quinta-feira, novembro 26, 2015

Religião é benéfica para tratamento psiquiátrico

Fator de cura
“É mole? Vou ao médico tratar da depressão e ele me manda rezar!” A recomendação que gerou surpresa na médica e professora universitária Maria Inês Gomes, 67, agora tem aval da Associação Mundial de Psiquiatria. No mês passado, a entidade aprovou documento declarando a importância de se incluir a espiritualidade no ensino, pesquisa e prática clínica da psiquiatria. A Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP) ainda não se posicionou sobre o assunto. A proposta, obviamente, não é “receitar” uma crença religiosa ao paciente, mas conversar sobre o assunto. O indexador de estudos científicos PubMed, do governo americano, lista mais de mil estudos sobre o tema. Os recursos espirituais avaliados nesses trabalhos variam bastante, desde acreditar em Deus ou um poder superior, frequentar alguma instituição religiosa ou mesmo participar de programas de meditação e de perdão espiritual, mas a grande maioria conclui que há correlação entre espiritualidade e bem-estar.

O maior impacto positivo do envolvimento religioso na saúde mental é entre pessoas sob estresse ou em situações de fragilidade, como idosos, pessoas com deficiências e doenças clínicas. Não se trata, claro, da prova científica da ação de Deus – uma hipótese dos pesquisadores é que a religiosidade sirva, por exemplo, para reforçar laços sociais, reduzindo a incidência de solidão e depressão e amenizando o estresse causado por doenças ou perdas.

Três meta-análises (revisões científicas) já realizadas sobre o tema indicam que, após controle de variáveis como o estado de saúde da pessoa, a frequência a serviços religiosos esteve associada a um aumento médio de 37% na probabilidade de sobrevida em doenças como o câncer. O desafio é entender exatamente como isso acontece.

Uma das explicações propostas é a ativação do chamado eixo “psiconeuroimunoendócrino”, em que uma emoção positiva seria capaz de alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão arterial. “O impacto da religião e espiritualidade sobre a mortalidade tem se mostrado maior que a maioria das intervenções, como o tratamento medicamentoso da hipertensão arterial ou o uso de estatinas”, afirma Alexander Moreira-Almeida, professor de psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Outro estudo recente publicado na revista Cancer, da Sociedade Americana de Câncer, revisou dados obtidos com mais de 44 mil pacientes e concluiu que são os aspectos emotivos da espiritualidade e da religiosidade aqueles que mais trazem benefícios para a saúde física e mental de pacientes com a doença. O mesmo não acontece quando o paciente se dedica a meramente estudar ou pesquisar sobre a religião.

Ao mesmo tempo, segundo Almeida, as crenças religiosas também podem atuar de modo negativo, quando enfatizam a culpa e a aceitação acrítica de ideias ou transferem responsabilidades. “Piores desfechos em saúde são observados quando há uma ênfase na culpa, punição, intolerância, abandono de tratamentos médicos. A existência de conflitos religiosos internos no indivíduo ou em relação à sua comunidade religiosa também está associada a piores indicadores de saúde.”

Por essa razão, é importante que os profissionais tenham em conta a dupla natureza da religião e da espiritualidade, segundo Kenneth Pargament, professor de psicologia clínica na Bowling Green State University (Ohio). “Elas [religião e espiritualidade] podem ser recursos vitais para a saúde e o bem-estar, mas também podem ser fontes de perigo”, diz ele, que esteve no Brasil neste mês falando sobre o assunto no início do mês no Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

Ele lembra que, por muitos anos, psicólogos e psiquiatras evitaram a religião e a espiritualidade na prática clínica. Entre as razões, estaria a antipatia pela religião que sempre houve entre os ícones da psicologia, como Sigmund Freud. [Que estrago certos ícones podem fazer, perpetuando suas crenças e descrenças por meio de seus seguidores...]

Para Pargament, é importante a compreensão de que a religião e a espiritualidade são entrelaçadas no comportamento humano e que os profissionais precisam estar preparados para avaliar e abordar questões que surjam no tratamento. “Para muitas pessoas, a religião e a espiritualidade são recursos-chave que podem facilitar seu crescimento. Para outros, são fontes de problemas que precisam ser abordadas durante o tratamento. Isso precisa ser compreendido pelos profissionais de saúde.”

Entre as técnicas que estão sendo estudadas para essa abordagem estão programas, por exemplo, para ajudar pessoas divorciadas a lidar com amargura e raiva, ou vítimas de abuso sexual e mulheres com distúrbios alimentares.


Nota: A verdadeira religião tem que ver com a “religação” com Deus e uma vida harmoniosa em quatro áreas básicas: espiritual, mental, física e social. A base da religião de Cristo é o amor (a Deus e ao próximo), o que resume/sintetiza os Dez Mandamentos. Quando vivemos a verdadeira religião bíblica, com seu foco na graça (perdão) e na obediência nascida do amor, a saúde mental e física é uma consequência natural. Os cientistas ainda não sabem exatamente por que a religião traz saúde. Simples: porque fomos criados para crer. Negar essa dimensão humana é convidar a doença. [MB]