Recheada
de testemunhos e relatos de pessoas que passaram pela tal experiência de quase
morte (EQM), a matéria de capa da edição de abril da revista National Geographic tem como título “A
ciência explica a morte”. Só que, depois da leitura, a gente percebe que não
explica coisa nenhuma, e o texto é apenas um apanhado requentado de várias pesquisas
e muitas especulações. A verdade é que ninguém sabe o que é a morte nem por que
morremos. Não existe explicação naturalista nem científica para esse evento
dramático. Prova disso é que a matéria da National
Geographic, como eu disse, está rechegada de experiências de pessoas que
juram ter se “desprendido” do corpo ou caminhado pelo famoso túnel de luz. Fala
em ciência, mas menciona espíritos e coisas do tipo, e deixa no ar uma sensação
de mistério em lugar de explicações científicas. Só que há dois tipos de
explicação para as EQMs: uma científica e outra teológica. Vamos lá.
Uma
pesquisa da Universidade do Kentucky, em Lexington (EUA), fez uma experiência
de monitoramento cerebral. Eles descobriram que as situações de proximidade com
a morte, durante um sono induzido por anestesia, ativam os mesmos mecanismos
neurológicos que entram em ação quando uma pessoa tem sonhos lúcidos, com plena
consciência do que está sonhando. Ambos seriam estimulados pelo córtex
dorsolateral pré-frontal, uma área que normalmente só funciona quando estamos
acordados.
O
coordenador do estudo, Kevin Nelson, disse que os resultados da pesquisa
indicam que uma “intrusão” do estado de sono REM contribui para as sensações de
“quase morte”. “Vejo (o fenômeno) como uma ativação de certas regiões do
cérebro que também estão ativas durante o estado de sonho”, disse Nelson ao
jornal britânico Daily Telegraph.
Na
Califórnia, existe o Centro de Pesquisas de Experiências Fora-do-corpo (OOBE
Research Center, na sigla em inglês), especializado no assunto. Com base no
estudo de Kentucky, os pesquisadores da Califórnia conduziram um estudo com
quatro grupos de voluntários, cada grupo tendo entre 10 e 20 integrantes. Os
participantes foram colocados para dormir, com a condição de imaginarem ao
máximo a ideia de estarem entrando por um túnel com fim luminoso e tentarem
sonhar com isso. Dezoito voluntários afirmaram terem sido capazes de sonhar com
isso. Outros, embora não tenham conseguido, tiveram a experiência de “sair do
corpo”, vendo a si mesmos flutuando e, às vezes, tendo a visão de um ente
querido já falecido.
Entre
os que “saíram do corpo”, o momento da ocorrência foi mensurável: em geral,
acontecia durante a tênue linha entre estar acordado e adormecido. Isso se
observou como ponto em comum entre todos os participantes, o que indica,
segundo os pesquisadores, que se trata de um mecanismo cerebral pré-programado
– tudo pode ser apenas um reflexo condicionado do cérebro, que gera um sonho
com extremo realismo.
Um
grupo de médicos da Universidade George Washington percebeu que a atividade
cerebral de pessoas que estavam morrendo ia ficando cada vez menor. Mas, nos
últimos momentos antes da morte, o córtex cerebral (área responsável pela
consciência) simplesmente disparava, e permanecia 30 a 180 segundos num nível
muito mais alto, antes de cessar de vez. Isso acontece porque, quando os
neurônios ficam sem oxigênio, perdem a capacidade de reter energia e começam a
disparar em sequência – num efeito dominó que poderia provocar alucinações. “Isso
pode explicar as experiências extracorpóreas relatadas por pacientes que quase
morreram”, afirma o estudo assinado pelos médicos.
Mas
por que é tão comum o relato do tal túnel de luz? Vou tentar explicar com outro
caso de uma pessoa que esteve à beira da morte e voltou para contar a história.
Orlando
Mário Ritter é adventista do sétimo dia de nascimento e pastor há vários anos. Em
2014, devido a um sério problema de saúde, ele teve que passar por várias
cirurgias, uma particularmente delicada que quase o levou à morte (leia o
relato aqui). Sobre essa experiência, ele conta o seguinte: “Um médico espiritualista me
perguntou, depois de uma breve explicação sobre minha ‘quase morte’: ‘Você
passou pelo túnel de luz? Você viu os espíritos?’ E eu respondi: ‘Sim, passei
pelo túnel de vidro, mas não vi nenhum espírito.’
Ele tornou a perguntar: ‘O que você viu, então?’ O que eu ‘vi’ de forma
surpreendentemente clara – e não foi por pouco tempo – foi a história da
humanidade, conforme o relato bíblico. Vi desde o fim do dilúvio até momentos
antes da volta de Cristo, quando o mar começava a engolir as ilhas e cidades
costeiras, até que subitamente tudo ficou escuro e não vi mais nada.”
O
médico então perguntou novamente para o pastor Orlando: “Você não viu a luz no
fim do túnel?” E ele respondeu que havia “visto” cenas incríveis da História,
mas não luz alguma no fim do túnel. Então o médico explicou o que ocorre nesse
estado de “quase morte”: conforme vai diminuindo a oxigenação do cérebro,
começam a surgir imagens vindas do subconsciente na forma de “túnel”, e provavelmente
ele não tenha visto o fim do túnel porque sua condição de oxigenação melhorou e
o “sonho vívido” foi forte o suficiente para ficar gravado, mas sem ser
finalizado.
Para
o pastor Orlando, que também é formado em Química e Pedagogia, os sonhos podem
revelar imagens que estão latentes no subconsciente e que, no caso dele, não
incluíam “espíritos” de forma alguma, já que sua formação está alicerçada na
Bíblia Sagrada.
A
maioria das pessoas tem algum tipo de visão espiritualista da vida, ainda que
sejam católicas ou evangélicas, já que essas correntes religiosas acreditam na
imortalidade da alma e na existência de “espíritos”. Acreditam também em
conceitos equivocados a respeito de céu e inferno, e são frequentes relatos de crentes
que dizem ter sonhado com esses lugares mitológicos.
Também
não podemos descartar a atuação do inimigo de Deus na mente das pessoas, no
sentido de ajudar a reforçar e dar publicidade à sua mentira de que o ser humano
possuiria imortalidade incondicional.
Uma
pessoa cuja mente foi alimentada com as verdades da Palavra de Deus, segundo a
qual os mortos estão como que dormindo aguardando a ressurreição por ocasião da
volta de Jesus (veja o vídeo abaixo), dificilmente verá túneis de luz e espíritos.
Michelson Borges