Sim, poderia |
[Já
tratei deste tema aqui, mas, como o UOL voltou ao assunto, resolvi postar novamente. Meus breves comentários seguem entre colchetes. - MB] Se sobrasse
apenas um casal na Terra, ele seria capaz de povoá-la? Se você já se fez essa
pergunta, não é o único. Cientistas de diversas épocas já questionaram o
assunto, que permanece controverso, pois, obviamente, não será possível fazer a
experiência na prática [assim como não é possível fazer “na prática” uma
experiência que comprovasse a evolução da primeira forma de vida ou mesmo
processos macroevolutivos]. O pesquisador de genética de populações da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Waldir Stefano, acredita que é possível,
mas lembra que a primeira condição para que isso ocorra é que o casal seja
fértil. “É possível, mas não é fácil”, ressalta. Isso porque o casal teria
pouca variabilidade genética, o que está relacionado com diversos problemas. Um
estudo feito com crianças nascidas na Tchecoslováquia entre 1933 e 1970 mostrou
que quase 40% daquelas cujos pais eram parentes de primeiro-grau tinham graves
deficiências - 14% morreram por conta de alguma delas [mas, se levarmos em conta
que, antes do pecado, a genética de Adão e Eva era perfeita, não haveria problema
algum na consanguinidade. Quando isso passou a ser um problema, devido à
degeneração da vida pós-pecado, Deus proibiu casamentos entre parentes muito
próximos, justamente para evitar o reforço dos defeitos genéticos].
Segundo
Stefano, com o passar do tempo, essa variabilidade aumentaria, mas tudo depende
de para que lado iria o processo de seleção natural. Ele explica que ao longo
dos anos, mutações ocorrem no DNA dos descendentes e, caso as mutações
vantajosas para a sobrevivência prevaleçam, a chance de povoar o planeta
novamente é grande.
Existem
exemplos de colonização com pequenas populações iniciais, como a do Havaí, em
que havia muita consanguinidade e foi bem-sucedida. No entanto, as mutações que
aparecem podem trazer desvantagens para os indivíduos. Há casos, como algumas
famílias reais europeias, em que as mutações desvantajosas chegaram a causar
esterilidade nos descendentes.
Stefano
cita o livro As Sete Filhas de Eva,
escrito por Bryan Sykes, professor de genética da Universidade de Oxford. “A
obra mostra o estudo do DNA mitocondrial, que é
herdado da mãe. Os pesquisadores chegam a sete grandes matrizes de ascendentes
na Rússia”, diz. “Antes dessas sete, provavelmente havia menos ainda.”
Ele
explica que, como o gameta feminino (óvulo) é muito maior que o gameta
masculino (espermatozoide), quando o zigoto é formado, as mitocôndrias
(responsáveis por “fabricar” a energia das células) são iguais às da mãe. O
professor lembra que há doenças transmitidas geneticamente pelas mitocôndrias,
como a doença de Leber, que provoca cegueira entre os 40 e 50 anos.
Na
grande parte das vezes, as variações do material genético não trazem grande
efeito no fenótipo (características visíveis, como cor dos cabelos e dos olhos)
e não são percebidas de imediato. Se trouxerem vantagens maiores para a
sobrevivência dos descendentes, serão passadas adiante. “A grande questão
é em que período de tempo isso poderia acontecer”, disse, referindo-se a
quantos anos seriam necessários para que os descendentes de um casal gerassem
uma população de sete bilhões de pessoas.
Em
2002, o antropólogo John Moore publicou um estudo pela Nasa em que estima que
seriam necessárias 160 pessoas para dar início a uma população estável para um
novo planeta. O estudo partiu do modelo de pequenos grupos migratórios antigos
da humanidade.
Ele
recomendava começar com casais jovens sem filhos e sem genes recessivos
perigosos. No caso, o número usado no cálculo vale para uma viagem ao espaço
permite 200 anos de isolamento antes da volta à Terra, quando as pessoas teriam
novamente contato com maior variabilidade genética.