Quão confiável é o método? |
Na atmosfera, raios cósmicos convertem nitrogênio-14 em
carbono-14 em uma quantidade razoável. Plantas colhem parte desse C-14 durante
a fotossíntese e, dessa forma, o elemento entra na cadeia alimentar. Mas o C-14
é um isótopo radioativo, ou seja, ele se decompõe naturalmente com o tempo,
deixando para trás átomos de carbono estáveis. Comparar o número de átomos de
carbono radioativo ajuda cientistas a determinar a idade de uma amostra.
Mas existe um problema: o combustível fóssil que humanos estão
desenterrando e soltando na atmosfera é tão velho que ele tem pouco C-14 em sua
composição. E a cada ano, esse carbono “C-14 morto” deixa a atmosfera cada vez
mais “velha” - o que acaba fazendo tecidos orgânicos novos parecem mais velhos
também.
Para descobrir se esse problema poderá agravar ainda mais a
datação de radiocarbono, a física Heather Graven, da Imperial College de
Londres, modelou quanto o C-14 atmosférico mudará no decorrer do século 21,
examinando diversos cenários de emissão de combustível fóssil diferentes.
Caso a humanidade reduza agressivamente as emissões de carbono
até 2020, Graven acredita que o C-14 atmosférico cairá até a concentrações pré-industriais
e se manterá assim até o final do século (as concentrações de C-14 na atmosfera
são atualmente maiores que as da época pré-industrial, devido a testes
nucleares da Guerra Fria).
Mas caso as emissões de gás carbônico continuem a aumentar até a
metade ou o final do século, o C-14 da atmosfera irá registrar níveis menores
que o da era pré-industrial, o que significa que as formas vivas da Terra
começarão a parecer muito mais velhas. Até o fim do século, tudo – das nossas
colheitas aos nossos corpos – podem parecer mais velhos de acordo com
análises de radiocarbono. Graven escreve:
“Dadas as tendências de emissões atuais, o “envelhecimento”
artificial da atmosfera, causado pela emissão de combustível fóssil, deve
ocorrer muito mais rápido e com uma magnitude maior do que esperávamos. Essa
descoberta tem implicações fortes e ainda não conhecidas em muitas aplicações
do radiocarbono em diversos campos, e implica que a datação de radiocarbono
talvez não mais forneça a idade definitiva de amostras de até 2.000 anos
de idade.
Isso deve criar alguns problemas para os arqueólogos: por
exemplo, será mais difícil datar itens recentes descobertos de forma isolada,
que não deem outras pistas de sua idade além do método carbono-14. E cientistas
que usam essa técnica em níveis mais precisos, como para estudar o envelhecimento de células humanas, também podem ser afetados.
Isso também pode tornar mais difícil de rastrear a caça ilegal:
descobrir se uma caixa cheia de presas foi arrancada de um elefante em algum
momento dentro dos últimos 2.000 anos não é muito útil. Em um mundo com mais
carbono na atmosfera, talvez seja melhor depender de outros métodos de
datação.
(Gizmodo)
Nota: Se levarmos em conta a
Revolução Industrial e o consequente aumento de carbono na atmosfera, todas as
amostras datadas parecerão mais velhas do que são. E existem outros fatores que
alteram esse e outros relógios radioativos. Quanto mais contaminada com carbono,
mais antiga parecerá a amostra. Ou, então, se a taxa de decaimento do C-14
tiver sido acelerada ou se o C-14 tiver se esvaído por algum motivo da amostra,
novamente ela terá aparência de antiga. [MB]