sob as perspectivas natural e social. No livro Origens do Totalitarismo, Arendt escreveu sobre Darwin e Marx: “Se considerarmos, não a conquista, mas as filosofias básicas de ambos os homens, o que se observa é que o movimento da história e o movimento da natureza são um e o mesmo.”

Isso ajuda a clarificar o porquê, sob os regimes de Hitler e Stalin, o que Arendt chamou de “terro total” era o resultado previsível. A única moralidade era a da lei do movimento da história, visto em termos biológicos ou econômicos. Em ambos os casos, se você se opusesse, seria um inimigo e qualificado para destruição.

A versão de Stalin da evolução derivou de uma linha daquela tradição científica e filosófica oriunda do antigo evolucionista Francês Jean-Baptiste Lamarck (1744-1829). Lamarck afirmou que características adquiridas por um organismo durante sua vida poderiam ser passadas para sua descendência, tornando o ambiente de igual importância na hereditariedade. (A teoria evolucionária moderna exclui essa ideia.) Os métodos darwinianos mais estritos de Hitler, obcecado por hereditariedade, enfatizaram eugenia e assassinato para livrar a sociedade de indesejáveis genéticos, enquanto a abordagem de Stalin enfatizava a manipulação do ambiente social, isolando anormalidades, enviando adultos e crianças que possuíssem mentes “doentes” por pensamentos antissoviéticos para o Gulag para não corromperem as mentes sadias. A sutil diferença pouco importava para os milhões que foram assassinados na busca de um pesadelo evolucionário.

Inicialmente, o regime soviético era fascinado pela eugenia, estabelecendo uma sociedade eugênica russa em 1921 e imediatamente procedendo com o estudo da questão judaica. Mas o marxismo em geral possuía pensamento dúbio sobre evolução, e como mencionado acima, tendia a favorecer o lado de Lamarck da teoria. Já em 1906, Stalin havia-se declarado a favor de Lamarck. Isso não era uma rejeição do darwinismo, mas simplesmente do mecanismo evolucionário que tornou Darwin famoso, a seleção natural. Por várias razões, os comunistas preferiram pensar em termos de uma seleção ambiental como o mecanismo impessoal dirigindo a evolução. Na década de 1930, Stalin passou a defender Lamarck com mais intensidade. Após 1945, a teoria evolucionista oficial do comunismo soviético foi representada por um agrônomo e fraudulento cientista ucraniano, Trofim Lysenko. Sob o regime do lysenkismo, dissidentes da ortodoxia evolucionária eram sujeitos à destruição de carreira, ao aprisionamento e até mesmo à morte.

Ao invés de criar super-humanos por meio da genética, como Hitler fez, o evolucionismo soviético buscava fazê-lo por intensas manipulações do ambiente, incluindo exílio, aprisionamento e assassinato. No Grande Terror de 1937-38, uma das classes comuns de vítimas eram os “socialmente prejudiciais”. Essa não era meramente uma categoria política, mas evolucionista.

O Estado soviético era, então, um experimento de darwinismo aplicado. Como Malcolm Muggeridge, o jornalista britânico que se separou de seus colegas para reportar de forma honesta o terror-fome stalinista, posteriormente afirmou, “é interessante refletir que agora, à luz de tudo o que aconteceu, os prévios oponentes obscurantistas da evolução darwiniana parecem muito mais sagazes e visionários do que seus primeiros empolgados defensores”.

(Evolution News & Science Today; traduzido por Leonardo Serafim) 

domingo, maio 13, 2018

Livro missionário 2018 também fala de criacionismo

O livro missionário O Poder da Esperança (saiba mais sobre ele aqui, aqui e aqui), escrito pelo psicólogo espanhol Dr. Julián Melgosa e pelo pastor e jornalista brasileiro Michelson Borges, será distribuído gratuitamente aos milhões no próximo dia 26 de maio (PDF grátis aqui). O livro, que já foi traduzido para mais de cinco idiomas e ultrapassou a tiragem de 16 milhões só no Brasil, trata de saúde emocional e tem um viés criacionista, abordado especialmente no capítulo 9, cujo título é “Dicas do Fabricante”. São os conhecidos “remédios naturais”, ali extraídos do relato da criação em Gênesis. Aspectos criacionistas e apologéticos são tratados também por meio dos dilemas vividos por uma das personagens que é ateia (sim, o livro conta com recursos literários para tornar a leitura mais atrativa e fluida), por meio da qual são discutidos assuntos como a existência de Deus, a racionalidade da fé e a origem do mal, entre outros.

Leia O Poder da Esperança e ajude a distribuir esse livro que foi escrito com oração, carinho e responsabilidade.

O mundo dos beija-flores

Os beija-flores, tão pequenos e belos, são popularmente conhecidos como colibris, pertencem à ordem Apodiformes e à família Trochilidae. Dentro desse grupo encontramos a menor ave conhecida: o colibri-abelha-cubano, com menos de 2g. As espécies de beija-flor vivem nas Américas. A maior diversidade encontrada está na região setentrional das Cordilheiras dos Andes, com 290 espécies. No Brasil, já foram identificadas 84 espécies. Os beija-flores não são aves sociáveis, apresentam poucos comportamentos cooperativos conhecidos. Um deles tende a ocorrer quando elas precisam se unir para expulsar predadores do seu território, defendem seu espaço por meio de vocalizações e também por confrontos diretos, mesmo quando sozinhos.  

Os machos atraem as fêmeas para acasalar usando "música", voos radicais quase indistinguíveis a olho nu e plumagens atraentes. A interação deles ocorre principalmente durante a reprodução, depois, a responsabilidade de construir ninhos, incubar os ovos e cuidar dos filhotes é da fêmea. 

O movimento de suas asas é tão acelerado que nossos olhos não são capazes de acompanhá-los; por isso os biólogos comumente utilizam câmeras de precisão, de alta velocidade, para estudá-los. Em reportagem da National Geographic Brasil (agosto/2017), ornitólogo Christopher Clark analisou os movimentos dos colibris-abelha-cubano - as manobras aéreas realizadas pelos machos durante o cortejo sexual, uma sequência de movimentos que não leva mais de um segundo, estes não distinguíveis a olho nu. Para a análise foi necessária uma câmera de precisão, que divide cada segundo de ação em 500 quadros, possibilitando uma observação detalhada dos movimentos aéreos. 

Durante o regime nazista, os primeiros helicópteros estavam em aperfeiçoamento. Nesse período, os beija-flores atraíram muito a atenção dos estudiosos. O conhecimento de tal complexidade poderia ser de grande importância para o desenvolvimento dessas máquinas, tendo em vista a capacidade dos beija-flores de pairar imóveis no ar por 30 segundos ou mais. 
  
Em julho de 2014, um estudo conduzido por David Lentink, professor assistente de engenharia mecânica em Stanford, trouxe novamente comparações e aprofundamentos da dinâmica do voo dos beija-flores com os helicópteros: análises quantitativas das asas dessas aves foram realizadas, indicando que elas geram sustentação de maneira mais eficiente que as melhores lâminas de micro-helicópteros. Tais descobertas podem ajudar na construção de veículos robóticos ainda mais potentes e inspirados nesses pássaros.
  
"Um helicóptero é realmente o dispositivo flutuante mais eficiente que podemos construir. Os melhores beija-flores são ainda melhores, mas acho incrível que estamos chegando perto. Não é fácil igualar o desempenho deles, mas se nós construirmos asas melhores com melhores desempenhos, poderíamos aproximar dos beija-flores " (LENTINK). 

Boa parte das aves produz força de sustentação com o movimento descendente das asas, o que as impele para a frente. Os beija-flores, diferentemente, geram forças de sustentação tanto ascendente quanto descendente, além de serem capazes de voar "de ré". 

Tyson Hedrick é pesquisador da Universidade de Carolina do Norte, especializado em biomecânica dos animais. Em uma de suas pesquisas, utilizou uma câmera capaz de filmar mil quadros por segundo, com um equipamento de raio X acoplado. Com isso, pôde observar os ossos das asas dos beija-flores em movimento, percebendo que eles não se movem para cima e para baixo com deslocamento vertical do ombro, durante o bater das asas, mas dão pequenos giros. Eles promovem sustentação movendo suas asas tanto para cima quanto para baixo, gerando vórtices - que são movimentos circulares ao redor de um centro de rotação. Assim, eles conseguem pairar e realizar manobras. 

Seu cérebro equivale em média a 4,2% do peso do corpo; proporcionalmente, é um dos maiores do reino animal.  Algumas das suas espécies são capazes de bater as asas até cem vezes por segundo. Durante o repouso, seu batimento cardíaco é de em média 500 a 600 vezes por minuto; quando em atividade, podem superar mil batimentos por minuto. 

De onde vem toda essa energia? 90% do seu alimento é néctar, que confere a manutenção para um metabolismo acelerado; os outros 10% são pólen e artrópodes, fontes de lipídios e proteínas.  

Essas aves são o grupo de vertebrados com a mais elevada taxa metabólica existente. Para repor suas energias, precisam alimentar-se a cada 10 ou 15 minutos. Com um hipocampo grande e volumoso, eles são capazes de lembrar a localização das flores em seu território, além de saber quando elas estarão com boa disponibilidade para a coleta do néctar. 

Se os beija-flores tivessem o tamanho de um ser humano de porte médio, teriam que beber uma lata de refrigerante a cada minuto que estivessem pairando no ar, devido ao acelerado consumo de calorias durante o voo. 

Conforme o site Stanford News, períodos superiores a 42 milhões de anos, com a ação da seleção natural, teriam "transformado" os beija-flores nos organismos voadores mais eficientes do mundo, especialmente pela sua capacidade de pairar no ar.  

Tamanha eficiência e complexidade poderiam ser resultado da ação de milhões de anos somados à ação da seleção natural? Esses dois fatores atuantes tornariam possível a origem dessa "máquina" com elevado grau de eficiência? 





                              
Macho de uma espécie de beija-flor tentando atrair a fêmea para acasalar 


Referências: 
GOLLER, Benny; ALTSHULER,Doug. Beleza Fugaz. Nacional Geographic Brasil Rumo à Lua. São Paulo, Abril Print, ano 18, nº 209, agosto,2017
SICK, H. Ornitologia Brasileira. Ed. Nova Fronteira S.A., Rio de Janeiro, Brasil, 1997. 
WILLIAMSON, S. A field guide to hummingbirds of North America. Houghton Mifflin Company, Boston, NY, USA,2002. 
Del HOYO,J.;ELLIOT,A.& SARGATAL, J. Handbook of  the Birds of The World. Vol. 5: Barnowls to Hummingbirds.Linxs Edicions,Barcelona, 1999. 
Animal Diversity Web - ADW, Trochilidae hummingbirds. Disponível em: http://animaldiversity.org/site/accounts/information/Trochilidae.html. Acesso em: 08 Mai 2018 
Beija-flores da Estação Experimental Cascata – Embrapa Clima Temperado / Bergmann …[et. al.] – Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2010. 
Standford News - Hummingbirds vs. helicopters: Stanford engineers compare flight dynamics. Disponível em: https://news.stanford.edu/news/2014/july/birds-versus-bots-073014.html. Acesso em: 10/5/2018.

(Moema Patriota é bióloga, graduanda em MBA em Gestão Ambiental, https://www.facebook.com/polegarverde/, https://www.youtube.com/channel/UCcv3W7tpnaDR1vYO2UfBp1w)

sexta-feira, maio 11, 2018

O valor do sábado da criação

Na visão de mundo bíblico-criacionista estão embutidos valores preciosos não encontrados em qualquer cosmovisão concorrente, os quais marcam a existência com as digitais do Criador. Originados no Ser Supremo, eles apontam para dimensões significativas da vida, imprimindo sentido, propósito, segurança e o senso de eternidade sobre nossa finitude e contingência. Somos constantemente lembrados, por meio do quarto mandamento, do mais alto desses valores sagrados: a devida adoração ao Deus invisível em espírito e em verdade.

A primeira semana do mundo encerra-se com a instituição do sábado, o sétimo dia separado, abençoado e santificado pela grandiosa Trindade. De um tempo de caos para um tempo de ordem, o mundo sai da solidão escura do primeiro dia para o sábado luminoso quando Deus, homem e natureza comungam para “descansar”. Nesse momento, “as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus rejubilavam” (Jó 38:7): em enaltecimento ao Criador de obras perfeitas e belas, uma explosão de louvor percorre o Universo admirado. O Céu, os mundos gloriosos e a Terra recém-formada dão as boas-vindas ao sétimo dia - o monumento temporal da criação e memorial de eterna lembrança da majestade, poder e amor do Ser infinito.


“Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus, a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou” (Êxodo 20:11). Embora quase universalmente esquecido, o sábado permanece como um mandamento ainda a ser observado, abrangendo a dimensão física, psicológica e espiritual do ser humano. No aspecto espiritual, ele é um símbolo da graça, pois sendo o “santuário no tempo” está disponível a todos, vindo ao encontro das criaturas onde quer que estejam. Não há limitações geográficas, pois “o significado do sábado é celebrar o tempo em vez do espaço. Durante seis dias por semana vivemos sob a tirania das coisas do espaço; no sábado procuramos estar sintonizados com a santidade no tempo. É um dia no qual somos chamados a participar do que é eterno no tempo, de nos volvermos dos resultados da criação para o mistério da criação; do mundo da criação para a criação do mundo”.

Deus atua no espaço-tempo; está em todos os lugares e épocas, sendo uma constante e benévola presença. No sétimo dia, Ele Se revela de forma especial como o Pai da criação, o “Pai nosso”; contudo, nos círculos esotéricos e místicos, vê-se muito a expressão “Mãe Natureza”. Mesmo que tal expressão seja uma metáfora para indicar a relação próxima mantida entre o homem e o mundo natural, no perspicaz pensamento de Gilbert Keith Chesterton, “apenas o sobrenatural pode assumir uma visão sadia da natureza. A essência de todo panteísmo, evolucionismo e religião cósmica moderna está realmente nesta proposição: que a natureza é a nossa mãe. Infelizmente, se você considerar a natureza como mãe, vai descobrir que ela é madrasta. O ponto principal do cristianismo era este: que a natureza não é a nossa mãe [...]. Podemos sentir orgulho de sua beleza, uma vez que temos o mesmo pai; mas ela não tem autoridade sobre nós”. Concordando com Chesterton, em linguagem imbuída de profundo sentimento religioso, Ellen G. White acrescenta: “Poetas e naturalistas têm muito o que dizer acerca da natureza; mas é o cristão quem mais sabe apreciar as suas belezas, porque reconhece a obra de seu Pai, percebendo Seu amor em cada flor, arbusto ou árvore. Ninguém pode apreciar plenamente o significado de montes e vales, rios e lagos, se não os vê como uma expressão do amor de Deus aos Seus filhos.”

Por meio do sábado, o pensamento criacionista confere valor à natureza, indicando que toda a criação tem Pai, o Ser pessoal que a criou e a mantém protegida do controle destrutivo e avassalador do mal. Nesse sentido, sendo originalmente uma revelação perfeita do amor de Deus aos Seus filhos, a natureza, hoje vitimada pelo pecado, emite uma mensagem ambígua na qual o bem e o mal lutam em guerra incessante. No seu estado atual, a natureza nos fala com língua bifurcada: beleza e feiura, altruísmo e seleção natural, ordem e catástrofe, vida e morte. Na realidade, “quando observamos o pacífico cenário da planície ou os vales das montanhas envoltos no mágico encanto da tarde, vemos a aparência de uma harmonia que é quase edênica. Mas o estudante da natureza sabe muito bem que debaixo desse manto de paz, a batalha horrível de garra e pata se está travando. [...] No mundo natural Deus prefere contender com Satanás de modos naturais. [...] Um conhecimento deste equilíbrio dinâmico na natureza fortifica a confiança do homem na providência e no cuidado de Deus. Ele vê a operação de um Ser todo-sábio e todo-poderoso, que permite a desobediência para demonstrar sua insuficiência e futilidade, mas que cuida dos Seus enquanto essa demonstração está em processo, e torna suave a vida para Seus adoradores, embora eles vivam nas horas finais de um mundo terrivelmente maculado e desorganizado.”

Ainda que espancada pelos efeitos do pecado, consegue a natureza nos trazer à consciência a paternidade divina? Sim! Nela mesclam-se as mensagens da criação e da redenção, porquanto “o mundo, embora caído, não é todo tristeza e miséria. Na própria natureza há mensagens de esperança e conforto. Há flores sobre as ervas daninhas, e os espinhos estão cobertos de rosas”. Assim, semanalmente, observando o sábado, lembramos do “Pai Nosso” e, esperançosos, aguardamos o mundo ser redimido e restaurado à glória original, quando despontará o reinado pacífico em que “o lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, porque a Terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:6-9).

O filósofo cético Bertrand Russel, em tom sinistro e desprovido de qualquer esperança, reconheceu o absurdo da vida guiada pela cosmovisão meramente científica. Ele declarou: “Ainda mais despropositado, mais vazio de sentido, é o mundo que a ciência apresenta para que nele creiamos. Em meio a um mundo assim, nossos ideais devem encontrar seu espaço daqui para a frente. Que o homem seja o produto de causas que não previam o fim a ser atingido; que sua origem, seu crescimento, suas esperanças e temores, seus amores e crenças sejam tão só o resultado de combinações acidentais de átomos; que nenhuma paixão, nenhum heroísmo e nenhuma intensidade de pensamento e sentimento possam preservar uma vida individual após a tumba; que todos os labores dos séculos, toda a devoção, toda a inspiração e todo o brilho meridiano do gênio da humanidade sejam destinados à extinção na vasta morte do sistema solar, e que o templo inteiro das conquistas do homem deva ser inevitavelmente sepultado sob os escombros de um universo em ruínas – todas essas coisas, se não são indiscutíveis, são, todavia, quase tão certas que nenhuma filosofia que pretenda rejeitá-las pode ter a esperança de permanecer. Somente junto aos andaimes dessas verdades, somente sobre o firme fundamento de um desespero obstinado, pode a habitação da alma ser edificada com segurança daqui para a frente.”

Contrariando essa desesperança de Russel está o sétimo dia, a nos lembrar de que há sentido cósmico e individual. O sábado oferece resposta para as três questões universais: De onde vim? Por que estou aqui? Para onde eu vou? Na perspectiva sabática do descanso divino, o passado, o presente e o futuro são instâncias do tempo circundadas pela esperança. Esse fragmento do tempo nos traz não só a recordação constante de que somos amados por Deus, mas também a promessa de dias melhores, dias eternos (Hebreus 4:9). Mais do que um dia comum, o sábado nos transporta para o “viver no espírito” no qual “o coração que ainda não se acha endurecido pelo contato com o mal está pronto a reconhecer aquela Presença que penetra todas as coisas criadas. O ouvido, ainda não ensurdecido pelo clamor do mundo, está atento à Voz que fala pelas manifestações da natureza. E para os [...] que necessitam continuamente dessa silenciosa lembrança das coisas espirituais e eternas, proporcionadas pela natureza, será o ensino desta não menos uma fonte de prazer e instrução”.

Em suma, a fim de nos guardar do vazio existencial e da filosofia do desespero, muito presentes no ser humano contemporâneo, foi o sábado especialmente separado por Deus para reafirmar nossa filiação divina e nos avisar de que não somos órfãos cósmicos, lançados na solidão da vida sem qualquer vislumbre do horizonte eterno. Que importância e valor temos? O sábado nos assegura de que não somos animais evoluídos descendentes de ancestrais simiescos, mas que temos origem diferenciada e especial. Somos filhos de Deus, formados à Sua imagem e semelhança. Por isso, o mandamento: “Lembra-te do dia de sábado...” (Êxodo 20:8), já que na memória precisa ficar gravada a história da criação, pois esquecer-se dela significa não perceber o sentido transcendente de nossa presença no mundo.

Durante as vinte e quatro horas sagradas, o Criador chama a atenção do ser humano, querendo-lhe, semanalmente, sinalizar a convicção: “Você é Meu filho. Eu o criei. Jamais esqueça isso!” Portanto, guardar o sábado vai além da abstenção de atividades seculares; observar o sétimo dia, na letra e no espírito, é lembrar que temos um Pai que nos valoriza. Significa estar selado como filho de Deus.

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)