Edward Blyth |
Ao
contrário do que muitos pensam, os criacionistas não rejeitam a ideia de
seleção natural.[1,2] Todavia, discordam dos evolucionistas a respeito da
extensão das modificações que esse processo é capaz de produzir. Normalmente,
coloca-se um sinal de igualdade entre seleção natural e macroevolução; apela-se
à primeira para justificar a última. Os exemplos clássicos de evidências a
favor da evolução que encontramos em livros-texto tratam de variações em
pequena escala, ou seja, de “microevolução” (como mudanças de cor, tamanho,
resistência a antibióticos, etc.). Como os próprios autores evolucionistas
admitem, a macroevolucão só pode ser inferida a partir de extrapolação.[3]
Pois
bem, não é novidade que Darwin não foi o primeiro a tratar da seleção natural.
James Hutton escreveu sobre o mecanismo em 1794, William Wells em 1818 e
Patrick Matthew em 1831.[4] Segundo alguns autores, até mesmo William Paley
teria antecipado o conceito de seleção natural, em 1803.[5] Darwin afirmava ter
tomado conhecimento da contribuição desses autores somente após a publicação
de A Origem das Espécies, em
1859.[4]
Em
1835, Edward Blyth publicou um artigo no Magazine of Natural History[6] no qual se pode encontrar o
mecanismo de seleção natural de forma surpreendentemente clara. Existem
evidências históricas de que Darwin era um leitor do Magazine of Natural History,[7] mas não se pode afirmar com certeza
que ele tenha lido o trabalho de Blyth antes de elaborar sua teoria.
Embora
a expressão “seleção natural” não seja utilizada explicitamente no artigo de
Blyth, a ideia está indubitavelmente presente: “É uma lei geral da natureza para
todas as criaturas a propagação de sua própria semelhança: e isso se estende às
minúcias mais triviais, para as mais tênues peculiaridades individuais; e
assim, entre nós mesmos, vemos a semelhança de uma família sendo transmitida de
geração em geração. Quando dois animais acasalam, cada um possuindo certa
característica em comum, não importando o quão trivial ela seja, existe também
uma tendência decisiva na natureza para que aquela peculiaridade se
intensifique; e se a prole desses animais for separada, e se somente aqueles
nos quais a mesma peculiaridade é mais aparente forem selecionados para
reprodução, a próxima geração irá possuí-la em um grau ainda mais notável; e
assim por diante, até que a longo prazo a variedade que designei de raça seja formada,
podendo ser muito diferente do tipo original.”[6]
“Em
um grande rebanho de gado, o touro mais forte afasta de si os indivíduos mais
novos e mais fracos de seu próprio sexo, e permanece como o único mestre do
rebanho; de modo que todos os jovens que venham a ser produzidos tenham sua
origem naquele indivíduo que possui máxima potência e força física; e que,
consequentemente, na batalha pela existência, foi o mais capaz para manter seu
território, e defender-se de cada inimigo. De maneira similar, entre os animais
que procuram sua comida por meio de sua agilidade, força, ou delicadeza dos
sentidos, aquele mais bem organizado deve sempre obter a maior quantidade; e
deve, portanto, tornar-se o mais forte fisicamente, e assim ser habilitado,
pela derrota de seus oponentes, a transmitir suas qualidades superiores a um
número maior de descendentes.”[6]
Contudo,
Blyth não sustentava que a seleção natural seria capaz de proezas como
converter um urso em uma baleia, como Darwin sugeriu na primeira edição de seu
livro mais famoso.[8] Blyth via esse mecanismo como um recurso que tinha por
fim conservar as qualidades típicas de uma espécie: “A mesma lei, portanto, que
foi designada pela Providência para manter as qualidades típicas de uma
espécie, pode ser facilmente convertida pelo homem em um meio de criar
diferentes variedades; mas também está claro que, se o homem não preservar
essas raças pelo controle do intercurso sexual, elas irão naturalmente retornar
ao tipo original.”[6]
Em
outras palavras, o mecanismo é o mesmo que Darwin publicaria 24 anos mais tarde
– que tem como resultado a propagação das qualidades dos indivíduos mais
aptos a se reproduzir –, mas o efeito final, segundo Blyth, seria o de
reestabelecer as variedades de animais aos seus tipos originais e não criar
novas espécies sem limite aparente para as modificações. Diga-se de passagem,
não é essa a posição defendida pelos criacionistas de hoje. Mas o ponto em
questão aqui é a prioridade de Blyth sobre Darwin quanto ao mecanismo de
seleção natural.
Edward
Blyth, ao contrário de Darwin, não tentou descrever uma natureza sem um
Criador. Blyth, como tantos outros cientistas importantes (desde muito antes de
seu tempo até os dias atuais), reconheceu a origem de tudo: “Existe, de forma
muito estranha, uma diferença de opinião entre naturalistas quanto a serem
essas mudanças sazonais um desígnio da Providência como uma adaptação
a mudanças de temperatura, ou um meio de preservar as várias espécies de
seus inimigos, pela adaptação de sua matiz às cores da superfície. [...] O fato
é que elas respondem a ambos os propósitos; e elas estão entre aqueles impressionantes
exemplos de planejamento, que tão claramente e fortemente atestam a existência
de uma grandiosa e onisciente Primeira Causa.”[6]
Blyth
pode ter errado com sua ideia de conservação. Mas Darwin também errou em outros
pontos e principalmente ao propor o que hoje chamamos de macroevolução. Em um
ambiente no qual o materialismo ganhava cada vez mais força, Darwin se tornou
um ícone mundial. Como o próprio Richard Dawkins admite: “Só depois de Darwin é
possível ser um ateu intelectualmente satisfeito.”[9] Edward Blyth foi
praticamente lançado ao esquecimento. Mas Alguém certamente se lembrará de que
ele deu ao Criador a glória que Lhe era devida.
“Portanto,
todo aquele que Me confessar diante dos homens, também Eu o confessarei diante
de Meu Pai, que está nos céus; mas aquele que Me negar diante dos homens,
também Eu o negarei diante de Meu Pai, que está nos céus” (Mateus 10:32, 33).
(Dr. Rodrigo Meneghetti Pontes é professor Adjunto do Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá e vice-Presidente do Núcleo Maringaense da Sociedade Criacionista Brasileira [NUMAR-SCB]; conheça sua página Origem e Vida)
Referências:
[1] G. Purdom, N. T.
Jeanson, “Understanding Natural Selection”, Answers in Genesis: https://answersingenesis.org/natural-Selection/understanding-Natural-Selection/
(2016).
[2] P. G. Humber, “Natural
Selection - A Creationist’s Idea”, Acts
Facts. 26 (1997).
[3]
M. Riddley, Evolução, 3a ed., Artmed,
Porto Alegre, 2006.
[4] P. N. Pearson, “In
retrospect: An Investigation of the Principles of Knowledge and of the Progress
of Reason, from Sense to Science and Philosophy”, Nature. 425 (2003) 665–665. doi:10.1038/425665a.
[5] W. L. Abler, “What
Darwin Knew”, Nature. 426 (2003) 759-759.
doi:10.1038/426759b.
[6] E. Blyth, “An Attempt to
Classify the ‘Varieties’ of Animals, with Observations on the Marked Seasonal
and Other Changes Which Naturally Take Place in Various British Species, and
Which Do Not Constitute Varieties”, Mag.
Nat. Hist. 8 (1835) 40-53.
[7] J. E. Schwartz, “Charles
Darwin’s Debt to Malthus and Edward Blyth”, J.
Hist. Biol. 7 (1974) 301-318.
[8] C. R. Darwin, On The Origin of Species by Means of Natural
Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life,
Facsímile, Harvard University Press, Cambridge, 1859.
[9]
R. Dawkins, O Relojoeiro Cego,
Companhia das Letras, São Paulo, 2001.