Por
que coloquei a palavra criacionismo entre aspas no título desta postagem?
Simples: porque o repórter do Globo Ciência se propôs entender a controvérsia
entre criacionismo e evolucionismo, mas não entrevistou sequer um criacionista
de fato. Pra falar a verdade, até entrevistou, mas simplesmente dispensou a
entrevista. Daqui a pouco eu revelo esse bastidor da matéria. Antes, porém, vou esperar que você assista à reportagem (basta clicar aqui). Em seguida, farei alguns comentários pontuais.
[E então, assistiu? O que achou?] Com
todo o respeito aos entrevistados, todos eles embarcaram na “onda” de polarizar
a discussão como sendo religião (criacionismo) versus ciência (darwinismo), quando se sabe (ou deveria saber) que
ambos os modelos se valem do método científico, mas estão “contaminados” por
uma visão filosófica. No caso do criacionismo, é o teísmo bíblico que assume a priori a existência de Deus e
interpreta as evidências de design na
natureza à luz dessa cosmovisão. No caso do darwinismo, é o naturalismo
filosófico, que assume, também à priori,
a não existência do sobrenatural e interpreta as evidências de design na natureza como resultado de
causas naturais não dirigidas. É verdade que há um esforço conciliatório por
parte de alguns darwinistas no sentido de tentar convencer o exército de
crentes liberais (como os católicos) de que o darwinismo seria compatível com a
religião (tratei desse tema neste texto). E isso
é notado nas entrevistas desse programa da Globo, já que todos os pesquisadores
admitiram ter algum tipo de “espiritualidade”. Assim, parece que foram
escolhidos a dedo.
Outro
detalhe (que é recorrente em discussões sobre evolução) é que alguns
entrevistados apresentam evidências de diversificação de baixo nível
(microevolução) – como o desenvolvimento de resistência a antibióticos por parte das bactérias – como se fossem evidências de
macroevolução, ou seja, de que uma “simples célula” teria dado origem a todos
os seres vivos que conhecemos. Isso é extrapolação, a partir de dados
observacionais, para o campo da metafísica, de hipóteses não comprovadas e não
verificáveis.
Mas
o pior de tudo nessa reportagem é o que não foi mostrado. A equipe do Globo
Ciência entrevistou o geólogo criacionista Dr. Nahor Neves de Souza Júnior, diretor da filial brasileira do Geoscience
Research Institute e professor do Unasp, campus Engenheiro Coelho. Nahor falou
sobre o criacionismo bíblico a apresentou evidências científicas que dão
sustentação a esse modelo. Mas, na hora de editar o programa, os responsáveis
simplesmente optaram por descartar a entrevista com um verdadeiro criacionista
para colocar no lugar dela a fala de um clérigo católico que apenas apresenta
argumentos diluídos advindos de uma visão darwinista teísta que mal compreende
do que se trata o verdadeiro criacionismo bíblico. Ou seja: num programa que
pretende tratar de criacionismo, o único defensor do criacionismo entre tantos
darwinistas é um bispo que, na verdade, não é criacionista! (Ah, detalhe, a doutora em filosofia entrevistada é da Unisinos, universidade jesuíta/católica.)
Assim
fica difícil para o público formar opinião sobre o tema, como parecia ser a
proposta desse programa da Globo. Assim as pessoas estão sendo é
doutrinadas, em lugar de ser esclarecidas.
Uma coisa é certa: o criacionismo está cada vez mais em evidência, mas a que preço para os criacionistas?
Uma coisa é certa: o criacionismo está cada vez mais em evidência, mas a que preço para os criacionistas?
Um
vídeo como este (clique aqui) poderia fornecer mais base para reflexão e
análise do que os vinte e tantos minutos de reportagem do Globo Ciência.
Michelson Borges