segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Deus no banco dos réus – Parte 1

A Bíblia assume como pressuposto básico desde sua primeira frase que existe um Ser sobrenatural que criou, comanda e cuida do Universo, do planeta Terra e de seus habitantes. Essa afirmação tem sido uma das mais debatidas por séculos, principalmente nos últimos três séculos. Porque esse Ser comumente chamado de Deus ser invisível, não podemos fazer a comprovação mais fácil e mais utilizada: a de testemunhas oculares. Portanto, vamos utilizar outros meios.

Argumento Cosmológico - O Argumento Cosmológico tem três premissas: (1) Tudo o que começa a existir tem uma causa; (2) o Universo começou a existir; (3) portanto, o Universo tem uma causa.

Quanto à primeira premissa, é muito fácil comprovar que é verdadeira: Você já teve a experiência de estar sentado em sua sala de estar assistindo TV e, derepente, uma piscina aparece do nada em sua frente? Acredito que não, e na realidade isso não acontece com ninguém! Sabemos que as coisas, por realidades empíricas e experiências que vivemos todos os dias, não surgem do nada. De acordo com essa premissa, portanto, podemos entender que tudo o que começa a existir tem uma causa.

Já ouvimos muitas teorias, até mesmo do famoso Richard Dawkins, de que algum extraterrestre superevoluído possa ter deixado sua “semente” aqui no planeta Terra para que a vida viesse a existir. Apesar de Dawkins negar fervorosamente a existência de um Deus que sempre existiu, como se explicaria a origem desses “seres extraterrestres”, ou dos criadores deles? Como eles surgiram? Até mesmo o famosíssimo cético David Hume, em suas cartas, não negou a primeira premissa dizendo que ele “nunca afirmou tão absurda proposição de que algo pudesse iniciar sem uma causa”.[1]

Já que a primeira premissa foi resolvida, vamos à segunda: oUniverso teve um começo. Aristóteles e muitos depois dele criam que o Universo era estático e eterno, portanto, eram completamente contrários à ideia de começo. O que seria descoberto a partir do século 19 se constituiria numa grande surpresa para todos.

Com a ajuda de Albert Einstein e diversos cientistas da década de 1920, concluiu-se pela física de que seria impossível que o Universo fosse estático. Na verdade, o Universo estaria em expansão. E se algo está em expansão, a pressuposição lógica é de que esse elemento teve um início quando começou a se expandir.

Pense em um balão sendo cheio. A cada soprada, o balão cresce mais e mais. Você já encheu um balão por um tempo infinito? Penso que a resposta seria não por três motivos: (1) Você não é infinito; (2) o balão acabaria estourando; (3) se o balão está aumentando de tamanho é por que ele teve um início!

Depois de duas premissas concluídas e confirmadas, vamos à última, mas antes voltemos à história da piscina. Vamos dizer que alguém esteja do seu lado e você pergunta: “De onde veio essa piscina?”, e a resposta seja: “De lugar nenhum, simplesmente apareceu do nada!” Você aceitaria essa “resposta”? Acredito que não. A mesma coisa acontece com o nosso Universo. Se teve um início, ele teve uma causa. Alguma coisa ou alguém fez com que o Universo que conhecemos hoje viesse a existência!

Porém, nosso problema não pára nesse ponto. Alguém poderia, nessa mesma linha de raciocínio, perguntar, então: Quem criou Deus? Se tudo o que existe tem um causa, qual é a causa de Deus existir? O problema desse questionamento é rapidamente solucionado. Se você faz essa pergunta, esquece-se da primeira premissa que desenvolvemos: tudo o que começa a existir tem uma causa. Agora, se nossa crença em Deus é de um ser que não começou a existir, não teve nascimento, então Ele não pode fazer parte da mesma lógica aplicada para o Universo: Ele não tem uma causa. Somente aquilo que é finito tem uma causa. Deus é um ser infinito. Além disso, existe a necessidade de algo ou alguém no Universo ser infinito porque sem algo ou alguém infinito, o ciclo de causas será infinito, e isso é impossível!

Agora, o que podemos saber a respeito dessa “causa”? Com certeza, deverá ter as seguintes características: uma causa no espaço e no tempo que não tenha causa inicial, sem início, sem tempo, imaterial, um ser pessoal com liberdade de escolha e com enorme poder. Parece-se com algo que você já tenha ouvido falar?

O Argumento do Design - O Argumento do Design, ou Argumento Teleológico, compreende a ideia do extraordinário equilíbrio das leis fundamentais e dos parâmetros da física e as condições iniciais do Universo. O resultado é um Universo que tem exatamente as condições perfeitas para sustentar a vida. Ou seja, as “coincidências” que existem em nosso Universo.

Na última década, o Brasil e principalmente o Estado de São Paulo têm sofrido imensamente com as enchentes que aterrorizam a população a cada ano. Imagine que você morasse em São Paulo e após uma dessas terríveis enchentes você caminhasse pelas ruas danificadas e encontrasse um objeto que nunca havia visto antes nesse mesmo percurso: um avião Boeing 747 inteiro, no meio da calçada! Como ele foi parar lá? Então você raciocina e conclui que, com a enchente daquela semana, o lixo de toda a cidade e mais alguns objetos se acumularam e formaram aquele lindo avião. Isso parece plausível para você? Não, o mais plausível seria imaginar que engenheiros se reuniram por dias e meses, projetaram o avião e finalmente o construíram.

Infelizmente, a primeira hipótese é aquela em que muitos ateus ativistas acreditam, isto é, que através de anos e anos de desenvolvimento e seleção natural o mundo e o Universo que conhecemos hoje teriam surgido. O avião é obviamente arquitetado por homens, porque já vimos isso acontecer, temos prova da complexidade dele. Obviamente algo tão complexo deve ser feito por seres humanos inteligentes. Mas o que as coisas naturais ou o próprio Universo tem de tão especial? E por que precisaríamos associar nosso Universo a um ser inteligente e não somente ao acaso? Vamos ver.

O astrônomo Hugh Ross formulou algumas evidências dos parâmetros especiais que temos no Universo. Entre trinta e dois deles, veremos apenas seis: (1) Se a inclinação da Terra fosse um pouco maior ou menor, as temperaturas da superfície seriam extremas demais para suportar vida como nós a conhecemos; (2) se a distância da Terra ao Sol fosse maior, o planeta seria frio demais para um ciclo de água estável. E se a distância fosse menor, a Terra seria quente demais para o ciclo de água estável; (3) se a crosta terrestre fosse mais grossa, oxigênio demais seria transferido da atmosfera para a crosta. E se a crosta fosse mais fina, haveria atividade vulcânica e tectônica em demasia; (4) se a interação gravitacional com a Lua fosse maior, os efeitos nas marés oceânicas, na atmosfera e no período rotacional seriam severos demais. E se fosse menor, a órbita da Terra iria mudar de tal forma que causaria instabilidades climáticas; (5) se a gravidade da Terra fosse mais forte, a atmosfera reteria amônia e metano em demasia, que são venenosos. Mas se a gravidade fosse menor, a atmosfera perderia muita água; (6) se a duração do dia fosse maior, as diferenças na temperatura seriam grandes demais para manter a vida. Mas se o dia fosse mais curto, a velocidade dos ventos atmosféricos seria grande demais para que a vida sobrevivesse.

O físico Robin Collins usa a seguinte ilustração: imagine que astronautas finalmente conseguissem alcançar Marte. Chegando lá, eles veem uma estrutura como uma redoma. Entrando nela, eles verificam as condições do ambiente e percebem que está tudo condicionado para a vida humana: a quantidade de oxigênio no ar é perfeita, a temperatura é de 22 graus, a umidade é de 50%, existem sistemas para produzir alimento, gerar energia e depositar lixo. E você vê que se qualquer uma das definições fosse modificada por um pouco apenas, o ambiente mudaria completamente e a existência da vida seria impossível. Qual a conclusão a que se chega? Alguém tomou muito cuidado em arquitetar aquele ambiente e construí-lo.

Com essas informações, e sem falar na imensa e incompreensível complexidade do DNA humano, do corpo humano e até de um pequeno átomo, é fácil entender frases célebres de alguns cientistas, a maioria das quais não motivadas por razões religiosas:

O engenheiro e cientista Walter Bradley escreve que “é muito fácil entender porque tantos cientistas mudaram de opinião nos últimos trinta anos, concordando que o Universo não pode ser racionalmente explicado por um acidente cósmico”.E que “evidências para um arquiteto inteligente se tornam mais convincentes quanto mais nós compreendemos a respeito do nosso habitat cuidadosamente desenhado”.[2]

Paul Davies, físico e outrora cético, disse que “através do meu trabalho científico eu vim a crer mais e mais fortemente que o Universo físico foi construído com uma habilidade tão surpreendente que eu não posso aceita-lo como um fato bruto”; “eu não posso acreditar que nossa existência neste Universo é um mero equívoco do destino, um acidente da história, um engano acidental no grande drama cósmico”.[3]

Robert Augros e George Stanciu dizem que, com as “coincidências” encontradas, vemos que “um Universo focado na produção do homem implica em uma mente que o direciona”.[4]

Sir Fred Hoyle, famoso astrônomo agnóstico britânico que anteriormente (em 1951) argumentou que as coincidências eram apenas isso, coincidências, em 1984 mudou de ideia, como evidencia esta citação: “Tais propriedades parecem tecer pelo tecido do mundo natural como um fio de coincidências felizes. Mas existem tantas estranhas coincidências essenciais à vida que alguma explicação parece ser necessária para dar conta delas.”[5]

Ganhador de Prêmio Nobel de física, Arno Penzias faz a seguinte observação sobre o caráter enigmático do Universo: “A astronomia nos leva a um evento único, um Universo que foi criado do nada e equilibrado delicadamente para prover exatamente as condições necessárias para suportar a vida. Na ausência de um acidente absurdamente improvável, as observações da ciência moderna parecem sugerir um plano oculto ou, um poderia dizer, sobrenatural.”[6]

O renomado físico Freeman Dyson disse que, “ao olharmos para o Universo e identificar os muitos acidentes da física e da astronomia que têm trabalhado para o nosso benefício, quase parece como se o Universo em algum sentido soubesse que nós estávamos chegando”.[7]

Acredito que Ele sabia, sim. Não o Universo, mas um Ser sobrenatural que vai além daquilo que podemos explicar ou compreender. O design do Universo e de todo o ser vivo grita um nome. Resta saber se estamos escutando.

(Marina Garner Assis)

Referências:

1. David Hume, The Letters of David Hume, dois volumes, JYT Greig, editor (Oxford: Clarendon Press, 1932), 1:187.
2. Walter Bradley, “The ‘Just So’ Universe”, no Sign of Intelligence, de William A. Dembski e James M. Kushiner, 170.
3. Paul Davies, The Mind of God (New York: Touchstone, 1992), 16, 232
3. Robert M. Augros e George N. Stanciu, The New Story of Science, 70.
4. Sir Fred Hoyle, The Nature of the Universe (New York: Harper, c1950), 101.
5. Arno Penzias, Our Universe: Accident or Design (Wits 2050, S. Africa:Starwatch, 1992), 42.
6. Freeman J. Dyson, citado em Barrow e Tipler, Anthropic Cosmological Principle, 318.