terça-feira, março 22, 2016

Criacionista sugeriu a seleção natural antes de Darwin

Edward Blyth
Ao contrário do que muitos pensam, os criacionistas não rejeitam a ideia de seleção natural.[1,2] Todavia, discordam dos evolucionistas a respeito da extensão das modificações que esse processo é capaz de produzir. Normalmente, coloca-se um sinal de igualdade entre seleção natural e macroevolução; apela-se à primeira para justificar a última. Os exemplos clássicos de evidências a favor da evolução que encontramos em livros-texto tratam de variações em pequena escala, ou seja, de “microevolução” (como mudanças de cor, tamanho, resistência a antibióticos, etc.). Como os próprios autores evolucionistas admitem, a macroevolucão só pode ser inferida a partir de extrapolação.[3]

Pois bem, não é novidade que Darwin não foi o primeiro a tratar da seleção natural. James Hutton escreveu sobre o mecanismo em 1794, William Wells em 1818 e Patrick Matthew em 1831.[4] Segundo alguns autores, até mesmo William Paley teria antecipado o conceito de seleção natural, em 1803.[5] Darwin afirmava ter tomado conhecimento da contribuição desses autores somente após a publicação de A Origem das Espécies, em 1859.[4]

Em 1835, Edward Blyth publicou um artigo no Magazine of Natural History[6] no qual se pode encontrar o mecanismo de seleção natural de forma surpreendentemente clara. Existem evidências históricas de que Darwin era um leitor do Magazine of Natural History,[7] mas não se pode afirmar com certeza que ele tenha lido o trabalho de Blyth antes de elaborar sua teoria.

Embora a expressão “seleção natural” não seja utilizada explicitamente no artigo de Blyth, a ideia está indubitavelmente presente: “É uma lei geral da natureza para todas as criaturas a propagação de sua própria semelhança: e isso se estende às minúcias mais triviais, para as mais tênues peculiaridades individuais; e assim, entre nós mesmos, vemos a semelhança de uma família sendo transmitida de geração em geração. Quando dois animais acasalam, cada um possuindo certa característica em comum, não importando o quão trivial ela seja, existe também uma tendência decisiva na natureza para que aquela peculiaridade se intensifique; e se a prole desses animais for separada, e se somente aqueles nos quais a mesma peculiaridade é mais aparente forem selecionados para reprodução, a próxima geração irá possuí-la em um grau ainda mais notável; e assim por diante, até que a longo prazo a variedade que designei de raça seja formada, podendo ser muito diferente do tipo original.”[6]

“Em um grande rebanho de gado, o touro mais forte afasta de si os indivíduos mais novos e mais fracos de seu próprio sexo, e permanece como o único mestre do rebanho; de modo que todos os jovens que venham a ser produzidos tenham sua origem naquele indivíduo que possui máxima potência e força física; e que, consequentemente, na batalha pela existência, foi o mais capaz para manter seu território, e defender-se de cada inimigo. De maneira similar, entre os animais que procuram sua comida por meio de sua agilidade, força, ou delicadeza dos sentidos, aquele mais bem organizado deve sempre obter a maior quantidade; e deve, portanto, tornar-se o mais forte fisicamente, e assim ser habilitado, pela derrota de seus oponentes, a transmitir suas qualidades superiores a um número maior de descendentes.”[6]

Contudo, Blyth não sustentava que a seleção natural seria capaz de proezas como converter um urso em uma baleia, como Darwin sugeriu na primeira edição de seu livro mais famoso.[8] Blyth via esse mecanismo como um recurso que tinha por fim conservar as qualidades típicas de uma espécie: “A mesma lei, portanto, que foi designada pela Providência para manter as qualidades típicas de uma espécie, pode ser facilmente convertida pelo homem em um meio de criar diferentes variedades; mas também está claro que, se o homem não preservar essas raças pelo controle do intercurso sexual, elas irão naturalmente retornar ao tipo original.”[6]

Em outras palavras, o mecanismo é o mesmo que Darwin publicaria 24 anos mais tarde – que tem como resultado a propagação das qualidades dos indivíduos mais aptos a se reproduzir –, mas o efeito final, segundo Blyth, seria o de reestabelecer as variedades de animais aos seus tipos originais e não criar novas espécies sem limite aparente para as modificações. Diga-se de passagem, não é essa a posição defendida pelos criacionistas de hoje. Mas o ponto em questão aqui é a prioridade de Blyth sobre Darwin quanto ao mecanismo de seleção natural.

Edward Blyth, ao contrário de Darwin, não tentou descrever uma natureza sem um Criador. Blyth, como tantos outros cientistas importantes (desde muito antes de seu tempo até os dias atuais), reconheceu a origem de tudo: “Existe, de forma muito estranha, uma diferença de opinião entre naturalistas quanto a serem essas mudanças sazonais um desígnio da Providência como uma adaptação a mudanças de temperatura, ou um meio de preservar as várias espécies de seus inimigos, pela adaptação de sua matiz às cores da superfície. [...] O fato é que elas respondem a ambos os propósitos; e elas estão entre aqueles impressionantes exemplos de planejamento, que tão claramente e fortemente atestam a existência de uma grandiosa e onisciente Primeira Causa.”[6]

Blyth pode ter errado com sua ideia de conservação. Mas Darwin também errou em outros pontos e principalmente ao propor o que hoje chamamos de macroevolução. Em um ambiente no qual o materialismo ganhava cada vez mais força, Darwin se tornou um ícone mundial. Como o próprio Richard Dawkins admite: “Só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito.”[9] Edward Blyth foi praticamente lançado ao esquecimento. Mas Alguém certamente se lembrará de que ele deu ao Criador a glória que Lhe era devida.

“Portanto, todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante de Meu Pai, que está nos céus; mas aquele que Me negar diante dos homens, também Eu o negarei diante de Meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:32, 33).

(Dr. Rodrigo Meneghetti Pontes é professor Adjunto do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá e vice-Presidente do Núcleo Maringaense da Sociedade Criacionista Brasileira [NUMAR-SCB]; conheça sua página Origem e Vida)

Referências:
 [1] G. Purdom, N. T. Jeanson, “Understanding Natural Selection”, Answers in Genesis: https://answersingenesis.org/natural-Selection/understanding-Natural-Selection/ (2016).
[2] P. G. Humber, “Natural Selection - A Creationist’s Idea”, Acts Facts. 26 (1997).
[3] M. Riddley, Evolução, 3a ed., Artmed, Porto Alegre, 2006.
[4] P. N. Pearson, “In retrospect: An Investigation of the Principles of Knowledge and of the Progress of Reason, from Sense to Science and Philosophy”, Nature. 425 (2003) 665–665. doi:10.1038/425665a.
[5] W. L. Abler, “What Darwin Knew”, Nature. 426 (2003) 759-759. doi:10.1038/426759b.
[6] E. Blyth, “An Attempt to Classify the ‘Varieties’ of Animals, with Observations on the Marked Seasonal and Other Changes Which Naturally Take Place in Various British Species, and Which Do Not Constitute Varieties”, Mag. Nat. Hist. 8 (1835) 40-53.
[7] J. E. Schwartz, “Charles Darwin’s Debt to Malthus and Edward Blyth”, J. Hist. Biol. 7 (1974) 301-318.
[8] C. R. Darwin, On The Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life, Facsímile, Harvard University Press, Cambridge, 1859.
[9] R. Dawkins, O Relojoeiro Cego, Companhia das Letras, São Paulo, 2001.