terça-feira, novembro 28, 2017

Pra que serviam os bracinhos do T-Rex? Senta que lá vem história

Um dos maiores e mais aterrorizantes predadores a pisar na Terra foi o Tiranossauro Rex, aquele dinossauro enorme com bracinhos desproporcionais. Esses minibraços podem até parecer inúteis, mas eram máquinas matadoras. De acordo com o paleontólogo Steven Stanley da Universidade do Havaí (EUA), os bracinhos de um metro podem até parecer pequenos em relação ao resto do seu corpo, mas serviam para golpear e rasgar suas vítimas que estavam encurraladas. Em um artigo apresentado recentemente na conferência anual da Sociedade Americana de Geologia (GSA), Stanley argumenta que o comprimento curto dos braços poderia ser vantajoso para ele em lutas com pouco espaço. “Seus membros superiores curtos e garras grandes podem ter permitido ao T-Rex montar nas costas da vítima ou então para golpeá-la enquanto a segurava com os dentes, para infligir cortes de mais de um metro de comprimento e vários centímetros de profundidade em apenas alguns segundos”, diz Stanley.

Para dar suporte à sua hipótese, Stanley destaca a força dos pequenos braços, indicada pelos ossos que formam os membros e pelo grande osso dos ombros que ajudam a controlar o movimento dos braços. A cabeça do úmero, o local em que o osso do braço do T-Rex encontra o encaixe do ombro, tem um formato que oferecia grande mobilidade para fazer o movimento de golpe.

Além disso, cada braço tinha apenas duas garras, o que aumentava a pressão em 50% em cada unhada que ele dava. Os outros terópodes tinham três garras. Cada garra tinha 10 centímetros de comprimento, com formato de foice.

Outros pesquisadores, porém, não têm tanta certeza disso. “Eu acredito que isso causaria grande estrago se atingisse as vítimas, mas para lançar o braço o Tiranossauro teria que basicamente empurrar seu peito para cima, contra o corpo da vítima”, diz o paleontólogo Thomas Holtz, da Universidade de Maryland (EUA), ao National Geographic.

Outra hipótese é que os braços possam ter sido mais úteis aos filhotes e jovens do que nos adultos. “Pode ser que os braços fossem mais funcionais em T-Rex jovens, e reduziram sua utilidade conforme eles cresciam”, diz Holtz. “A zona de golpe seria proporcionalmente maior em um T-Rex jovem, e perseguir uma presa menor significaria que a força necessária para matar a vítima seria menor.”

O artigo do pesquisador Steven Stanley foi apresentado no encontro da GSA que aconteceu em Seattle, Washington, no mês de outubro de 2017.



Nota: Fico admirado como alguns pesquisadores conseguem publicar artigos científicos com empirismo quase zero. Note como estão de volta aí as palavras “poderia”, “acredito” e afins. Já que se pode dizer em que se acredita, lá vai minha versão: acredito que os braços do T-Rex eram muito desproporcionais, assim como seu cabeção, e que provavelmente esse réptil possa ter sido resultado de algum processo degenerativo ou mesmo de hibridização (amalgamação) ou algo assim. [MB] 

Leia mais sobre T-Rex aqui.



Vaticano assume evoteísmo e deve reabilitar padre evolucionista

Em seu blog “Darwin e Deus”, no site do jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Reinaldo José Lopes informou recentemente que será reabilitada a obra de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), jesuíta francês que também foi paleontólogo e realizou uma série de estudos pioneiros sobre evolução humana na China. “Desde os anos 1960, as obras de Chardin estão marcadas com um ‘monitum’, ou advertência, da Congregação para a Doutrina da Fé, órgão responsável pela pureza doutrinária do catolicismo”, explica Reinaldo. “O que acontece é que diversos livros do religioso, que analisam o fenômeno evolutivo por um prisma teológico e religioso, fazem uma espécie de fusão ousada do cristianismo com o evolucionismo, o que deixou parte da Igreja Católica contrariada.”

Acontece que os membros do Conselho Pontifício para a Cultura, do Vaticano, acabaram de votar em peso em favor do fim do “monitum”, o que significa que o pensamento e a obra de Chardin realmente poderão ser reabilitados. “É de se esperar que o papa Francisco siga a recomendação porque fez uma menção elogiosa ao trabalho de seu colega jesuíta em sua encíclica ambiental, a Laudato Si”, prevê Reinaldo.

E assim vemos revelada claramente a posição ideológica católica evolucionista teísta segundo a qual Deus teria Se valido de processos evolutivos para trazer a vida à existência e ao seu estágio atual – sendo Deus, então, o criador da cruel seleção natural, do conceito de sobrevivência do mais apto e, claro, da morte como fator de “purificação” e seleção das formas de vida.

Ao esposar essa ideia, o Vaticano e o papa lançam por terra o relato da criação e, consequentemente, o santo sábado, memorial dessa criação realizada em seis dias literais de 24 horas. Isso sem contar que comprometem também a obra redentora de Jesus, afinal, se a história do pecado igualmente se encontra no relato alegórico do Gênesis, o que Jesus veio fazer aqui? Por que Ele morreu na cruz para expiar a culpa por algo que não aconteceu de fato? Por que Ele é considerado o segundo Adão, se o primeiro nem existiu?

Eu sua encíclica Laudato Si, o papa Francisco dedica um capítulo à defesa do descanso dominical como uma das possíveis soluções para o aquecimento global. Evidentemente que, para defender um dia que não é verdadeiramente um dia de repouso, o papa precisa tirar para escanteio o verdadeiro dia de repouso. Assim, nada mais conveniente que a teoria da evolução para contestar o relato bíblico e relativizá-lo a tal ponto que qualquer doutrina possa ser relida e redefinida ao bel-prazer dos teólogos evolucionistas do Conselho Pontifício para a Cultura.

A polarização se tornará cada vez mais evidente: de um lado estarão o “fundamentalistas” teimosos em sua defesa da interpretação literal dos primeiros capítulos da Bíblia e da vigência da lei de Deus (o que inclui o quarto mandamento); de outro estarão os teólogos liberais que relativizam e mitologizam o relato da criação, defendendo um dia de descanso criado pelo homem.

De que lado você estará?

Michelson Borges




segunda-feira, novembro 27, 2017

Descoberta sugere que humanos conviveram com megafauna

Ferramentas de pedra, fogueiras e adornos recém-encontrados no Mato Grosso e datados de quase 30 mil anos [segundo a cronologia evolucionista] têm dado combustível a uma discussão histórica na arqueologia moderna: a data de chegada dos seres humanos às Américas. Há diferentes teorias, desde as que afirmam que o evento ocorreu há cerca de 12 mil anos até as que apostam em 100 mil anos ou mais [idem]. A descoberta recente foi feita no sítio arqueológico de Santa Elina, a 80 km de Cuiabá. Os arqueólogos responsáveis pelas escavações, Denis Vialou e Águeda Vilhena Vialou, do Museu Nacional de História Natural da França, afirmam que essa região brasileira já era habitada há pelo menos 27 mil anos.

Uma prova é a presença de mais de 300 objetos de pedra lascada, com serrilhados e retoques, que só poderiam ter sido feitos pela mão do homem, afirma Águeda, que realiza escavações na região da Serra das Araras desde 1995.

Outra prova da presença humana, segundo ela, são restos de fogueiras. O material encontrado foi datado por três métodos diferentes, envolvendo desde radiocarbono 14 até luminescência ótica. Segundo Águeda, o sítio de Santa Elina traz uma tripla raridade:“A primeira é que ocupações humanas pleistocênicas (entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos atrás) são raras e por enquanto lá é o único local descoberto no centro do continente sul-americano.”

A segunda e a terceira raridades dizem respeito aos adornos encontrados: alguns foram feitos com ossos de preguiças-gigantes do gênero Glossotherium, já extinto. “É o primeiro caso no Brasil de uma perfeita associação do homem com a megafauna extinta”, explica ela. “Há a confecção de objetos simbólicos com ossos da megafauna, transformando-os em adornos.”

A discussão sobre a data de chegada da Humanidade às Américas remete aos tempos de Cristóvão Colombo, quando desembarcou no Caribe em 12 de outubro de 1492. Ele foi recebido pelos tainos, um povo amistoso, que o navegador genovês a serviço da Espanha achou que fossem indianos, pois estava convencido que havia chegado à Índia – e permaneceu com essa convicção até a morte. O descobridor da América não sabia, mas sua chegada ao continente marcou, na verdade, o reencontro de duas linhagens evolutivas do Homo sapiens, que estavam separadas havia pelo menos 50 mil anos [sic]: a sua própria, europeia, e a dos primeiros americanos, mongoloides, aparentados com os povos asiáticos. Desde então, persiste o mistério: Como e quando os povos encontrados por Colombo chegaram às Américas?

Teorias não faltam. A mais antiga e resistente é o modelo conhecido em inglês como Clovis-first (Clóvis-primeiro). Deve seu nome a um sítio arqueológico assim denominado, descoberto em 1939, no Novo México, Estados Unidos.

No local, foram encontrados artefatos de pedra lascada, datados de 11,4 mil anos. Segundo essa teoria, defendida principalmente pela comunidade arqueológica americana, a chegada teria ocorrido há cerca de 12 mil anos. Já o chamado “modelo das três migrações”, sugerido em 1983 por Christy Turner, se baseia num amplo levantamento de diversidade dentária, que concluiu ter havido três levas migratórias da Sibéria para a América.

A primeira, há 11 mil anos, teria dado origem a todos os índios das Américas Central e do Sul e à maioria dos povos nativos norte-americanos. A segunda teria chegado há 9 mil anos e originou os índios ancestrais dos Apaches e Navajos, sobretudo na costa pacífica do Estados Unidos e Canadá. A última seria bem mais recente, há 4 mil anos, e composta pelos ancestrais dos esquimós e povos aleutas (no Círculo Polar Ártico). [...]

Há ainda uma terceira teoria sobre a ocupação da América. Bem mais polêmica, ela foi proposta pela arqueóloga Niéde Guidon, com base em suas descobertas em vários sítios arqueológicos no sul do Piauí. Para ela, o homem chegou à região há nada menos que 100 mil anos[sic], vindo diretamente da África, cruzando o Atlântico, numa época em que o planeta também estava num período glacial, com o mar 120 metros abaixo de seu nível atual. [...]


Nota: Deixando de lado as hipóteses para o povoamento das Américas (porque nem os cientistas chegam a um consenso), é interessante notar a evidência não muito considerada de que seres humanos foram contemporâneos da megafauna, um tipo de vida maior, mais forte e exuberante que a atual e que alguns pesquisadores relacionam com o período antediluviano. Por enquanto foram encontrados apenas artefatos humanos. Quem sabe quando chegará o dia em que serão descobertos fósseis provando que o ser humano fazia parte dessa megafauna, sendo mais forte e mais alto que seus descendentes atuais? [MB]

Lembra quando a Nasa encontrou água em Marte? Parece que era areia

A presença de água, seja onde for, aumenta bastante a probabilidade de que exista, ou tenha existido, alguma forma de vida naquele lugar. Quando a Nasa anunciou ter descoberto vestígios de água na superfície de Marte, em 2015, a notícia mexeu com a comunidade científica e atiçou a imaginação do público. Mas um novo estudo sugere que pode ter sido tudo em vão. Talvez os rastros da água marciana tenham sido formados por outra coisa: areia. A alegação é do US Geological Survey, que analisou imagens captadas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter (MRO) e concluiu que as linhas deixadas na superfície do planeta, suposta evidência da presença de água, na verdade podem ter sido formadas pela movimentação de areia.

Os cientistas analisaram 151 linhas do tipo, em dez pontos do planeta vermelho, e notaram que todas elas terminam mais ou menos do mesmo jeito e nos mesmos ângulos, o que é compatível com a movimentação de areia (e acontece com as dunas em Terra), mas dificilmente ocorreria com água – por causa da maneira como ela se dispersa.   

A própria Nasa republicou o estudo, descrevendo detalhadamente suas descobertas, mas não jogou a toalha: segundo a agência, as linhas de Marte “continuam sendo um mistério”.  


Leia mais sobre Marte aqui.

quarta-feira, novembro 22, 2017

Ateus têm mente menos aberta que pessoas religiosas

Um estudo com 788 pessoas no Reino Unido, França e Espanha concluiu que ateus e agnósticos pensam em si próprios como tendo mente mais aberta que aqueles com fé, mas são de fato menos tolerantes a opiniões e ideias discordantes. Crentes religiosos “aparentam melhor perceber e integrar perspectivas divergentes”, de acordo com pesquisadores em psicologia da Universidade Católica privada de Louvain (UCL), a maior universidade Francofônica da Bélgica. Filip Uzarevic, coautor do artigo, disse que sua mensagem é a de que “mentalidade fechada não é necessariamente encontrada apenas entre os religiosos”. Ele afirmou ao Psypost: “Em nosso estudo, o relacionamento entre religião e mentalidade fechada dependeu do aspecto específico da mente fechada. De forma surpreendente, quando se tratou de inclinações medidas sutilmente para integrar visões que eram divergentes e contrárias às perspectivas da pessoa, eram os religiosos que mostravam maior abertura.”

O artigo do Dr. Uzarevic, intitulado “são os ateus adogmáticos?”, afirma que “irreligião se tornou a norma” em alguns países ocidentais. Ele inspecionou três aspectos de rigidez mental em 445 ateus e agnósticos, 255 cristãos, e um grupo de 37 budistas, muçulmanos e judeus. O estudo afirma que os resultados dos não crentes foram mais baixos que os de pessoas religiosas em “dogmatismo autoavaliado”, mas foram mais altos em “intolerância sutilmente medida”.  

O Dr. Uzarevic afirmou: “A ideia começou com a percepção de que, em discursos públicos, apesar de ambos os grupos religiosos/conservadores e liberais/seculares demonstrarem forte animosidade contra o grupo ideologicamente oposto, de alguma forma o primeiro grupo era mais comumente intitulado como ‘de mente fechada’. Adicionalmente, tal visão do secular sendo mais tolerante e aberto parecia ser dominante na literatura da psicologia.” 

As descobertas também afirmam que a força de uma crença das pessoas tanto em ateísmo quanto em religião é diretamente relacionada com quão intolerantes elas são.

(Independent, com tradução de Leonardo Serafim)

sexta-feira, novembro 17, 2017

Novos fósseis comprovam que a Antártida era coberta de florestas

Você se lembra de ter aprendido sobre o Gondwana nas aulas de geografia? Estamos falando de quando o planeta Terra era dividido em apenas dois supercontinentes, sendo que Gondwana incluía a maior parte dos continentes do hemisfério sul hoje. Ou seja, a Antártida fazia parte desse supercontinente. E cerca de 400 milhões a 14 milhões de anos atrás [segundo a cronologia evolucionista], era muito diferente: árvores floresciam perto do Polo Sul. Um novo estudo de colaboração internacional descobriu, inclusive, fósseis detalhados de algumas dessas árvores, que podem nos ajudar a entender como o local se tornou o mundo gelado que conhecemos atualmente.

Quando olhamos para a paisagem branca da Antártida, é difícil imaginar florestas exuberantes. Porém, a verdade é que a região possui um longo histórico de vida vegetal. “A Antártida preserva uma história ecológica de biomas polares que varia em cerca de 400 milhões de anos [sic], basicamente toda a história da evolução das plantas” [sic], disse Erik Gulbranson, paleoecologista da Universidade de Wisconsin-Milwaukee, nos EUA.

No passado, o continente era muito mais verde e muito mais quente, embora as plantas que viviam nas baixas latitudes do Sul tivessem que lidar com invernos de 24 horas de escuridão por dia, e verões durante os quais o sol nunca se punha, exatamente como é hoje.

Gulbranson e sua equipe querem estudar, em particular, um período de cerca de 252 milhões de anos atrás [sic], durante a extinção em massa do Permiano-Triássico. Durante esse evento, quase 95% das espécies da Terra morreram. A extinção provavelmente foi conduzida por emissões maciças de gases de efeito estufa vindos da atividade de vulcões que aumentaram as temperaturas do planeta para níveis extremos e causaram a acidificação dos oceanos. [Cenário que não explica a fossilização em massa que depende do soterramento imediato dos animais e das plantas sob lama.] [...]

No ano passado, Gulbranson e sua equipe encontraram a floresta polar mais antiga registrada na região antártica. Eles ainda não dataram precisamente essa floresta, mas ela provavelmente floresceu há cerca de 280 milhões de anos [sic], até que foi soterrada de repente em cinzas vulcânicas, que a preservaram até o nível celular. As plantas estão tão bem conservadas que alguns dos blocos de construção de aminoácidos que compõem as proteínas das árvores ainda podem ser extraídos.

Gulbranson, um especialista em técnicas de geoquímica, afirmou ao portal Live Science que estudar esses blocos de construção químicos pode ajudar a esclarecer como as árvores lidavam com as estranhas condições de luz solar das latitudes do Sul, bem como os fatores que permitiram que essas plantas prosperassem.

Antes da extinção em massa, as florestas polares da Antártida eram dominadas por um tipo de árvore do gênero Glossopteris. As Glossopteris dominavam toda a paisagem abaixo do paralelo 35 S – um círculo de latitude que atravessa duas massas terrestres, a ponta sul da América do Sul e a ponta sul da Austrália.

De acordo com Gulbranson, essas plantas gigantes tinham entre 20 a 40 metros de altura, com folhas largas e planas mais longas do que o antebraço de uma pessoa.

Os pesquisadores vão retornar em breve à Antártida para realizar mais escavações em dois locais, que contêm fósseis de um período abrangente de antes a após a extinção do Permiano. Nesse período posterior, as florestas não desapareceram, e sim simplesmente mudaram. Glossopteris se extinguiu, mas uma nova mistura de árvores de folhas perenes e decíduas, incluindo parentes das árvores Ginkgo atuais, passou a embelezar a paisagem.

“O que estamos tentando pesquisar é o que causou exatamente essas transições. É isso que não sabemos muito bem”, disse Gulbranson.

A resposta provavelmente está nos afloramentos escarpados dos Montes Transantárticos, onde as florestas fósseis foram encontradas. Uma equipe que inclui membros dos Estados Unidos, Alemanha, Argentina, Itália e França vai acampar nesse local por meses, realizando inúmeros passeios de helicóptero para os afloramentos, conforme o clima impiedoso da Antártida permitir.


Nota: Um planeta com clima ameno e com florestas até nos polos; plantas gigantes e vegetação mais exuberante que a atual; extinção em massa em um momento específico da história; vulcanismo catastrófico como nunca mais se viu; fossilização instantânea. Que cenário lhe vem à mente ao ler isso tudo? [MB]

Leia mais sobre florestas na Antártida. Clique aqui.

O que os cientistas criacionistas entendem por “ciência”?

Para esclarecer esse assunto, Everton Alves entrevistou um de nossos colunistas, o físico Eduardo Lütz, que também é mestre em Astrofísica, membro e palestrante oficial da Sociedade Criacionista Brasileira (SCB), além de editor da revista Origem em Revista.

Everton Alves: O que os cientistas criacionistas entendem por “ciência”?

Eduardo Lütz: O termo “teoria científica” tem sido utilizado de duas formas:

1. No conceito mais popular, trata-se de hipóteses sobre temas de interesse acadêmico.

2. No conceito um pouco mais acadêmico, trata-se de um modelo ou framework conceitual.

A “teoria sintética da evolução” é uma teoria no segundo sentido, acadêmico-popular. Mas não se baseia sequer na metodologia de Aristóteles, que muitos chamam de método científico, embora contenha elementos baseados em observações e se façam pesquisas científicas de verdade em alguns ramos dessa área.

O objetivo não é desmerecer o “evolucionismo”, pelo contrário, é mostrar que a nova geração de cientistas deve retornar ao antigo conceito de ciência seguido pelos próprios pais da ciência (Galileu, Kepler, Newton...). Em evolução, também se desenvolvem modelos científicos (matemáticos). Mas eles ainda não atingiram massa crítica para derrubar alguns dogmas mais importantes. Ainda tratam de questões periféricas, como dinâmica de populações, por exemplo. Nessa área, é muito útil expressar leis como algoritmos para ser usados em simulações de computador.

quarta-feira, novembro 15, 2017

As coisas encobertas e as reveladas

“‘As coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus; porém, as reveladas são para nós e para nossos filhos para sempre’ (Deuteronômio 29:29). Precisamente como Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível como a Sua existência. Deus permitiu que uma inundação de luz fosse derramada sobre o mundo, tanto nas ciências como nas artes; mas quando professos cientistas tratam esses assuntos de um ponto de vista meramente humano, chegarão certamente a conclusões errôneas. Pode ser inofensivo pesquisar além do que a Palavra de Deus revelou, se nossas teorias não contradizem fatos encontrados nas Escrituras; mas aqueles que deixam a Palavra de Deus e procuram explicar Suas obras criadas por meio de princípios científicos, estão vagando sem mapa nem bússola em um oceano desconhecido” (Ellen G. White, Patriarcas a Profetas, p. 72).

Em algumas ocasiões, vi o texto acima ser citado em um contexto em que se procurava desacreditar resultados de pesquisas científicas, especialmente na área de Cosmologia. No contexto original, essa citação serve de advertência à insuficiência do intelecto humano diante da grandeza de Deus e da natureza bem como a necessidade de fazermos uso da verdadeira ciência (em oposição à ciência humana) para entendermos mais profundamente tanto a natureza quanto a Bíblia.

Lido fora de contexto, esse trecho passa praticamente a ideia oposta ao que o texto como um todo nos diz em relação à verdadeira ciência. É importante dedicar algum tempo a considerar esse contexto.

Trata-se do capítulo 9 do livro Patriarcas e Profetas, de Ellen White, cujo título é “A Semana Literal”.

O capítulo inicia falando do sábado e de como ele se originou na criação da Terra e foi preservado e trazido até nós através da história bíblica. Menciona a lei dada no Sinai, que inclui o mandamento sobre o sábado. Menciona a hipótese de que cada dia da semana de Gênesis 1 seriam milhares de milhares de anos e como isso não faz sentido diante da ordem para trabalharmos seis dias e descansarmos no sétimo associada à semana da criação. Diz que essa ideia não está em conformidade com o método com que o Criador trata de Suas criaturas.

“‘Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da Sua boca.’ ‘Porque falou, e tudo se fez; mandou, e logo tudo apareceu” (Salmo 33:6, 9). A Bíblia não admite longas eras em que a Terra vagarosamente evoluiu do caos. De cada dia consecutivo da criação, declara o registro sagrado que consistiu de tarde e manhã, como todos os outros dias que se seguiram. No final de cada dia dá-se o resultado da obra do Criador” (p. 70).

Notemos que o assunto aqui continua sendo a criação da Terra. A autora segue dizendo que “pretendem geólogos achar prova na própria Terra de que ela é muitíssimo mais velha do que ensina o registro mosaico... a Terra foi povoada muito tempo antes da era referida no registro da criação... Tal raciocínio tem levado muitos crentes professos na Bíblia a adotar a opinião de que os dias da criação foram períodos vastos, indefinidos. Mas, fora da história bíblica, a geologia nada pode provar”.

“Há um esforço constante, feito com o fim de explicar a obra da criação como resultado de causas naturais; e o raciocínio humano é aceito mesmo pelos cristãos professos, em oposição aos claros fatos escriturísticos. Muitos há que se opõem ao estudo das profecias, especialmente as de Daniel e Apocalipse, declarando serem tão obscuras que não podemos entendê-las; contudo estas mesmas pessoas recebem avidamente as suposições dos geólogos, em contradição com o registro mosaico. Mas se aquilo que Deus revelou é tão difícil de entender, quão incoerente é aceitar meras suposições com relação àquilo que Ele não revelou!”

Note que o “esforço constante” mencionado pela autora não se refere à tentativa de entender o que Deus faz à luz das leis conhecidas, mas à tentativa de eliminar Deus do cenário, atribuindo a criação a causas naturais. Há quem confunda essas duas abordagens como se fossem uma só e a mesma. É nesse contexto que se insere o texto que mencionamos no início.

Iniciemos observando as seguintes frases: “Precisamente como Deus realizou a obra da criação, jamais Ele o revelou ao homem; a ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo. Seu poder criador é tão incompreensível como a Sua existência.”

A que obra de criação a autora se refere? Como já vimos, o assunto é a criação da Terra (ou terraformação) em uma semana literal. O texto bíblico não diz como Deus realizou todos aqueles feitos; apenas menciona passos e algumas definições de termos como céus e terra para deixar bem claro que o contexto era local, não universal. Mas não há detalhes técnicos sobre como exatamente Deus realizou a terraformação.

“A ciência humana não pode pesquisar os segredos do Altíssimo.” Fora do contexto, essa afirmação pode nos levar a crer que jamais deveríamos tentar utilizar a ciência para estudar a criação (o criacionismo científico seria uma blasfêmia) ou muito menos a Deus. Como harmonizar isso com todas as recomendações bíblicas para estudarmos a Deus por meio da natureza, e especialmente com Romanos 1:19 e 20, que diz que o que se pode saber sobre Deus está escrito na natureza? Na verdade, a própria Ellen White esclarece o assunto em outros textos e fornece dicas no próprio capítulo que estamos discutindo. A chave está na expressão “ciência humana”.

O que ela chama de “ciência humana” é o que a maioria das pessoas hoje em dia chama simplesmente de ciência, mas que praticamente nada tem a ver com o conceito de ciência proposto pelos pioneiros da revolução científica. A chamada “ciência humana” não foi responsável pela explosão de conhecimentos dos últimos séculos, até porque ela apenas se vale de ideias que já eram utilizadas havia milênios. O que fez a diferença na revolução científica foi o uso coerente de métodos matemáticos para estudar a realidade, métodos esses aprendidos na própria realidade e representados de várias maneiras por linguagens criadas pela humanidade.

Voltando aos escritos de Ellen White, ela associa a “ciência humana” à vã filosofia e à falsamente chamada ciência. Realmente, o que vemos descrito em livros de filosofia da ciência é uma construção humana baseada em correntes filosóficas.

Em oposição à ciência humana, a autora fala da verdadeira ciência, cujo Autor é Deus: “Aos olhos dos homens, a vã filosofia e a falsamente chamada ciência, são de mais valor do que a Palavra de Deus” (Review and Herald, 8 de novembro de 1892).

“Hoje os homens declaram que os ensinos de Cristo concernentes a Deus não podem ser provados pelas coisas do mundo natural, que a natureza não está em harmonia com as escrituras do Antigo e Novo Testamentos. Não existe essa suposta falta de harmonia entre a natureza e a ciência. A Palavra do Deus do Céu não está em harmonia com a ciência humana, mas em perfeito acordo com Sua própria ciência criada” (Olhando para o Alto, 21 de setembro [Meditações Matinais, 1983]).

“Deus é o autor da ciência. As pesquisas científicas abrem ao espírito vasto campo de ideias e informações, habilitando-nos a ver Deus em Suas obras criadas. A ignorância pode tentar apoiar o ceticismo, apelando para a ciência; em vez de o sustentar, porém, a verdadeira ciência contribui com novas provas da sabedoria e do poder de Deus. Devidamente compreendidas, a ciência e a Palavra escrita concordam entre si, lançando luz uma sobre a outra. Juntas, conduzem-nos para Deus, ensinando-nos algo das sábias e benéficas leis por que Ele opera” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 426).

“Há poder no conhecimento de ciências de toda a espécie, e é desígnio de Deus que a ciência avançada seja ensinada em nossas escolas como preparação para a obra que há de preceder as cenas finais da história terrestre” (Fundamentos da Educação Cristã, p. 186).

“Depois da Bíblia, a natureza deve ser o nosso maior livro de texto” (Conselhos Sobre Educação, p. 171).

“Ao mesmo tempo em que a Bíblia deve ter o primeiro lugar na educação das crianças e jovens, o livro da natureza ocupa o lugar imediato em importância. As obras criadas de Deus testificam de Seu amor e poder. Ele trouxe à existência o mundo, juntamente com tudo que nele se contém” (Exaltai-O Como Criador, 22 de fevereiro [Meditações Matinais, 1992]).

Sendo que é perigoso confiar na ciência humana, e sendo que somos admoestados a ler o livro da natureza como sendo o mais importante depois da Bíblia, de que forma faremos esse estudo? Como vimos, Deus nos disponibilizou a verdadeira ciência para isso. Os mesmos catalisadores que levaram à redescoberta de ensinamentos Bíblicos no fim da Idade Média também levaram à revolução científica.

Continuemos a observar mais alguns itens do capítulo 9 de Patriarcas e Profetas:

“Céticos que leem a Bíblia com o fim de cavilar podem, mediante uma compreensão imperfeita, quer da ciência quer da revelação, pretender achar contradições entre elas; mas, corretamente entendidas, estão em perfeita harmonia.” Notemos que uma compreensão imperfeita da ciência ou da Bíblia faz parecer que há contradições entre uma e outra. De que ciência ela fala aqui? Notemos que a ciência humana é uma forma de entender as coisas (entendimento) e não faz sentido dizer que os que possuem essa forma de entendimento não a entendem. A ciência mencionada aqui, muitas vezes incompreendida mas que está em harmonia com a Bíblia, é a verdadeira (conhecimento em oposição a entendimento).

“Na Palavra de Deus surgem muitas perguntas que os mais profundos sábios jamais poderão responder. A atenção é chamada para esses assuntos, para nos mostrar, mesmo entre as coisas comuns da vida diária, quanta coisa há que mentes finitas, com toda a sua vangloriada sabedoria, jamais poderão compreender amplamente.” Isso tem acontecido em relação à verdadeira ciência também. Nos últimos 200 anos, métodos matemáticos têm revelado à humanidade detalhes que entram em conflito com a intuição comum e até com “verdades filosóficas” tidas por confiáveis durante milênios. Os testes mostraram que a intuição e aquelas “verdades filosóficas” é que estavam erradas. Se tomarmos a Mecânica Quântica como exemplo, podemos notar o quão simples ela é matematicamente, mas ao mesmo tempo quão insondável à filosofia humana ela tem-se mostrado.

Quando confundimos a ciência humana com a ciência verdadeira, tratando ambas como se fossem invenções humanas, o texto do parágrafo anterior, assim como o inicial deste artigo, nos dão a ideia de que simplesmente não devemos confiar na ciência, o que por sua vez nos induz a confiar apenas nas impressões que temos ao ler o texto Bíblico. Mas o que temos nesse capítulo é exatamente uma advertência contra confiar em impressões e intuições. A verdadeira ciência é uma caixa de ferramentas que serve tanto para o estudo da Bíblia quanto da natureza, protegendo-nos contra essa perigosa forma de pensar baseada apenas na intuição humana, em última instância.

Na sequência do capítulo, encontramos algo muito interessante e que ilustra bem o tipo de inversão de sentido que acontece quando descontextualizamos textos nessa área. Notemos os dois parágrafos a seguir:

“Contudo, homens de ciência julgam poder compreender a sabedoria de Deus, aquilo que Ele fez ou pode fazer. A ideia de que Ele é restrito pelas Suas próprias leis, prevalece largamente.” Muitos leem isso e concluem que Deus viola as próprias leis. Sendo assim, é inútil tentar utilizar leis físicas para saber mais sobre milagres ou sobre a criação. Sim, essas coisas são inacessíveis à ciência humana, mas não à verdadeira.

Os naturalistas (proponentes da ciência humana) “não creem no sobrenatural, não compreendendo as leis de Deus, ou o Seu poder infinito para executar Sua vontade por meio delas”. É interessante notar que o destaque aqui é o de que Deus tem poder infinito para executar Sua vontade por meio das leis físicas. Também é mencionado que no naturalismo não há compreensão das leis de Deus. Aliás, a totalidade das leis de Deus não é compreensível por seres finitos, pois essas leis se desdobram infinitamente. É importante notar, porém, que incompreensível não é sinônimo de ininteligível. Podemos entender cada lei, mas não temos como sequer conhecer todas, embora conheçamos seu princípio gerador.

“Muitos ensinam que a matéria possui força vital: que certas propriedades são comunicadas à matéria, e que então fica ela a agir por meio de sua própria energia inerente; e que as operações da natureza são dirigidas de acordo com leis fixas, nas quais o próprio Deus não pode interferir. Isto é ciência falsa, e não é apoiado pela Palavra de Deus. A natureza é serva de seu Criador. Deus não anula Suas leis, nem age contrariamente a elas; mas está continuamente a empregá-las como Seus instrumentos. A natureza testifica de uma inteligência, de uma presença, de uma energia ativa, que opera em suas leis e por meio das mesmas leis.”

Notemos como esse trecho combate vários erros opostos, mas igualmente perigosos: o de que as leis físicas limitam a Deus por um lado e a ideia de que, como Deus é superior às leis físicas, Ele as violaria de vez em quando.

Como mencionamos de passagem antes, essa questão é semelhante aos dois erros aparentemente opostos mas igualmente perigosos que costumam ser cometidos no contexto do texto inicial. Um deles é confiar na sabedoria humana, seja na interpretação da Bíblia, seja na interpretação da natureza. O outro é achar que a ciência é algo inadequado para estudar as coisas de Deus e a criação. Na verdade, esses dois erros são instâncias de um mesmo problema conceitual: a confiança na intuição humana; em um dos casos essa confiança é depositada nas impressões que alguns têm ao estudar a Bíblia e na ideia de que essas impressões são mais seguras do que estudos verdadeiramente científicos sobre a natureza; no outro caso, confia-se na intuição humana que, com alguma organização, passa a ser chamada (falsamente) de ciência e utilizada para contradizer a Bíblia.

“Deus é o fundamento de todas as coisas. Toda verdadeira ciência está em harmonia com Suas obras; toda verdadeira educação conduz à obediência ao Seu governo. A ciência desvenda novas maravilhas à nossa vista; faz altos voos, e explora novas profundidades; mas nada traz de suas pesquisas que esteja em conflito com a revelação divina. A ignorância pode procurar apoiar opiniões falsas a respeito de Deus apelando para a ciência; mas o livro da natureza e a Palavra escrita derramam luz um sobre o outro. Somos assim levados a adorar o Criador, e a depositar uma confiança inteligente em Sua Palavra.”

Se a verdadeira ciência nunca traz algo que esteja em conflito com a revelação divina, não faz sentido que a temamos. A advertência é contra confiar na ciência humana, não na ciência.

“Nenhuma mente finita pode compreender completamente a existência, o poder, a sabedoria, ou as obras do Ser infinito.” Compreender completamente é um pleonasmo, mas é útil para enfatizar o que está sendo explicado. Nem Deus nem Suas leis são compreensíveis, mas isso é diferente de ser inteligível. “Os homens podem estar sempre a pesquisar, sempre a aprender, e ainda há, para além, o infinito.” Se essas coisas fossem ininteligíveis, jamais aprenderíamos sobre elas.

“Aqueles que tomam a Palavra escrita como seu conselheiro encontrarão na ciência um auxílio para compreender a Deus.” Aqui, a palavra compreender é usada no sentido de entender. Então é possível entender a Deus e a ciência é um auxílio para isso, ao contrário do que parecia no texto da abertura deste artigo.

“As Suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas” (Romanos 1:20).

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)

terça-feira, novembro 14, 2017

Argumentos falaciosos para a defesa de um universo jovem

Há uma corrente filosófica expressiva no criacionismo que defende que o universo tem de 6 a 10 mil anos de idade. Pessoas que advogam essa linha de pensamento buscam argumentos bíblicos e evidências físicas para defender sua hipótese. Outra corrente criacionista defende que a vida na Terra é jovem, mas o universo é antigo. Essa linha também apresenta argumentos bíblicos e evidências físicas. Ambas as linhas defendem que a semana de Gênesis 1 foi de sete dias literais de 24 horas sem intervalos entre si. Ambas as linhas não podem estar simultaneamente corretas quanto à idade do universo. Ou será que podem? Na verdade, há um modelo desenvolvido por Russel Humphreys que tenta harmonizar ambas as posições. Mas esse é um tema mais complexo, que foge ao nosso escopo do momento.

É saudável que haja diferenças de opinião e que cada um defenda da melhor forma possível seu ponto de vista a fim de que se possam pesar os argumentos e chegar a conclusões mais realistas. O problema surge quando emergem argumentos inválidos e, mesmo quando são apontadas inconsistências, tais argumentos continuam a ser utilizados.

A linha criacionista que defende que o universo é jovem tem afirmado que a palavra “céus” em Gênesis 1 significa “espaço sideral”, “universo”, e que a palavra “terra” significa planeta Terra. Portanto, Gênesis 1 iniciaria falando da criação do universo.

A linha criacionista que defende que o universo é mais antigo do que a Terra cita passagens bíblicas que defendem seu ponto de vista. Entre elas, podemos citar Provérbios 8, que em seu desenvolvimento recua gradativamente no tempo até falar de uma época em que nem sequer o princípio do pó deste mundo existia. Outra passagem bastante citada é Jó 38, que menciona seres inteligentes celebrando a criação da Terra (então o universo já existia). Nessa linha, há também quem argumente que as palavras usadas em Gênesis 1 para céus e terra são definidas no próprio capítulo (céus = o que separa as águas de cima, da chuva, das águas de baixo, líquidas; terra = porção seca) e, juntas, fazem referência ao planeta e arredores (parte seca, atmosfera e alguns objetos observáveis através da atmosfera). Gênesis 1 chega a mencionar a criação do Sol e da Lua, mas não a das estrelas, por exemplo – o texto em hebraico diz que Deus fez o luminar grande para dominar o dia e o pequeno para dominar a noite e as estrelas, não fala em criação das estrelas.

Pelo simples fato de haver dúvidas sobre se “céus” podem significar universo (de acordo com o pensamento atual) ou se significam apenas atmosfera (conforme definido em Gênesis 1:8) já não se podem fazer afirmações sobre a criação do universo com base em Gênesis 1.

A ideia de que o universo é jovem baseia-se na hipótese de que o universo foi criado no primeiro dia da semana de Gênesis 1. Como isso não é possível de ser estabelecido biblicamente, trata-se mais de uma questão de tradição ou de preferência em termos do que acreditar, apesar de isso criar tensões com outras passagens e ensinos bíblicos. Mas até aí pode-se considerar uma questão de preferência intelectual.

O problema surge quando são usadas informações truncadas a respeito de observações do mundo físico como argumentos em favor do modelo conceitual do universo jovem. A seguir, comentaremos alguns a título de exemplo:

1. Existe material interestelar com temperaturas não tão baixas (nuvens de poeira, nebulosas). Se o universo fosse antigo, esse material já estaria muito frio.

2. Se levarmos em conta a velocidade das estrelas em cada galáxia, constataremos que as galáxias não são estáveis e não podem durar muito, pois as estrelas se dispersarão pelo espaço ao longo do tempo.

3. Galáxias chocam-se entre si. Se o universo fosse antigo, todas as galáxias já teriam se chocado.

4. Galáxias espirais não podem ser antigas, pois as espirais se desfazem depois de algum tempo.

Existem outros argumentos que, como esses, podem parecer razoáveis a leigos, mas soam absurdos para quem conhece mais detalhes desses assuntos.

Imagine alguém usando o seguinte argumento: a superfície da Terra constantemente irradia energia térmica para o espaço. Se a Terra tivesse dezenas de dias de idade, até a atmosfera da Terra já estaria toda congelada. Portanto, a Terra não pode ter mais do que uns poucos dias de idade. O que está errado nesse argumento? Simplesmente ignora a energia que o Sol fornece à Terra constantemente. Este argumento é análogo ao do material estelar que teria esfriado se o universo fosse antigo. Há grandes quantidades de radiação aquecendo o material interestelar.

Imagine outro argumento: os planetas do sistema solar se movem a grandes velocidades. Portanto, após uns poucos anos, estarão muito longe uns dos outros e do Sol. A Terra, em particular, percorre quase 500 milhões de quilômetros por ano. Como ainda estamos a uns 150 milhões de quilômetros do Sol, o Sistema Solar não pode ter mais do que uns poucos meses de idade. O que está errado neste quadro? O argumento ignora que os planetas orbitam o Sol. Se não girassem em torno do Sol a uma velocidade suficiente, aí sim é que o Sistema Solar seria instável. É mais ou menos esse o tipo de lógica por trás do argumento 2 acima. Ignora que os componentes de uma galáxia precisam circular a velocidades relativamente altas para evitar que todos se acumulem e colapsem no centro de cada galáxia. O argumento usa justamente o que dá estabilidade às galáxias para tentar estabelecer que elas são instáveis.

Quanto ao argumento 4, a questão é: Em que eles se basearam para afirmar que as galáxias espirais não permanecem espirais por muito tempo? Intuição (falsa ciência) na verdade, pois os cálculos necessários para isso exigem uma tremenda capacidade de processamento. Aliás, esses cálculos têm sido repetidos com cada vez mais precisão em clusters de processadores, e quanto mais precisos são os cálculos, mais parecidos ficam os resultados com a realidade. E o que encontramos? Galáxias espirais se formando como consequência da gravidade e do momentum angular do material e se mantendo por bilhões de anos, assim como outros tipos de galáxias.

E aquela história de que as galáxias não duram muito porque colidem? Ok, carros também colidem frequentemente. Então carros não podem existir há muito tempo porque senão todos já teriam colidido, certo? Sim, existem colisões de galáxias formando novas galáxias, mas também existe um enorme número de galáxias que não teve oportunidade de colidir em bilhões de anos. Só porque existe uma ou outra colisão em meio a bilhões de galáxias não significa que todas colidam rapidamente. Aliás, uma colisão tipicamente demora bilhões de anos. E se houve tempo para haver colisões entre galáxias é porque o universo é antigo.

Note que interessante: um fenômeno que demora bilhões de anos para acontecer é usado como “evidência” de que o universo é jovem. Evolucionistas têm acusado criacionistas de desonestidade intelectual quando se deparam com argumentos assim. Podemos culpá-los por isso?

Tudo isso poderia ser evitado se houvesse mais atenção às regras de exegese e hermenêutica no estudo da Bíblia, assim como atenção aos detalhes técnicos de argumentos supostamente científicos. O resultado do uso de argumentos inconsistentes é um tiro no pé.

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)

Não existe homossexualidade verdadeira entre animais selvagens

[Esse assunto já foi tratado aqui no blog, mas nunca é demais apresentar bons argumentos para ajudar a derrubar um mito ideológico sem base científica. – MB]

Nos debates sobre homossexualidade geralmente se faz referência a relações de mesmo sexo entre os animais. Mas existe um comportamento verdadeiramente homossexual entre os animais? A resposta é NÃO, de acordo com declarações de vários especialistas em comportamento animal feitas à BBC Earth. Segundo eles, as relações entre animais de mesmo sexo não representam a expressão de um comportamento verdadeiramente homossexual. Esses fenômenos, em geral, ocorrem por outros motivos, entre eles: (1) estratégias reprodutivas; (2) incentivo e treinamento sexual com espécie do sexo oposto; (3) maturação sexual; (4) fortalecimento dos vínculos sociais; (5) subir na escala social através de relação com membros mais dominantes do grupo; (6) parceria para criar filhotes em razão da ausência de machos.

Os especialistas também disseram que o comportamento homossexual ainda parece ser uma raridade. E concluem dizendo que os seres humanos são o único caso documentado de homossexualidade “verdadeira” em animais [sic] e que talvez nunca encontremos um animal selvagem que seja estritamente homossexual na forma como alguns humanos são. 

Leia a seguir o artigo da BBC na íntegra:

Durante a temporada de acasalamento de inverno, a concorrência é feroz para o acesso a macacas. Mas não é pelo motivo que você pensa. Os machos não só têm que competir com outros machos pelo acesso às fêmeas: eles também têm que competir com fêmeas. Isso ocorre porque, em algumas populações, o comportamento homossexual entre as fêmeas não é apenas comum, é a norma. Uma fêmea montará outra, então estimulará seus órgãos genitais esfregando-os contra a outra fêmea. Algumas se mantêm presas umas às outras com seus membros usando uma “montada abraçada dupla com os pés”, enquanto outras se sentam em cima de seus companheiros em uma espécie de posição estilo jockey, diz Paul Vasey, da Universidade de Lethbridge, em Alberta, Canadá, que estudou esses macacos há mais de 20 anos.

Para nossos olhos, esses encontros parecem surpreendentemente íntimos. As fêmeas olham fixamente nos olhos umas das outras enquanto se acasalam, o que macacos quase nunca fazem fora dos contextos sexuais. Os pares podem até durar uma semana inteira, montando centenas de vezes. Quando não estão acasalando, as fêmeas ficam juntas para dormir e se divertir, e se defender contra possíveis rivais.

Que muitos humanos são homossexuais é bem conhecido, mas também sabemos que o comportamento é extremamente comum em todo o reino animal, desde insetos até mamíferos. Então, o que está acontecendo realmente? Esses animais podem ser chamados de homossexuais?

Observaram-se animais se envolvendo em acasalamentos do mesmo sexo por décadas. Mas, na maior parte do tempo, os casos documentados foram amplamente vistos como anomalias ou curiosidades.

O ponto de virada foi o livro de Bruce Bagemihl (1999), Biological Exuberance (Exuberância Biológica), que delineou tantos exemplos, de tantas espécies diferentes, que o tema entrou em evidência. Desde então, os cientistas estudaram esses comportamentos de forma sistemática.

Apesar da lista de exemplos de Bagemihl, o comportamento homossexual ainda parece ser uma raridade. Provavelmente esquecemos de alguns exemplos, visto que, em muitas espécies, machos e fêmeas são muito parecidos. Mas enquanto centenas de espécies foram documentadas fazendo isso em ocasiões isoladas, apenas um pequeno grupo tornou uma parte habitual de suas vidas, diz Vasey.

Para muitos, isso não é surpreendente. Em face disso, o comportamento homossexual de animais parece uma ideia muito ruim. A teoria da evolução de Darwin pela seleção natural implica que os genes devem passar para a próxima geração, ou eles irão ser eliminados. Quaisquer genes que façam com que um animal se engaje em acasalamentos do mesmo sexo seria menos propenso a perpetuar-se do que genes que pressionem o surgimento de pares heterossexuais, então a homossexualidade deveria perecer rapidamente.

Mas isso, evidentemente, não é o que está acontecendo. Para alguns animais, o comportamento homossexual não é um evento ocasional – o que podemos colocar em erros simples –, mas uma coisa normal. Tome como exemplo os macacos. Quando Vasey observou pela primeira vez que as fêmeas montavam entre si, ele ficou “deslumbrado” com a frequência com que faziam isso. “Tantas fêmeas do grupo estão envolvidas nesse comportamento e há machos sentados ao redor girando seus polegares”, diz ele. “Deve haver uma razão para isso. Não há como esse comportamento ser irrelevante para a evolução.”

A equipe de Vasey descobriu que as fêmeas usam uma maior variedade de posições e movimentos do que os machos. Em um estudo de 2006, eles propuseram que as fêmeas simplesmente buscavam prazer sexual e usavam diferentes movimentos para maximizar as sensações genitais. “Elas podem fazê-lo em um contexto homossexual tão facilmente como em um contexto heterossexual, então o comportamento se espalha”, diz Vasey.

Mas, em todas as parcerias homossexuais às quais as fêmeas se entregam, Vasey é claro ao dizer que elas não são verdadeiramente homossexuais. Uma fêmea pode se envolver em uma montagem fêmea-fêmea, mas isso não significa que ela não esteja interessada em machos. As fêmeas costumam montar machos, aparentemente para encorajá-los a se acasalar mais. Uma vez que evoluíram esse comportamento [sic], tornou-se fácil para elas aplicá-lo a outras fêmeas também.

Em alguns casos, há uma razão evolutiva bastante direta para que os animais se envolvam em comportamentos homossexuais. Tomemos as moscas das frutas masculinas. Nos primeiros 30 minutos de vida, elas tentarão copular com qualquer outra mosca, macho ou fêmea. Depois de um tempo, eles aprendem a reconhecer o cheiro de fêmeas virgens e concentram-se nelas.

Essa abordagem de tentativa e erro pode parecer bastante ineficiente, mas na verdade é uma boa estratégia, diz David Featherstone, da Universidade de Illinois em Chicago, EUA. Na natureza, as moscas em diferentes habitats podem ter misturas de feromônio ligeiramente diferentes. “Um macho poderia estar perdendo a oportunidade de ter descendentes viáveis ​​se ele estivesse atento apenas a um certo cheiro”, diz Featherstone.
Os besouros de farinha masculinos usam um truque sorrateiro. Muitas vezes, eles se montam, e chegam tão longe a ponto de depositar esperma. Se o macho que leva esse esperma acasalar com uma fêmea mais tarde, o esperma pode ser transferido – de modo que o macho que o produziu fertilizou uma fêmea sem ter que cruzar com ela.

Em ambos os casos, os machos usam o comportamento homossexual como uma forma indireta de fertilizar mais fêmeas. Então, está claro como esses comportamentos podem ser favorecidos pela evolução [sic]. Mas também é claro que as moscas da fruta e os besouros de farinha estão muito longe de ser estritamente homossexuais.

Outros animais realmente parecem ser homossexuais ao longo da vida. Uma dessas espécies é o albatroz Laysan, que faz ninhos no Havaí, EUA. Entre esses enormes pássaros, os pares são geralmente “casados” por toda a vida. É preciso que dois pais trabalhem juntos para criar um filhote com sucesso, e fazê-lo repetidamente significa que os pais podem aprimorar suas habilidades juntos. Mas em uma população na ilha de Oahu, 31% dos pares são compostos por duas fêmeas não relacionadas. Além disso, elas criam filhotes gerados por machos que já estão comprometidos em outro par, mas que acasalam com uma ou ambas as fêmeas. Como pares macho-fêmea, esses pares fêmea-fêmea só podem criar um filhote por estação.

Os pares fêmea-fêmea não são tão bons quanto os pares fêmea-macho na criação de filhotes, mas são melhores que as fêmeas que o fazem sozinhas. Então faz sentido que uma fêmea se junte com outra fêmea, diz Marlene Zuk, da Universidade de Minnesota, em Saint Paul, EUA. Se não o fizesse, ela conseguiria acasalar, mas teria dificuldade em incubar o ovo e encontrar comida. E uma vez que uma fêmea forma um vínculo de par, a tendência da espécie para a monogamia significa que ela se torna vitalícia.

Existe até uma vantagem sutil para as fêmeas. O sistema significa que elas podem obter seus ovos fertilizados pelo macho mais apto do grupo e passar seus traços desejáveis ​​para sua prole, mesmo que ele já tenha feito par com outra fêmea.

Porém, mais uma vez, os albatrozes fêmeas não são inerentemente homossexuais. A população de Oahu tem um excedente de fêmeas como resultado da imigração, de modo que algumas fêmeas não conseguem encontrar machos para emparelhar. Estudos de outras aves sugerem que o acoplamento do mesmo sexo é uma resposta a uma falta de machos e é muito mais raro se a proporção de sexo for igual. Em outras palavras, os albatrozes Laysan provavelmente não escolheriam criar pares com outras fêmeas se houvesse machos suficientes.

Então, talvez estivéssemos olhando no lugar errado para exemplos de animais homossexuais. Dado que os seres humanos são conhecidos como homossexuais, talvez devamos olhar para os nossos parentes mais próximos [sic], os macacos.

Bonobos são muitas vezes descritos como nossos parentes “hiperssexuais”. Eles se envolvem em uma enorme quantidade de sexo, tanto que, muitas vezes, faz-se referência ao “aperto de mão bonobo”, que inclui o comportamento homossexual entre machos e fêmeas.

Como os macacos, eles parecem apreciá-lo, de acordo com Frans de Waal, da Universidade Emory, em Atlanta, Geórgia, EUA. Escrevendo para a Scientific American em 1995, ele descreveu pares de bonobos fêmeas esfregando seus órgãos genitais juntos e “emitindo sorrisos e gritos que provavelmente refletem experiências orgásmicas”.

Mas o sexo bonobo também desempenha um papel mais profundo: fortalece os laços sociais. Os bonobos mais jovens podem usar o sexo para se relacionar com membros do grupo mais dominante, permitindo-lhes subir na escala social. Os machos que tiveram uma luta às vezes realizam um toque entre genitais, conhecido como “esgrima do pênis”, como forma de reduzir a tensão. Muito raramente, eles também se beijam, realizam mutilação e massageiam os genitais uns dos outros. Mesmo os jovens se confortam com abraços e sexo.

Bonobos mostram que o “comportamento sexual” pode ser mais do que reprodução, diz Zuk, e isso inclui comportamento homossexual. “Existe toda uma gama de comportamentos que explicam como a evolução ocorre que agora inclui o comportamento homossexual.” De fato, os bonobos femininos ainda fazem sexo quando estão fora do período reprodutivo e não conseguem engravidar.

Assim como os seres humanos podem usar o sexo para obter todos os tipos de vantagens, os animais também podem. Por exemplo, entre os golfinhos nariz-de-garrafa, tanto as fêmeas quanto os machos apresentam comportamento homossexual. Isso ajuda os membros do grupo a formar fortes laços sociais. Mas, em última análise, todos os interessados ​​continuarão a ter descendência com o sexo oposto.

Todas essas espécies podem ser mais bem descritas como “bissexuais”. Como os macacos japoneses e as moscas-da-fruta, eles se deslocam facilmente entre comportamentos com mesmo sexo e com o sexo oposto. Eles não mostram uma orientação sexual consistente.

Apenas duas espécies foram observadas mostrando uma preferência pelo mesmo sexo durante toda a vida, mesmo quando os parceiros do sexo oposto estão disponíveis. Uma é, claro, a humana. O outro é a ovelha doméstica. Em bandos de ovelhas, até 8% dos machos preferem outros machos, mesmo quando fêmeas férteis estão por perto. Em 1994, os neurocientistas descobriram que esses machos tinham cérebro ligeiramente diferente em relação ao grupo. Uma parte de seu cérebro chamada hipotálamo, que é conhecida por controlar a liberação de hormônios sexuais, era menor nos machos homossexuais do que nos machos heterossexuais.

Isso está de acordo com um estudo muito discutido pelo neurocientista Simon LeVay. Em 1991, ele descreveu uma diferença semelhante na estrutura cerebral entre machos homossexuais e heterossexuais. Isso parece bastante diferente de todos os outros casos de comportamento homossexual, porque é difícil ver como isso poderia beneficiar os machos. Como essa preferência por outros machos poderia ser transferida para a prole, se os machos não se reproduzem?

A resposta curta é que provavelmente não beneficia os próprios machos homossexuais, mas pode beneficiar seus parentes, que bem podem permitir que os mesmos genes sejam passados adiante. Para que isso aconteça, os genes que fazem alguns machos homossexuais teriam que ter outro efeito útil em outras ovelhas.

LeVay sugere que o mesmo gene que promove o comportamento homossexual em ovelhas do sexo masculino também pode tornar as fêmeas mais férteis ou aumentar seu desejo de acasalar. As irmãs femininas de ovelhas homossexuais poderiam até produzir mais prole do que a média. “Se esses genes estão tendo um efeito tão benéfico nas fêmeas, eles superam o efeito nos machos e então o gene vai persistir”, diz LeVay

Quanto às ovelhas masculinas que mostram preferências homossexuais ao longo da vida, isso só foi observado em ovelhas domesticadas. Não está claro se o mesmo acontece em ovelhas selvagens; e se a explicação de LeVay está certa, provavelmente não. As ovelhas domésticas foram cuidadosamente criadas pelos fazendeiros para produzir fêmeas que se reproduzem o mais frequentemente possível, o que poderia ter dado origem aos machos homossexuais.

Então LeVay e Vasey ainda dizem que os seres humanos são o único caso documentado de homossexualidade “verdadeira” em animais selvagens. “Não é o caso de você ter bonobos lésbicas ou bonobos homossexuais”, diz Vasey. “O que foi descrito é que muitos animais estão felizes em se relacionar com parceiros de ambos os sexos.”

O engraçado é que os biólogos deveriam ter previsto isso. Quando Darwin estava desenvolvendo sua teoria da seleção natural, uma das coisas que o inspiraram foi perceber que os animais tendem a ter muito mais filhos do que eles parecem precisar. Em teoria, um par de animais só precisa ter dois descendentes para se substituir, mas, na prática, eles têm o maior número possível deles – porque muitos de seus jovens morrerão antes de conseguir se reproduzir.

Parece óbvio que essa necessidade incorporada de continuar reproduzindo se manifestaria em um poderoso desejo sexual, que pode muito bem se espalhar para acasalar, enquanto as fêmeas são inférteis ou acasalamentos do mesmo sexo. Cientistas vitorianos viram animais com mais descendentes do que parecia necessário; hoje vemos animais com mais sexo do que parece necessário.

“O comportamento homossexual não desafia as ideias de Darwin”, diz Zuk. Em vez disso, há muitas maneiras de evoluir e ser benéficas.

Talvez nunca encontremos um animal selvagem que seja estritamente homossexual na forma como alguns humanos são. Mas podemos esperar encontrar muitos outros animais que não estão em conformidade com as categorias tradicionais de orientação sexual. Eles estão usando o sexo para satisfazer todos os tipos de necessidades, desde o simples prazer, até o progresso social, e isso significa ser flexível.