sexta-feira, novembro 20, 2015

Adeus, sedentarismo!

Suar a camisa faz bem
A história de um editor que viveu de forma inativa por mais de dez anos e “acordou para a vida”, descobrindo as vantagens do exercício funcional

Não sou muito fã de esportes e definitivamente atividades físicas nunca estiveram entre minhas preferências. Trabalho com textos e meu passatempo preferido é ler bons livros. Pouco mais de 20 anos atrás, tomei a decisão de mudar minha dieta, tornando-a o mais natural possível e deixando a carne de lado. Para evitar sobrepeso, comia apenas o suficiente. Justificava-me achando que esses cuidados e essas mudanças já eram o bastante. Mesmo assim, depois de dez anos de casado, acumulei dez quilos. É verdade que uns cinco desses quilos vieram preencher o que faltava (pelo menos, segundo minha bondosa esposa); mas os outros cinco começaram a me incomodar, especialmente quando olhava para os pés e, antes deles, lá pelo meio do corpo, percebia uma “protuberância” que anteriormente não existia. Mas a vida foi passando e acabei me acostumando às mudanças e até racionalizando-as, pensando que na faixa dos 40 as coisas deviam ser mais ou menos assim mesmo. O corre-corre, as muitas atividades, a vida agitada acabavam me servindo de desculpa para evitar a verdade que eu neguei por tanto tempo (embora falasse dela para os outros): o corpo humano foi criado para se mover, para a atividade física, tanto quanto para a intelectual.

E esse assunto começou a me “incomodar”. De uma hora para outra, sem explicação, comecei a sentir uma forte convicção de que deveria caminhar. Era como se ouvisse em minha mente a ordem: “Você precisa caminhar. Você precisa caminhar.” E não é que comecei a sentir vontade de fazer o que antes sempre considerei “sem graça”, monótono e difícil de começar? Mas continuei adiando. A que horas faria isso? À noite, quero estar com a família, dar atenção aos filhos e ler. De manhã, já levanto bem cedo para ler a Bíblia, orar (sim, sou um homem religioso) e me dirigir ao trabalho. Como caminhar? Bem, talvez mais tarde, daqui a alguns anos, quando os filhos já estiverem crescidos... Afinal, ainda sou “jovem” e tenho boa saúde, não é mesmo? E a “protuberância” no meio do corpo até que não era grande. Dava para “administrar”. A esposa nem reclamava muito...

Desânimo – Mas minha condição de saúde começou a mudar. Antes tão saudável e disposto, de repente, comecei a me sentir constantemente cansado, com a mente pesada e com certo desânimo sem razão aparente. Fiz um exame de sangue completo e o resultado me mostrou o óbvio: taxa altíssima de triglicerídeos. “Mas, doutora, não como gorduras de origem animal; não bebo refrigerante e como um ou outro doce apenas de vez em quando. Por que isso?”, perguntei, indignado. “Você pratica exercícios físicos?”, foi a pergunta que me atingiu em cheio e me fez recordar a ordem que eu estava ouvindo fazia dias em minha mente. “Você precisa fazer exercícios e cortar de vez qualquer tipo de doces e queijos, e evitar as massas.” “Eu já sabia disso”, pensei, envergonhado. Era o empurrão que faltava.

No dia seguinte, levantei às 5h30, calcei meu único par de tênis que eu quase não usava e fui para a rua, antes ainda de o Sol nascer. Estava um pouco frio, mas o ar fresco era revigorante e tive uma sensação agradável. Não estava com preguiça. Tinha plena convicção de que aquilo era um milagre para o qual Deus havia estado me preparando dias antes (talvez, para você, isso não seja um fato assim tão extraordinário, mas, acredite, para mim, levantar àquela hora para caminhar era realmente um milagre). 

Dei os primeiros passos na rua deserta, ainda achando tudo aquilo meio estranho, e logo aumentei as passadas, intensificando o ritmo da caminhada. Em pouco tempo, apesar do frio, gotas de suor já molhavam a testa e a respiração se tornava mais intensa, profunda e menos espaçada. Descobri como é agradável respirar profundamente o ar matinal. Dei uma volta no quarteirão (pouco menos de 1.500 metros) e entrei novamente na rua que leva à minha casa, uma subida. Quando entrei no banho, estava bem suado e ofegante. Passei aquele dia sentindo dores nas pernas e, no dia seguinte, sentia dores em músculos que eu nem sabia que existiam!

Mesmo com a dor, na manhã do dia seguinte, levantei-me à mesma hora, com a mesma disposição, e lá fui eu para as ruas desertas e escuras. Outro fator de motivação era o seguinte: meu filho mais novo tinha pouco mais de dois anos na época. Pensei: “Quando ele tiver dez, eu estarei com quase cinquenta e quero ainda ter bastante disposição para brincar com ele.” E continuei caminhando.

Com o tempo e orientações de profissionais, aumentei o percurso e passei a correr pequenas distâncias. A disposição melhorou; os pensamentos negativos foram embora e meu estado geral melhorou bastante. Ah, e perdi mais de cinco quilos, o que causou redução naquela “protuberância central”. Pelo menos a esposa notou e elogiou. Mais motivação!

Novos desafios – Bem que me disseram que, uma vez que você deixa o sedentarismo de lado, a atividade física se transforma num bom “vício”. Foi nessa busca de “algo mais” que me deparei com os exercícios funcionais, que se valem do peso do próprio corpo e desenvolvem força, flexibilidade, aptidão cardiorrespiratória e agilidade. E melhor: posso fazer tudo isso sem sair de casa.

O exercício ou treino funcional se baseia nos movimentos naturais do corpo humano, como pular, correr, agachar, puxar, girar e empurrar, o que nos prepara mais adequadamente para os desafios da vida diária. Para trabalhar a musculatura profunda, podem ser usados acessórios como cordas, bolas, elásticos, cones, hastes, etc.

Pratiquei durante um ano e meio esse tipo de exercício em casa. Perdi mais peso, ganhei mais força e mais motivação. E então resolvi fazer um teste de fogo: fui até Sorocaba e realizei um treino demonstrativo na academia Move, do professor Rodrigo Nogueira – e até que me saí bem, segundo ele. Nogueira, de 36 anos, é um entusiasta da modalidade. Ele garante que “o treino funcional prepara a pessoa para viver bem; que ele trabalha tudo, inclusive o cérebro”. Em sua academia, Nogueira mistura várias modalidades: musculação, pilates e levantamento de peso. E o próprio ambiente de uma academia de treino funcional já deixa clara a filosofia do negócio: não há espelhos e o ambiente é simples e até rústico. O foco está no exercício, não na vaidade. “O corpo foi criado para se movimentar. A falta de exercício mata mais que álcool e cigarro”, compara Nogueira.

O professor Rodrigo garante que em dois meses pode-se obter um bom condicionamento com o treino funcional. Cerca de noventa por cento das pessoas que procuram sua academia são sedentárias, mas, quando entram no programa de três sessões de exercícios de 45 minutos cada, passam a se sentir bem melhor. “Não vendemos perda de peso, mas condicionamento físico que leva à perda de peso”, garante o professor. “A estética, às vezes, pode mascarar problemas de saúde. Nosso lema é: ‘Pessoas reais, resultados reais.’”

Comece já! – Não espere que um exame médico jogue em sua cara o que você deveria ter feito ou estar fazendo há muito tempo. Nossa saúde é um dos bens mais preciosos que temos nesta vida. Nossa família merece nossa saúde e nossa boa disposição. Nosso cérebro precisa estar em boas condições para abrigar pensamentos claros e saudáveis.

Se você pode caminhar, agradeça a Deus por esse milagre e não desperdice esse dom. Caminhe! Vale a pena. Eu posso lhe garantir. Agora posso.

(Michelson Borges é jornalista, ex-sedentário e editor da revista Vida e Saúde)