quarta-feira, maio 01, 2013

Para o papa Francisco, domingo é dia de relaxar

O jornal The New York Times do dia 26 de abril divulgou o lançamento do livro Pope Francis: His Life in His Own Words (O Papa Francisco: Sua vida em suas próprias palavras), o qual traz uma série de entrevistas feitas com Jorge Bergoglio (agora papa Francisco) feitas por dois jornalistas na Argentina. Segundo a reportagem, no livro o papa sugere que Deus está nos chamando para relaxar. Respondendo à pergunta “Será que é preciso redescobrir o sentido do lazer?”, o papa respondeu: “Junto com uma cultura de trabalho, deve haver uma cultura de lazer como gratificação. Dito de outra forma: as pessoas que trabalham devem tomar tempo para relaxar, para estar com a família, para se divertir, ler, ouvir música, praticar um esporte. Mas isso está sendo destruído, em grande parte, pela eliminação do dia de descanso. Mais e mais pessoas estão trabalhando aos domingos, como consequência da competitividade imposta por uma sociedade de consumo.” “Nesses casos”, ele conclui, “o trabalho acaba desumanizando as pessoas.”

“A Doutrina Social da Igreja é conhecida por promover a ideia de que os trabalhadores merecem dignidade, o que inclui o repouso. Mas o papa Francisco parece estar dizendo algo mais: que uma vida autenticamente cristã inclui uma dose adequada de lazer e tempo para a família. [...] A ideia de um católico exaltando o sabbath soa particularmente peculiar no contexto norte-americano. Nos Estados Unidos, os católicos nunca foram os grandes defensores do sabatismo, observando o domingo como um dia especial, para o culto ou descanso. Isso é coisa de protestantes”, diz o jornal. E continua:

“A partir do momento em que os puritanos chegaram, eles começaram a fazer cumprir as leis que reservavam o domingo para ir à igreja. Com o tempo, elas foram chamadas de ‘blue laws’ e proibiam diferentes atividades, com diferenças de um estado para outro. Algumas leis proibiam a caça no domingo; outras a venda de bebidas alcoólicas; outras de qualquer atividade comercial. Em cidades religiosas, as normas culturais de lazer, como esportes, também eram tabu. [...]

“Hoje as leis estão desaparecendo, relíquias de um tempo em que a cultura protestante era mais dominante. Connecticut, por exemplo, finalmente decidiu no ano passado permitir a venda de bebidas alcoólicas aos domingos. E nos Estados Unidos o domingo perdeu seu caráter sagrado. A maioria dos cristãos vê pouco conflito em ir à igreja pela manhã e, em seguida, assistir a um jogo de futebol com a família ou ir a um sports bar, no período da tarde.

“A tradição sabatista foi mantida de forma séria por alguns pequenos grupos de religiosos protestantes [os adventistas do sétimo dia, por exemplo] e, claro, por judeus praticantes. [...]

“Mas no catolicismo, como o papa Francisco sugere, o sabbath é realmente importante – o dia inteiro, como ensina o Catecismo, no parágrafo 2.185: ‘Aos domingos e nos outros dias de festa de preceito, os fiéis devem abster-se de se envolver em trabalho ou atividades que impeçam o culto devido a Deus, a alegria própria ao dia do Senhor, o desempenho das obras de misericórdia e o relaxamento adequado da mente e do corpo.’

“A Igreja Católica tem procurado recuperar esse ensinamento, pelo menos desde 1998, quando o papa João Paulo II publicou a Carta Apostólica ‘Dies Domini’. Nela, ele escreve que ‘mesmo nos países que dão sanção legal para o caráter festivo do domingo, mudanças nas condições socioeconômicas muitas vezes levaram a profundas modificações de comportamento social e, portanto, no caráter de domingo.’

“Em outubro do ano passado, cerca de 250 bispos se reuniram em Roma para uma conferência sobre o movimento chamado Nova Evangelização, que se concentra em despertar a fé em quem já foi batizado. Uma de suas conclusões foi: ‘Mesmo que haja uma tensão entre o domingo cristão e o domingo secular, o domingo [cristão] deve ser recuperado’ – eles escreveram conforme João Paulo II em ‘Dies Domini’.” [...]

Nota: Há algumas semanas, o site da revista Veja publicou uma entrevista com o biofísico e rabino Abraham Skorka, amigo pessoal de Jorge Mario Bergoglio (o papa Francisco), com quem escreveu o livro Entre el Cielo y la Tierra, 2010). Atente para este trecho: “Criticamos juntos todo tipo de fundamentalismo, o que Bergoglio denominava ‘discurso único que deve ser aceito’. [...] Muitos me perguntam como será Bergoglio como papa, e hoje de manhã achei uma fórmula para responder a essa pergunta: Jorge Mario, que agora é Francisco, é o mesmo que foi arcebispo de Buenos Aires. Como se costuma dizer: urbi et orbi, ou seja, para a cidade - Roma - e para o mundo. Não só o mundo dos católicos, mas o mundo em geral, porque suas palavras e ações vão ser ponderadas por todos. [...] [Bergoglio] é um homem direito até as últimas consequências. Não aceita meias medidas. Seu único chefe é Deus. Este é o Bergoglio que conheci. E acho que posso dizer que o conheço muito bem. [...] Para mim, tudo o que ele diz está no léxico de um profeta. Quando um profeta fala, não está no mesmo âmbito que um político, fala através da inspiração de Deus, sobre a dor, as injustiças, fala com a alma, a consciência.”

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