O que é certo e o que é errado? |
Uma
pesquisa recente divulgada na renomada revista Nature chamou a atenção da comunidade científica, bem como do
público em geral. O experimento foi realizado com 591 pessoas oriundas de
diversas comunidades religiosas ao redor do mundo, envolvendo até mesmo
moradores da Ilha de Marajó, no Brasil, conforme informou o site
do jornal Folha de S. Paulo.
O estudo, liderado pelo professor Benjamin Purzychi, da Universidade da
Colúmbia Britânica (Canadá), contou com a participação de psicólogos e
antropólogos, e revelou uma íntima relação entre fé em Deus e honestidade. O
resultado dessa pesquisa me trouxe à memória algumas leituras que realizei há
alguns meses. Em seu livro Apologética
Contemporânea, o filósofo cristão William Lane Craig faz uma síntese do
pensamento de outros filósofos – ateus, agnósticos e cristãos – a respeito da
íntima relação entre a existência de Deus e o conceito de moralidade objetiva.
Ele comenta que mesmo filósofos ateus, a exemplo de Richard Taylor, admitem que
“o conceito de obrigação moral [é] incompreensível sem a ideia de Deus”.
Desse
modo, ele argumenta que “em um mundo sem Deus, não pode haver certo e errado
objetivos, somente nossos juízos subjetivos, cultural e pessoalmente relativos.
Isso significa que é impossível condenar guerra, opressão ou crime como maus.
Também não podemos louvar fraternidade, igualdade e amor como bons. Porque, em
um universo sem Deus, bem e mal não existem – existe apenas o fato nu e sem
valor da existência, e não há ninguém para dizer que você está certo e eu
errado”.
Em
outras palavras, Craig está tentando dizer que, se Deus existe, o certo e o
errado também existem. Como afirmou o escritor russo Fiódor Dostoievski: “Se
não há imortalidade [e só há imortalidade porque Deus existe], todas as coisas
são permitidas.” Mais do que isso, se o certo e o errado só existem porque Deus
existe, é razoável pensar que Deus é quem os determina.
Podemos
apreender a mesma ideia se desenvolvermos nosso raciocínio ao reverso: se o
certo e o errado existem, essa é também uma prova de que Deus existe. Isso é o
que William Craig chama de argumento moral da existência de Deus, definida por
ele nas seguintes palavras: “O argumento moral em favor da existência de Deus
defende a existência de um ser que é a corporificação do Bem fundamental, que é
a fonte dos valores morais objetivos que experimentamos no mundo.” Em última
instância, é Deus quem define a maneira como devemos nos comportar aqui na Terra.
Algumas
pessoas podem pensar que Deus age de maneira arbitrária ao estabelecer aquilo
que devemos ou não fazer, e que essa é uma forma de exercer Sua autoridade e
domínio sobre o homem. Porém, basta olhar para as atuais condições do mundo
para se perceber que, na verdade, Deus está simplesmente tentando evitar que
nos machuquemos. Como disse o escritor Loron Wade, “a tormenta que irrompe
sobre nosso planeta está se intensificando, e começa a atingir o mundo
particular de cada pessoa. [...] Quem não percebe que hoje somos todos
vulneráveis?” (Os Dez Mandamentos: Princípios
divinos para melhorar seus relacionamentos, p. 7).
Wade
comenta que o avanço da tecnologia fez com que as pessoas do século 19
imaginassem que o mundo estava melhorando. Porém, ninguém mais pensa assim.
Afinal, “com tanta informação e tantos avanços incríveis na compreensão do
Universo, como é possível que a fome, a opressão e a tirania ainda dominem o
cenário?”, ele pergunta.
Para
o autor, a única resposta plausível é que “os piores problemas da nossa época
não são de natureza científica, e sim moral”. Por exemplo, “há pessoas famintas
não por causa da escassez de alimento no mundo, mas por causa de uma terrível
desigualdade na sua distribuição”. Ele continua: “O mesmo acontece com a
violência doméstica, o aborto, os vícios e o estilo de vida que tornou a aids a
maior pandemia da história. Se esses fossem problemas científicos ou
tecnológicos, já teriam sido resolvidos há muito tempo, pois somos realmente
bons nisso” (Idem, p. 8, 9).
Será
que a nossa sociedade, no auge de sua arrogância, não estaria pondo de lado um
antigo código moral, cujo esquecimento abriu margens para o quadro que
visualizamos hoje? As estatísticas demonstram que o mundo não está melhorando;
ao contrário, o crime aumentou, as famílias estão se esfacelando e o estresse
tomou conta da população mundial. Enquanto isso, em diversos lugares, a
sociedade aguarda a elaboração de leis mais rígidas, que defendam efetivamente
a propriedade, a integridade física e o bem-estar da família. Um mundo sem leis
seria uma completa anarquia e um lugar inseguro, no qual ninguém gostaria de
viver.
A
Bíblia aponta para antigos princípios, os quais são conhecidos como “Os Dez
Mandamentos”. Eles podem fazer a diferença. Talvez, você se pergunte: “Será que
realmente eles podem mudar a condição do mundo?” Com bastante respeito, não
acredito que essa seja a pergunta ideal. Uma pergunta mais pessoal precisa ser
formulada: “Será que esses princípios podem mudar a minha vida?” Então,
respondo: “É preciso experimentar!”
(Adenilton Tavares é
mestre em Ciências da Religião e professor de grego e Novo Testamento na
Faculdade de Teologia da Bahia; Revista Adventista)