[Impressionantemente,
Pascal Bernardin, em seu livro L’Empire écologique ou la subversion de l’écologie par le mondialisme chega, por vias diferentes, a conclusões semelhantes às que tenho apresentado
aqui no blog desde 2008, a respeito do ECOmenismo. Basta ler com atenção os trechos destacados por mim no texto abaixo para constatar o que estou dizendo.– MB]
Nossos
leitores lembram-se talvez de havermos explicado nestas crônicas,[1] em diversas
ocasiões, como estava em vias de operar-se o triunfo mundial do marxismo: o
aparente deslocamento do campo comunista, fazendo cessar a oposição entre os
dois blocos Leste e Oeste, permitiu a sua fusão num “liberal-socialismo” que
nos leva diretamente a uma ditadura mundial. Essa síntese hegeliana não é o
resultado de uma evolução natural, mas o resultado de uma manobra deliberada,
preparada de longa data.
Alguns
leitores talvez tenham pensado que exagerávamos, que a situação não era tão
grave e que todas essas coisas eram bem inverossímeis. A esses - e aliás também
aos demais - aconselho insistentemente comprar e ler o quanto antes o novo
livro de Pascal Bernardin: L’Empire
écologique ou la subversion de l’écologie par le mondialisme (O império ecológico ou a subversão da
ecologia pelo mundialismo, Éditions Notre-Dame des Grâces, 1998).
Na
sua obra anterior, Machiavel
pédagogue, o autor, apoiado em enorme massa de documentos oficiais,
trazia-nos a prova de que um gigantesco empreendimento de lavagem cerebral vem
se realizando no ensino, desde várias décadas, por meio das técnicas mais
elaboradas de persuasão psicológica oculta. Do mesmo modo, no presente livro,
ele estabelece, graças a uma documentação igualmente inatacável, que idêntico empreendimento de subversão das
mentalidades está em ação sob a máscara da ecologia e que a convergência
entre comunismo e capitalismo, que parece ter aproveitado somente a este
último, é na verdade uma manobra cuidadosamente preparada para assegurar a
perenidade da revolução, impondo ao mundo inteiro uma concepção totalitária do
homem e da natureza. Esta revolução ideológica total desembocará por fim numa “espiritualidade global”, isto é, numa nova civilização e numa nova religião que
estarão a serviço de um socialismo absoluto e universal: o governo mundial.
A
subversão pedagógica tem por objetivo “modificar os valores, as atitudes e os
comportamentos, proceder a uma revolução psicológica, ética e cultural. Para
chegar a isso, utilizam-se técnicas de manipulação psicológica e sociológica.
Este processo, manifestamente revolucionário e totalitário, não encontra
nenhuma resistência entre as elites, quer sejam de direita ou de esquerda.
Concebido e conduzido por instituições internacionais, ele concerne ao conjunto
do planeta, e muito raros são os países poupados. Ele inscreve-se no projeto
mundialista de tomada do poder em escala global pelas organizações
internacionais. Nesta perspectiva, os diversos governos nacionais não serão, ou
já não são, senão simples executantes encarregados de aplicar as diretrizes que
tenham sido determinadas em escalão mundial e de adaptá-las às condições
locais, que, por outro lado, eles se esforçam para uniformizar”.[2]
A
difusão dessas técnicas de manipulação psicológica e sociológica no sistema
educativo mundial não pode ser um fenômeno espontâneo, mas, ao contrário, é um
trabalho “cuidadosamente planejado e rigorosamente executado” graças aos
métodos desenvolvidos pelos soviéticos. “É certo que antes da perestroika os comunistas tinham
criado as estruturas nacionais e internacionais que permitissem à revolução
prosseguir por meios menos visíveis do que aqueles usados na sua fase
bolchevique. Outra questão maior então surge imediatamente: Pode essa
estratégia ter sido aplicada em outros domínios? Ou ainda: Que é,
verdadeiramente, a perestroika? Um
desmoronamento real do sistema comunista, sob a pressão de suas ‘contradições
internas’, ou uma incrível virada estratégica elaborada cuidadosamente durante
muitas décadas e executada magistralmente?”[3] A esta questão crucial,
Bernardin responde, apoiado em textos irrefutáveis, eles mesmos “corroborados
pelos acontecimentos sobrevindos após a queda do muro de Berlim, [...] que a perestroika foi um processo
revolucionário de inspiração leninista e gramscista. Seu objetivo principal é
portanto a tomada do poder em escala planetária. Nesta perspectiva, a
convergência entre capitalismo e socialismo, que se realiza diante dos nossos
olhos, não é senão uma etapa que deve conduzir à instauração de um governo mundial...”[4]
De
fato, o verdadeiro pai da perestroika é
o teórico comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937), o qual havia
compreendido que a revolução bolchevique, querendo modificar em primeiro lugar
as condições da vida econômica, era demasiado violenta para obter a aprovação
de um consenso generalizado, e preconizava, em consequência, efetuar primeiro
uma revolução ideológica, isto é, mudar antes de tudo as maneiras habituais de
pensar. “Gramsci propõe realizar primeiro a instauração de uma nova
civilização. Os meios que ele propõe parecem fracos, mas na verdade são muito
poderosos. A revolução ideológica deve ser veiculada pelos intelectuais e por
uma ditadura pedagógica. Deve ser feita em nome de imperativos éticos e
respeitar a dignidade e os direitos do homem (isto é, utilizar métodos não aversivos).
[...] A revolução ecológica formará a
ossatura das revoluções - ideológica, religiosa, ética e cultural -
veiculadas pela ditadura pedagógica. As ideias de Gramsci são portanto
indispensáveis para toda compreensão do mundialismo e da perestroika.”[5]
O totalitarismo
planetário
Após
ter feito explodir sucessivamente tudo o que era cristão, primeiro a Igreja no
século 16, depois as monarquias católicas a partir de 1789, depois os impérios
cristãos em 1918 e por fim as sociedades cristãs, a Revolução universal prepara-se para reunificar o mundo em torno de um
novo paganismo que, como os paganismos antigos, constituirá uma camuflagem da
religião do demônio.[6] Os povos se rejubilarão de ter atingido a idade de
ouro da humanidade enfim unificada, ao passo que terão de fato caído sob o
poder daquele que é “mentiroso e homicida desde o princípio”.
“A
revolução ecológica em curso efetua a síntese entre o liberalismo, o comunismo
e o ‘humanismo’ maçônico que se arraiga nos mistérios antigos e no culto da
natureza. Ela permite lançar um olhar novo sob os dois fenômenos políticos
maiores deste fim de século: a desaparição do comunismo e a emergência da Nova
Ordem Mundial. Ela define-se como a convergência das forças revolucionárias
anticristãs, que sobem ao assalto do último baluarte legado pela cristandade: a
concepção inconsciente de Deus, do homem e do mundo que define o nosso quadro
intelectual. Mais ainda que a revolução copernicana, essa mudança de paradigma[7]
teria consequências infinitas. A antropologia cristã contrarrestava as
tendências totalitárias de todo Estado, as quais, por definição, a perspectiva
holística[8] enaltece. O totalitarismo será então declinado em todas as suas
dimensões: primeiro a dimensão religiosa, depois as dimensões políticas e
sociais. A destruição da antropologia cristã acrescentará ainda um obstáculo
maior à busca da verdadeira fé: a
perspectiva cristã se tornará estranha às gerações futuras. A destruição do
comunismo e a aparição da Nova Ordem Mundial marcam portanto a emergência de um
totalitarismo planetário inédito que
muito deverá, no entanto, às concepções pagãs. É um episódio maior da
guerra de religião que o paganismo move contra o cristianismo desde sua
aparição.”[9]
Esse
totalitarismo planetário está
programado para se estabelecer em nome do bem-estar da humanidade, sem provocar reação séria, pois quem
desejaria lutar contra o bem? Ouçamos Gorbatchov: “É minha convicção de que
a raça humana entrou num estágio em que todos somos dependentes uns dos outros.
Nenhum país, nenhuma nação deveria ser considerada isoladamente das outras,
ainda menos oposta às outras. Eis o que o nosso vocabulário comunista denomina internacionalismo,
e isto significa nosso voto de promover os valores humanos universais.”[10]
Ora, como observa mui justamente Bernardin, “o interesse da humanidade
substitui a ditadura do proletariado, mas o indivíduo continua sempre esmagado
ou negado”.[11]
A síntese dialética
Solve et coagula,
dizem os iniciados para resumir sua estratégia: eles começam por destruir tudo
o que lhes constitui obstáculo, em seguida passam a uma fase construtiva, não
para restaurar o que abateram (mesmo se as aparências levam a crer nisso), mas
para construir algo de radicalmente diferente. É esse movimento que Hegel
sistematizou sob o nome de dialética: a tese é o que os iniciados querem
destruir, a antítese são os meios utilizados para esse fim e a síntese é a nova
construção estabelecida sobre as ruínas da antiga - construção que aliás é
sempre provisória, pois o movimento da dialética não pode parar jamais. Com
efeito, a Revolução é incapaz de atingir um estado de equilíbrio durável, de
tanto que viola a natureza humana: seu triunfo quase absoluto, que chegará no
fim dos tempos, será muito breve.
Bernardin
nos dá uma boa análise da atual síntese dialética destinada a alcançar uma falsa paz universal que não será senão uma
ditadura assustadora: “A sociedade ainda cristã, tal como existia antes dos
movimentos revolucionários, se organizava em torno de um princípio
transcendente que lhe dava sua unidade tanto ‘nacional’ quanto ‘internacional’,
se remontarmos à época em que toda a cristandade reconhecia a autoridade suprema
do papa. A luta das classes, aí, não era senão, no máximo, um elemento
secundário. Vieram em seguida os movimentos revolucionários, culminando com o
comunismo que exacerbou o antagonismo de classes no interior das nações e
dividiu o mundo em dois blocos inimigos. Ele forneceu a antítese, uma sociedade
ateia e fragmentada na qual, em vez de procurar melhorar verdadeiramente a
condição operária, se eliminou a burguesia ou pelo menos se alimentou o ódio em
relação a ela. A síntese desses dois momentos é a perestroika (e o mundialismo) que, renunciando à luta de classes
para tender na direção de um ‘Estado de todo o povo’, quer recriar uma
sociedade unificada, interiormente e exteriormente, tanto no nível nacional
quanto na escala internacional. Mas, a meio caminho, no curso desse processo
dialético, perderam-se a cristandade e Deus... Temos aqui um exemplo típico
daquilo que se deve chamar, malgrado todos os legítimos argumentos teológicos
opostos, a dialética do bem e do mal. Uma situação má, no caso a divisão das
sociedades e do planeta, é provocada pelos revolucionários (antítese). As
tensões nacionais e internacionais que ela engendra clamam por um retorno ao
bem, à unidade social e ao apaziguamento dos conflitos internacionais. Mas a
síntese proposta sob o disfarce de retorno à normalidade, e que busca
efetivamente voltar à unidade social, não é de maneira alguma semelhante à
situação inicial: o mundialismo e o ‘Estado de todo o povo’ não são senão a
forma mais completa e acabada do totalitarismo integral. Trocou-se a unidade
social pelo totalitarismo, a unidade pela totalidade.”[12]
Esse totalitarismo tem
por objetivo despojar o homem de sua dignidade de criatura de Deus e torná-lo
pura e simplesmente um animal:
“Desembaraçadas dos últimos resíduos de cristianismo
as mentalidades, será então possível voltar ao culto da Terra - sob uma forma
modernizada, naturalmente. A ecologia se tornará o princípio organizador da
futura civilização, sobre o qual se edificará a espiritualidade global, pura
negação da graça e do sobrenatural cristão, retorno ao eterno naturalismo, ao
paganismo. Pois, uma vez efetuada essa mudança de paradigma, uma vez
decaído o homem de sua dignidade de ente criado e desejado pelo próprio Deus, o
indivíduo necessariamente desaparece por trás da coletividade, cujo
assentamento ecológico é o que mais importa conservar: a Terra, então elevada
ao nível de Deusa-mãe. As consequências desse rebaixamento então se desdobram,
inelutáveis: totalitarismo, eutanásia, eugenismo, aborto, etc. A oposição dos
ecologistas não poderá impedir que o homem, rebaixado ao nível dos animais,
sofra também ele manipulações genéticas e clonagem.”[13]
Dada
a importância da obra, voltaremos a falar de L’Empire écologique, mas desde já podemos dizer aos leitores que,
se tiverem de comprar não mais de um livro em 1999, será preciso absolutamente
que seja esse. A obra de Bernardin, pela sua amplitude, ultrapassa em medida
bem vasta os assuntos que citamos; seu conjunto constitui uma admirável
demonstração, magistralmente sustentada, do objetivo que o autor se propôs: “Descrever
a etapa atual da Revolução, que deve desembocar na edificação do Império
ecológico, da Cidade terrestre; e mostrar como esta, querendo se elevar até o
céu, busca realizar neste mundo a Cidade celeste.”[14] Nós, cristãos, bem
sabemos que é impossível restabelecer o paraíso terrestre, mas que, em
contrapartida, o inferno terrestre é sempre, e a qualquer momento,
perfeitamente realizável. Que Deus, em Sua misericórdia, Se digne de nos poupar
essa provação, ou pelo menos de encurtá-la o mais possível!
(Por Charles Lagrave, Lectures Françaises, mar. 1999)
Notas:
1.
O autor se refere à coluna “Réflexions sur la Politique” que escreve
mensalmente em Lectures Françaises.
[N. do T.]
2.
Pascal Bernardin, L’Empire
écologique, p. 8.
3.
Id., p. 9.
4.
Ibid., p. 69.
5.
Ibid., p. 54, 55.
6.
“Os deuses dos pagãos são demônios”, escrevia São Paulo.
7.
A palavra “paradigma” é aqui tomada no sentido de “maneira habitual
de ver as coisas”.
8.
“Holístico” ou “holista” é adaptação de uma palavra inglesa que
significa “global”. O princípio holista implica especialmente a unidade
dos contraditórios, o que destrói o fundamento mesmo de todo pensamento lógico.
Aplicado à sociedade, esse princípio nega o indivíduo e não leva em
consideração senão a comunidade, tal como numa formigueira ou cupinzeiro.
9.
Ibid., p. 12.
10.
Cit. ibid., p. 62.
11.
Ibid., p. 61.
12.
Ibid., p. 63, 64.
13.
Ibid., p. 573.
14.
Ibid., p. 570.