O animador de TV do cientificismo |
Na
semana passada, o astrofísico Neil deGrasse Tyson concedeu entrevista à revista
Veja. A peça tem como título “Não vejo evidências que corroborem a existência de
Deus”. Segundo Veja, “Neil deGrasse Tyson é um dos rostos mais conhecidos da
ciência por saber traduzir, com graça e elegância, o intrincado linguajar
de estudiosos”. A partir das palavras do próprio Tyson, veremos o que o
entrevistador sabujo entende por “graça e elegância”. Os comentários entre
colchetes são do amigo Marco Dourado. Veja
afirma que o Dr. Tyson - como é chamado - se assume como herdeiro de Carl
Sagan, astrofísico que popularizou a exploração espacial com o programa
televisivo Cosmos, dos anos 80.
[Ao
contrário do fictício vilão Jeremias do hit “Faroeste Caboclo”, do Legião
Urbana, Carl Sagan não “organizou a Rockonha” (o consumo da erva e de outros
bagulhos foi disseminado pelos campi com o apoio da pregação subversiva de
remanescentes da Escola de Frankfurt radicados na América e em parceria com o lúmpen moral e cultural dos EUA, os
beatniks). Mas, à semelhança de sua alma-gêmea narcótica, Sagan “fez (ou
ainda vai fazer) todo mundo dançar”. Este breve ad hominem (abusivo, reconheço) é só pra fazer um paralelo entre o
destino do homem decaído narrado pelo livro de Gênesis e o destino iminente da
série Cosmos: “...do pó vieste, ao pó
voltarás.”]
Não
por acaso, é dele a reedição da série, que apresenta na Fox. Tyson é
defensor ferrenho do método científico como a melhor forma de explicar a origem de
tudo o que existe.
[É
pelfeitamente compleensível que, para
a questão das origens, o Dr. Tyson use um “pouquinho” (80%? 90%?) de
pressupostos metafísicos indemonstráveis - que ele qualifica, confira abaixo,
de “extremamente imaginativos”.]
Seu
livro busca compreender a origem de tudo, seja a vida, seja o Universo. Por que
esse tema é tão recorrente na ciência? Se queremos analisar uma laranja,
por exemplo, podemos verificar que ela é redonda, tem gosto cítrico. Se na
experiência de laboratório destruímos a fruta, basta buscar outro exemplar e o
trabalho prossegue. Essa lógica, de estudar a existência vale para tudo, de
organismos a estrelas. Mas e se decidirmos compreender a origem da laranja? Aí
a situação se complica. Primeiro, é simples notar que ela vem de uma árvore. E
de onde veio a árvore? De uma semente. E a semente? Mais complicação. Quando se
pergunta sobre a origem de qualquer coisa, os questionamentos não param. Em
dado momento, é inevitável chegarmos a esta indagação filosófica
clássica: “Qual é a origem da vida?” Para responder a essa questão, é
preciso elaborar argumentos cuidadosos, factíveis, mas extraordinariamente
imaginativos. Por isso, tantas das mentes brilhantes da humanidade se
dedicaram ao desafio.
[Alguma
imaginação pode até ser necessária para alcançar o que está além da percepção
imediata. Já uma quantidade “extraordinária” dela tende a levar o imaginante
para bem longe da realidade. Se a imaginação não for corroborada por fatos e
evidências, nada mais é que histeria. Já “as mentes brilhantes da
humanidade” - que formularam leis e cujo currículo não se mede, como hoje
em dia, por citações acadêmicas mas por uma única linha contendo uma equação
inaugural de alguma área da ciência moderna - essas mentes em sua quase
totalidade eram cristãs. Dr. Tyson deveria ler a versão original de Principia, de Newton, ou as anotações
dos experimentos de Copérnico e Kepler.]
Diante
da dificuldade de chegarmos à origem de tudo o que está aí, uma busca
infindável, aparentemente eterna, não seria o caso de aceitar com mais
naturalidade e compreensão as interpretações religiosas? A religião
de cada um tira conclusões precipitadas sobre o funcionamento do Universo.
[Ao
generalizar o termo “religião”, o Dr. Tyson desconsidera, talvez por
ignorância, que foi justamente na Europa Cristã que se deu a chamada Revolução
Científica Moderna, a partir do finalzinho do século 16 - outras culturas
religiosas: chinesa, hindu, islâmica, persa etc. possuíam uma interpretação da
realidade incompatível com a elaboração e o desenvolvimento do método
científico moderno, o que não aconteceu entre os cristãos, dada sua compreensão
ordeira do mundo a partir da Revelação sobre a identidade e a natureza de Deus
expostas nas Escrituras Sagradas. Quanto às “conclusões precipitadas”, que
o Dr. Tyson atribui genericamente às religiões, poderíamos citar o
mito da geração espontânea, que ainda resiste, graças aos argumentos
extraordinariamente imaginativos de ideólogos ateus.]
A
ciência, no entanto, realiza medições capazes de mostrar que essas impressões
são falsas. Até hoje as pessoas dizem “God bless you” (Deus te abençoe, em
inglês) quando alguém espirra. Por quê? No passado, acreditava-se, para
valer, que, quando isso ocorria, a alma saía do corpo e deixava a pessoa
vulnerável a demônios.
[Tentando
demonstrar que qualquer crença religiosa é essencialmente irracional, o Dr.
Tyson recorre à falácia do espantalho ao citar uma superstição medieval
absolutamente antibíblica. Alma é um termo ocidental (latim: anima, ae => vulgarismo espanhol
arcaico: alima) mal empregado
para tradução do termo hebraico nephesh,
que ao longo de suas 754 ocorrências ao longo do Tanach (i.e., o Antigo
Testamento) possui 45 acepções distintas, nenhuma delas sequer sugerindo o dualismo
antropológico grego, o qual contrasta uma suposta entidade imaterial
interagindo com o corpo físico, por ela supostamente habitado e animado. Essa
superstição (o ditado pós-espirro, não o dualismo corpo/alma) veio a se tornar
um hábito tradicional, usado até por cientistas que contribuíram
individualmente para a Revolução Científica Moderna (muitíssimo além, diga-se,
da contribuição de certos animadores de séries televisas).]
Um
religioso pode ver o mundo dessa maneira. A ciência verifica que há
bactérias que causaram o espirro, e ponto.
[Dois
pontos: (1) Dr. Tyson, como todo cientificista tarimbado, atribui, por
metonímia, ao termo “ciência” o status
de um (ou melhor de O) Ente Categórico de Razão (que para cristãos e judeus é
exclusivo do Deus YHWH). Como a “ciência” (por ser apenas um domínio de
conhecimento) não diz, não faz, não afirma, não nega nem demonstra (pois esses
verbos indicam pessoalidade), seus atributos todo-abrangentes - para não dizer
divinos - são imputados por derivação de sentido aos seus representantes de
carne e osso: os cientistas, tornando-os, assim, sacerdotes da religião
secularista do cientificismo, da qual o Dr. Tyson ocupa atualmente o posto de
João, o Batista. (2) Quem verificou a existência de bactérias foi Louis
Pasteur, proponente da Lei da Biogênese - um dos pilares científicos da
Biologia. Nessa época, devotos da confissão mística da Geração Espontânea
(base do credo de cientificistas como o Dr. Tyson) apelidaram maldosamente o
cristão Pasteur - um dos gigantes do século 19 que fundaram a Microbiologia -
de “pseudocientista crente”. E ponto.]
Um
religioso pode aceitar as descobertas e passar a usar passagens de suas
escrituras, a exemplo da Bíblia, como metáfora, fonte de inspiração. Ou
entrar em conflito conosco.
[Dr.
Tyson usa aqui a falácia do falso dilema. Sendo ele profeta (do grego prophetos: porta-voz) do cientificismo,
o qual POSTULA ser a “ciência” a única forma de compreender a realidade, quem
não se adequar aos dogmas de sua ideologia de vezo religioso entrará em “conflito”
com ela - e conflito, aqui, implica retaliações, perseguições e inquisições,
como veremos ao final. Vejamos agora o que o Dr. Tyson chama de “metáforas”
extraídas da Bíblia (*) - convém notar que as afirmações abaixo não resultam de
aplicações do moderno método científico (que nem existia naquela época), mas
isso as torna especialmente desconcertantes, considerando-se que foram escrita
por pessoas da chamada Idade do Bronze. Como o Dr. Tyson definiria essas... “metáforas”?
Como “extraordinariamente imaginativas”?:
“Olha
agora para o céu, e conta as estrelas, se as podes contar” (Gn 15:5). O que há
de tão fantástico nesse texto em que Deus desafia Abraão a imaginar o número de
seus descendentes? Hoje, nada. Mas, na época em que ele foi escrito por Moisés,
estimava-se que houvesse 5.119 estrelas no céu. Até a invenção do primeiro
telescópio, é possível que essa declaração bíblica tenha causado muita
estranheza. Hoje se sabe que somente em nossa galáxia existem cerca de 100
bilhões de estrelas. Se multiplicarmos esse número pela quantidade estimada de
galáxias no Universo (entre 40 e 100 bilhões), teremos uma vaga ideia da
quantidade fabulosa de estrelas que há no Universo.
“Ele
[Deus] estende o norte sobre o vazio; suspende a Terra sobre o nada” (Jó 26:7).
Imagine dizer que a Terra está pairando sobre o nada, no vácuo espacial, para
alguém no ano 1520 a.C., ou seja, há mais de 3.500 anos! Naqueles tempos,
alguns egípcios achavam que a Terra estava apoiada sobre cinco colunas e outros
admitiam que nosso planeta havia sido chocado de um grande “ovo cósmico” que
possuía asas e voava. Os “estudos científicos” aceitos no Egito no tempo de
Moisés, segundo recentes descobertas arqueológicas, davam conta de que,
enquanto aquele enorme ovo voava, completou-se dentro da casca o processo de
mitose e este mundo surgiu! Era a última novidade ensinada no Egito naqueles
dias. Moisés estudou na “Universidade Federal do Egito”, no entanto, onde está,
nos escritos mosaicos, a teoria de que a Terra apoiava-se em cinco colunas ou
de que fora chocada de um enorme “ovo voador”?
“Ele
[Deus] é o que está assentado sobre a redondeza da Terra” (Is 40:22). Esse
é um texto curioso e cercado de polêmica. Estaria Isaías revelando que a Terra
é um “globo”, como sugerem outras versões bíblicas, ou estaria apenas se
referindo à impressão que se tem de que a Terra é circular? Difícil saber...
Mas o que alguns fazem é acusar a Bíblia de ensinar que a Terra é plana.
“Quando
regulou o peso do vento, e fixou a medida das águas” (Jó 28:25). O barômetro,
instrumento usado para medir a pressão atmosférica, só foi inventado em 1643,
pelo físico italiano Evangelista Torricelli (1608-1647). Entretanto,
a Bíblia já declarava que o ar (ou o vento) tem peso, três mil anos antes de a
ciência descobrir esse fato!
A
Bíblia também traz muitas importantes noções de sanitarismo: “Todos os
dias em que a praga estiver nele, será imundo; imundo está, habitará só; a sua
habitação será fora do arraial” (Lv 13:46). Por centenas de anos a temida
doença da lepra matou milhares de pessoas na Europa. A medicina da época não
tinha como minimizar o fato. Como última opção, resolveu-se adotar o conceito
de contágio apresentado no verso citado acima. Logo que as nações europeias
observaram que a aplicação da quarentena pública trazia a lepra sob controle,
aplicaram o mesmo princípio contra a peste negra. Os resultados foram
igualmente surpreendentes e milhões de vidas foram salvas.
Doenças
intestinais como a disenteria e a febre tifoide continuavam a levar muitas
vidas. O costume geral era que o excremento fosse atirado nas ruas sujas, que
não eram pavimentadas. As moscas se encarregavam de espalhar as doenças,
matando milhões. Muitas vidas teriam sido salvas se as orientações de Deuteronômio
23:12 e 13, que são lições de sanitarismo básico, tivessem sido seguidas:
“Também terás um lugar fora do arraial, para onde sairás. Entre os teus utensílios
terás uma pá; e quando te assentares lá fora, então com ela cavarás e,
virando-te, cobrirás os teus excrementos.” Rudolph Virchow, conhecido como
o pai da patologia moderna, disse: “Moisés foi o maior higienista que o
mundo já viu. Ensinou, em seus pontos essenciais, quase todos os princípios de
higiene praticados hoje.”
O
fato é que Moisés não aprendeu sobre “medicina preventiva” no Egito. Lá havia
muito misticismo e alguns “tratamentos” e “remédios” administrados aos doentes
eram bastante exóticos. A expectativa de vida no Antigo Egito não era muito
alta, no entanto, quando os hebreus saíram de lá e passaram a viver como
nômades no deserto, a duração da vida deles foi significativamente aumentada,
sem contar o fato de que não mais ficaram doentes. Tudo fruto da proteção de
Deus, sem dúvida, e da “medicina preventiva” ensinada por Ele a Moisés.
Outros
textos bíblicos poderiam ser mencionados (como Amós 5:8, Jó 36:27, 28 e
Eclesiastes 1:7, que falam do ciclo hidrológico).
(*) (Excertos
do livro A História da Vida, do meu amigo, jornalista e mestre em teologia, Michelson Borges, com o
qual tive a honra e o prazer de colaborar, ainda que só um pouquinho)]
Há
muitos, contudo, que souberam separar os tópicos, ver a religião como
motivação moral, e a ciência como a forma de realmente explicar a
natureza.
[Dr.
Tyson insiste em enfiar o Cristianismo no balaio de gato das “religiões”, entre
muitas das quais se encontram as crenças mais absurdas e as práticas mais
monstruosas. Com essa generalização indevida, busca ele, por contraste, ganhar
autoridade argumentativa para emplacar como ciência o que não passa de
cientificismo.]
Exemplo
contemporâneo é o geneticista Francis Collins, cristão e um dos intelectuais mais
respeitados da atualidade. Ele tira sua base moral da Bíblia, mas jamais
responderá a uma pergunta sobre a origem do Universo dizendo: “Bem, vamos
verificar no Gênesis.”
[“No
princípio criou Deus o céu e a terra” (Gn 1:1) bastou para o Dr. Collins, mas
não basta para o Dr. Tyson. Como também não bastava para nenhuma das religiões
não abrâmicas às quais ele tenta agregar o Cristianismo. Dr. Tyson ignora -
talvez finja ignorar - que, à exceção do judaísmo, cristianismo e islamismo -
nenhuma outra religião apresentava entre seus dogmas uma cosmogonia, mas apenas
teogonias - eventos mitológicos através dos quais teriam nascido as divindades,
que então teriam organizado o universo já existente (e portanto eterno) para só
depois criar o homem, que invariavelmente possuía apenas finalidade servil e de
pouca importância. Essa crença pagã de um universo eterno impregnou a
mentalidade científica até o primeiro quarto do século 20; quando desabou, os
cientificistas, em vez adotar alguma humildade, se tornaram cada vez mais
intransigentes, mais dogmáticos e mais persecutórios.]
Os
religiosos veem a aparente ordem do Universo, regida pelas leis da física, como
prova de que há uma lógica superior organizando tudo... Sim, a natureza se
repete, e por isso definimos regras, como a lei da gravidade. Mas é
preciso tomar cuidado com essa abordagem.
[Entretanto,
o Dr. Tyson evita tomar o cuidado que ele próprio recomenda. “Leis” são
comportamentos regulares verificados ao longo da natureza. Entretanto, não
temos como afirmar taxativamente que esses comportamentos são propriedades
inerentes aos elementos ou eventos que as apresentam ou se são resultado da
ação contínua de algum agente metafísico. Pela Navalha de Occam (pluritas non est ponenda sine necessitate),
tendemos a buscar a explicação mais simples, ou seja, a primeira. Contudo, a
Navalha não se afigura, per si, uma
forma de validação. Nesse particular, lemos várias passagens nas Escrituras
Sagradas afirmando ser a realidade (que abrange desde os aglomerados de
galáxias até às partículas subatômicas) mantida pela graça e pelo trabalho
mantenedor ininterrupto de Deus. Como a mente hebraica não distinguia a ação
direta da ação permissiva de Deus (como é o caso do mal - físico ou moral), não
podemos optar em definitivo pelas duas possibilidades.]
Ok,
Deus então fez as leis da física, como já definia o filósofo Baruch Espinosa no
século 17. Só que isso quer dizer que Ele ouve suas preces? Ou que ajuda
religiosos a vencer guerras contra outros religiosos? Ou que Ele tem
barba? Foi esse Deus que falou com Moisés? Se tudo isso for tomado como
verdade, então podemos dizer que Deus deixa pessoas inocentes ser atropeladas
na rua. Ele permite, portanto, que uma criança morra de leucemia. Ou ainda faz
vista grossa diante de furacões e vulcões que matam milhões, incluindo jovens e
humanitários.
[Para
se esquivar de responder sobre a causa primeva da existência da realidade a
partir de um início preciso (talvez há 13,5 bilhões de anos) e como essa
realidade - tanto o Universo quanto a vida - depende do fino ajuste de milhares
de propriedades e características que jamais poderiam apresentar variações além
do irrisório, Dr. Tyson apela à falácia da distinção de emergência: dá um salto
triplo carpado, passando da questão ontológica (a existência de um Deus
planejador, organizador e mantenedor) para a questão teológica (as formas como
Deus Se releva e atua na História). Vemos, daí, o entrevistador, Filipe
Vilicic, se comportando como Cynara Menezes (a tal Socialista Morena)
entrevistando Lula ou Dilma. Vergonha alheia.]
Para
acreditar em Deus, é preciso levar tudo em conta.
[Pena
que esse “tudo” do Sr. Tyson não inclua sua abissal - e intencional -
ignorância teológica.]
Se
Ele está por trás de tudo, é muito bom em matanças. Afinal, mais de 99,9%
das espécies de seres vivos que passaram pela Terra foram extintas. Isso é
o acaso da natureza? Ou é Deus? Seja qual for a resposta escolhida, é preciso
assumi-la tanto para o lado belo como para o terrível.
[A
única eficiência em matanças da parte de Deus, Dr. Tyson, foi, segundo revela
Sua Palavra, assassinar Seu Unigênito com extremos inimagináveis de
crueldade para que gente como o senhor tivesse a escolha de buscá-Lo ou de
desperdiçar a vida aplicando a ela a navalha de Hanlon (já chegaremos lá).
Responda, Dr. Tyson: O senhor faria isso com seu filho único apenas para salvar
uma percentagem irrisória de micro-organismos que infectassem uma
dentre milhões de Placas de Petri que o senhor cultivasse?]
O
senhor acredita em Deus? Dediquei tempo para pesquisar listas de deuses na
internet. Demora muitos minutos só para passar com o mouse, sem ler, por um
compilado de divindades nas quais a humanidade acredita. São milhares!
Quer dizer que a escolha de um desses deuses pressupõe, sem escapatória, a
ilegitimidade de todos os outros?
[Respondendo
primeira à última pergunta, legitimidade não significa autenticidade.
Apesar disso, YHWH afirma não levar em conta os tempos de ignorância, mas
julga as respostas individuais ante os apelos da terceira pessoa da Divindade à
consciência; essas respostas, sim, serão inevitavelmente julgadas - isso
significa que pagãos herdarão a vida eterna, ao contrário da pós-morte
ironizada em um vídeo marreta do grupo Porta dos Fundos. Outra das formas da
revelação divina é a própria natureza, que o Dr. Tyson insiste em atribuir ao
acaso. Dr. Tyson também não diz quantas das divindades “pesquisadas”
por ele apresentam uma teologia consistente a partir de uma revelação
escrita, preservada milagrosamente ao longo de milênios e que convida
o leitor a escrutiná-la pela própria experiência pessoal e também em comparação
com diversas áreas do conhecimento humano. Imagine-se a seguinte experiência:
um megabilionário, tentando encontrar um filho que ele não conheceu, oferece 50
bilhões de dólares ao rapaz desaparecido. Obviamente se apresentarão milhares,
talvez milhões de aspirantes ao prêmio. Pela lógica tyseana, como todos os
pretendentes não podem ser uma única e mesma pessoa, então não existe herdeiro
- mesmo que o verdadeiro não tenha se apresentado junto com os demais. É
estupefaciente como alguém com a lógica de Neil Tyson escape à desconstrução e à
desmoralização, e, pior, ainda mantenha intocado seu status de “representante da ciência”.]
Esse
conflito de ideias não é tranquilo, levou a muitas guerras.
[Segundo
a Encyclopaedia of Wars (apud: http://goo.gl/g75GlU), 123
guerras, ou seja, apenas 6,98% das as guerras registradas de TODA a História
são classificadas como religiosas. Delas, 66 foram iniciadas por nações
islâmicas. Considerando haver um grupo religioso em específico responsável por
metade dessas guerras (e retirando-o do quadro), teríamos o resto da “religião
em geral” responsável por apenas 3,23% de todas as guerras ocorridas no globo.
A evidência é conclusiva: a religião não é, como o Dr. Tyson deixa
subentendido, a fonte principal de guerras. Não são, portanto, as religiões que
levam às guerras, embora possam ser usadas como pretexto. O que leva à guerra é
o gregarismo inerente aos homens, que se manifesta na disputa por recursos,
seja pela sobrevivência seja para enriquecimento. Um caso típico é que na primeira
metade do século 20 as guerras por expansão territorial/comercial ou para
escravização de povos inteiros por tiranos domésticos matou mais gente que
todas as guerras acumuladas de que se tem registro na História. Nenhuma delas
foi por motivação religiosa - pelo menos não a religião convencional, de que o Dr.
Tyson desdenha. As grandes matanças genocidas partiram de religiões
ideológicas, todas fundadas no ateísmo e tendo como dogma exultante o
cientificismo, que o Dr. Tyson promove à ciência. Eu associei anteriormente
Neil Tyson à Navalha de Halon. Explico agora: trata-se de uma lei epigramática
segundo a qual “nunca se deve atribuir à malícia o que pode ser
adequadamente explicado como estupidez”. Adequando Hanlon a Dr. Tyson,
diríamos: “Nunca atribua SOMENTE à malícia o que pode ser adequadamente
explicado TAMBÉM como estupidez.”]
Indo
além, debrucei-me sobre o Deus mais popular do Ocidente, o judaico-cristão.
Quais são suas propriedades celebradas? A bondade, o poder absoluto e a
onisciência. Visto quanto a natureza mata, quer dizer que Ele é assassino?
Se sim, não é bondoso. Se não, Ele não é onisciente, ou todo-poderoso.
[Dr.
Tyson requenta, a seu modo, o Paradoxo de Epicuro, do qual o sujeito que o
entrevista nem deve fazer ideia. Se Deus (no caso, “o Deus mais popular do
Ocidente, o judaico-cristão”) é bom, onisciente e todo-poderoso, Ele não
deveria permitir o mal; se permite, das duas, uma: ou não é bom ou não é
onisciente nem todo-poderoso. Simples assim? Vejamos. O quanto será que o Dr.
Tyson estudou das Escrituras Sagradas, Revelação do Deus judaico-cristão?
Passando o mouse em uma “lista de deuses da internet”? O quanto sabe ele da
história do Grande Conflito, iniciado no Céu e ora provisório e restrito à
Terra? Entende ele as consequências inerentes de se possuir o livre-arbítrio?
Sendo ele crente das teorias de Darwin, como pode definir o que é bom e o que é
mal sem apelar a uma moralidade objetiva, que transcenda seus próprios
interesses e idiossincrasias tanto como individuo quanto como integrante de uma
espécie que luta, como as outras, pelas sobrevivência? Dr. Tyson, posto em um
ringue de debates filosóficos, não sobreviveria à primeira pergunta.]
Para
mim, essas escolhas parecem randômicas. Não vejo evidências que
corroborem a existência de Deus. Se há um terremoto, não é fúria divina.
Geólogos avisaram que a área era vulnerável. Não adiantava rezar pelo Haiti. O
terremoto que abalou o país recentemente ocorreria de qualquer jeito. Não me
importo se acreditam em deuses. Só acho que quem segue essa linha cega não pode
distribuir culpas por aí.
[Se
o Dr. Tyson se recusa a identificar projetos inteligentes nas estruturas
orgânicas e nos processos bioquímicos dos seres vivos (ainda que certamente considerasse
evidência de vida extraterrestre inteligente um sinal espacial em
quantidade e regularidade baseada em números-primos), como poderia exarar
juízos de valor sobre Alguém que Se afirma infinito no tempo e no espaço? Com
base em que Dr. Tyson pretende que as causas das catástrofes naturais só possam
ser avaliadas e compreendidas a partir das capacidades cognitivas humanas e de
métodos e instrumentos de pesquisa, ambos seguramente limitados? Pode ele
taxativamente afirmar que não existem agentes metafísicos envolvidos, agentes
que transcenderiam nossas limitações de percepção? Não, não se trata aqui de
evocar o “deus das lacunas”, mas de questionar a presunção do Dr. Tyson quanto
a não existirem lacunas - e é justamente disso que se trata a ideologia
cientificista.]
O
senhor utiliza frequentemente o termo “polícia do pensamento”.
É
uma forma de definir a postura religiosa que ignora solenemente o pensamento
científico? Quando emprego essa definição, é para falar das pessoas
que tentam ter e exercer poder pela força de seus pensamentos. Ou seja, impondo
o que todos podem, ou devem, acreditar. Essa é a “polícia”. Na ciência, não
fazemos isso. A ciência é inimiga da “polícia do pensamento”.
[O
entrevistador sabujo, caluniando os cristãos - obliquamente chamados por ele de
“religiosos” - levanta a bola para Dr. Tyson cortar com uma inversão leninista
(acuse-os de fazer o que você faz). Pena que o astrofísico estufou as próprias
redes. Vejamos. Tirante o embuste maroto de extrapolar a definição de ciência
como domínio de conhecimento restrito a iluminados como ele, o Dr. Tyson ao
menos diz uma verdade: os que exercem a atividade científica - através do
método científico, bem entendido - não deveriam cometer patrulhamento contra os
que não concordam com suas pressuposições, suas hipóteses e suas conclusões. Já
os sacerdotes do cientificismo não podem abrir mão de “policiar o pensamento”
dissonante ou então suas fraudes e falácias desabam e derretem. Ora, no
exercício de suas prerrogativas acadêmicas, pessoas que partilham os conceitos
científicos do Dr. Tyson, principalmente no que se refere à origem do Universo
e da vida, perseguem professores e pesquisadores, escalam leões-de-chácara
ideológicos como peer-reviewers,
cortam verbas e destroem carreiras. Então resta provado que o Dr. Tyson (e ele
é somente um animador midiático falastrão) e muitos outros integram aquilo que
o professor Enézio de Almeida Filho apelidou de Nomenklatura Científica. E aqui
encerro, repassando um post dele, que pode ser lido aqui.]