quarta-feira, novembro 25, 2015

Para “salvar o planeta” coma menos carne

Querem mudar os hábitos das pessoas
Você sabia que cortando o seu churrasquinho de fim de semana pode estar ajudando a combater a seca que desatou a crise da falta d’água em São Paulo ou o derretimento das geleiras no Ártico? Pelo menos é o que sugere um estudo britânico que defende que comer muita carne não só faz mal à saúde, como também faz mal ao planeta - e propõe uma série de medidas para reduzir o consumo do produto no mundo. No estudo Changing Climate, Changing Diets (Mudando o Clima, Mudando a Dieta), publicado semanas após um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda-se um limite no consumo de carne vermelha e relaciona-se a ingestão de carnes processadas a um aumento do risco de câncer colorretal. Pesquisadores do centro de estudos Chatham House (também conhecido como Instituto Real de Assuntos Internacionais) dizem que a adoção de uma dieta “sustentável” - com níveis moderados de consumo de carne vermelha - poderia contribuir com um quarto da meta global de cortes na emissão de gases causadores do efeito estufa até 2050.

A pesquisa, divulgada nesta terça-feira, diz que o consumo global de carne tende a aumentar 76% até meados do século e que em países industrializados já se come, em média, duas vezes mais carne do que os especialistas recomendam. “O resto da população global não pode convergir para os níveis de consumo de carne dos países desenvolvidos sem que haja um custo social e ambiental imenso”, diz. “São padrões incompatíveis com o objetivo de evitar o aquecimento global.”

“É claro que não estamos defendendo que todos devem se tornar vegetarianos” [o que não seria nada mal], explicou à BBC Brasil Antony Froggatt, que assina o estudo junto com as pesquisadoras Laura Wellesley e Catherine Happer. “Mas, sim, que são necessárias políticas que ajudem a informar melhor a população sobre o problema e favoreçam níveis de consumo de carne mais saudáveis e sustentáveis, reduzindo o excesso onde ele existe.”

O relatório menciona dados da FAO, braço da ONU para a agricultura e alimentação, segundo os quais a criação de animais para o abate ou a produção de leite e ovos responde por 15% das emissões globais de gases do efeito estufa - o equivalente às emissões de todos os carros, caminhões, barcos, trens e aviões que circulam mundo afora.

O problema estaria em parte ligado ao fato de que a digestão de gado bovino libera grande quantidade de gás metano, um dos grandes vilões do efeito estufa. Também haveria um efeito negativo derivado do desmatamento para criação de pastagens e de gases emitidos com a aplicação de adubos e fertilizantes sintéticos.

O estudo da Chatham House faz um levantamento exclusivo sobre as atitudes de pessoas de 12 países - entre eles o Brasil - sobre o consumo de carne, a relação entre a criação de animais e as mudanças climáticas e possíveis políticas públicas para lidar com a questão. O objetivo, segundo seus autores, seria entender “como o ciclo de inércia pode ser quebrado e uma dinâmica positiva de ação do governo e da sociedade pode ser criada”.

Entre as medidas propostas estão políticas para expandir a oferta de alimentos que sejam uma alternativa à carne, mudanças nos cardápios nas escolas e outras instituições públicas, o estabelecimento de diretrizes internacionais sobre o que seria uma dieta “sustentável e saudável” e o fim dos subsídios aos produtores de carne onde eles existem.

Não é de hoje que os cientistas tem tentado entender o impacto ambiental da produção pecuária e medir a emissão de gases poluentes nessa atividade. Em 2009, um grupo de pesquisadores brasileiros ligados ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) concluiu que a pecuária poderia ser responsável por quase 50% das emissões totais de gases de efeito estufa no país.


Nota: A sugestão agora é cortar o churrasquinho do fim de semana. Logo mais será deixar de fazer compras no domingo e reservar esse dia para a família, para a natureza. Essas “atitudes de fim de semana” serão cada vez mais apresentadas como possíveis soluções (não muito difíceis de colocar em prática) para conter o aquecimento global. [MB]