Morte sem formação de culpa |
Na
semana passada, um vídeo em que atores e atrizes promovem o aborto causou
polêmica, especialmente nas redes sociais. Principalmente por dois motivos:
pela defesa do abordo, em si, e pela péssima utilização de argumentos bíblicos
distorcidos. Os atores sugerem que Maria não teria concebido Jesus sendo ainda
virgem, e que essa história teria se originado de uma má tradução do texto
hebraico para o grego. De uma hora para outra, atores de uma emissora que diz
defender as crianças do Brasil por meio de campanhas, tornaram-se especialistas
em línguas bíblicas e teologia. Não vou entrar em detalhes sobre esse absurdo,
até porque tem um vídeo do pastor evangélico Jackson Jacques que comprova em
poucas palavras o fato de Jesus ter, sim, nascido de uma virgem, conforme as
profecias (veja o vídeo abaixo). Quero focalizar aqui o assunto do aborto.
Sou
contra a descriminalização generalizada do aborto. O fato é que hoje a mulher
já tem o direito de abortar, mas tão-somente nas hipóteses excepcionais
previstas pelo Código Penal, ou seja: gravidez resultante de estupro e para
salvar a vida da mulher. Mas o objetivo agora é ampliar as possibilidades de
aborto além das exceções já admitidas. O feto não tem direito à vida? “Meu
corpo, minhas regras”, repete-se por aí. Mas e o feto? Não se trata de outro
corpo? Ele não merece respeito e consideração?
O
artigo 2º do Código Civil assegura os direitos do nascituro: “A personalidade
civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do nascituro.” Segundo Ives Gandra da Silva Martins, em
artigo publicado no jornal Folha de
S. Paulo, “seria ridícula a interpretação do dispositivo que se orientasse
pela seguinte linha de raciocínio: Todos os direitos do nascituro estão
assegurados, menos o direito à vida”!
Aborto
é pena de morte sem formação de culpa. Um verdadeiro holocausto silencioso. A
lógica é absurda: se não tem condições de criar a criança, mate-a. Se a mãe
solicitar o “procedimento” (palavra mais branda para assassinato), aceite.
Aborto é um direito feminino? Mas quem defende o direito da criança? Em alguns
casos, para corrigir nossos erros como sexo livre, libertinagem, matamos
inocentes indefesos.
Para
que não se diga que minha discordância com o aborto generalizado está fundada
em uma postura religiosa, quero citar aqui as palavras do meu ex-professor de jornalismo
na UFSC, o Dr. Nilson Lage. Ele elencou seis pontos para reflexão:
“Pensando por estereótipos, é senso comum que opositores do aborto são religiosos reacionários. Mas pode não ser assim, como veremos.
“1. A primeira questão é se o aborto é ainda tão necessário quando é fácil impedir a gravidez, ou se, com mais informação, seria dispensável.
“2. A segunda é que o aborto inocenta o homem e castiga a mulher, já que toda cirurgia tem riscos e, muito repetida, gera danos permanentes.
“3. A terceira é se o custo (em dinheiro e danos à saúde) da aplicação em massa do aborto seria menor do que o custo das curetagens atuais.
“4. A quarta é, numa sociedade de consumo, ver anúncios de abortos ‘confortáveis’ em spas pagáveis em n prestações mensais.
“5. O quinto é o dano psicológico dos abortos, principalmente repetidos, e como minimizá-lo, evitando a perda de autoestima e cinismo.
“6. Tudo isso pode ser menos relevante, mas nenhum desses argumentos é de fundo religioso ou de porte inteiramente desprezível.”
Além dos problemas políticos, religiosos e físicos, como lembra Lage, o aborto pode afetar seriamente a saúde psíquica das mulheres. Em pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP, com 120 mulheres que passaram por aborto, mais da metade apresentaram algum nível de depressão e a maioria sofria de baixa a média estima pessoal.
“Pensando por estereótipos, é senso comum que opositores do aborto são religiosos reacionários. Mas pode não ser assim, como veremos.
“1. A primeira questão é se o aborto é ainda tão necessário quando é fácil impedir a gravidez, ou se, com mais informação, seria dispensável.
“2. A segunda é que o aborto inocenta o homem e castiga a mulher, já que toda cirurgia tem riscos e, muito repetida, gera danos permanentes.
“3. A terceira é se o custo (em dinheiro e danos à saúde) da aplicação em massa do aborto seria menor do que o custo das curetagens atuais.
“4. A quarta é, numa sociedade de consumo, ver anúncios de abortos ‘confortáveis’ em spas pagáveis em n prestações mensais.
“5. O quinto é o dano psicológico dos abortos, principalmente repetidos, e como minimizá-lo, evitando a perda de autoestima e cinismo.
“6. Tudo isso pode ser menos relevante, mas nenhum desses argumentos é de fundo religioso ou de porte inteiramente desprezível.”
Além dos problemas políticos, religiosos e físicos, como lembra Lage, o aborto pode afetar seriamente a saúde psíquica das mulheres. Em pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, da USP, com 120 mulheres que passaram por aborto, mais da metade apresentaram algum nível de depressão e a maioria sofria de baixa a média estima pessoal.
No
Facebook, minha irmã Michela, que é advogada, mãe de duas filhas e mora em
Criciúma, SC, deu a opinião dela sobre esse assunto. Quero ler para você o que
ela escreveu:
“Eu
estava vendo há alguns dias fotos de atrizes e atores com peruca azul que davam
a entender que fariam parte de uma campanha pró-aborto, mas somente hoje tive a
infelicidade de assistir ao vídeo e não pude me calar. Dentre muitos absurdos
que ouvi no vídeo, um me chamou especial atenção. Uma atriz alega em sua
interpretação que era apenas uma criança, uma adolescente, engravidou e
abortou. Espera aí! Eu engravidei com 15 anos! Estava no primeiro ano do ensino
médio. Meu namorado também era apenas um estudante na época. Eu era uma criança!
Ou melhor, uma adolescente! Poderia ter abortado, eu não tinha condições nem de
me manter! Mas então algo me vem à mente: eu teria carregado o sofrimento, a
culpa, a frustração pelo resto da minha vida. E pensamentos do tipo: Como seria
se meu filho ou filha estivesse hoje aqui comigo? Como ele/ela seria?,
invadiriam, por certo, minha mente em muitos momentos. Mas eu, dona do meu
corpo, decidi que a teria. Decidi que arranjaria forças de minhas entranhas, se
possível, para sobreviver, criá-la, fazê-la feliz, ser feliz, ir em frente,
viver. Tive ajuda da família. Meu marido e eu lutamos, e não foi fácil, não. Só
Deus e quem nos rodeava sabem quão difícil foi a batalha, mas vencemos. E bênçãos
sem medida foram derramadas do Céu. E ela? Ah, o bebê que decidi ter se tornou
uma linda mulher – com um caráter irretocável, uma bondade inata, uma
inteligência de dar orgulho. Hoje ela faz medicina em uma Federal e pensa
talvez em ser cardiologista. É dedicada, estudiosa e inteligente. Com certeza
desempenhará sua função com maestria na sociedade. E, de repente, me deparo com
um pensamento de mãe babona, orgulhosa: Já pensou se algum dia ela salva a vida
de algum desses atores, ou de um querido deles? Querem saber, não me arrependo,
mas com certeza teria me arrependido se não a tivesse aqui, ao meu lado.”
Que
mundo é este em que estamos vivendo? Exatamente o mundo previsto na profecia do
livro que aqueles atores debocharam: “E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus 24:12).
Michelson Borges