O
programa “Fantástico”, da rede Globo, levou ao ar nas últimas semanas uma série
intitulada “A Jornada da Vida” (confira).
Foi um show de imagens bonitas mescladas com argumentos evolucionistas – pra variar
– forçados. No entanto, o último episódio da série levou ao ar, de mão beijada,
um clássico argumento criacionista/diluvianista. Leia aqui parte da matéria e
depois o meu comentário, logo abaixo:
“Crescer
muito. Viver milhares de anos. Morrer e renascer, um clone de si mesmo. A
longevidade das árvores que enganam a morte e brincam com o tempo, para não
interromper a jornada da vida. Na Serra Nevada, na Califórnia, costa oeste dos
Estados Unidos, uma cordilheira se estende por 640 quilômetros. Nas montanhas
alcançadas pela umidade do Oceano Pacífico, vivem as gigantes. Os maiores
indivíduos do planeta. As sequoias. Sobre uma base de mais de 30 metros de
circunferência, a sequoia adulta mira o sol e chega a 85 metros de altura. Se
botássemos a árvore no meio do campo do Maracanã, ela ocuparia mais da metade
do círculo central e subiria 50 metros para fora do estádio. A
sequoia pode crescer sem pressa. Todos os seres vivos, todas as espécies de
animais ou plantas, tem um ciclo de vida. As árvores também. Algumas vivem
poucos anos, mas as sequoias podem
chegar a 3,5 mil anos.
“Gigante
e milenar, a espécie parece indestrutível. [...] Matt Fagan é biólogo do
parque, especialista em sequoias. Ele diz que o segredo da longevidade é a
casca. ‘Em algumas dessas árvores têm casca com 60, 90 centímetros’, conta.
“Uma
das sequoias encontrada na Serra Nevada é o maior indivíduo vivo conhecido no
planeta. Tem até nome: general Sherman. Ela não é a mais alta, é a que tem
o maior volume: 1,5 mil metros cúbicos, é o que carregam 20 caminhões baú. A
general Sherman passou dos 2,5 mil anos, e continua crescendo. [...] É difícil
entender como a árvore para em pé. Ela tem um sistema bem complexo de raízes,
mas elas são bem rasas. As raízes penetram só três metros no chão. Poucos seres
na face da Terra são tão impressionantes. Mas cruzando a Serra
Nevada, do outro lado, há árvores muito mais velhas.
“Três
mil metros de altitude. Ar rarefeito e seco. A equipe do Fantástico caminhou
seis quilômetros por trilhas entre as árvores que aprenderam a dominar o tempo:
pinheiros longevos. Uma concentração de anciãs. O lugar é chamado de bosque das árvores
ancestrais, e não é à toa que ele tem esse nome. Muitas das árvores no local já
passaram dos 4 mil anos, algumas estão com quase 5 mil anos. Já estavam no
local há muitos séculos, quando os egípcios começaram a construir as pirâmides.
São as árvores mais velhas do planeta. [...]
“Nas
montanhas de Utah, a 2,5 mil metros de altitude que está o maior e mais pesado
ser vivo de toda a terra. Na verdade, são todas as árvores. É uma colônia de
clones de uma espécie chamada de álamo tremulante. Todas as árvores têm
exatamente o mesmo código genético e são ligadas pela mesma raiz. Não é um
indivíduo. Mas é um único organismo. O nome, álamo tremulante, é por causa da
maneira como as folhas balançam ao vento. São 47 mil árvores sobre o terreno de
rochas vulcânicas.
“E
ainda maior é o que está embaixo da terra. Um sistema massivo de raízes é a
alma da colônia. Se a seca ou fogo destruírem as árvores, a raiz faz brotar de
novo. Ela também funciona como uma central de água e nutrientes, distribuindo
de forma igual para todos os clones, mesmo que alguns estejam sobre solo mais
seco e pobre. Mas as árvores, apesar de clones, que têm exatamente o mesmo
código genético, não são bem iguaizinhas. É que algumas são mais jovens do que
os outras. E a oferta de sol também influencia. E mesmo que um clone, ou uma
árvore dure só 200 anos, a colônia chamada de Pando, está viva há 80 mil anos.
“‘É muito difícil fazer esse cálculo, porque
não é a idade de um indivíduo, mas da colônia toda, que se renova
constantemente. Não é como a sequoia ou o pinheiro longevo, que ainda tem o
tronco original’, comenta uma pesquisadora. A idade foi estimada então
calculando o tempo que a colônia levou para chegar ao tamanho atual. Nada menos
que 450 mil metros quadrados. Tudo junto, raízes e clones, pesa mais do que 800
elefantes. Nos últimos anos, a colônia começou a encolher. As mesmas
características que a tornaram tão resistente, são também sua fragilidade.
[...]”
Nota:
Árvores como as sequoias (confira aqui e aqui)
são virtualmente imortais. A menos que sejam atingidas por alguma praga,
queimadas por raios ou cortadas por madeireiros, elas praticamente vivem para
sempre. No entanto, nenhuma árvore gigante e longeva no mundo excede a idade de
alguns milhares de anos. Poderiam ter dezenas de milhares de anos, mas não têm.
Para o criacionista, isso sugere que todas as árvores foram desarraigadas por
ocasião do dilúvio, e suas sementes (que podem ficar preservadas por vários
meses na água ou nas fezes de animais) seriam a explicação para esse
reflorestamento feito há quatro ou cinco mil anos, no máximo, o que coincide
com a época estimada para a grande catástrofe. Quanto aos clones de Utah,
adotar a taxa de crescimento atual para estimar a idade da colônia é ignorar o
fato de que essa taxa pode ter sido bem diferente no passado, levando em conta
diferenças climáticas e outras. [MB]