A Bíblia ensina que Deus é o autor e mantenedor de tudo o que existe de fundamental, inclusive das leis físicas. Em Hebreus 1:2 e 11:3 (no original grego), Ele é retratado como Construtor do próprio tempo; o que exatamente isso significa está além da intuição humana e passa por assuntos como a dependência lógica que desempenha na eternidade o papel que a causalidade desempenha no tempo.
Trata-se de um assunto vasto, complexo, bastante longe do cotidiano humano e, portanto, na faixa de temas em que a “razão” humana e, por conseguinte a Filosofia, costumam falhar. Felizmente, porém, desde a descoberta da Ciência como metodologia matemática, as limitações da mente humana não são mais desculpas para a ignorância. Ao utilizarmos as ferramentas matemáticas da Ciência para entender tanto textos bíblicos quanto o mundo natural, todo um novo mundo descortina-se diante de nós e descobrimos que vários assuntos antes misteriosos tornam-se claros e acessíveis. Um desses assuntos é o da relação de Deus com Suas leis.
Questões importantes
Deus não pode ser limitado por leis físicas. Como criador e mantenedor, Ele não depende delas para existir. Diante dessas considerações, surgem algumas questões interessantes.
Será que Deus viola Suas leis físicas de vez em quando? Em que circunstâncias isso poderia ocorrer?
Os milagres mencionados na Bíblia seriam violações de leis físicas? Por exemplo, a ressurreição de Lázaro teria violado a segunda lei da Termodinâmica? A multiplicação de pães e peixes teria violado a lei da conservação de massa?
Precisamos conhecer todas as leis físicas para responder essas perguntas?
Até que ponto podemos usar conhecimentos de leis físicas para entender a ação de Deus no mundo natural?
Noções equivocadas sobre o que são leis físicas, como funcionam e como as descobrimos têm levado até mesmo pensadores famosos a conclusões incorretas sobre essas questões. Sabemos que essas conclusões são incorretas por gerarem consequências incompatíveis com fatos fundamentais conhecidos.
É importante entender que leis físicas não são acessórios opcionais do Universo, mas são as regras que definem a existência e o comportamento básico de tudo. Esse é um assunto muito mais profundo e com repercussões tremendas, tanto do ponto de vista físico quanto do ponto de vista teológico.
Entretanto, existem regularidades circunstanciais, muitas vezes também chamadas de leis, que mudam de acordo com as circunstâncias. Por outro lado, existem regras mais fundamentais que não mudam. São essas últimas que merecem nossa atenção especial.
Além disso, essas leis fundamentais não se prestam a ser completamente expressas em palavras, mas é possível expressá-las de maneira aproveitável em algumas linguagens formais (popularmente conhecidas como “linguagens matemáticas”). Raciocinar e obter conclusões com base em expressões verbais é um procedimento errado, pois induz uma série de erros.
Outro aspecto importante é o das maneiras que temos para descobrir leis físicas. Não se trata apenas de observar fenômenos, perceber regularidades e então imaginar generalizações (abordagem indutiva). Essa é a abordagem pré-científica. Desde o século 18, utilizamos uma abordagem dedutiva, isto é, partindo de um princípio geral mencionado na Bíblia, para obter as equações das leis físicas. Quem não conhece esses métodos da ciência tem uma ideia completamente falsa de como podemos conhecer e lidar com leis físicas, e tal desconhecimento aparece com frequência em argumentos que tocam no assunto do relacionamento de Deus com Suas leis, bem como supostas “escapadinhas” para violá-las de vez em quando.
Assim, antes de tentar responder diretamente às perguntas acima, é preciso lidar com outras mais básicas:
O que são leis físicas básicas?
Como podemos conhecer essas leis e com que grau de segurança?
Como podemos expressar essas leis de maneira aproveitável?
Como funcionam leis físicas e qual a principal diferença entre seu comportamento real e o imaginário popular?
Como umas poucas leis básicas podem gerar uma infinidade de comportamentos, incluindo leis dependentes de circunstâncias?
Qual o significado da violação de uma lei física básica?
A título de spoiler: não é possível um entendimento genuíno de leis físicas e seu funcionamento sem um domínio de equações diferenciais, mas é possível traduzir para uma linguagem qualitativa simples diversas informações sobre esse assunto.
A título de introdução a este tema, escrevemos um artigo avulso para livre distribuição com diversos esclarecimentos nessa área, o qual responde diretamente ou provê elementos para que o próprio leitor encontre respostas às questões que colocamos.
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(Eduardo Lütz é bacharel em Física e mestre em Astrofísica Nuclear pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul)