segunda-feira, novembro 11, 2013

Errata de duas postagens recentes

Semana passada, postei sobre a divulgação da descoberta de uma “piranha herbívora”. O amigo Fábio Vieira, que é biólogo e doutor especializado em peixes, chamou minha atenção para um “detalhe”: “Até que se prove o contrário, todas as piranhas e pirambebas (gêneros Pygocentrus e Serrasalmus) continuam carnívoras, como sempre foram. A espécie descrita pelo Marcelo e colaboradores não foi nem nunca será uma piranha. Grosseiramente poderia ser considerada um tipo de pacu, grupo que é mais próximo em estudos filogenéticos (por sinal, nesse grupo todos são herbívoros ou onívoros). O único fato de tudo é que, atualmente, a espécie descrita, do gênero Tometes, encontra-se na família Serrasalmidae, a mesma das piranhas. Se você observar o paper original, não há sequer uma referência a ‘piranha’ no texto, e com certeza essa ‘atrocidade’ veiculada pela mídia jamais teria partido dos autores – o Jegú é um dos maiores especialistas no grupo. Como sempre, uma matéria mostrando a descrição (a descoberta ocorreu muito tempo atrás) de uma espécie ‘normal’ seria mais uma dentro da literatura dos últimos anos (são descritas cerca de 400 espécies de peixes por ano). O que me impressiona é que o aspecto mais importante desse gênero (Tometes), que é sua propensão à extinção com as atividades humanas, acabou ficando obscuramente perdido dentro do texto veiculado. Pena acontecer isso. A divulgação científica precisa ser mais bem estruturada e divulgada para que o conhecimento real (e somente o real) chegue à grande massa, não se criando novos mitos ou reforçando os existentes. Espero ter contribuído para esclarecer essa questão. Pelo menos dessa vez não foram os pesquisadores que fizeram o estrago com o sensacionalismo (menos pior).”

Outro post que merece uma errata é este, sobre os cientistas que “provaram” a existênciade Deus. Conforme observou o amigo físico Evandro Oliveira, “em determinado momento, o texto fala que um teorema é um pressuposto que não pode ser comprovado. Isso é uma confusão. O que ele realmente quis dizer é um ‘axioma’. Pois teoremas, em matemática, precisam ser demonstrados com rigor matemático. A demonstração desse recorre a outros teoremas e ferramentas matemáticas já provadas, demonstradas, as quais, em ultima instância, são consequências dos axiomas fundamentais, para os quais não há como se demonstrar, pois não há nada antes deles a que se recorrer; são a origem da construção da lógica e do pensamento matemático.”

Obrigado aos amigos sempre atentos. [MB]