Imaginando a coisa errada |
“Imagine
um mundo sem religião”, frase inspirada em um trecho da música do John Lennon e
que se tornou um dos slogans do
neoateísmo militante (e que tem aparecido bastante na minha linha do tempo e de
algumas outras pessoas que conheço). A música, no entanto, também clama por um
mundo sem governo, sem posses, sem ganância ou fome, onde ninguém é melhor do
que ninguém e todos são iguais. Um mundo, sem dúvida, utópico e impossível de
se alcançar, a não ser que se esteja falando do cemitério, pois no cemitério
acaba-se tudo, ninguém é melhor, nem pior, todos são iguais e não precisam se
preocupar com o governo.
Usar
essa música como slogan para o
neoateísmo é utópico e contraditório, pois usam a frase “imagine um mundo sem
religião” para afirmar que o mundo seria melhor sem ela. É ridículo! A religião
é algo intrínseco ao ser humano e demonstrou diversas vezes seu valor. Foi ela
que motivou a Igreja Católica a criar as universidades na Idade Média. Foi o
que levou os protestantes a criar as escolas e os hospitais públicos. A
alfabetizar as massas. Até mesmo o método científico foi criado por cristãos
por motivações religiosas, pois queriam descobrir na natureza a revelação de
Deus, como foi escrito por Paulo: “Porque as Suas coisas invisíveis, desde a
criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade, se entendem,
e claramente se veem pelas coisas que estão criadas...” (Rm 1:20). A religião
também motivou homens como Mahatma Gandhi e Martin Luther King a buscar
liberdade, paz e igualdade.
Mas
agora vamos fazer algumas comparações singelas. Só a título de exemplo,
gostaria de citar a Inquisição. Na Inquisição Espanhola, num intervalo de 400
anos, morreram duas mil pessoas. Na Inquisição Espanhola foram celebradas,
entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas
1,8% (804) [1]. Na "inquisição" contra as bruxas de Salém, morreram
20 [2]. Então soma-se umas 824 pessoas, num espaço de centenas de anos. Muita
coisa, realmente. Mas e quanto a regimes ateus? Quantos morreram e em quanto
tempo? Pol Pot, ditador ateu do Camboja, em apenas quatro anos, eliminou cerca
de 2 milhões de pessoas atravez do Khmer Vermelho [3]. Mao Tse-Tung matou cerca
70 milhões [1]. Stálin, 25 milhões [1]. Se de fato unirmos todos esses
ditadores (Mao, Pol Pot, Lênin, Stalin, etc.), chegaremos a uma marca de mais
de 100 milhões de corpos num espaço de poucas décadas [4]; bem mais do que a
inquisição jamais sonhou em fazer, ou que Bin Laden em seus pensamentos mais
loucos tenha imaginado.
Quer
“imaginar um mundo sem religião”? Que tal imaginar um mundo sem o ateísmo
estatal que foi a causa de mais mortes do que qualquer guerra religiosa já
causou?
“Ah,
mas eles não fizeram isso em nome do ateísmo.” Sério?! Apenas estude um pouco
sobre a ideologia desses homens: “A religião é o ópio do povo.” O ateísmo é
intrínseco a toda ideologia marxista. O argumento de Marx era de que o governo
deveria se livrar da religião para poder estabelecer o “novo homem” e a “nova
utopia”, libertos da religião tradicional e da moralidade tradicional. Agora
uma perguntinha: “Qual o meio mais fácil de se livrar da religião?” Claro que
as massas não irão abandonar suas religiões por causa de um mero pedido do
governo, ou por campanhas antirreligião passando na TV, no rádio, etc. Levaria
incontáveis séculos até que isso pudesse acontecer, e o mais provável é que não
acontecesse. Então, para esses ditadores, a melhor forma era proibir de vez a
religião, caçando os religiosos, prendendo-os, torturando-os, e muitas e muitas
vezes matando-os. Os ditadores ateus não mataram em nome do ateísmo?! Que tal
dizer isso aos norte-coreanos ou aos chineses?
Se
quer mesmo eliminar o maior motivo de guerras e massacres que o mundo já viu,
então, ao invés de se eliminar a religião, deveria ser eliminada a ideologia
marxista ateia.
Você
quer “imaginar um mundo sem religião”? Então imagine um mundo sem hospitais,
sem a cruz vermelha, sem os médicos sem fronteiras, sem escolas públicas, sem
universidades públicas, sem a descoberta do método científico e muito mais.
Bem, talvez os ateus pudessem, com o tempo, ter inventado e descoberto tais
coisas, mas quanto tempo iria demorar? A religião chegou primeiro nisso tudo.
Grandes pais da ciência eram religiosos, como Newton, Mendel, Pascal, Pasteur,
Boyle, Hales, Edson e vários outros.
Nietzsche,
certa vez, disse que, se nos livrarmos de Deus, teremos que nos livrar das
sombras de Deus. Em outras palavras, as ideias que o judaísmo e o cristianismo,
por exemplo, trouxeram ao mundo também começarão a ser corroídas.
“Ok,
mas e que tal as Cruzadas?” As Cruzadas não chegaram nem perto de matar tantas
pessoas num intervalo de quase 200 anos quanto esses regimes ateus mataram em
poucas décadas. Ademais, as Cruzadas tiveram motivações religiosas? Sim,
tiveram, mas qualquer historiador sério, ou até mesmo qualquer leitor de bons
livros (até mesmo didáticos) saberá que as motivações religiosas influenciaram,
sobretudo, a primeira Cruzada. Todas as que vieram após aquela foram motivadas,
principalmente, por aquisição de novas terras e ampliação do comércio. E os
mais interessados nessas novas cruzadas não foram o papa ou os cardeais e
demais religiosos da época, mas, sim, os próprios proprietários de terras, ou
até mesmo os “sem-terra” da época, os comerciantes e aventureiros em busca de
fama e reconhecimento.
Por
sorte (ou por azar) não precisamos “imaginar um mundo sem religião”, podemos
apenas olhar para países em que o ateísmo era uma bandeira e ver que as
atrocidades cometidas neles foram muito piores do que as ocorridas na França!
Dostoievsky
disse há muito tempo: “Se Deus não existe, tudo é permitido.” A noção de
Dostoievsky é que quando nos livrarmos da transcendência, quando criamos um
mundo sem religião, nós autorizamos terríveis calamidades provocadas pelo
próprio ser humano. O problema do mal não será eliminado apenas eliminando-se a
religião (nem também o ateísmo), pois o mal é algo que acompanha o ser humano.
Com ou sem religião, as pessoas são capazes de atrocidades inimagináveis. E
creio que só em Cristo é que esse quadro pode mudar.
Não
quero justificar os males ocorridos em nome de alguma religião, mas quero
denunciar as lágrimas de crocodilo e a hipocrisia de muitos.
Minha
oração talvez não traga de volta as vidas perdidas de tantos franceses que
sofreram o atentado recentemente, mas minhas orações nem ao menos são
direcionadas a isso, mas, sim, às famílias que se veem em estado de choque,
desespero e desamparo, para que saibam que há um Deus em quem podem depositar
todo seu fardo e alcançar alívio e descanso.
(Gabriel Stevenson, via Facebook)
Referências:
1.
Reinaldo Azevedo. “E os milhões de mortos pela Santa Inquisição?” Revista Veja, 2012. Disponível em: <http://goo.gl/5SMqGx>
2.
“O Julgamento das Bruxas de Salém.” Disponível em: <http://goo.gl/1QVidf>
3.
“Há 40 anos o Khmer Vermelho iniciava seu regime de terror no Camboja.” Terra,
2015. Disponível em: <http://goo.gl/Uh4iUZ>
4.
Site estima que comunismo matou mais de 100 milhões no mundo. Terra, 2009.
Disponível em: <http://goo.gl/Yrb1co>