quinta-feira, abril 26, 2018

Cérebro humano é capaz de trabalhar com onze dimensões


Usando a topologia algébrica, um campo da matemática que faz a associação entre estruturas algébricas e um espaço topológico com o objetivo de obter informações sobre esse espaço, uma equipe de pesquisadores descobriu um universo de estruturas geométricas multidimensionais e espaços dentro das redes do nosso cérebro. Essa abordagem, nunca usada na neurociência, apresentou resultados surpreendentes. Segundo o estudo, realizado no ano passado, o cérebro humano está cheio de estruturas geométricas multidimensionais operando em até 11 dimensões. Estamos acostumados a pensar no mundo a partir de uma perspectiva 3D, então isso pode soar um pouco complicado, mas os resultados desse estudo podem ser o próximo passo na compreensão do tecido do cérebro humano, a estrutura mais complexa que nós conhecemos.

Esse modelo cerebral foi produzido por uma equipe de pesquisadores do Blue Brain Project, uma iniciativa de pesquisa suíça dedicada a fazer uma reconstrução do cérebro humano alimentada por um supercomputador. Os pesquisadores descobriram que os neurônios se conectam em “grupos”, e que o número de neurônios em um grupo levaria ao seu tamanho como um objeto geométrico de alta dimensão (um conceito dimensional matemático, não do espaço-tempo).

“Encontramos um mundo que nunca havíamos imaginado”, disse o pesquisador-chefe, o neurocientista Henry Markram, do Instituto EPFL, na Suíça. “Há dezenas de milhões desses objetos, mesmo em uma pequena partícula do cérebro, através de sete dimensões. Em algumas redes, encontramos estruturas com até 11 dimensões.”

Essas dimensões não são as mesmas que vemos em nosso mundo – as três espaciais e mais uma dimensão de tempo. Em vez disso, elas se referem a como os pesquisadores analisaram os grupos de neurônios para determinar como eles estão conectados. “As redes são frequentemente analisadas em termos de grupos de nós que estão todos conectados a todos, conhecidos como cliques. O número de neurônios em um grupo determina seu tamanho, ou mais formalmente, sua dimensão”, explicam os pesquisadores no artigo.

Markram sugere que isso pode explicar por que é tão difícil entender o cérebro. “A matemática geralmente aplicada para estudar redes não consegue detectar as estruturas e espaços de alta dimensão que agora vemos claramente.” Calcula-se que os cérebros humanos tenham impressionantes 86 bilhões de neurônios, com múltiplas conexões de cada célula em todas as direções possíveis, formando a vasta rede celular que de alguma forma nos torna capazes de pensar e ter consciência. Com um número tão grande de conexões para trabalhar, não é de admirar que ainda não tenhamos uma compreensão completa de como funciona a rede neural do cérebro.

A estrutura matemática construída pela equipe nos leva um passo mais perto de um dia ter um modelo cerebral digital. Para realizar os testes matemáticos, a equipe usou um modelo detalhado do neocórtex que eles mesmos criaram em 2015. Acredita-se que o neocórtex seja a parte mais recentemente desenvolvida [sic] de nossos cérebros, e esteja envolvida em algumas de nossas funções de ordem superior, como a cognição e percepção sensorial.

Depois de desenvolver sua estrutura matemática e testá-la em alguns estímulos virtuais, a equipe também confirmou seus resultados em tecido cerebral real de ratos. De acordo com os pesquisadores, a topologia algébrica fornece ferramentas matemáticas para discernir detalhes da rede neural tanto em uma visão de perto no nível de neurônios individuais, quanto em uma escala maior da estrutura do cérebro como um todo. Ao conectar esses dois níveis, os pesquisadores puderam discernir estruturas geométricas de alta dimensão no cérebro, formadas por coleções de neurônios fortemente conectados e os espaços vazios entre eles.

“Encontramos um número e uma variedade notavelmente elevados de grupos e cavidades dirigidas de alta dimensão, que não haviam sido vistas antes em redes neurais, biológicas ou artificiais”, escreveu a equipe no estudo. “A topologia algébrica é como um telescópio e um microscópio ao mesmo tempo”, explica a matemática Kathryn Hess, da EPFL. “Ele pode ampliar as redes para encontrar estruturas escondidas, as árvores na floresta e ver os espaços vazios, as clareiras, tudo ao mesmo tempo.”

Essas clareiras ou cavidades parecem ser criticamente importantes para a função cerebral. Quando os pesquisadores deram um estímulo ao tecido cerebral virtual, viram que os neurônios estavam reagindo de maneira altamente organizada. “É como se o cérebro reagisse a um estímulo construindo e depois destruindo torres de blocos multidimensionais, começando com hastes (1D), depois pranchas (2D), depois cubos (3D) e geometrias mais complexas com 4D, 5D, etc.”, explica outro membro da equipe, o matemático Ran Levi, da Universidade Aberdeen, na Escócia. “A progressão da atividade através do cérebro se assemelha a um castelo de areia multidimensional que se materializa a partir da areia e depois se desintegra.”

Essas descobertas fornecem uma nova imagem de como o cérebro processa informações, mas os pesquisadores apontam que ainda não está claro o que faz com que os grupos de neurônios e as cavidades se formem em suas formas altamente específicas.

Outras pesquisas serão necessárias para determinar como a complexidade dessas formas geométricas multidimensionais formadas por nossos neurônios se correlaciona com a complexidade de várias tarefas cognitivas.

Agora os pesquisadores querem saber se a complexidade das tarefas que podemos realizar depende da complexidade dos “castelos de areia” multidimensionais que o cérebro pode construir. A neurociência também tem lutado para descobrir onde o cérebro armazena as nossas memórias. Markran tem um palpite: “Elas podem estar ‘escondidas’ em cavidades de alta dimensão.”


Leia mais sobre essa maravilha de design chamada cérebro. Clique aqui. 

quarta-feira, abril 25, 2018

Existência de água antes da semana da Criação?


Muitos leitores nos têm enviado perguntas relacionadas a dúvidas sobre se o Universo é jovem ou antigo. Algumas dessas questões foram selecionadas e serão respondidas por um de nossos especialistas deste blog. A missão foi designada, é claro, para o nosso astrofísico Eduardo Lütz, palestrante oficial da Sociedade Criacionista Brasileira.

Gênesis 1:2 menciona a existência de água líquida antes da semana da criação. A presença de água nesse estado dependeria da existência de fótons?

Exegeticamente, existe a possibilidade de que essa água tenha sido criada juntamente com o planeta no primeiro dia da semana de Gênesis 1, embora não pareça possível provar isso. Isso nos leva à questão: Qual a implicação da existência de água (mencionada no verso 2) antes do “haja luz” (verso 3)? A água, como qualquer outra substância, é feita de moléculas. Moléculas são feitas de átomos conectados por forças eletromagnéticas. A própria estrutura do átomo existe por causa de forças eletromagnéticas, pois é esse tipo de interação que mantém a eletrosfera (nuvem eletrônica) presa ao núcleo do átomo. As interações eletromagnéticas consistem em fótons virtuais e reais. Não existem interações eletromagnéticas sem fótons. Sem interações eletromagnéticas, não há átomos, nem moléculas, nem matéria como a conhecemos. 

Em outras palavras, sem fótons não existe água. Uma implicação imediata disso é que “haja luz” não pode significar criação de fótons pela primeira vez no Universo, como alguns interpretam. De fato, os versos seguintes esclarecem que o assunto é o ciclo noite-dia, ou seja, o ajuste de período de rotação da Terra, não a criação de luz no Universo.
Ainda que gênesis estivesse se referindo a água em sua forma sólida, água depende de fótons para existir, independentemente de ser líquida, sólida ou qualquer outro estado que se imagine ou venha a ser descoberto desde que ainda possa ser chamado de água.

Esses fótons não teriam vindo da glória de Deus antes do “haja luz”?

Fótons existem em um nível muito fundamental. São criados e destruídos continuamente pelo próprio vácuo (espaço-tempo). E a criação do espaço-tempo causa a criação de uma tremenda quantidade de fótons que inunda o Universo em uma fração ínfima de segundo após a criação do espaço-tempo e antes de a coalescência dessa energia toda poder formar a matéria. Não há como haver matéria sem antes ter sido criada a luz.

A glória de Deus ao Se manifestar no Universo inclui fótons, entre outras coisas, segundo as descrições bíblicas. Mas é a criação do espaço-tempo que induz a criação de energia, que excita o vácuo, que produz partículas, incluindo fótons. E isso teria ocorrido antes.

O “haja luz” significa “haja dia”, referindo-se ao ajuste do período de rotação da Terra, conforme explicam os versos seguintes. Quando Deus disse “haja luz”, já havia até pessoas vivendo no Universo (Jó 38:7, por exemplo). Sem fótons, essas pessoas não existiriam ou, se fosse possível existirem, viveriam em trevas. Resumindo: não existe matéria sem fótons, mas já existia água antes do “haja luz”; logo, “haja luz” não pode ser a criação de fótons que ocorreu logo após a criação do Universo. Essa criação original de fótons precedeu à criação da matéria como a conhecemos.

Seria possível a glória de Deus, e não um sistema solar já pronto, ser a fonte de fótons que mantivesse a água preexistente no estado líquido (Gn 1:2) antes da semana da Criação, e que nutrisse as plantas antes que a luz do sistema solar viesse a existir no quarto dia?

Em princípio, sim, mas essa ideia gera complicações. E já haveria fótons no Universo antes do “haja luz” (até porque as imagens que recebemos de objetos distantes são muito mais antigas do que a criação da Terra, e essas imagens são feitas de fótons). Mas quanto a Deus ter feito o papel do Sol antes do quarto dia, essa ideia não é absurda, porém, não se encaixa bem no resto do padrão da criação. Note que, ao longo de todo o capítulo 1 de Gênesis, Deus cria primeiro as condições para depois criar o que depende delas. No caso do Sol, estaria fazendo o contrário. Para quê? Deixar para criar o Sol no quarto dia seria uma forma possível, porém, mais complicada de resolver um problema, o que iria contra o princípio da otimização (mais conhecido como princípio da ação mínima), que é a lei mais fundamental, da qual se podem deduzir as demais. Por outro lado, tornar a atmosfera transparente somente no quarto dia faz sentido em função do mesmo princípio. Aí, o Sol, a Lua e as estrelas apareceriam (se tornariam visíveis desde o ponto de referência da Terra) no céu em função disso.

domingo, abril 22, 2018

O curioso processo de camuflagem dos polvos

O processo de camuflagem, que promove a intensa mudança de coloração, brilho e até mesmo modificações texturais da pele e formas dentre os Cephalopoda (lulas e polvos), é algo que impressiona pela beleza e pela velocidade dessas alterações. Esses indivíduos pertencem ao filo Mollusca, um dos maiores do reino animal. Todos os moluscos têm o corpo mole; ostras e lesmas são alguns exemplos. Muitos deles protegidos por uma concha. Algumas características singulares desse filo são a presença de rádula (órgão raspador que arranca partículas alimentares de superfícies duras) e pé muscular (principal órgão locomotor). O grupo varia muito, desde organismos muito pequenos e não tão complexos, até organismos com grandes dimensões, como a lula gigante do gênero Architeuthis, que podem alcançar 18 metros de comprimento e pesar 450 kg.  

O filo inclui invertebrados de locomoção extremamente lenta até os mais velozes, além de serem encontrados em uma grande variedade de habitats, como trópicos e mares polares. 

A classe Cephalopoda é formada por indivíduos marinhos e predadores, como lulas, náutilos, polvos e sibas. A maioria deles tem o corpo exposto, sem concha externa (com exceção do nautilóides); as conchas são geralmente reduzidas, internas ou inexistentes (como nos polvos). Apresentam o sistema nervoso e sensorial mais elaborado que os dos demais moluscos. Seus olhos são altamente complexos (com exceção dos Nautilus). E o cérebro é o maior dentre os invertebrados, com vários lóbulos e milhões de células nervosas.  

Um cefalópode é capaz de mudar sua aparência quase instantaneamente, o que é de extrema importância para comportamentos de fuga, sinalização e camuflagem. Os responsáveis pela mudança de coloração da pele são os cromatóforos, células que contêm grânulos de pigmentos e localizam-se na epiderme. Cada um dos cromatóforos está envolvido por células musculares; quando elas contraem promovem a expansão do cromatóforo e a dispersão do pigmento, assim as cores do animal variam. Quando as células musculares relaxam, os cromatóforos concentram o pigmento.
  
As lulas podem transmitir mensagens diversas em um mesmo instante, com variação nos padrões de cores em diferentes localidades do corpo. As mensagens podem estar sendo direcionadas para indivíduos diferentes, localizados em direções variadas.   

Os cromatóforos são capazes de mudar abruptamente sua coloração. Eles são órgãos neuromusculares e estão diretamente inervados ao cérebro. Diferentemente do que já se pensou, não são controlados por hormônios. Eles podem sofrer variações em sua constituição conforme a espécie - tamanho e cores por exemplo. Um único cromatóforo recebe inervações múltiplas. 

Na realidade, essas mudanças incríveis de tonalidades, luminosidade e textura ocorrem pela interação conjunta de diversos elementos: cromatóforos, iridóforos, leucóforos e músculos da pele. Os três primeiros estão dispostos em três camadas: os iridóforos estão abaixo dos cromatóforos e são incolores, de tamanhos variados e achatados, com cristais que refletem variedade de cores. Os leucóforos estão abaixo destes e são proteínas refletoras. A musculatura da pele define sua textura (enrugar, alisar) durante o processo de camuflagem; já os músculos do corpo agem diretamente na postura do animal. Conforme a situação, esses indivíduos também modificam comportamentos – permanecendo imóveis, encolhendo o corpo, expandindo para parecer mais avantajados, dentre outros. 

De acordo com Messenger (2001), o arranjo dessas três camadas sob a pele não pode ser considerado aleatório. O processo é altamente organizado, e o nível de complexidade é elevado. Os cefalópodes regulam os cromatóforos com base nas informações visuais por eles captadas, através da visualização das formas e diferentes intensidades de luz. Se a luz do fundo for clara, os cromatóforos retraem para que a luz alcance os leucóforos, e estes irão reagir para obter uma correspondência adequada das cores.  

Uma das funções de todo esse processo é a capacidade de ocultação do animal. Ele modifica suas cores, forma (posição do corpo) e textura para passar despercebido no substrato. Na coloração disruptiva ocorre a "quebra" da totalidade do animal: ele se adequa de tal forma ao ambiente que dificilmente identificamos seu corpo. Ele se confunde com o fundo.  

Na exibição interespecífica, o intuito é de interagir com predadores ou presas. Uma das reações pode ser o "aumento" do tamanho corporal. Já a exibição intraespecífica tem como foco a comunicação entre indivíduos da mesma espécie, podendo haver variações específicas de cores e formas (faixas, listras). 

Conforme Messenger (2001), a evolução estabelece que os cromatóforos nos cefalópodes teriam "surgido" a partir da redução e interiorização da concha em vários indivíduos pertencentes a esse grupo. Sepias e lulas, por exemplo, têm conchas internas; nas sepias elas são conhecidas como siba, nas lulas como penas (devido ao seu formato). Com isso, seus corpos estão mais expostos ao ambiente, são mais ágeis na locomoção, mas desprotegidos, vulneráveis aos predadores. Então, a camuflagem seria uma solução apropriada e complexa para a proteção do animal contra predadores. Assim, tal organização sugere que fortes pressões seletivas teriam sido exercidas durante o projeto da pele desses animais, pois ela apresenta elevado nível de complexidade.  

Para a eficiência desses sistemas de camuflagem é necessária a ação conjunta de grande número dos componentes: cromátóforos, iridóforos, leucóforos; além dos componentes texturais, locomotores e posturais dos animais. O comportamento eficaz depende do sincronismo destes e de um cérebro complexo. 

Será mesmo que pressões seletivas elevadas seriam suficientes para dar origem a estruturas e reações altamente complexas? Isso nos faz pensar em design inteligente... 

Moema Patriota
  

Visualize todos esses componentes em ação no vídeo abaixo: 



Polvo

Sépia


Referências: 
HICKMAN, C. P.; ROBERTS, J.L.S.; LARSONA. "Princípios Integrados de Zoologia." Guanabara Koogan, 2009. 
MESSENGER, J.B. "Cephalopod chromatophoresneurobiology and natural history." Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/cd79/572ef6659ecedee3cf29e207fc687d1880f6.pdf; Acesso em: 19 de abril de 2018. 

Verdade: Isso existe? Isso importa?

Este é o meu post inaugural no blog www.criacionismo.com.br. É uma grande honra e também uma grande alegria contribuir neste projeto com meu amigo, o jornalista Michelson Borges, sem dúvida um dos maiores vultos do criacionismo no Brasil, bem como com tantas figuras que têm feito esforços sobre-humanos para levar uma visão alternativa, sóbria, racional e científica do criacionismo para o público brasileiro. Dedico com carinho o meu melhor a todos esses nobres bastiões da ciência bíblica e também a você, leitor, a quem eu tributo todo o meu respeito e os melhores votos de que você encontre as respostas que procura.

Há cerca de dez anos eu criei um blog chamado Em Defesa da Verdade. Naquela época, ainda muito jovem e idealista, me angustiava e mesmo me irritava a quantidade desmedida de desinformação que circulava nos meios acadêmicos e autointitulados cultos a respeito de criação, Bíblia, religião e mesmo ciência. Como todo apaixonado jovem, decidi que faria o possível para ajudar a criticar as incoerências e falsidades que se espalhavam na velocidade do transístor pela sempre exponencialmente crescente internet. Dez outonos depois, posso dizer que meu objetivo continua sendo o mesmo, todavia com uma visão - espero - mais sóbria e menos iludida a respeito da natureza humana. Concluí, nesse período, que, infelizmente, o erro não se espalha tanto por falta de verdade mas, principalmente, pela indisposição de nós, humanos, desejarmos e aceitarmos uma verdade impopular, e desagradável a um coração corrupto.

"Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar" (Isaías 59:14). 

Em tempos de relativismo moral, pergunto: Faz sentido acreditar em uma Verdade? Se sim, como saber o que é a Verdade ou onde encontrá-la? Não estariam certos os que dizem que não existe verdade absoluta? Que a verdade é mutável e dependente da cultura (contexto)? Que cada sociedade constrói o coNjunto de valores morais que forma a ética de um povo?

É sobre esSe assunto e alguns outros que discutiremos no futuro. Por ora, deixe-me apenas estressar uma máxima que de tão expressa já se tornou um clichê: "Tudo é relativo."

Não vou perguntar se você já ouviu esSa expressão, pois já sei a resposta. Vamos apenas refletir rapidamente na lógica desse axioma. Se tudo é relativo, essa asserção também deve ser relativa; e se essa declaração é relativa, então, ao menos em algum momento, nem tudo é relativo. Ou seja, existiria uma verdade absoluta. É um exercício despretensioso, apenas para pensarmos a respeito do que ouvimos todos os dias.

Qual é o ponto? Bem, minha experiência tem me mostrado que os relativistas geralmente usam o argumento do relativismo moral a seu favor, mas quando seus interesses entram em jogo, as atitudes e as posturas se tornam contrárias ao discurso. Vou dar um exemplo: se você encontrar alguém de um grupo que julgo ser 90% dentro do rol de pessoas cultas de hoje em dia e você disser a ela que segue uma religião, ela vai dizer a você: "Que bom! Faz bem a você? Siga o caminho." Mas quando você diz que ela precisa contar às outras pessoas sobre sua fé, e o que você sabe, e que as pessoas precisam mudar o rumo de suas vidas para terem esperança, essa pessoa vai lhe acusar de fundamentalismo ou fanatismo (que são praticamente a mesma coisa em termos práticos hoje em dia).

Em termos: você pode dizer que tem uma fé. É bonito, politicamente correto aceitar e tolerar a fé das pessoas, desde que esta seja apenas um fenômeno cultural, emocional e social humano. Imagine-se chegando a uma tribo isolada de uma ilha perdida da Oceania e vendo os nativos praticando rituais religiosos peculiares da sua cultura. "Que bonitinho." "Interessante." Pode até sair disso alguma seita para o lado B da nossa sociedade ocidental. Algum amuleto dessa tribo pode aparecer no pescoço de alguma magérrima em alguma catwalk em Paris. Todavia, essa fé, se corajosa o suficiente para crer que deve ser transmitida, precisa se submeter à grande e indiscutível verdade da ausência de verdade, da submissão ao status quo. À verdade de que a sociedade contemporânea, com sua imprensa, seus cientistas, filósofos deve ditar quem você é e como você deve pensar.

É lógico que o conhecimento científico é uma grande bênção, e temos muitas coisas boas em nosso mundo. Meu ponto aqui não é atacar a sociedade, mas desmistificar a ideia de que esta é coerente. De que o paradigma atual de pensamento é uma evolução dos predecessores. De que nós realmente somos livres para pensar o que quisermos no ambiente cultural contemporâneo.

Embarque comigo nessa jornada! Vamos falar de ciência, de razão, de fé e de comportamento. Conto com você nessa caminhada. Grande abraço e lembre-se: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará" (João 8:32).

Alexsander Silva
Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar.

Isaías 59:14
Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a eqüidade não pode entrar.

Isaías 59:14

sexta-feira, abril 20, 2018

Dilema ovo-galinha: Quem veio primeiro?

Um leitor nos enviou uma pergunta: Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?

A pergunta pode até parecer engraçada e sem sentido, porém, o assunto tem tudo a ver com os modelos evolucionista e criacionista. Para os criacionistas, que acreditam que Deus é o Criador de todos os seres, o tipo básico original que deu origem a galinha veio primeiro. Sim, criacionistas não são fixistas e aceitam o mecanismo de diversificação das espécies. Portanto, Deus criou os tipos básicos e depois eles se diversificaram. A nossa galinha doméstica é resultado dessa diversificação. Mas, para defensores da macroevolução, os seres vivos compartilham ancestrais comuns, foi o ovo que veio primeiro. E o ovo podia ser até de um dinossauro. Em geral, a cosmovisão darwiniana nos diz que o mais simples deu origem ao mais complexo, nessa ordem.

O dilema "ovo-galinha" é útil para testarmos a evolução darwinista. Se conseguirmos de algum modo provar que o ovo veio antes da galinha, a evolução de fato estará no caminho certo.

No entanto, uma nova descoberta aponta para o fato de que a galinha veio primeiro. Segundo os cientistas, a formação da casca do ovo depende de uma proteína que só é encontrada nos ovários desse tipo de ave. Portanto, o ovo só existiu depois que a primeira galinha foi criada. A proteína – chamada ovocledidin-17 (OC-17) – atua como catalisadora para acelerar o desenvolvimento da casca. A sua estrutura rígida é necessária para abrigar a gema e seus fluidos de proteção enquanto o filhote se desenvolve lá dentro. A descoberta foi publicada sob o título “Structural control of crystak nuclei by eggshell protein – em tradução livre: Controle estrutural de núcleo de cristais pela proteína da casca do ovo.[1]

Nessa pesquisa, foi utilizado um supercomputador para visualizar de forma ampliada a formação de um ovo. A máquina, chamada de HECToR, revelou que a OC-17 é fundamental no início da formação da casca. Essa proteína é que transforma o carbonato de cálcio em cristais de calcita, que compõem a casca do ovo. Dr. Colin Freeman, do departamento de Engenharia Material da Universidade de Sheffield, constatou: “Há muito tempo se suspeita que o ovo veio primeiro, mas agora temos a evidência de que, na verdade, foi a galinha.”

Para o professor John Harding, o estudo poderá servir como base para outras pesquisas: “Entender como funciona a produção da casca de ovo é interessante, mas também pode ser pista para a concepção de novos materiais e processos”, disse ele. “A cada dia a natureza [leia-se Deus] nos mostra suas soluções inovadoras para todo o tipo de problema que ela encontra. Isso só comprova que podemos aprender muito com ela”, finalizou o professor.

Como falamos no início do texto, esse dilema serve de teste para o evolucionismo darwinista. Testamos, e nessa situação ele foi reprovado. Podemos citar outros dilemas “ovo-galinha” a fim de que o evolucionismo darwinista seja posto à prova. Exemplos:

  1. Quem veio primeiro: DNA/RNA ou a proteína? Se você não tem DNA não tem proteína, e o contrário também é um problema.
  2. Oxigênio ou a capacidade do ser vivo de processar esse oxigênio?
  3. Homoquiralidade se refere à propriedade de um grupo de moléculas que têm a mesma quiralidade. Uma substância é considerada homoquiral se todas as unidades constituintes são moléculas da mesma forma quiral[2] (enantiômero). A vida requer polímeros com todos os blocos com a mesma forma quiral, como DNA e RNA tendo apenas açúcares “destros” e proteínas sendo formadas apenas por aminoácidos “canhotos”.[3] A homoquiralidade é uma propriedade única da matéria viva e gradualmente desaparece após a morte da matéria viva. A homoquiralidade representa um desafio para os materialistas que precisam explicar a origem da vida por meio de mecanismos puramente naturais.
Existem inúmeras situações em que podemos colocar à prova o mecanismo de evolução ocasional. Será mesmo que os organismos evoluíram de simples para complexos, ou foram criados prontos e funcionais ? Pare, pense e analise.


Referências:  
[1] Freeman CL, et al. Structural control of crystal nuclei by an eggshell protein. Angew Chem Int Ed Engl 2010 Jul;49(30):5135-7. 
[2] Dembski, William A. The Design of Life: Discovering Signs of Inteligence in Biological Systems. Dallas: The Foundation for Thought and Ethics, 2008. p. 227. ISBN 978-0-9800213-0-1 
[3] Sarfati, Jonathan. By Design. Australia: Creation Book Publishers, 2008. p. 175. ISBN 978-0-949906-72-4

quarta-feira, abril 18, 2018

A “evolução” em Gênesis 1: das origens à nova criação


Quando era estudante universitário, lembro-me bem de uma aula de crítica literária em que o professor tomou tempo para comentar acerca do primeiro capítulo do livro de Gênesis. Para ele, um cristão católico acostumado às interpretações metafóricas da criação ao modo de Santo Agostinho e da tradição escolástica, Gênesis 1 não deveria ser interpretado literalmente. “Por que não?” – eu indagava em pensamento. Enquanto o inteligente professor falava, eu observava com atenção os argumentos apresentados dos quais já tinha certo conhecimento; porém, percebia o quanto eram insustentáveis diante da força do próprio texto escriturístico. Além de refletir os esquemas interpretativos da teologia liberal e do método histórico-crítico, a argumentação ecoava a noção pós-moderna de obra literária, que, sutilmente, mina a autoridade do texto e impõe os pressupostos e a visão de mundo do leitor. Prudentemente, para não suscitar qualquer debate, naquele momento da aula não me posicionei. Todavia, tomando a declaração do professor, dita em sala, de que “para você defender uma interpretação literal de Gênesis é preciso ter argumentos consistentes”, no encontro seguinte ofereci-lhe um extenso artigo no qual era apresentada sólida defesa em favor da literalidade dos dias da criação, desmontando, assim, a interpretação figurativa. Se meu professor leu o artigo, deve ter notado que a compreensão literal de Gênesis 1 é coerente e faz justiça ao texto, sendo, portanto, bíblica e condizente com o caráter e os propósitos do Criador.

 Na máxima pós-moderna, “conhecer é sempre interpretar”. Nesse sentido, em relação à controvérsia acerca das origens, o texto bíblico, como um todo, encontra-se no centro de uma batalha de interpretações, muitas das quais acabam culminando em superinterpretações. Em muitas leituras, a exegese acaba se transformando em eisegese, pois “enquanto a exegese consiste em extrair o significado de um texto qualquer, mediante legítimos métodos de interpretação; a eisegese consiste em injetar em um texto alguma coisa que o intérprete, quer que esteja ali, mas que na verdade não faz parte dele. Em última instância, quem usa a eisegese força o texto mediante várias manipulações, fazendo com que uma passagem diga o que na verdade não se acha lá”. Por isso, fazer hermenêutica de textos considerados sagrados é um grande desafio que precisa seguir princípios seguros de interpretação; no entanto, como pondera David K. Naugle, será que “existe algum código-mestre interpretativo que forme um horizonte final para toda interpretação textual? Existe algum sistema final de sinais que determine o significado de todos os demais sinais com adequada certeza? Existe alguma metanarrativa, uma Weltanschauung definitiva, que explique todas as demais cosmovisões? Resulta a hermenêutica em nada mais que um intercâmbio perpétuo de sinais e símbolos que finalmente e efetivamente banem o significado do Universo? A resposta, ao que parece, depende da cosmovisão da pessoa”.

“Quem quer compreender um texto, em princípio, está disposto a deixar que ele diga alguma coisa por si. Por isso, uma consciência formada hermeneuticamente tem que se mostrar receptiva, desde o princípio, para a alteridade do texto. Mas essa receptividade não pressupõe nem ‘neutralidade’ com relação à coisa nem tampouco autoanulamento, mas inclui a apropriação das próprias opiniões prévias e preconceitos, apropriação que se destaca destes. O que importa é dar-se conta das próprias antecipações, para que o próprio texto possa apresentar-se em sua alteridade e obtenha assim a possibilidade de confrontar sua verdade com as próprias opiniões prévias”, adverte Hans-Georg Gadamer.

Em relação à Bíblia - considerada pelo cristianismo uma obra divino-humana, e não uma peça de literatura aberta a subjetividades interpretativas -, todo cuidado é pouco, porquanto “em interpretação, a criação é sempre maior que a criatura”. Para o leitor consciencioso das Escrituras, a pergunta bíblica se faz pertinente: “Entendes tu o que lês?” (Atos 8:30); ela o coloca perante o mais sério desafio hermenêutico. Nossas interpretações serão fracas ou fortes a depender da importância e do valor atribuídos ao texto e às intenções primárias de Seu autor divino, que inspirou autores humanos a escrever com base no “Assim diz o Senhor”.     

Voltando ao primeiro capítulo da Bíblia, qual tipo de interpretação seria mais consistente com a “alteridade” e natureza do texto? O relato ali expresso constituiria uma expressão mitológica da cultura judaica? Quem sabe uma descrição metafórica da criação, simples alegoria, parábola ou mesmo uma visão espiritual de Moisés? Ou Gênesis 1 é uma história (fato) entremeada de ricos simbolismos? Aposto nessa última opção hermenêutica, considerando que o texto bíblico é o seu próprio intérprete.   

Quando entregou os Dez Mandamentos por intermédio de Moisés, Deus escreveu em um elemento da criação - na pedra - a sólida e inapagável verdade: “Em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há...” (Êxodo 20:11). Contudo, a maioria das pessoas instruídas na ciência e nas correntes filosóficas e teológicas modernas vê no primeiro capítulo da Bíblia mera alegoria e simbologia, e nas “tardes e manhãs” ali descritas, em vez de dias de vinte e quatro horas, enxergam eras de milhares ou milhões de anos. Para tais indivíduos, nossas origens conforme as Escrituras não correspondem a um fato, não possuem historicidade, não são literais; consequentemente, precisam ser reinterpretadas de acordo com as “descobertas” da ciência moderna.

Confrontando essa visão, certo estudioso do Antigo Testamento esclarece: “O relato é um registro histórico em prosa, escrito em estilo rítmico, registrando factualmente e acuradamente ‘o que’ aconteceu na criação ‘dos céus e da terra’, retratando o tempo ‘em que’ ela ocorreu, descrevendo os processos de ‘como’ ela foi feita, e identificando o Ser divino que (‘quem’) a executou.”

Os versos do relato se assemelham a poesia, segundo William H. Shea, por causa do “paralelismo de pensamento, característica da poesia hebraica. Mas a Gênesis 1 falta a métrica poética, podendo o texto do capítulo ser mais precisamente descrito como prosa poética”. Outros destacados eruditos, muitos adeptos do método histórico-crítico, admitem honestamente, embora a contragosto, que “o autor bíblico intencionou que seu relato fosse entendido factualmente ou literalmente”. Alguns vão além: “Apesar de alegações em contrário (frequentemente no interesse de combater o fundamentalismo), esses textos indicam que os pensadores de Israel perseguiram cuidadosamente questões a respeito do como da criação, e não apenas questões de quem e por quê.” Por conseguinte, a interpretação literal desse capítulo controverso resulta da leitura “lisa”, “franca”, “óbvia”, “evidente”, “plana”.

Para os que só enxergam mitos no relato da criação, outro teólogo esclarece: “Embora as interpretações não literais devam ser rejeitadas no que negam (a saber, a natureza literal e histórica do relato de Gênesis), não obstante possuem um elemento de verdade no que afirmam. Gênesis 1-2 tem que ver com mitologia – não para afirmar uma interpretação mitológica, mas como polêmica contra a antiga mitologia do Oriente Próximo. Os versículos de Gênesis 1:1 a 2:4 provavelmente são estruturados de um modo semelhante à poesia hebraica (paralelismo sintético), mas poesia não nega historicidade (ver, por exemplo, Êxodo 15, Daniel 7 e aproximadamente 40% do Antigo Testamento, que são poesia). Escritores bíblicos frequentemente escrevem em poesia para afirmar historicidade. Os versículos de Gênesis 1-2 apresentam uma teologia profunda. Mas nas Escrituras teologia não se opõe à história. Com efeito, teologia bíblica tem sua raiz na história. De igual modo há um simbolismo profundo em Gênesis 1. Por exemplo, a linguagem do Jardim do Éden e a ocupação de Adão e Eva claramente aludem ao simbolismo do santuário e ao trabalho dos levitas (ver Êxodo 25-40). Mas porque aponta para uma realidade diferente não diminui sua realidade literal”. Por conseguinte, a literalidade salta da estrutura do texto e permite o aparecimento do simbólico, assim como o conotativo segue o denotativo. A Bíblia traz algo sobre a letra e o espírito da lei, sem desprezar nem um nem outro. Aqueles que guardam o espírito da lei vão muito além da sua letra, não pela desconsideração da letra, mas por ver na letra significado maior. Nesse aspecto, Gênesis combina muito bem letra e espírito, literalidade e simbologia.

Percebemos então que, nas Escrituras, a convivência entre o literal e o simbólico nunca foi um problema insolúvel para a hermenêutica, principalmente em Gênesis, não classificado como um livro poético. As imagens do caos primitivo, do pairar do Espírito sobre o abismo, do aparecimento da luz, organização da vida, da função pedagógica das duas árvores paradisíacas, da serpente falaz, da queda da humanidade, etc. evocam estimulantes interpretações. Apesar disso, a historicidade do relato jamais poderá ser negada ou desprezada pelo simbolismo nele incutido. Logo, no exercício da hermenêutica não se pode desnaturar o texto para acomodá-lo a interpretações carentes de qualquer fundamentação ou justificativas semânticas, lexicais e linguísticas.

Alguém poderia levantar a seguinte possibilidade: A literalidade do primeiro capítulo de Gênesis não poderia se dar pelo viés da interpretação evolucionista, uma vez que no pensamento científico majoritário a evolução é considerada fato? Não seria essa uma proposta plausível para o acontecimento da criação do mundo: harmonizar ciência e fé cristã, aparentemente colocadas em lados opostos? Nesse caso, cabe aqui a adoção de uma hermenêutica de suspeita ou atitude de prudência e cuidado quanto ao “cavalo de Troia” que procura se apresentar como um presente à teologia, quando, na verdade, é um funesto ataque ao teísmo bíblico. Além do mais, nas próprias linhas de Gênesis 1 encontra-se argumentação contrária a esse entendimento.

Ainda que muitos não admitam expressamente, o modelo evolucionista vem sendo colocado contra a parede. No plano teológico, ele sofre a pressão do criacionismo bíblico por meio de uma hermenêutica consistente em defesa da historicidade da criação. No âmbito filosófico, também recebe investidas em várias vertentes que abrangem metafísica e ética. Já na esfera científica, o movimento do Design Inteligente continua oferecendo fortes argumentos contra o pressuposto central da evolução, demonstrando que projeto, design, informação e propósito estão presentes na estrutura da matéria e do Universo. Por outro lado, nota-se que o modelo criacionista consegue se sustentar sobre um tripé teológico, filosófico e científico - sem desmoronar -, aplicando corretamente o significado da palavra “evolução”, palavra da moda cercada de controvérsias semânticas. Para um evolucionista radical, o termo tornou-se sinônimo de ciência, mas é um ácido universal que corrói a visão de mundo bíblico-cristã.

A nosso ver, o evolucionismo teísta apresenta-se como a pior tentativa na história do pensamento de combinação da filosofia do naturalismo com a religião. Por trás dessa “boa intenção” está embutido um insistente e visceral apelo ao naturalismo metafísico. Além do mais, ler o relato da criação sob a ótica do modelo conceitual evolucionista constitui um dos modismos interpretativos atuais mais danosos ao cristianismo. O fato é que a teologia liberal, tentando ser politicamente “correta”, baixou a cabeça para esse dogma sem sequer questioná-lo. Cegados pela eisegese, os defensores da evolução teísta constroem um labirinto teológico para si mesmos. Consequentemente, comprometem doutrinas cardeais do cristianismo como a queda humana em pecado, o sacrifício expiatório de Cristo, a perpetuidade do sábado e da lei divina, a segunda vinda de Jesus, etc. Dessa forma, a tentativa de unir pensamentos inconciliáveis termina por gerar uma aberração monstruosa: um “frankenstein teológico” que vai de encontro à real harmonia entre ciência e fé cristã. É preciso ter cuidado com essa interpretação, pois a compreensão acertada do primeiro capítulo da Bíblia é fundamental para se entender corretamente seus ensinos posteriores, inclusive a literalidade da nova criação. Entretanto, apropriando-se do termo “evolução”, não o rejeitemos de todo. Procuremos dar a ele um significado bem criacionista, unindo-o à simbologia presente no âmago da narrativa de Gênesis. Assim:

Cada dia da criação é um “verso” escrito pelo Construtor de mundos perfeitos. Os sete dias “poéticos” constituem as sete criações progressivas de Elohim. Da luz proveniente do Senhor (abrindo o parêntese da semana e anunciando a verdade acerca de nossas origens) ao sábado (que coloca o mundo, o homem e toda a matéria numa perspectiva especial) está implícito o sublime sermão da vida: Deus é amor! Ou nas palavras de um intérprete sensível à mensagem da criação:

“O 1º dia, a luz: nos traz uma esperança, com grande velocidade e clareza que essa mesma criação transmite; o 2º dia, o firmamento: abre as portas de conhecimento e caminhos infindos, dando espaço suficiente para conquistar e acolher todas as coisas; o 3º dia, a natureza: as formas se encontram, sobressaindo as metragens, as planagens, a divisão organizada para o surgimento de uma beleza multiplicadora; o 4º dia, os luzeiros: as luzes se acendem para mostrar a grande obra multicor que se combina conforme a forma de olhar, a força e potência do Sol, e suavidade romântica da Lua; o 5º dia, os seres vivos: oportunidade de conhecer, de ver, de viver um imenso cenário vivo, podendo alcançar os grandes opostos: o voar das aves e o descer dos peixes; o 6º dia, o homem: a mais bela e perfeita criação, alguém semelhante ao Criador, de uma simetria perfeita e consciência múltipla, para reconhecer e admirar a grande criação e o Criador; o 7º dia, o descanso: após a grande corrida para dividir, organizar e criar, surge a oportunidade de apreciar e sentir a suavidade dessa criação. Apreciação renovada que nos mostra um grande amor.” 

Tristemente, porém, a realidade paradisíaca dos tempos primordiais sofreu uma queda descomunal causada pelo fenômeno do pecado. Agora, depois de milênios de trágica história, habitamos em um mundo de ruínas com a vaga lembrança do que foi, outrora, nosso planeta não caído. A Terra clama por recomeço, outro princípio onde Deus esteja presente para reordenar as coisas e seres afetados pelo mal. O mundo espera a sua recriação total, uma vez que “toda a criação geme” aguardando o instante em que “será libertada do cativeiro da corrupção” (Romanos 8:21, 22). Nessa esperançosa expectativa, existimos dentro de parênteses, submetidos ao processo de redenção em que as forças destrutivas são contidas pelo onipotente Deus Restaurador.

“Eis que faço novas todas as coisas” (Apocalipse 21:5). A nova criação já começou e assemelha-se às origens de Gênesis, pois tem nela incutido o “Princípio da criação de Deus” (Apocalipse 3:14) - o reconhecimento da sobrenaturalidade do Espírito sobre a força da matéria; mas começa silenciosa e quase imperceptivelmente: não com os elementos inorgânicos terrestres; tampouco com plantas, astros e animais; inicia-se com a luz espiritual alcançando a escura vida do homem (2 Coríntios 4:6). Pois se a Queda principiou com a humanidade e se estendeu por tudo o mais, a restauração tem o ponto de partida em cada pessoa disposta a renascer espiritualmente. Tal renascimento não é instantâneo como foi quando a palavra divina organizou a matéria pesada, criou os seres e formou o homem. Na nova criação o processo de restaurar exige um tempo mais longo, porquanto envolve o respeito às liberdades individuais perante a Vontade recriadora. Para Deus é muito fácil criar do nada, bastando uma palavra Sua. No entanto, redimir ou reconstruir o ser humano caído exige não só poder infinito, mas igualmente paciência infinita combinada com amor sacrifical. Por essa razão, o “nascer de novo” não se pode dar em semanas, meses ou mesmo anos. Constitui um “processo evolutivo” demorado - não aleatório e cego -, no qual a graça vai erguendo, pouco a pouco, a humanidade decaída. Como se expressou Edna Saint-Vicent Millay:

“Não estou muito impressionada com o trabalho que Deus desempenhou ao criar o mundo. Claro, é impressionante olhar a criação de onde estou. Mas seria simples e rotineiro fazer tal truque se o nosso poder fosse semelhante ao de Deus. Deus manipulou a matéria, essa coisa pesada e obstinada que usou - para não dizer teimosa. Deve ter sido fácil e divertido para mãos como as de Deus, dar forma a essa massa, jogar um planeta aqui, colocar uma estrela acolá e montar uma galáxia para colocá-los dentro e, então, concentrar-Se em nosso pequeno globo, decorando sua crosta com vida! Não, se eu tivesse a sabedoria, a perícia e a força do Todo-Poderoso, tenho certeza de que poderia fazer um mundo pelo menos tão lindo e tão assustador e triste como o nosso. Mas o outro problema em que Deus Se envolveu é o que me encanta! Criar o coração humano e em seguida deixá-lo livre, respeitando suas escolhas, observando-o seguir seus próprios caminhos e tentando sempre nos ganhar de volta novamente para aquilo que Ele havia planejado. Deus lê nosso coração como ele é agora, camadas sobre camadas de erros que envolvem nossa alma e então tenta arrancar tudo isso sem nos forçar! Entende tudo sem nos odiar! Pune nossos erros sem nos destruir! E ainda continua tentando persuadir nosso comportamento maldoso a escolher Seu estilo de bondade. Há um grande problema: eu não posso entender por que Ele Se preocupa tanto, e não vejo por um só momento se obterá algum resultado positivo. Mas como eu O respeito por ousar tentar.”

Os sete dias do tempo formaram a semana literal, na qual o espaço foi preenchido com os feitos maravilhosos do Criador, resultando em um mundo de extrema beleza; e se há obras da criação, existem também as “obras da redenção”. Na recriação, Deus, pelo Seu Espírito e consentimento humano, um dia de cada vez, modela a “matéria” bruta, caótica e abismal que é a natureza humana. Entretanto, ao invés de ordenar, a voz de Deus soa à consciência do homem, convidando-o para acrescentar “à fé a bondade, e à bondade o conhecimento, e ao conhecimento o domínio próprio, e ao domínio próprio a perseverança, e à perseverança a piedade, e à piedade a fraternidade, e à fraternidade o amor” (2 Pedro 1:5-7). Essas características virtuosas, desenvolvidas nele pelo divino poder, fazem-no novamente imagem e semelhança do seu Criador. Então, debaixo da vigilância de Deus, repleto do fôlego do Espírito, solidificado no terreno da verdade para um contínuo crescimento, iluminado pelo “Sol da Justiça”, guiado pela “Estrela da Manhã”, e vivendo em harmonioso relacionamento com os demais seres, o ser humano completa os seus dias no descanso. Forma-se na humanidade um mundo perfeito! Criado e redimido, ele segue em eterno desenvolvimento. Eis a “divina evolução”!

(Frank de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe)

terça-feira, abril 17, 2018

Big Bang é ciência ou dogma científico?

O blog inovação tecnológica publicou um questionamento (confira) levantado por Jayant Narlikar, professor do Centro Inter-Universitário de Astronomia e Astrofísica em Pune, na Índia, sobre o status do atual modelo cosmológico padrão. Infelizmente, Narlikar parece ter familiaridade bastante limitada com temas pertinentes à Cosmologia. De fato, existem muitas especulações nessa área, bem como evidências fracas, fortes e teorias bem fundamentadas. Infelizmente, aos olhos do público leigo, assim como aos olhos de Narlikar, todas essas coisas parecem ser componentes de uma única teoria: a do Big Bang.

Na verdade, muito pouco do que ele menciona tem a ver diretamente com modelos de Big Bang. Ele menciona, por exemplo, a falta de evidências em favor do que ele pensa serem pressupostos básicos do Big Bang, a saber: matéria escura não bariônica, inflação e energia escura. Essa é talvez a principal dica de que Narlikar não faça ideia do que seja realmente o modelo do Big Bang. Tentaremos explicar rapidamente o que são essas coisas e por que o modelo mais aceito do Big Bang não depende delas.

O que é matéria escura não bariônica?

Primeiro, precisamos entender o que são bárions. Trata-se de uma família de partículas subatômicas capazes de interagir por meio de uma das quatro forças fundamentais conhecidas: a interação nuclear (forte). Os dois exemplos mais conhecidos são prótons e nêutrons. Nós, juntamente com toda a matéria que nos cerca, somos feitos de matéria bariônica, já que a massa dos átomos que nos compõem é quase toda devida a prótons e nêutrons em seus núcleos. Elétrons, que formam o corpo de cada átomo, também possuem massa, mas muito menor, quase insignificante comparada com a dos prótons e nêutrons.

Matéria escura não bariônica seria composta de um tipo de partícula hipotética, não prevista nos modelos matemáticos, que praticamente não interage com a matéria normal. De onde veio essa ideia? Do fato de que as órbitas das estrelas em torno de suas galáxias sugerem que há muito mais matéria compondo essas galáxias do que podemos ver (ver, por exemplo [1]), ou que a gravidade tem um comportamento diferente do esperado em certas circunstâncias. Por alguma razão, a hipótese da matéria escura acabou sendo preferida em relação à outra hipótese.

A hipótese da matéria escura surgiu muitas décadas após a publicação do modelo do Big Bang.

O que é inflação?

Nesse contexto, não se trata de economia. Trata-se de uma suposta expansão acelerada do espaço logo após sua criação. Essa hipótese [2] também surgiu muitas décadas após a publicação do modelo do Big Bang e foi apenas uma tentativa de fazer um “puxadinho” no modelo para explicar o excesso de homogeneidade do Universo. Aliás, esse é um ponto importante que vale a pena ser mencionado.

A Cosmologia possui uma vantagem interessante em relação a outras áreas que usam informações sobre o passado: tudo o que vemos ao observar o Universo é o passado. Na Geologia e na Paleontologia, por exemplo, só podemos imaginar o passado com base em pistas. Em Cosmologia, podemos ver o passado com os próprios olhos graças à velocidade finita da luz e às grandes distâncias entre objetos visíveis no Universo. Quando olhamos para a constelação de Órion, por exemplo, não vemos o que acontece lá agora, mas o que acontecia há mais de 1.300 anos. Quando vemos fenômenos em andamento na vizinha galáxia de Andrômeda, testemunhamos eventos que ocorreram há mais de 2,5 milhões de anos, pois esse é o tempo que as imagens que recebemos agora demoraram para chegar até nós.

Quando dirigimos nossa atenção ao limite do que podemos observar, vemos o Universo logo após seu nascimento. Ele era extremamente homogêneo, exceto por pequenas variações na medida exata para formar galáxias e aglomerados de galáxias.

Para quem crê que o Universo foi planejado, isso faz todo o sentido. Porém, para quem crê que o Universo nasceu de uma espécie de acidente, essa homogeneidade não faz sentido, pois o Universo não teria tempo de se tornar homogêneo logo após sua criação, a menos que já nascesse homogêneo, o que seria uma coincidência incrível. Buscam-se então possíveis mecanismos que poderiam, talvez, explicar tamanha homogeneidade. Uma das hipóteses propostas é a da inflação.

O que é energia escura?

Uma propriedade do espaço que faz com que ele tenda a se expandir com o tempo, mais ou menos como a superfície de um balão ao ser inflado. Esse também não é um pressuposto do modelo do Big Bang.

Quando deduzimos a equação que rege a gravidade e o comportamento do espaço-tempo (a equação da Relatividade Geral), a mesma que usamos como base para o software que faz o GPS funcionar, emerge desses cálculos uma entidade que chamamos de constante de integração (quem está familarizado com cálculo integral reconhecerá essa expressão) chamada de constante cosmológica. Tanto a equação quanto a constante são consequência da combinação de duas coisas: a lei da conservação de energia e um teorema da Geometria Diferencial. O ponto da equação onde aparece essa constante tem o comportamento de energia escura.

Assim, a energia escura não é exatamente uma hipótese para explicar algo, mas uma decorrência natural de leis bem conhecidas e testadas. Ainda assim, ela não faz parte das hipóteses usadas na fomulação do modelo do Big Bang.

Outros fenômenos

O que o modelo do Big Bang nos diz sobre a formação de estrelas, galáxias e outras estruturas do Universo? Nada. Esse não é o assunto do modelo. E sobre o surgimento da vida? Nada. Isso está ainda mais longe do escopo do modelo.

O que é o modelo do Big Bang?

É um sistema de equações deduzido por Georges Lemaître[3] e outros a partir das seguintes premissas:

A Relatividade Geral é suficientemente exata.

As leis da Termodinâmica são válidas.

O universo é aproximadamente homogêneo em uma escala suficientemente grande.

Combinando-se matematicamente esse sistema de hipóteses, obtemos um sistema de equações cujas soluções nos mostram um Universo que foi criado (pelo menos a forma como o conhecemos hoje) e passou a expandir-se desde então. Expansão aqui se refere à expansão do próprio espaço, independentemente da matéria contida nele.

Lemaître era um religioso católico e cria que o Universo foi criado por Deus, mas ateve-se somente a leis conhecidas e à hipótese da homogeneidade aproximada do Universo para gerar o modelo.

Há quem imagine o Big Bang como uma grande explosão desorganizada que teria dado origem a tudo, até a vida. Isso é um disparate! Em primeiro lugar, Big Bang é um modelo que parte de algo que parece ser uma criação muito organizada do Universo (como vimos acima) e então trata da expansão do espaço ao longo do tempo. Apenas isso.

Causas de controvérsia

Os resultados do Big Bang foram tratados inicialmente com muito ceticismo. Graças a uma cultura materialista, acreditava-se que a matéria fosse eterna, que o Universo sempre existiu. O fato de que o Big Bang sugeria fortemente uma criação foi visto como um problema.

Durante décadas houve grande resistência no mundo acadêmico, mas as evidências tornaram-se cada vez mais abundantes. A primeira foi a do avermelhamento de aglomerados de galáxias em função da distância, previsto pelo modelo. Depois, a radiação cósmica de fundo (um resultado da Física Nuclear no contexto do modelo) foi confirmada e tinha exatamente o formato previsto. Essa radiação demonstrou também a alta homogeneidade do Universo logo após sua criação. Depois foram detectados sinais de ondas gravitacionais exatamente como esperado no universo primordial. Com o tempo, o conjunto de evidências combinado com o melhor entendimento do modelo levaram a uma maior aceitação do modelo. Ainda assim, continua sendo uma pedra no sapato da qual o mundo acadêmico gostaria de se livrar na primeira oportunidade.

Curiosamente, apesar de o Big Bang ser um aliado do criacionismo, muitos cristãos têm trabalhado arduamente para desacreditá-lo. Há grupos que procuram desesperadamente falhas no modelo para usá-las em argumentos de que o modelo está totalmente errado. O principal motivo parece ser a crença de que o Universo possui apenas de 6 a 10 mil anos de idade e que o modelo do Big Bang afirma que possui cerca de 13,8 bilhões de anos.

Dois dos principais problemas com essa ideia são os seguintes:

1. Não é possível provar pela Bíblia que o Universo é jovem sem violar regras de exegese e hermenêutica. Pelo contrário, a Bíblia dá indicações de que o Universo é mais antigo do que a Terra, embora não especifique sua idade.

2. O modelo do Big Bang por conta própria não estabelece a idade do Universo. Ele apenas fornece meios de estimá-la com base no que se observa. Quem diz que o Universo é antigo são as observações, não o modelo do Big Bang.

O Big Bang faz parte do cenário imaginado atualmente pela maioria dos cosmologistas, mas não é o cenário todo. Quanto à resistência contra o modelo, amenizou nas últimas décadas, mas permanece o desconforto causado por ele por não se encaixar na cosmovisão de muitas pessoas.

(Eduardo Lütz é físico e engenheiro de software)

Referências:
1. Rubin, Vera C.; Ford, W. Kent, Jr. (February 1970). “Rotation of the Andromeda Nebula from a Spectroscopic Survey of Emission Regions.” The Astrophysical Journal. 159: 379–403. Bibcode:1970ApJ...159..379R. doi:10.1086/150317.
2. Guth, Alan H. “Inflationary Universe: A possible solution to the horizon and flatness problems.” Physical Review D. 23 (2): 347–356. Bibcode:1981PhRvD..23..347G. doi:10.1103/PhysRevD.23.347.
3. Lemaître, G. (1927). “Un univers homogène de masse constante et de rayon croissant rendant compte de la vitesse radiale des nébuleuses extragalactiques.” Annalsof the Scientific Society of Brussels (em francês). 47A: 41