O
papa Francisco balançou algumas mentes religiosas e ateístas ao declarar que
todos foram redimidos através de Jesus, incluindo ateus. Durante sua homilia na
Missa de quarta-feira (22) em Roma, ele enfatizou a importância de “fazer o
bem” como um princípio que une toda a humanidade, e uma “cultura de encontro”
para apoiar a paz. Usando um texto do evangelho de Marcos, o papa explicou como
os discípulos de Jesus ficaram desapontados quando alguém fora de seu grupo
estava fazendo o bem, de acordo com relatório da rádio do Vaticano. “Eles
reclamam”, disse o papa em sua homilia, porque dizem: “Se ele não é um de nós,
não pode fazer o bem. Se não é do nosso grupo, não pode fazer o bem.” E Jesus
os corrige: “Não o proíbam, deixem-no fazer o bem.” Os discípulos, explica o
papa, “eram um pouco intolerantes”, ensimesmados na ideia de possuírem a
verdade, convictos de que “aqueles que não têm a verdade não podem fazer o
bem”. Isso estava errado... Jesus amplia o horizonte. Segundo o papa, “a raiz
da possibilidade de fazer o bem – que todos nós temos – é a criação”.
O
papa Francisco disse ainda mais em seu sermão: “O Senhor nos criou a sua imagem
e semelhança, e todos somos imagem do Senhor, e ele faz o bem e nos deu a todos
esse mandamento em nossos corações: façam o bem e não o mal. Todos.” “Mas,
padre, isso não é católico! Ele não pode fazer o bem.” Sim, ele pode. O Senhor
redimiu a nós todos, a todos, pelo sangue de Cristo: todos nós, não apenas
católicos. Todos! “Padre... os ateus também? Mesmo os ateus?” Todos! Devemos
encontrar-nos fazendo o bem uns aos outros. “Mas eu sou um ateu, padre. Eu não
acredito...” “Faça o bem: nos encontraremos lá.”
Respondendo
à homilia do líder da igreja católica romana, o padre James Martin, S.J.
escreveu em um e-mail ao The Huffington
Post: “O papa Francisco diz, mais claro que nunca, que Cristo se ofereceu
como um sacrifício por todos. Essa sempre foi uma crença cristã. Você pode ver
Paulo dizendo isso na primeira carta a Timóteo, ao afirmar que Jesus deu-Se a Si
mesmo como uma “redenção por todos”. No entanto, raramente você ouve isso ser
dito por católicos com tanta força, e com tão evidente alegria. E nessa época
de controvérsias religiosas, é um lembrete oportuno que Deus não pode ser
confinado a nossas estreitas categorias.”
É
claro, nem todos os cristãos acreditam que os não crentes serão redimidos, e as
palavras do papa podem rememorar as profundas divisões da reforma protestante
sobre a crença na salvação pela graça, em oposto a salvação pelas obras. O
comentário do papa também atingiu um recorde no Reddit, onde já é a segunda
notícia mais compartilhada.
(Pavablog)
Nota:
O papa Francisco segue determinado em sua campanha por recuperar a imagem
arranhada da Igreja Católica. Seus esforços ecumênicos têm sido notórios.
Agora, fica clara, também, sua intenção de afagar o grupo dos descrentes. Ao
citar Marcos e a indignação dos discípulos com o outro pregador que não
pertencia ao círculo deles, o papa parece se esquecer de que o relato diz que
aquele homem curava e pregava em nome de
Jesus (cf. Mc 9:38-40). Ele não apenas fazia o bem; ele era um cristão que
cria em Jesus e, portanto, realizava suas obras nEle e em nome dEle. Não há
espaço para relativismos aqui. Evidentemente que Jesus morreu por toda a
humanidade, mas isso não significa que toda a humanidade será salva. A arca de
Noé permaneceu muitos anos com a porta aberta para que todo aquele que nela
entrasse pudesse ser salvo. Mas quem não entrou acabou perecendo. Basta ler o
clássico texto de João 3:16 para perceber que “todo aquele que nEle crer” é que
será salvo. A graça de Deus é incompreensível e Ele fará tremendos esforços
para salvar todo aquele que responder à Sua oferta de salvação. Deus levará em
conta a “luz” a que cada um teve acesso e a maneira como respondeu a esse
conhecimento, mas a salvação sempre será resultado da graça. O apóstolo Paulo
diz: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2:8, 9). Ser bom é
muito bom, mas não é tudo. É claro que existem muitos ateus bons que fazem boas
obras (e, lamentavelmente, muitos crentes maus que nada fazem), mas não é isso
o que determina a salvação. O papa não pode “passar a mão na cabeça” dos
descrentes e dizer que, independentemente do que eles façam ou deixem de fazer,
receberão (pior, conquistarão) a vida
eterna. A vida eterna não se conquista. Jesus a conquistou para nós a um alto
preço: Sua própria vida. Pensar que se pode “herdar” o Céu é minimizar o
sacrifício do Filho de Deus. O papa quer agradar os ateus, mas, com isso,
minimiza a necessidade de eles aceitarem a salvação em Cristo.[MB]