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Complexidade irredutível |
A
origem do sistema imunológico é um tema polêmico que ganhou voz por meio da
defesa do bioquímico Michael Behe. Para ele, “podemos olhar para o alto ou para
baixo, em livros ou em revistas, mas o resultado é o mesmo. A literatura
científica não tem respostas para a questão da origem do sistema imunológico”.[1:
p. 138] Sabe-se que o sistema imunológico pode reconhecer microrganismos
invasores, mobilizar rapidamente as células de defesa a fim de procurar e
destruir esses invasores e manter uma memória imunológica a partir de cada defesa.
Diante disso, são realmente intrigantes os seguintes questionamentos: “Como
poderia o sistema imunológico de animais e plantas evoluir?” e “Qual a
possibilidade da primeira de milhares infecções potenciais ter matado o
primeiro organismo vivo, uma vez que as muitas instruções que direcionam o
sistema imunológico de uma planta ou de um animal não tinham sido pré-programadas
no sistema genético desse tal organismo quando ele apareceu pela primeira vez
na Terra?” Isso certamente anularia qualquer melhoria genética rara que supostamente
tenha se acumulado no sentido evolutivo.
A
teoria do design inteligente (TDI)
sugere que, para cada organismo ter sobrevivido, toda essa informação deve ter
sido inserida lá desde o início. Para o cientista zoólogo Avrion Mitchison, “infelizmente,
não podemos rastrear a maioria dos passos evolutivos que o sistema imunológico deu. Praticamente
todos os desenvolvimentos cruciais parecem ter acontecido em um estágio inicial
de evolução dos vertebrados, que é mal representado no registro fóssil e do
qual poucas espécies sobrevivem. Mesmo os vertebrados existentes mais
primitivos parecem reorganizar seus genes de receptores de antígeno e possuem
células T e B separadas, bem como as moléculas de MHC. Assim, tem-se que o
sistema imunológico surgiu totalmente armado”.[2: p. 138]
Os
evolucionistas afirmam que as mutações, juntamente com a seleção natural
evoluíram vários sistemas imunológicos existentes hoje em humanos, do simples
para o sistema mais complexo.[3] No entanto, os vários sistemas imunes
adaptativos no reino animal são todos igualmente complexos, mas com grandes
descontinuidades entre eles. Os biólogos criacionistas Bergman e O’Sullivan, por sua vez, afirmam
que é improvável que um evoluiu para outro.[3] Segundo eles, todos os
organismos multicelulares têm um sistema imune inato elaborado, e muitos
animais têm um dos dois braços conhecidos do sistema adaptativo que produz uma
enorme diversidade de anticorpos para destruir agentes patogênicos específicos.
Embora sejam muito diferentes, todos os sistemas imunes conhecidos são
altamente eficazes em combater agentes patogênicos. Para os pesquisadores
criacionistas, não existe evidência para a evolução do sistema imunológico, que
parece ser irredutivelmente complexo.
Outro
ponto da imunologia que tem sido questionado diz respeito à variação da cadeia
leve de anticorpos que ocorre por meio da aceleração de mutações. Os
evolucionistas acreditam que muitas das variações de anticorpos necessárias
são produzidas quando um processo de cópia celular é abrandado, e que isso aponta
para a evolução em ação.[4] Nesse modelo, os genes do anticorpo são copiados
para o RNA, e uma enzima especial chamada “desaminase induzida por ativação”
(DIA) estimula o arranjo combinatório apenas das sequências de bases que se
tornarão a cadeia leve. Quando a transcrição é retardada -
processo chamado de estagnação da transcrição do RNA -,
troca-se apenas uma base de cada vez para múltiplas bases. Essa hipermutação
causa a produção mais rápida de variações de anticorpos, aumentando assim seu
potencial de combate à doença.
No
entanto, biólogos criacionistas alegam que a capacidade de anticorpos para
hipermutação como um processo biológico é bem concebida e proposital (mente
inteligente), ao contrário do que os evolucionistas alegam.[3] Essa
interpretação é corroborada pelas especificações do processo, cada uma das
quais representa a informação de que a natureza por si só não possui nenhum
mecanismo para evoluir o sistema imunológico. A estrutura tridimensional
da enzima DIA, a alocação de mutações (alterações de bases de RNA)
especificamente sobre as pontas dos anticorpos, e a alocação de genes de
imunoglobulina em segmentos apropriados do genoma de forma que possam ser
transcritas em conjunto são algumas das especificações necessárias para
variações de anticorpo a fim de atingir eficazmente seus efeitos.
Para
Bergman e O’Sullivan, a prova de que a imunidade adaptativa é um sistema
irredutivelmente complexo é bastante simples em seres humanos.[3] Isso é
demonstrado por doenças imunológicas, como a aids (perda de função em células T
helper), agamaglobulinemia ligada ao X (XLA; uma deficiência de enzimas Bright
e BTK, o que leva a uma incapacidade de produzir o nível necessário de
imunoglobulinas protetoras) que pode levar ao desenvolvimento de infecções
repetidas, e doenças autoimunes (uma falha em diferenciar o próprio do não
próprio). Todos esses exemplos apoiam a conclusão de que a falha de uma
única parte vital do sistema conduz a uma falha catastrófica de todo o sistema,
o que é uma manifestação primária de complexidade irredutível.
A
complexidade irredutível é definida por Michael Behe como “um sistema único composto
de várias partes bem combinadas que interagem e que contribuem para a função
básica do sistema, onde a remoção de qualquer das partes faz com que o sistema
pare de funcionar”.[1: p. 39] Nesse sentido, em 2005, durante o julgamento do caso Kitzmiller vs. Dover, a fim de refutar a alegação de Behe, o biólogo evolucionista Kenneth
Miller argumentou que se a cascata de coagulação do sangue funciona sem
determinadas partes, então a coagulação do sangue não é irredutivelmente
complexa.[5]
Entretanto,
Behe nunca afirmou que todos os componentes da cascata de coagulação seriam
necessários para que o sistema funcionasse corretamente. Para entender
melhor a visão de Behe, é necessário conhecer algumas noções básicas sobre a cascata
de coagulação. De forma geral, em vertebrados terrestres, existem duas
vias diferentes pelas quais a cascata de coagulação pode ser iniciada − a via
intrínseca e a via extrínseca, não podendo haver cruzamentos entre as duas vias.
A fase final da cascata de coagulação só é alcançada após cada via atingir o
fator X (ou fator de Stuart). Esses estágios finais da cascata são o que
Behe chama de “além do garfo”. Em seu livro A Caixa Preta de Darwin, Behe
declarou que seu argumento para a complexidade irredutível somente se
aplicava na etapa “além do garfo”, em que as cascatas de coagulação do sangue,
intrínsecas e extrínsecas, convergem.[6]
Segundo
Behe, “deixando de lado o sistema antes da bifurcação na via, onde alguns
detalhes são menos conhecidos, o sistema de coagulação do sangue se encaixa na
definição de complexidade irredutível. [...] Os componentes do sistema (após a
bifurcação da via) são fibrinogênio, protrombina, fator X (de Stuart) e
proacelerina. [...] Na ausência de qualquer um dos componentes, o sangue não
coagula e o sistema falha”.[6]
Miller
também apontou o fato de que em 1969 foi descoberto que as baleias e os
golfinhos não possuem o fator XII da cascata de coagulação (também chamado de
fator Hageman). Além disso, a cascata de coagulação sanguínea no baiacu carece
de fatores XI, XII e XIIA. Assim, foram retiradas as três partes que são
conhecidas como o sistema de fase de contato - o fator XI, o
fator XII e o fator que catalisa a conversão de 12 na forma ativa. Segundo
Miller, embora essas três partes do sistema estejam faltando no peixe baiacu,
os coágulos sanguíneos dele estão perfeitamente bem, indicando que a
complexidade irredutível na cascata de coagulação de vertebrados não existe. Por outro lado, esse fato não refuta o argumento de
Behe, apenas reforça que alguns vertebrados (como golfinhos ou peixes jawed)
carecem de certos componentes envolvidos na via intrínseca (fatores XI, XII, e
XIIA).[6]
Por
exemplo, a via da cascata de coagulação sanguínea de peixes jawed tem uma
diferença importante em relação à dos vertebrados terrestres, porque esse peixe
não tem uma via intrínseca encontrada em vertebrados terrestres.[6] Isso
não significa que o resto da cascata não seja irredutivelmente complexa, pois
ambos podem ter um sistema de núcleo de peças que é irredutivelmente complexo. O
“núcleo irredutível” é um conceito antigo dentro do pensamento do design definido por William Dembski e
Jonathan Wells.
Durante
o mesmo julgamento, foram apresentados também alguns estudos publicados entre
1996 e 2005 que supostamente refutariam a complexidade irredutível do sistema
imunológico geral, reafirmando a explicação darwinista para a origem do sistema
imunológico. No entanto, o microbiologista Don Ewert, que dirigiu o Instituto
Wistar por 20 anos, após ler os artigos apresentados no julgamento, concluiu
que o Dr. Behe estava certo em argumentar que esses documentos não fornecem uma
explicação darwinista para a origem do sistema imunitário.[7] Segundo Don Ewert,
fora utilizado o pressuposto da homologia como indício de uma relação de
ancestralidade que, por si só, não é prova da relação evolutiva. Para ele, a
estrutura dos locais de receptores de anticorpos que, em uma classe de
proteínas - chamadas
superfamília das imunoglobulinas – encontra-se distribuída em outras espécies,
não pode ser usada como prova de que eles realmente evoluíram um do outro.
O
Dr. Ewert diz que a afirmação dos evolucionistas sobre a origem do sistema
imune adaptativo em vertebrados (um dos argumentos apresentados pelo Dr.
Miller) é um grande problema.[7] Tem sido caracterizado como o “Big Bang”
da imunologia, mas quando se olha para a complexidade desse sistema percebe-se
que é praticamente inalcançável qualquer explicação evolutiva de colocá-los
juntos nesse curto período de tempo, mesmo se você começar com alguns dos
componentes já existentes em outras espécies. Para ele, a literatura de
imunologia comparativa, juntamente com os achados de biologia de sistemas,
fornece ampla evidência para o design
inteligente.
(Everton Alves)
Referências:
[1] Behe MJ. Darwin’s Black Box: The
Biochemical Challenge to Evolution. New York: The free press, 1996.
[2] Mitchison A. “Will We
Survive? As host and pathogen evolve together, will the immune system
retain the upper hand?” Scientific
American 1993; 269:136-44.
[3] Bergman J, O’Sullivan N. “Did
immune system antibody diversity evolve?” Journal
of Creation 2008; 22(2):92-96.
[5] Luskin C. “Kenneth Miller,
Michael Behe, and the Irreducible Complexity of the Blood Clotting Cascade
Saga.” Evolution News & Views,
2010. Disponível
em: http://www.discovery.org/a/14081.
Acesso em: 26/3/2015.
[6] Luskin C. “How Kenneth
Miller Used Smoke-and-Mirrors at Kitzmiller to Misrepresent Michael
Behe on the Irreducible Complexity of the Blood-Clotting Cascade.” Evolution News & Views,
2009. Disponível em: http://www.discovery.org/a/8561. Acesso em: 26/3/2015.