terça-feira, abril 30, 2013

Conexão alerta sobre efeitos do sexo casual no cérebro

Em tempos de acaloradas discussões sobre os direitos dos homossexuais, o divórcio entre ética sexual e moralidade bíblica parece cada vez mais sem volta. Só parece. Pesquisas médicas e psicológicas têm confirmado o que o velho, mas sempre atual princípio cristão já dizia: sexo tem hora e modo certo de usar. A reportagem de capa da Conexão 2.0 de abril critica a definição popular de sexo seguro, mostrando que os prejuízos do sexo sem compromisso sobre os relacionamentos e a saúde mental não podem ser evitados pela camisinha e pelos anticoncepcionais. A matéria ainda explica como a ética sexual atual é uma reação desequilibrada à visão deturpada de sexualidade que imperou na cultura ocidental ao longo de séculos. E relata como uma campanha pró-virgindade tem ajudado milhares de brasileiros a reagir à onda de banalização do sexo.

Mas não para por aí. O leitor vai acompanhar como ONGs cristãs têm se despertado para a responsabilidade ambiental; como seria nosso cotidiano sem a internet; como o apelo da pressa usado na propaganda induz o consumismo; e a diferença que o evangelho tem feito na vida de quem mora na Cracolândia de São Paulo.

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Leia também: "Consequências do sexo fora de contexto""Sexo: a verdade nua e crua" e "Virgindade: preservando o presente (e o futuro)"

Enfrentando verdades desconfortáveis

Em uma recente entrevista à Al-Jazeerah, Richard Dawkins foi convidado a dar sua opinião sobre Deus. Ele argumentou que o deus do “Antigo Testamento” era “horrível”, “um monstro”, e reiterou sua declaração contida no livro Deus, um Delírio de que o Deus da Torá era o personagem mais desagradável “na ficção”. Foi perguntado se ele tinha a mesma opinião sobre o Deus do Alcorão. Dawkins foi evasivo e disse: “Não sei muito sobre o Deus do Alcorão.” Como o ateu mais destemido do mundo, famoso por suas opiniões veementes sobre os deuses cristãos e judeus, poderia declarar saber tão pouco sobre o Deus do Alcorão? Será que o professor não teve tempo para isso ou está simplesmente revelando a característica mais crítica de sua espécie: o instinto de sobrevivência.

Para responder à pergunta, vale a pena considerar os recentes acontecimentos na Dinamarca. Em Copenhague, no dia 5 de fevereiro, um conhecido crítico do Islã – assim como o professor Dawkins é um crítico do Judaísmo e do Cristianismo – escapou por pouco de uma tentativa de assassinato.

Lars Hedegaard é jornalista, historiador e fundador da Free Press Society. Depois do tumulto causado pelos cartuns sobre Maomé na Dinamarca em 2005, Hedegaard se tornou o principal defensor dos direitos dos autores e artistas dinamarqueses de expressarem suas opiniões, sem medo de intimidação e assassinato.

Desde o caso dos cartuns, tem havido diversas conspirações de extremistas islâmicos para assassinar políticos, editores e outros. No dia do Ano Novo de 2010, um dos cartunistas, Kurt Westergaard, recebeu em sua casa a visita de um islâmico somali treinado que tentou decapitá-lo com um machado, nos moldes de um ritual. Westergaard escapou para o “quarto do pânico”, que os órgãos de segurança instalaram em sua casa.

Este mês foi a vez de Hedegaard. A campainha de sua casa tocou e na porta apareceu um estrangeiro que lembrava um muçulmano, usando uniforme de carteiro. O jovem mirou uma arma na cabeça dele, um senhor de 70 anos, a menos de um metro. Errou o disparo. Hedegaard atacou seu agressor, que deixou cair a arma, mas pegou novamente, apontando novamente para a cabeça do jornalista. A arma travou e o homem fugiu.

O ataque foi mencionado de forma superficial no site da BBC, pela Associated Press e por mais uns poucos veículos de comunicação. Mas sem contar esses meios, nada mais foi dito a respeito. Ou seja, apenas a mídia escandinava, que têm de forma consistente – principalmente na Suécia – conseguido culpar Hedegaard pelo ataque. Hedegaard foi constantemente descrito apenas como “um crítico do Islã”. Portanto, ele trouxe o problema para si mesmo. Já devia ter imaginado que isso poderia acontecer. Devia ter aprendido a lição pelo episódio do cartunista. Um jornal sueco – com um estilo mais saudita ou iraniano do que sueco – até chamou Hedegaard de “um inimigo do Islã”. Quem diria que só isso já seria um crime?

O professor Dawkins não é um inimigo dos judeus ou cristãos. Ele é um crítico dessas religiões. Lars Hedegaard não é um inimigo dos muçulmanos. Ele é um crítico de alguns aspectos da religião islâmica. Se o professor Dawkins fosse assassinado amanhã por um judeu ortodoxo, dificilmente o mundo iria ignorar o fato. E suspeito que dificilmente as pessoas colocariam a culpa na vítima e não no agressor.

Mas é claro que nada vai acontecer com o professor Dawkins, pois da árvore antirreligiosa de conhecimento ele colhe apenas o fruto mais fácil e que está no galho mais baixo. Hedegaard – e alguns outros – têm tentado lidar com uma questão mais difícil e globalmente mais urgente. Na reação e falta de reação ao fato, a crítica mordaz e o silêncio, muito pode ser dito sobre a situação da época em que vivemos. Isso agora é norma na Europa. Culpar a vítima ou fingir que ela já sabia que ia acontecer é o nosso mecanismo de defesa mais fácil, pois, fazendo isso, significa que podemos evitar ter que enfrentar verdades desagradáveis. Ou achar que podemos. Por enquanto.

(Douglas Murray, The JC.com; tradução: Lucas lemos)

Nota: A mesma coisa acontece com as ativistas da Femen e com certos militantes gays: batem em quem sabem que não vai revidar e acusam de intolerantes aqueles que, no máximo, discordam pacificamente de seu estilo de vida. Se Deus (qualquer deus) é um delírio e se a religião (qualquer religião) é um mal para a humanidade, por que Dawkins não diz isso abertamente de Alá e do islamismo também? Por que ele escolheu especificamente o judaísmo e o cristianismo? Se Dawkins é tão seguro de suas ideias, por que se recusa debater com "gente grande" como o filósofo e teólogo William Lane Craig?[MB]

Cientistas criam pele inteligente que sente pressão

Uma equipe de cientistas dos Estados Unidos e da China criou um dispositivo semelhante a uma película que pode sentir pressão da mesma forma que a ponta de um dedo e que pode acelerar o desenvolvimento de uma pele artificial mais parecida com a humana. Os pesquisadores construíram uma série de oito mil transístores usando feixes de nanofios de óxido de zinco. Cada um dos transístores pode, de forma independente, produzir um sinal eletrônico quando submetido à pressão mecânica. Os transístores sensíveis ao toque, chamados de taxels, têm uma sensibilidade comparável à da ponta de um dedo humano. “Qualquer movimento, como o movimento dos braços ou dos dedos de um robô, pode ser traduzido para sinais de controle”, afirmou Zhong Lin Wang, professor no Instituto de Tecnologia do Estado americano da Geórgia, a Georgia Tech. “Isao pode tornar a película mais inteligente e mais parecida com a pele humana. Vai permitir que a película sinta a atividade em sua superfície”, acrescentou.

Cientistas têm tentado imitar o tato humano medindo mudanças na resistência provocadas por toque mecânico. Os dispositivos desenvolvidos pelos pesquisadores na Georgia Tech se baseiam em um fenômeno físico diferente, minúsculas mudanças na polarização quando materiais chamados piezoelétricos como o óxido de zinco são mudados de lugar ou colocados sob pressão.

A piezoeletricidade está relacionada essencialmente à corrente acumulada em certos materiais sólidos em resposta a estresse mecânico aplicado nesses materiais. A técnica só funciona em materiais que têm propriedades piezoelétricas e semicondutoras. Essas propriedades são observadas em nanofios e em certas películas finas.

“Essa é, fundamentalmente, uma nova tecnologia que nos permite controlar os dispositivos eletrônicos diretamente usando agitação mecânica”, afirmou Wang. “Isso pode ser usado em uma grande variedade de áreas, incluindo robótica, interface entre humanos e computadores e outras áreas que envolvem deformação mecânica”, acrescentou. A pesquisa foi publicada na revista especializada Science.


Nota: Que tal se o título da matéria acima fosse: “Cientistas inteligentes criam pele inteligente que copia pele natural muito mais inteligente, mas surgida por acaso”? Não faz sentido, né? Como já disse antes, ainda bem que o Criador não cobra royalties por Suas criações nem move processos por plágio. Os feitos humanos na área de tecnologia são realmente admiráveis, mas as pessoas deveriam também (e sobretudo) se maravilhar com o Deus que criou o ser humano capaz de criar.[MB]

Leia também: "Nosso maior órgão"

segunda-feira, abril 29, 2013

Dawkins, o principal pensador de 2013?

A revista britânica Prospect divulgou na quarta-feira uma lista com os 65 principais pensadores de 2013. O primeiro lugar ficou com o biólogo britânico e hoje defensor ferrenho do ateísmo Richard Dawkins, que revolucionou o estudo da evolução com seu livro O Gene Egoísta, publicado há 37 anos [e no qual ele defende a ideia dos memes]. A primeira mulher da lista aparece na 15ª posição: Arundhati Roy, escritora e ativista política indiana. Seu primeiro livro, O Deus das Pequenas Coisas, publicado em 1997, ganhou o Booker Prize, uma das mais importantes premiações literárias do mundo. O único brasileiro a marcar presença na lista é o filósofo Roberto Mangabeira Unger, ex-ministro de Assuntos Estratégicos, que ficou no 40º lugar. A pesquisa que deu origem à lista, denominada World Thinkers 2013, contou com mais de 10.000 votos em mais de 100 países.

(Veja)

Nota: A revista Prospect é britânica. Será coincidência que o primeiro lugar na lista de pensadores tenha ficado com o britânico Richard Dawkins? Será que o editor também é ateu? Sei lá... Uma coisa é certa: é no mínimo estranho deixar em oitavo lugar o físico Peter Higgs, pai do Bóson de Higgs, partícula subatômica à caça da qual estão cientistas de todo o mundo e cuja detecção envolve um aparelho que custou bilhões de dólares (o LHC), cientista considerado o favorito para o Prêmio Nobel deste ano, e premiar o neoateu militante fundamentalista que não deve entrar num laboratório faz muitos anos (pois vive escrevendo um livro atrás do outro para “detonar” a religião). Se Dawkins (autor de um livro com propaganda enganosa) é o principal pensador do mundo, estamos numa “roubada”![MB]


DNA 60 anos: celebrando o desconhecido

“O quadro atual de como e onde a evolução opera, e como isso modela os genomas, é algo bagunçado... Raramente um sussurro desse debate vibrante chega ao público. Tome, por exemplo, a descrição do biólogo evolucionista Richard Dawkins feita ano passado na revista Prospect sobre o gene como um replicador com ‘seu status exclusivo de uma unidade de seleção darwiniana’. Isso evoca o quadro há décadas de um pequeno trecho de intenção autônoma do DNA em copiar a si mesmo, sem nenhuma indicação de que a seleção opera em todos os níveis de hierarquia biológica, inclusive o nível 2 supraorganismal, ou que a própria ideia de ‘gene’ se tornou problemática.

“Por que essa relutância aparente em reconhecer a complexidade? Um obstáculo pode ser o sentimentalismo. A biologia é tão complicada que pode ser profundamente penoso para alguns ter que abandonar a promessa de um mecanismo elegante fundamental.

“Em cosmologia, um só fato destruidor (a expansão acelerada do Universo) reescreveu prontamente a narrativa. Mas, em evolução molecular, os argumentos antigos, por exemplo, sobre a importância da seleção natural e a deriva genética na condução da mudança genética, estão colidindo agora com questões sobre o RNA não codificante, epigenética e a teoria da rede genômica. Ainda não está clara qual a nova história a ser contada.”

(“DNA: Celebrate the unknowns”, Philip Ball, Nature 496, 419-420 (25 April 2013) doi:10.1038/496419a, Published online 24 April 2013. Nesse artigo [“Celebrando os 60 anos da dupla hélice”], Philip Ball foi contundente: não entendemos totalmente como a evolução opera em nível molecular.)

Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Philip Ball, sem querer querendo, jogou de vez na lata do lixo da História da Ciência a alegação de que a teoria da evolução é uma teoria científica tão corroborada como a lei da gravidade e assim como a Terra gira em torno do Sol. Gente, queria ver a cara de alguns cientistas da Nomenklatura científica e a galera dos meninos e meninas de Darwin que a cada dia mais ficam sem pai nem mãe, oops!, sem contra-argumentos. E a nova teoria geral da evolução – a Síntese Evolutiva Ampliada (Estendida) – que somente será anunciada em 2020? Como está sendo feito biologia evolucionária se a ciência abomina o vácuo epistêmico? Pano rápido: os cientistas não entendem totalmente como a evolução opera em nível molecular.

Pregam a tolerância com a intolerância

Integrantes do grupo feminista Femen jogaram [na] terça-feira (23) água no arcebispo Andre-Joseph Leonard enquanto o religioso participava de uma palestra em uma universidade de Bruxelas, na Bélgica. Com os seios à mostra, elas protestaram contra a homofobia. O arcebispo Andre-Joseph Leonard não reagiu ao ataque. (G1 Notícias)


Nota: Agnus Dei é uma expressão latina utilizada para se referir a Jesus Cristo, identificado como o Salvador da humanidade. Significa Cordeiro de Deus, em latim. Agora note a frase pintada no peito de uma das ativistas, indicada pela seta vermelha (lamento mostrar isso aqui, mas a foto é emblemática). Isso não é cristianofobia? Tratar com violência quem discorda pacificamente de você é um comportamento tolerante? Então por que esses/essas ativistas dizem lutar pela tolerância?[MB]

domingo, abril 28, 2013

Darwin e a prática da “Salami Science”

Em 1985, ouvi pela primeira vez no Laboratório de Biologia Molecular a expressão “Salami Science”. Um de nós estava com uma pilha de trabalhos científicos quando Max Perutz se aproximou. Um jovem disse que estava lendo trabalhos de um famoso cientista dos EUA. Perutz olhou a pilha e murmurou: “Salami Science, espero que não chegue aqui.” Mas a praga se espalhou pelo mundo e agora assola a comunidade científica brasileira. “Salami Science” é a prática de fatiar uma única descoberta, como um salame, para publicá-la no maior número possível de artigos científicos. O cientista aumenta seu currículo e cria a impressão de que é muito produtivo. O leitor é forçado a juntar as fatias para entender o todo. As revistas ficam abarrotadas. E avaliar um cientista fica mais difícil. Apesar disso, a “Salami Science” se espalhou, induzida pela busca obsessiva de um método quantitativo capaz de avaliar a produção acadêmica.

No Laboratório de Biologia Molecular, nossos ídolos eram os cinco prêmios Nobel do prédio. Publicar muitos artigos indicava falta de rigor intelectual. Eles valorizavam a capacidade de criar uma maneira engenhosa para destrinchar um problema importante. Aprendíamos que o objetivo era desvendar os mistérios da natureza. Publicar um artigo era consequência de um trabalho financiado com dinheiro público, servia para comunicar a nova descoberta. O trabalho deveria ser simples, claro e didático. O exemplo a ser seguido eram as duas páginas em que Watson e Crick descreveram a estrutura do DNA. Você se tornaria um cientista de respeito se o esforço de uma vida pudesse ser resumido em uma frase: Ele descobriu... Os três pontinhos teriam de ser uma ou duas palavras: a estrutura do DNA (Watson e Crick), a estrutura das proteínas (Max Perutz), a teoria da Relatividade (Einstein). Sabíamos que poucos chegariam lá, mas o importante era ter certeza de que havíamos gasto a vida atrás de algo importante.

Hoje, nas melhores universidade do Brasil, a conversa entre pós-graduandos e cientistas é outra. A maioria está preocupada com quantos trabalhos publicou no último ano - e onde. Querem saber como serão classificados. “Fulano agora é pesquisador 1B no CNPq. Com oito trabalhos em revistas de alto impacto no ano passado, não poderia ser diferente.” “O departamento de beltrano foi rebaixado para 4 pela Capes. Também, com poucas teses no ano passado e só duas publicações em revistas de baixo impacto...” Não que os olhos dessas pessoas não brilhem quando discutem suas pesquisas, mas o relato de como alguém emplacou um trabalho na Nature causa mais alvoroço que o de uma nova maneira de abordar um problema dito insolúvel.

Essa mudança de cultura ocorreu porque agora os cientistas e suas instituições são avaliados a partir de fórmulas matemáticas que levam em conta três ingredientes, combinados ao gosto do freguês: número de trabalhos publicados, quantas vezes esses trabalhos foram citados na literatura e qualidade das revistas (medida pela quantidade de citações a trabalhos publicados na revista). Você estranhou a ausência de palavras como qualidade, criatividade e originalidade? Se conversar com um burocrata da ciência, ele tentará te explicar como esses índices englobam de maneira objetiva conceitos tão subjetivos. E não adianta argumentar que Einstein, Crick e Perutz teriam sido excluídos por esses critérios. No fundo, essas pessoas acreditam que cientistas desse calibre não podem surgir no Brasil. O resultado é que em algumas pós-graduações da USP o credenciamento de orientadores depende unicamente do total de trabalhos publicados, em outras o pré-requisito para uma tese ser defendida é que um ou mais trabalhos tenham sido aceitos para publicação.

Não há dúvida de que métodos quantitativos são úteis para avaliar um cientista, mas usá-los de modo exclusivo, abdicando da capacidade subjetiva de identificar pessoas talentosas, criativas ou simplesmente geniais, é caminho seguro para excluir da carreira científica as poucas pessoas que realmente podem fazer descobertas importantes. Essa atitude isenta os responsáveis de tomar e defender decisões. É a covardia intelectual escondida por trás de algoritmos matemáticos.

Mas o que Darwin tem a ver com isso? Foi ele que mostrou que uma das características que facilitam a sobrevivência é a capacidade de se adaptar aos ambientes. E os cientistas são animais como qualquer outro ser humano [sic]. Se a regra exige aumentar o número de trabalhos publicados, vou praticar “Salami Science”. É necessário ser muito citado? Sem problema, minhas fatias de salame vão citar umas às outras e vou pedir a amigos que me citem. Em troca, garanto que vou citá-los. As revistas precisam de muitas citações? Basta pedir aos autores que citem artigos da própria revista. E, aos poucos, o objetivo da ciência deixa de ser entender a natureza e passa a ser publicar e ser citado. Se o trabalho é medíocre ou genial, pouco importa. Mas a ciência brasileira vai bem, o número de mestres aumenta, o de trabalhos cresce, assim como as citações. E a cada dia ficamos mais longe de ter cientistas que possam ser descritos em uma única frase: Ele descobriu...

(Fernando Reinach, Estadão)

sexta-feira, abril 26, 2013

Algumas lagartixas perderam capacidade adesiva

Sabe aquela pata adesiva que faz a lagartixa grudar nas superfícies e escalar paredes? Pois é, nem todas dispõem desse recurso altamente tecnológico. Pesquisadores descobriram que essa característica das patas evoluiu [sic] 11 vezes. Porém, ela foi perdida nove vezes durante o processo evolutivo [sic] da lagartixa. Segundo a Universidade Villanova, na Pensilvânia, Estados Unidos, existem 1.450 espécies conhecidas de lagartixas. Desse total, 60% têm patas adesivas. Com esse número, os cientistas puderam construir uma árvore genealógica das lagartixas a partir da análise do DNA de várias espécies. Depois, eles acrescentaram a informação sobre a existência de patas adesivas. Assim, seria possível determinar quando essa característica surgiu.

Diante disso, os cientistas concluíram que as patas pegajosas aparecem durante a formação das espécies. Porém, desaparecem em algumas ocasiões. Portanto, as extraordinárias habilidades de agarrar e escalar superfícies verticais pode não ser tão comum como se imagina no mundo das lagartixas. Porém, ainda não se sabe o motivo para algumas espécies terem perdido as patinhas adesivas. Mais um mistério para Darwin!

(Info)

Nota: A verdade é que a “ciência observacional” (na verdade, a única que pode realmente oferecer dados importantes e reais) somente mostra a perda de capacidades e complexidades. O ganho é sempre conclusão advinda de hipóteses ou modelos computacionais. É algo nunca observado, já que dependeria do impossível incremento de informação genética – e informação complexa e específica não pode simplesmente aparecer do nada. Portanto, e fácil explicar a perda, difícil é explicar o ganho. E o maior mistério para Darwin é muito mais complicado do que explicar por que certas lagartixas perderam a capacidade adesiva: o maior desafio é explicar como as lagartixas “surgiram”; como os órgãos complexos das lagartixas “surgiram”; como “surgiram” as células e as máquinas moleculares das quais elas dependem e que são irredutivelmente complexas. Como a vida, enfim, “surgiu” da não vida. Esse é o verdadeiro mysterium tremendum.[MB]

Papa fala sobre a volta de Jesus

[Na] quarta-feira, o papa Francisco, em sua habitual catequese semanal, continuou aprofundando no Símbolo da fé: o Credo. Com uma praça de São Pedro, mais uma vez, cheia de jovens e peregrinos, o papa dirigiu-lhes estas palavras:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Credo, professamos que Jesus “virá novamente na glória para julgar os vivos e os mortos”. A história humana começa com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com o juízo final de Cristo. Muitas vezes esquecemos esses dois polos da história e, sobretudo, a fé no retorno de Cristo e no juízo final, às vezes não é assim tão clara e forte no coração dos cristãos. Jesus, durante Sua vida pública, refletiu muitas vezes na realidade da Sua última vinda. Hoje eu gostaria de refletir sobre três textos evangélicos que nos ajudam a entrar neste mistério: o das dez virgens, o dos talentos e o do juízo final. Todos os três fazem parte do discurso de Jesus sobre o fim dos tempos, no Evangelho de São Mateus.

Em primeiro lugar lembremos que, com a Ascensão, o Filho de Deus levou para junto do Pai a nossa humanidade assumida por Ele e quer atrair todos a si, chamar todo o mundo para ser acolhido nos braços abertos de Deus, para que, no fim da história, toda a realidade seja entregue ao Pai. Há, no entanto, este “tempo imediato” entre a primeira vinda de Cristo e a última, que é precisamente o momento que estamos vivendo. Neste contexto do “tempo imediato”, coloca-se a parábola das dez virgens (cf. Mt 25,1-13). São dez jovens que  esperam a chegada do esposo, mas ele atrasa e elas caem no sono. Ao anúncio repentino de que esposo está chegando, todas se preparam para acolhê-lo, mas enquanto cinco dessas, sábias, têm óleo para alimentar as próprias lâmpadas, as outras, tolas, ficam com as lâmpadas apagadas porque não o têm; e enquanto procuram chega o esposo e as virgens tolas encontram fechada a porta que leva à festa nupcial. Batem com insistência, mas agora é tarde, o esposo responde: Não vos conheço.

O Esposo é o Senhor, e o tempo de espera da Sua chegada é o tempo que Ele nos presenteia, a todos nós, com misericórdia e paciência, antes da Sua vinda final; é um tempo de vigilância; tempo em que devemos ter acesas as lâmpadas da fé, da esperança e da caridade, de ter aberto o coração para o bem, para a beleza e para a verdade; tempo de viver segundo Deus, porque não conhecemos nem o dia, nem a hora da volta de Cristo. O único que nos é pedido é estarmos preparados para o encontro – preparados para um encontro, para um lindo encontro, o encontro com Jesus –, que significa saber ver os sinais da sua presença, ter viva a nossa fé, com a oração, com os Sacramentos, ser vigilantes para não dormirmos, para não nos esquecermos de Deus. A vida dos cristãos adormecidos é uma vida triste, não é uma vida feliz. O cristão deve ser feliz, a alegria de Jesus. Não durmamos!

A segunda parábola, a dos talentos, nos faz refletir sobre a relação entre como empregamos os dons recebidos por Deus e o Seu retorno, quando nos pedirá contas de como os temos utilizado (cf. Mt 25, 14-30). [...] A espera da volta do Senhor é o tempo da ação – nós estamos no tempo da ação –, o tempo de frutificar os dons de Deus não para nós mesmos, mas para Ele, para a Igreja, para os outros, o tempo de fazer sempre crescer o bem no mundo. E especialmente neste tempo de crise, hoje, é importante não fechar-se em si mesmo. [...]

Finalmente, uma palavra sobre o juízo final, no qual se descreve a segunda vinda do Senhor, quando Ele julgará todos os seres humanos, vivos e mortos (cf. Mt 25, 31-46). A imagem usada pelo evangelista é a do pastor que separa as ovelhas dos cabritos. À direita são colocados aqueles que agiram de acordo com a vontade de Deus, socorrendo o próximo faminto, com sede, estrangeiro, nu, doente, preso – disse “estrangeiro”: penso em tantos estrangeiros que estão aqui na diocese de Roma: o que fazemos por eles? – enquanto à esquerda vão aqueles que não socorreram o próximo. Isso nos diz que seremos julgados por Deus sobre a caridade, sobre como O amamos nos nossos irmãos, especialmente nos mais frágeis e necessitados. É claro, devemos sempre ter em mente que somos justificados, somos salvos pela graça, por um ato de amor gratuito de Deus que sempre nos precede; sozinhos, não podemos fazer nada. A fé é principalmente um dom que nós recebemos. Mas para dar frutos, a graça de Deus requer sempre a nossa abertura a Ele, a nossa resposta livre e concreta. Cristo vem para levar-nos à misericórdia de Deus que salva. O único que nos é pedido é confiar nEle, corresponder ao dom do Seu amor com uma vida boa, feita de ações animadas pela fé e pelo amor.

Queridos irmãos e irmãs, que olhar para o juízo final nunca nos dê medo; mas nos leve a viver melhor o presente. Deus nos oferece com misericórdia e paciência este tempo para que aprendamos a reconhecê-Lo a cada dia nos pobres e nos pequenos, nos comprometamos pelo bem e sejamos vigilantes na oração e no amor. O Senhor, no fim da nossa existência e da história, possa reconhecer-nos como servos bons e fieis. Obrigado.


Nota: Lembro-me de que, quando era católico (antes dos anos 1990), eu nunca tinha ouvido falar na segunda vinda literal de Jesus, até porque a teologia dominante aqui na América do Sul era a da Libertação, com sua pregação em torno de um “reino” de conquistas sociais. Ao mesmo tempo em que o papa fala sobre o retorno de Jesus, ele (assim como seus dois antecessores) dá grande ênfase à observância do domingo. Resta saber como ele vai orientar seu rebanho com respeito à maneira como o verdadeiro Cristo virá e que está claramente descrita na Bíblia. E se esse Cristo vindouro reafirmar a crença no domingo como dia sagrado, em franca oposição à Palavra? E se ele “descer” à Terra e começar a proclamar a paz incentivando a união de todos sob a liderança de um (nos moldes do movimento ecumênico defendido pelo papa)? É interessante a menção do papa à salvação pela graça, o que certamente agrada aos ouvidos protestantes, e há uma curiosa contradição nestas palavras de Francisco: “A história humana começa com a criação do homem e da mulher à imagem e semelhança de Deus e conclui com o juízo final de Cristo.” Os dois papas anteriores afirmaram que a evolução é um fato e que, portanto, a história de Adão e Eva seria mítica. Se a história das origens (e da queda) é mitológica, por que deveríamos acreditar que o juízo final é fato, uma vez que ambos os eventos estão relacionados (como bem destacou o papa)? Sem dúvida, essa pregação do papa sobre a volta de Jesus é realmente importante e até surpreendente, mas é preciso acompanhar atentamente os desdobramentos disso.[MB]

quinta-feira, abril 25, 2013

O que matou os dinossauros?

Esta pergunta (“o que matou os dinossauros?”) foi feita milhares de vezes, e foram fornecidas outras milhares de respostas. Devido à natureza fascinante dos dinossauros, os meios de comunicação encontram-se repletos de histórias acerca de fósseis de dinossauros e teorias em torno da sua extinção. Uma das mais recentes reportagens vem de Zhucheng, China. A cerca de 415 milhas (~ 667 quilômetros) a sul de Pequim, uma enorme ravina com 280 metros de distância encontra-se preenchida com mais de 15 mil ossos de dinossauros; crê-se que esse local seja o maior depósito de fósseis de dinossauros do mundo (Cha, 2010). O que fez com que tantos dinossauros fossem rapidamente enterrados no mesmo local? O técnico-chefe responsável pelo local afirmou: “É difícil entender o porquê de existirem tantos dinossauros mortos no mesmo sítio” (2010).

Os pesquisadores teorizam que “os dinossauros foram mortos pela força da explosão de uma erupção vulcânica, ou o impacto de um meteorito, e foram posteriormente apanhados numa enchente, ou num desmoronamento, ou mesmo num tsunami que os teria colocado no mesmo local” (2010).

Como ocorre com quase todos os fósseis de dimensões consideráveis existentes no mundo, os cientistas acreditam que grandes quantidades de água causaram a fossilização das amostras presentes em Zhucheng (ver Butt e Lyons, 2008). Que evento histórico pode ser a melhor explicação para as gigantescas quantidades de água responsáveis pelo enterro de centenas de milhares de dinossauros, e pela sua mistura em grandes ravinas e fendas? O dilúvio global de Gênesis ajusta-se perfeitamente às evidências (2008).

Não só o dilúvio fornece a água necessária, como a Bíblia diz que as fontes do grande abismo “se romperam” (Gênesis 7:11). Esse “rompimento” quase com certeza foi um maciço movimento da crosta terrestre, que causou erupções vulcânicas, terremotos e tsunamis gigantescos.

Quanto mais os cientistas analisam os fósseis de dinossauro, mais o dilúvio de Gênesis se afigura como a explicação perfeita para a formação deles.

Visto que a fé na teoria da evolução não depende da ciência, obviamente que para o militante evolucionista essas evidências são totalmente irrelevantes. É importante não esquecer que o evolucionista é a pessoa capaz de afirmar, cheio de fé, que um réptil pode evoluir para um pássaro, e que um animal terrestre pode evoluir para uma baleia. Se alguém é capaz de fazer tamanho sacrifício intelectual como forma de manter intacta sua fé em Darwin, não é surpresa alguma saber que muitos deles rejeitam o dilúvio de Gênesis como a melhor explicação para a formação dos fósseis de dinossauro de grandes dimensões encontrados enterrados no mesmo local.

Mas como já foi dito anteriormente, os evolucionistas são livres para acreditar que dinossauros evoluíram para colibris; eles não são é livres para qualificar essa posição religiosa de “ciência”.


Referências:

Butt, Kyle and Eric Lyons (2008), “What happened to the dinosaurs?
Cha, Ariana (2010), “China spends billions to study dinosaur fossils at sites of major discoveries”, The Washington Post, January 26.

quarta-feira, abril 24, 2013

Ato de fé ou conquista do conhecimento?

O Joãozinho de nossa história é um moleque muito pobre que mora numa favela sobre palafitas espetadas em um vasto mangue. Nosso Joãozinho só vai à escola quando sabe que vai ser distribuída a merenda, uma das poucas razões que ele sente para ir à escola. Do fundo da miséria em que vive, Joãozinho pode ver bem próximo algumas das conquistas de nossa civilização em vias de desenvolvimento (para alguns). Dali de sua favela, ele pode ver bem de perto uma das grandes universidades onde se cultiva a inteligência e se conquista o conhecimento. Naturalmente, esse conhecimento e a ciência ali cultivados nada têm a ver com o Joãozinho e outros milhares de Joãozinhos pelo Brasil afora. Além de perambular por toda a cidade, Joãozinho, de sua favela, pode ver o aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Isso certamente é o que mais fascina os olhos de Joãozinho. Aqueles grandes pássaros de metal sobem imponentes com um ruído de rachar os céus. Joãozinho, com seu olhar curioso, acompanha aqueles pássaros de metal até que, diminuindo, eles desapareçam no céu.

Talvez, por frequentar pouco a escola, por gostar de observar os aviões e o mundo que o rodeia, Joãozinho seja um sobrevivente de nosso sistema educacional. Joãozinho não perdeu aquela curiosidade de todas as crianças; aquela vontade de saber os “comos” e os “porquês”, especialmente em relação às coisas da natureza; a curiosidade e o gosto de saber que se vão extinguindo, em geral, com a frequência à escola. Não há curiosidade que aguente aquela “decoreba” sobre o corpo humano, por exemplo.

Sabendo por seus colegas que nesse dia haveria merenda, Joãozinho resolve ir à escola. Nesse dia, sua professora se dispunha a dar uma aula de ciências, coisa que Joãozinho gostava. A professora havia dito que nesse dia iria falar sobre coisas como o Sol, a Terra e seus movimentos, verão, inverno etc. A professora começa por explicar que o verão é o tempo do calor, o inverno é o tempo do frio, a primavera é o tempo das flores e o outono é o tempo em que as folhas ficam amarelas e caem.

Em sua favela, no Rio de Janeiro, Joãozinho conhece calor e tempo de mais calor ainda, um verdadeiro sufoco, às vezes. As flores da primavera e as folhas amarelas que caem ficam por conta de acreditar. Num clima tropical e quente como o do Rio de Janeiro, Joãozinho não viu nenhum tempo de flores. As flores por aqui existem ou não, quase que independentemente da época do ano, em enterros e casamentos, que passam pela Avenida Brasil, próxima à sua favela.

Joãozinho, observador e curioso, resolve perguntar por que acontecem ou devem acontecer tais coisas. A professora se dispõe a dar a explicação.

– Eu já disse a vocês numa aula anterior que a Terra é uma grande bola e que essa bola está rodando sobre si mesma. É sua rotação que provoca os dias e as noites. Acontece que, enquanto a Terra está girando, ela também está fazendo uma grande volta ao redor do Sol. Essa volta se faz em um ano. O caminho é uma órbita alongada chamada elipse. Além dessa curva ser, assim, alongada e achatada, o Sol não está no centro. Isso quer dizer que, em seu movimento, a Terra às vezes passa perto, às vezes passa longe do Sol. Quando passa perto do Sol é mais quente: é verão. Quando passa mais longe do Sol recebe menos calor: é inverno.

Os olhos de Joãozinho brilhavam de curiosidades diante de um assunto novo e tão interessante.

– Professora, a senhora não disse antes que a Terra é uma bola e que está girando enquanto faz a volta ao redor do Sol?

– Sim, eu disse – respondeu a professora com segurança.

– Mas, se a Terra é uma bola e está girando todo dia perto do Sol, não deve ser verão em toda a Terra?

– É, Joãozinho, é isso mesmo.

– Então é mesmo verão em todo lugar e inverno em todo lugar, ao mesmo tempo, professora?

– Acho que é, Joãozinho, vamos mudar de assunto.

A essa altura, a professora já não se sentia tão segura do que havia dito. A insistência, natural para o Joãozinho, já começava a provocar certa insegurança na professora.

– Mas, professora – insiste o garoto, – enquanto a gente está ensaiando a escola de samba, na época do Natal, a gente sente o maior calor, não é mesmo?

– É mesmo, Joãozinho.

– Então nesse tempo é verão aqui?

– É, Joãozinho.

– E o Papai Noel no meio da neve com roupas de frio e botas? A gente vê nas vitrinas até as árvores de Natal com algodão. Não é para imitar a neve? (A 40º no Rio)

– É, Joãozinho, na terra do Papai Noel faz frio.

– Então, na terra do Papai Noel, no Natal, faz frio?

– Faz, Joãozinho.

– Mas então tem frio e calor ao mesmo tempo? Quer dizer que existe verão e inverno ao mesmo tempo?

– É, Joãozinho, mas vamos mudar de assunto. Você já está atrapalhando a aula e eu tenho um programa a cumprir.

Mas Joãozinho ainda não havia sido domado pela escola. Ele ainda não havia perdido o hábito e a iniciativa de fazer perguntas e querer entender as coisas. Por isso, apesar do jeito visivelmente contrariado da professora, ele insiste.

– Professora, como é que pode ser verão e inverno ao mesmo tempo, em lugares diferentes, se a Terra, que é uma bola, deve estar perto ou longe do Sol? Uma das duas coisas não está errada?

– Como você se atreve, Joãozinho, a dizer que a sua professora está errada? Quem andou pondo essas ideias em sua cabeça?

– Ninguém, não, professora. Eu só tava pensando. Se tem verão e inverno ao mesmo tempo, então isso não pode acontecer porque a Terra tá perto ou tá longe do Sol. Não é mesmo, professora?

A professora, já irritada com a insistência atrevida do menino, assume uma postura de autoridade científica e pontifica:

– Está nos livros que a Terra descreve uma curva que se chama elipse ao redor do Sol, que este ocupa um dos focos e, portanto, ela se aproxima e se afasta do Sol. Logo, deve ser por isso que existe verão e inverno.

Sem dar conta da irritação da professora, nosso Joãozinho se lembra de sua experiência diária e acrescenta:

– Professora, a melhor coisa que a gente tem aqui na favela é poder ver avião o dia inteiro.

– E daí, Joãozinho? O que tem a ver isso com o verão e o inverno?

– Sabe, professora, eu acho que tem. A gente sabe que um avião tá chegando perto quando ele vai ficando maior. Quando ele vai ficando pequeno, é porque ele tá ficando mais longe.

– E o que tem isso a ver com a órbita da Terra, Joãozinho?

– É que eu achei que se a Terra chegasse mais perto do Sol, a gente devia ver ele maior. Quando a Terra estivesse mais longe do Sol, ele deveria aparecer menor. Não é, professora?

– E daí, menino?

– A gente vê o Sol sempre do mesmo tamanho. Isso não quer dizer que ele tá sempre na mesma distância? Então verão e inverno não acontecem por causa da distância.

– Como você se atreve a contradizer sua professora? Quem anda pondo “minhocas” na sua cabeça? Faz quinze anos que eu sou professora. É a primeira vez que alguém quer mostrar que a professora está errada.

A essa altura, já a classe se havia tumultuado. Um grupo de outros garotos já havia percebido a lógica arrasadora do que Joãozinho dissera. Alguns continuaram indiferentes. A maioria achou mais prudente ficar do lado da “autoridade”. Outros aproveitaram a confusão para aumentá-la. A professora havia perdido o controle da classe e já não conseguia reprimir a bagunça nem com ameaças de castigo e de dar “zero” para os mais rebeldes.

Em meio àquela confusão tocou o sinal para o fim da aula, salvando a professora de um caso maior. Não houve aparentemente nenhuma definição de vencedores e vencidos nesse confronto.

Indo para casa, a professora, ainda agitada e contrariada, lembrava-se do Joãozinho que lhe estragara a aula e também o dia. Além de pôr em dúvida o que ela ensinara, Joãozinho dera um mau “exemplo”. Joãozinho, com seus argumentos ingênuos, mas lógicos, despertara muitos para o seu lado.

– Imagine se a moda pega... – pensa a professora. – O pior é que não me ocorreu qualquer argumento que pudesse enfrentar o questionamento do garoto. Mas foi assim que me ensinaram. É assim que eu também ensino. Faz tantos anos que eu dou essa aula, sobre esse assunto...

À noite, já mais calma, a professora pensa com os seus botões:

– Os argumentos do Joãozinho foram tão claros e ingênuos... Se o inverno e o verão fossem provocados pelo maior ou menor afastamento da Terra em relação ao Sol, deveria ser inverno ou verão em toda a Terra. Eu sempre soube que enquanto é inverno em um hemisfério, é verão no outro. Então tem mesmo razão o Joãozinho. Não pode ser essa a causa do calor ou frio na Terra. Também é absolutamente claro e lógico que se a Terra se aproxima e se afasta do Sol, este deveria mudar de tamanho aparente. Deveria ser maior quando mais próximo e menor quando mais distante. Como eu não havia pensado nisso antes? Como posso ter “aprendido” coisas tão evidentemente erradas? Como nunca me ocorreu, sequer, alguma dúvida sobre isso? Como posso eu estar durante tantos anos “ensinando” uma coisa que eu julgava ciência, e que, de repente, pode ser totalmente demolida pelo raciocínio ingênuo de um garoto, sem nenhum outro conhecimento científico?

Remoendo essas ideias, a professora se põe a pensar em tantas outras coisas que poderiam ser tão falsas e inconsistentes como as “causas” para o verão e o inverno.

– Haverá sempre um Joãozinho para levantar dúvidas? Por que tantas outras crianças aceitaram sem resistência o que eu disse? Por que apenas o Joãozinho resistiu e não “engoliu”? No caso do verão e do inverno a inconsistência foi facilmente verificada. Se “engolimos” coisas tão evidentemente erradas, devemos estar “engolindo” coisas mais erradas, mais sérias e menos evidentes. Podemos estar tão habituados a repetir as mesmas coisas que já nem nos damos conta de que muitas delas podem ter sido simplesmente acreditadas; muitas podem ser simples “atos de fé” ou crendice que nós passamos adiante como verdades científicas ou históricas.

Atos de fé em nome da ciência

É evidente que não pretendemos nem podemos provar tudo aquilo que dizemos ou tudo o que nos dizem. No entanto, o episódio do Joãozinho levantara um problema sério para a professora. Talvez a maioria dos alunos já esteja “domada” pela escola. Sem perceberem, professores podem estar fazendo exatamente o contrário do que pensam ou desejam fazer. Talvez o papel da escola tenha muito a ver com a nossa passividade e com os problemas do nosso dia a dia.

Todas as crianças têm uma nata curiosidade para saber os “comos” e os “porquês” das coisas, especialmente da natureza. À medida que a escola vai ensinando, o gosto e a curiosidade vão se extinguindo, chegando, frequentemente, à aversão. Quantas vezes nossas escolas, não só a de Joãozinho, pensam estar tratando de Ciência por falar em coisas como átomos, órbitas, núcleos, elétrons, etc. Não são palavras difíceis que conferem à nossa fala o caráter ou status de coisa científica. Podemos falar das coisas mais rebuscadas e, sem querer, estamos impingindo a nossos alunos “atos de fé”, que nada dizem ou não são mais que uma crendice, como tantas outras. Não é à toa o que se diz da escola: um lugar onde as cabecinhas entram redondinhas e saem quase todas “quadradinhas”.

(Professor Rodolpho Caniato; publicado no Boletim da Sociedade Astronômica Brasileira, ano 6, número 2, abril/junho de 1983, p. 31 a 37)

Nota: Algo semelhante à situação descrita no texto acima ocorre ainda hoje em muitas escolas, desde o ensino fundamental ao ensino superior. Sempre estudei em escolas públicas. Na infância, estudei numa escola estadual. Depois, passei por duas escolas técnicas. Na segunda, fiz o curso técnico de química. Minha faculdade foi numa federal (UFSC). Lembro-me bem de que as primeiras “explicações” sobre a origem da vida tinham que ver com certo “mar primitivo” no qual teriam surgido as primeiras formas de vida rudimentares que, com o tempo, teriam se tornado mais e mais complexas até chegar aos seres vivos atuais. Aquilo era muito estranho, mas quem ia questionar o professor? O Joãozinho fez falta... Depois, no ensino médio, durante o curso de química (especialmente nas aulas de química orgânica), a história da origem da vida foi reforçada com argumentos mais elaborados, porém, ainda bastante “forçados”. Mas a gente aceitava numa boa. Já na faculdade, ninguém mais questionava nada. Havíamos sido “formatados” e preparados para aceitar a história evolutiva e deixar de perguntar a respeito das inconsistências dela. Onde estão os Joõezinhos?[MB]

A circularidade do pensamento evolucionista

Uma descoberta científica de impacto levada a cabo há alguns anos ressalvou mais uma vez a irracionalidade inerente à falaciosa e vacilante teoria da evolução. Durante uma expedição à Ásia, o reformado professor de ciência David Redfield (Florida State University) capturou as primeiras fotos do rato das rochas do Laos, que se pensava extinto havia mais de 11 milhões de anos [algo parecido ocorreu no caso do celacanto]. Os restos fossilizados, recolhidos previamente de sítios tais como Paquistão, Índia, Tailândia, China e Japão, eram usados como forma de confirmar que este era o último parente de uma extinta família de roedores conhecida por Diatomyidae. Mas agora veio a surpresa: mais um alegado “ancestral” é eliminado da esfarrapada árvore evolutiva. Observe estas duas contrastantes, conflitantes, mutuamente excludentes abordagens dos dados observados:

1. Evolução: todos os animais que observamos hoje em dia são formas avançadas de precursores ancestrais, todos eles descendentes de um único ancestral. À medida que formas mais avançadas evoluíram através da adaptação, seleção natural, sobrevivência do mais apto e mutação genética, as formas de vida mais antigas foram naturalmente substituídas pelas novas, levando à extinção das primeiras. Os fósseis, que têm milhões de anos de idade, representam formas de vida que foram os precursores evolutivos das formas de vida atuais, mas que se extinguiram há muito tempo.

2. Criação: Deus criou um espectro de animais durante os seis dias da semana da criação. Enquanto se reproduziam de acordo com o seu “tipo” [...] esses animais foram criados com o potencial genético para produzir uma variedade de outras espécies, dando assim origem à diversidade que hoje existe. Durante o tempo que foi passando, e muito devido aos fatores ambientais, muitos animais se tornaram extintos. No entanto, houve espécies que escaparam à detecção humana durante séculos, só sendo descobertas em áreas remotas.

Qual dessas duas hipóteses mais bem se ajusta aos fatos? Obviamente, a última.

De forma consistente, os evolucionistas se encontram na embaraçosa posição de descobrir que o alegado ancestral evolutivo das formas de vida atuais, que supostamente teria se extinguido há “milhões de anos”, se encontra vivo. Eles se veem forçados a cobrir seu rastro inventando termos sem sentido e autocontraditórios para identificar essas “anomalias” – neste caso, o termo inventado foi “fóssil vivo”. Mas isso é o mesmo que um quadrado redondo.

Os filósofos e os lógicos qualificam essa postura dúplice de irracional e “contradição lógica”. Os evolucionistas, por outro lado, chamam a isso de “ciência”.

Apocalipse zumbi e o desafio da camisinha

Duas notícias bizarras me chamaram a atenção hoje e me fizeram pensar em duas coisas: ou estou ficando realmente velho ou é o fim do mundo mesmo – bem, na verdade, são as duas coisas ao mesmo tempo.

A primeira notícia, veiculada no portal G1, informa que “dezenas de zumbis ‘invadiram’ o campus da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, na terça-feira (23), em um evento que, além de data e hora marcada, teve um objetivo nobre: testar os conhecimentos dos alunos da Escola de Saúde Pública da instituição sobre as técnicas de primeiros socorros e preparação para emergências. Segundo a professora da universidade, Eden Wells, os alunos matriculados na disciplina de epidemiologia e gestão de desastres na saúde pública foram forçados a pensar além dos planos típicos de preparação e resposta durante o exercício de ‘apocalipse zumbi’. [...] A ideia do treinamento é inspirada em um currículo desenhado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), órgão do governo norte-americano. O CDC explica que o curso usa a preparação contra um ataque de zumbis para alcançar e engajar diversos públicos na necessidade de reagir a uma tragédia inesperada.” As autoridades norte-americanas (e até a Nasa) andam muito preocupadas com tragédias...

A outra notícia, publicada na seção “Bem Estar”, também do G1, trata da nova mania entre alguns jovens: aspirar preservativos pelo nariz e depois retirá-los pela boca (como se não bastassem os jovens que consomem álcool pelo reto e pela vagina). Segundo a matéria, “a brincadeira, identificada geralmente como ‘condom challenge’ (desafio da camisinha), é feita por adolescentes de diversos países, inclusive o Brasil”. [Mas] “especialistas em otorrinolaringologia desaconselharam a brincadeira e apontaram os riscos que ela pode trazer. Segundo eles, a prática pode causar desde uma sinusite grave até, em tese, a obstrução do pulmão, o que, em último caso, levaria o indivíduo à morte”.


Como disse, são notícias que me fazem sentir em outro planeta – diferente daquele dos meus tempos de jovem/adolescente. No meu tempo, também se faziam algumas “loucuras”, mas a moçada hoje está “se superando” – sem contar a violência gratuita que leva um assaltante a matar o assaltado, mesmo depois de ter levado dele o que queria (indício de que a vida está cada vez mais desvalorizada); o número crescente de estupros como “arma de guerra” e praticados até contra crianças; o aumento assombroso das doenças sexualmente transmissíveis e dos comportamentos de risco e imorais; e por aí vai. Pelo visto, só falta mesmo o “apocalipse zumbi”. Mas que o desfecho apocalíptico da história ocorra antes disso. Essa é a minha esperança.[MB]