quarta-feira, julho 07, 2021

Vida no planeta Terra – um projeto inteligente

De acordo com a teoria da evolução, a vida teria surgido há mais de três bilhões de anos, numa “sopa primordial” que nada mais era que o nosso oceano “temperado” com aminoácidos e outras moléculas orgânicas. A partir dessas primeiras moléculas, a vida teria evoluído em suas diversas formas, através do mecanismo da seleção natural proposto por Charles Darwin. Inclusive a própria definição de vida, de acordo com a Agência Espacial Americana (NASA) deixa muito claro o viés evolucionista ao declarar que “a vida é um sistema químico autossuficiente com a capacidade de ter uma evolução darwiniana”. É importante deixar muito claro que, ao contrário do que a narrativa evolucionista afirma como fato, as hipóteses sobre a origem da vida na Terra estão apenas no campo das ideias, sendo uma questão que ainda está em aberto e continuará dessa forma.[1] Isso porque qualquer tipo de hipótese a respeito da origem inorgânica da vida ao acaso num passado distante não pode ser testada empiricamente, ou seja, com experimentos em laboratório. Além disso, eventos que teriam acontecido no passado não podem ser reproduzidos, observados, testados e repetidos. Portanto, considerando o próprio conceito de ciência aceito hoje, hipóteses sobre a origem da vida não podem ser falseadas, não podendo ser consideradas científicas.

Além de considerar a hipótese de que a vida teria surgido de forma espontânea em nosso planeta, cientistas têm explorado outras ideias. Desde a criação do programa Search for Extraterrestrial Intelligence [Busca por Inteligência Extraterrestre, em português] (SETI) da NASA, nos anos 1970, temos visto muitas iniciativas de diversas agências pelo mundo na tentativa de encontrar vida em outros lugares do espaço. São lançadas sondas espaciais, realizados estudos com imagens de telescópios e outros equipamentos de última geração. Até agora, não temos qualquer evidência conclusiva de que exista vida em outro lugar do cosmo que não seja na Terra. Alguns cientistas querem até mesmo mudar o conceito de vida para forçar uma grande descoberta científica, já que encontrar vida como conhecemos em nosso planeta tem sido uma tarefa muito desafiadora.[2]

Mas por que procurar vida em outros lugares do espaço? Se pensarmos pela perspectiva da teoria da evolução, duas respostas principais a essa pergunta se destacam: encontrar vida em outro planeta pode ajudar a entender como a vida teria surgido aqui na Terra, ou encontrar vida em outro planeta pode esclarecer dúvidas sobre como a vida poderia ter chegado aqui, já que existem alguns cientistas que acreditam que a vida ou as primeiras moléculas orgânicas teriam vindo ao nosso planeta na “carona” de um meteoro, uma ideia conhecida como panspermia cósmica.

Levando em conta esses aspectos, astrobiólogos consideram a presença de água em um planeta que orbita uma estrela nos mesmos moldes do nosso Sol como condições determinantes para a existência de vida. Pesquisadores da Universidade de Nápoles e do Observatório Astronômico Capodimonte estudaram níveis de luz recebidos por dez exoplanetadas (planetas que estão fora do nosso sistema solar) potencialmente habitáveis, que estão na órbita de diferentes tipos de estrelas, e falharam em encontrar condições similares às da Terra. Considerando até mesmo o mais simples dos planetas pelos padrões terrestres, é necessário ter ampla luz solar, mas não qualquer tipo de luz. É preciso lembrar que organismos fotossintetizantes (que de acordo com a teoria da evolução foram fundamentais na modificação da atmosfera e produção de oxigênio) precisam de luz com a frequência exata e a correta quantidade de energia para transformar dióxido de carbono em glicose. Um desequilíbrio dessas condições destruiria prováveis proteínas já existentes. Ao testar a hipótese de que existiria tal estrela com a capacidade de emitir essa energia, os pesquisadores descobriram que condições similares às da Terra encontradas em outros planetas podem ser bem menos comuns do que eles imaginavam. Dentre os planetas considerados no estudo, nenhum deles teria condições suficientes de produzir um sistema fotossintético capaz de fazer o ciclo do carbono acontecer, como o que encontramos aqui.[3] Até parece que todas essas condições foram planejadas para que a existência e a manutenção da vida fossem possíveis, não é mesmo?

É interessante perceber que quanto mais pesquisas são feitas, mais a teoria da evolução parece estar enfraquecida e a ideia de um ser inteligente que planejou todas as coisas se fortalece. Ao lançar seu livro Alone in the Universe: Why Our Planet is Unique (Sozinhos no Universo: Por que Nosso Planeta É Único), o astrofísico John Gribbin acredita ser difícil a possibilidade da existência de vida em outro planeta do sistema solar, e diz ser impossível encontrar vida “complexa e inteligente como em nosso planeta”. Ele também afirma que a possibilidade de encontrar “ETs” é “baseada mais na fé do que na ciência”, e que “a vida em galáxias distantes não é palpável para nós”.[4]

Como disse um grande cientista do século 19, Louis Pasteur: “Pouca ciência nos afasta de Deus. Muita, nos aproxima.”

(Maura Brandão é bióloga e doutora em Ciências)

 Referências:

[1] https://cienciahoje.org.br/artigo/quando-a-vida-surgiu-no-universo/

[2] https://oglobo.globo.com/epoca/mundo/por-que-um-grupo-de-cientistas-quer-mudar-conceito-de-vida-como-isso-pode-revolucionar-busca-por-ets-1-24586099

[3] https://www.sciencealert.com/photosynthesis-made-our-atmosphere-what-it-is-and-it-could-be-an-extremely-rare-thing

[4] https://veja.abril.com.br/ciencia/nao-adianta-procurar-vida-inteligente-fora-da-terra/

A história, seus dramas e Deus

 

O mundo passa por uma nova configuração histórica, em razão de grandes mudanças no cenário global. Ocorrências drásticas e repentinas, a exemplo da pandemia do novo coronavírus, afetam tudo e todos – o meio ambiente, a economia, a política, as leis, a religião, o pensamento e o psiquismo das pessoas. A forma de ver a realidade mudou mais uma vez, e nós, feito crianças amedrontadas, só conseguimos vislumbrar no horizonte dos eventos uma crise humanitária. Diante disso, quem seria capaz de apresentar uma análise segura para além da crise mundial, que apontasse para o sentido e a esperança? Quem poderia explicar a história e apresentar um “plano de salvação”?

 As crises vêm e vão, demolindo o otimismo humano como se derruba um castelo de cartas. Quando elas surgem inesperadamente, aparecem também os “profetas apocalípticos” – seculares e religiosos –, os quais, na figura de analistas do momento, submetem os acontecimentos dramáticos às suas narrativas de cunho sociológico, político, filosófico, científico, metafísico ou meramente opinativo. Os prognósticos elaborados por tais analistas chocam-se entre si, mas cruzam-se também, sendo o elemento comum a todos eles certa percepção escatológica que leva muitos a “desmaiarem de terror pela expectativa das coisas vindouras”.

 O sentimento escatológico parece despertar-nos para a realidade de uma meta-história a esclarecer a história e seus dramas. É neste ponto que a proposta teísta e criacionista de explicitação para os acontecimentos do mundo ganha destaque e defronta-se com as investigações meramente seculares e horizontais dos fatos, sobrepondo-se a estas no quesito interpretação. Nesse aspecto o teísmo bíblico, carregado de simbolismos proféticos estudados à luz do princípio historicista de interpretação, é abarcante pois interliga passado, presente e futuro, introduzindo um fator transcendente que responde (em meio ao caos, à desorientação e à aparente falta de significado) ao porquê da história. Os livros de Daniel e Apocalipse são o exemplo máximo dessa forma de ver os fatos históricos.

Todavia, com a pregação da “morte de Deus”, reconfigurada pelo establishment filosófico da pós-modernidade, a alternativa teísta continua descartada pelos investigadores humanistas da história, e a única conclusão a que se chega é: Não precisamos de Deus para qualquer explicação ou solução dos nossos dramas. Mais: se a possibilidade de Sua existência continua viável, Ele nada tem a ver conosco, pois Sua interferência nos negócios humanos é tanto fictícia quanto indesejada. Senão, vejamos a posição neoiluminista: “Ao procurar uma coerência para a história e as condições que ela implica, o filósofo não precisará do respaldo de Deus. [...] Deus tanto é mais importante quanto mais longe se encontrar. Estranho à história, sua interferência significaria a anulação da autonomia. Da mesma forma que o Universo se abre ao exame da razão, porque ele já é razão, também a história do ser humano se abre a uma explicação racional, porque é animada de uma aspiração racional, a saber, a afirmação do homem enquanto senhor de si e administrador do mundo. [...] As verdades da razão opõem-se, por conseguinte, às verdades da teologia. [...] Os objetos de fé serão relegados ao foro íntimo, à privacidade do crente e não possuirão nenhum estatuto intelectual capaz de elevá-los à certeza metafísica. [...] A nova posição frente à história mostra que a mesma deixou de se referir a um todo monoliticamente concebido e passa a ser objeto de uma elaboração reflexiva em torno da diversidade profana e real. [...] A razão apresenta-se como um instrumento capaz de voltar os interesses do historiador-filósofo para os elementos imanentes à própria história, reconhecendo-a num cenário terreno e natural, impedindo, em consequência, o recurso ao maravilhoso como fator explicativo para os fatos.”¹

 Noutra perspectiva, o pensamento clássico teísta contesta a filosofia apresentada acima. Ele reconhece no Criador o Agente que acompanha não só a história individual do ser humano, mas também a história universal, intervindo nelas em momentos cruciais. Dessa forma, pode-se discernir a evidente e notável atuação divina nos momentos mais significativos da história: “Nos anais da história humana o crescimento das nações, o levantamento e queda de impérios, aparecem como dependendo da vontade e façanhas do homem. O desenvolver dos acontecimentos em grande parte parece determinar-se por seu poder, ambição ou capricho. Na Palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina, e contemplamos ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um Ser todo misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade. [...] A história que o grande Eu Sou assinalou em Sua Palavra, unindo-se cada elo aos demais na cadeia profética, desde a eternidade no passado até à eternidade no futuro, diz-nos onde nos achamos hoje, no prosseguimento dos séculos, e o que se poderá esperar no tempo vindouro. Tudo o que a profecia predisse como devendo acontecer, até à presente época, tem-se traçado nas páginas da História, e podemos estar certos de que tudo que ainda deve vir se cumprirá em sua ordem.”²

Para aqueles que estão convictos de que Deus não existe, ou que existe mas não age na imanência (deísmo), o título desse texto deveria ser mais curto; apenas A história e seus dramas, ecoando assim o pensamento do bioquímico francês Jacques Monod: “É preciso  que o Homem enfim desperte de seu sonho milenar para descobrir sua solidão total, sua estranheza radical. Agora, sabe que, como um cigano, está à margem do universo onde deve viver. Universo surdo à sua música, indiferente às suas esperanças, como a seus sofrimentos ou a seus crimes. […] Onde o recurso?”³ Talvez o “sonho milenar” ao qual Monod se referiu seja o mesmo que Sigmund Freud definiu como “ilusão consoladora”: acreditar na proposta cristã de que um Ser divino não abandonou a Terra à suposta indiferença do universo. Se a visão teísta pode ser considerada misteriosa e enigmática, ou mesmo aparentemente ilusória, o enigma da história, conforme o físico e sacerdote episcopal William G. Polard declarou, “reside no fato de que todo evento é ao mesmo tempo resultado da operação de leis naturais, universais, e o objeto do exercício da vontade divina. Ao desdobrar-se a História, o mundo avança de acordo com as exigências internas de sua estrutura e as leis universais às quais está sujeito. Porém, entre acasos e acidentes dessas alternativas, a História traça seu curso espantoso sempre respondendo à vontade do Criador. O cristão vê as contingências e acidentes da História como a trama e a urdidura do plano que Deus, em Sua providência, está tecendo”.4

“Onde o recurso?”, perguntou Monod. Para as crises manifestadas em pandemias, guerras, fome, injustiça, opressão e tragédias de todo tipo, Deus continua sendo a salvação da história. E se esta retém seu caráter trágico, é “porque a alienação que separa o homem de Deus não pode ser corrigida unilateralmente. A reconciliação não pode ser efetivada a não ser pela resposta livre do homem ao apelo do amor divino. Embora trágica, a história, mesmo a história profana, participa de um desígnio redentor, tanto por revelar o amor de Deus, como pelo fato de promover uma liberdade crescente. [...] A história não é nem sem significado, nem inconsequente”5. Além do mais, ela traz consigo profundas implicações espirituais.

 A pessoa de fé que busca sentido e propósito pressente que a história não terminará de maneira trágica. Porém, enquanto o fim glorioso não chega para a meta-história assumir o seu lugar, o sofrimento do tempo presente perdura; contudo, ao invés da indiferença do universo, existe a consoladora certeza dada pelo próprio Criador: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mateus 28:20). 

Frank de Souza Mangabeira

 Referências:

1. MENEZES, Edmilson; OLIVEIRA, Everaldo (Org.). Modernidade filosófica: um projeto, múltiplos caminhos. São Cristóvão. Editora UFS, 2011.

2. White, Ellen G. Educação. Casa Publicadora Brasileira, Santo André, São Paulo, 1977.

3. Monod, Jacques. O acaso e a necessidade. Editora Vozes Ltda: Petrópolis, Rio de Janeiro, 1972.

4. Pollard, William G. Chance and Providence: God’s action in a world governed by cientific law. Charles Scribner’s Sons: New York, 1958.

5. Schwants, Siegfried J. O significado bíblico da história. Instituto Adventista de Ensino: São Paulo, 1984.