Presente inapropriado |
[O
artigo a seguir foi escrito por Reinaldo Azevedo e publicado no site da revista
Veja.]
Sou
católico, mas o papa Francisco não me representa. Sei que, em certa medida, a
afirmação soa absurda, mas vou fazer o quê? Eu poderia fazer uma graça e dizer
que, existindo, como existe, um papa emérito, Bento XVI, tenho a chance de
escolher. Mas, evidentemente, isso não contenta. O chefe da Igreja Católica,
infelizmente, é o argentino Jorge Bergoglio. Quem recorrer ao arquivo poderá
constatar que ele nunca me encantou. Evo
Morales, o protoditador da Bolívia, presenteou o sumo pontífice com uma
monstruosidade herética: a foice e o martelo do comunismo, onde estava o Deus crucificado.
Bergoglio fez um muxoxo protocolar, mas sujou as mãos no sangue de 150 milhões
de pessoas. Ao fazê-lo, (re)encruou as chagas de Cristo e se alinhou, lamento
ter de dizer isto, com aqueles que O crucificaram.
“Ah,
o papa não tem nada com isso! Não tinha como saber o que faria aquele
picareta!” Ah, não cola! A Igreja Católica de Roma está banida da China, por
exemplo. Ficou na clandestinidade na União Soviética e nos países da Cortina de
Ferro. Inexiste na Coreia do Norte e enfrenta sérias dificuldades em Cuba. Um
delinquente político e intelectual como Morales não pode ofender moralmente
mais de um bilhão de católicos com aquela expressão demoníaca. O papa que
recusasse a ofensa. Mas ele não recusou. E foi além.
Em Santa Cruz de la Sierra, nesta quinta,
Bergoglio fez um discurso que poderia rivalizar com o de Kim Jong-un, aquele
gordinho tarado que tiraniza a Coreia do Norte. Atacou o capitalismo, um
“sistema que impôs a lógica dos lucros a qualquer custo, sem pensar na exclusão
social ou na destruição da natureza”, segundo ele. E foi além: “Digamos sem
medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não
se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o
aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia são
Francisco.”
É de embrulhar o estômago. Em primeiro lugar,
esse papa, com formação teológica de cura de aldeia, não tem competência
teórica e vivência prática para cuidar desse assunto. Em segundo lugar, os
movimentos que hoje lutam pela preservação do planeta são exclusivos de regimes
democráticos, onde vige o capitalismo. Ou este senhor poderia fazer essa
pregação na China, por exemplo, onde o capitalismo de estado é gerido pelo
Partido Comunista?
Pior: o papa está numa jornada que inclui o
Equador e a Bolívia, duas protoditaduras que, na pegada da Venezuela,
instrumentalizam o discurso anticapitalista para dar força a milícias que
violam direitos individuais e que não reconhecem a propriedade privada como
motor do desenvolvimento.
Evocando um igualitarismo pedestre, disse Sua,
não mais minha, Santidade: “A distribuição justa dos frutos da terra e do
trabalho humano é dever moral. Para os cristãos, um mandamento. Trata-se de
devolver aos pobres o que lhes pertence.” A fala agride a lógica por princípio.
Se o tal “que” pertencesse aos pobres, pobres não seriam. A fala repercute a
noção essencialmente criminosa de que toda a propriedade é um roubo. Como
esquecer que essa concepção de mundo de que fala o papa já governou quase a metade
do mundo e produziu atraso, miséria e morte?
Eu já tinha tido cá alguns engulhos quando,
recentemente, o cardeal argentino resolveu se meter a falar sobre a preservação
da natureza, com uma linguagem e uma abordagem que lembravam o movimento hippie da década de 60. Ele voltou ao
ponto: “Não se pode permitir que certos interesses - globais, mas não
universais - submetam Estados e organismos internacionais e continuem
destruindo a Criação.”
Como?
O homem destruindo a Criação? O catolicismo de Francisco, na hipótese
benevolente, se esgota numa leitura pobre do Gênesis. Na não benevolente, é
apenas uma expressão do trogloditismo de patetas terceiro-mundistas como Rafael
Correa, Evo Morales, Nicolás Maduro e Cristina Kirchner.
O próximo papa, por
favor!